1 de fevereiro de 2018

Escravidão e poder judiciário no Brasil

The deep arbitrariness of Brazil's judicial system is the legacy of enslavement and colonialism.

Tamires Gomes Sampaio 

Edifício do Supremo Tribunal Federal do Brasil, em Brasília, Brasil.

"Não tolero magistrado
Que do brio descuidado
Vende a lei, trai a justiça
-Faz a todos injustiça-
Com rigor deprime o pobre
Presta abrigo ao rico, ao nobre
E só acha horrendo crime
No mendigo que deprime" 
- Luiz Gama

Tradução / O ano de 2018 marca 130 anos da abolição da escravidão no Brasil, e mesmo mais de um século depois ainda hoje podemos observar o reflexo do colonialismo e da estrutura racista que herdamos do período escravocrata. A história do Brasil está marcada pela violência contra indígenas e a população negra que fora escravizada, violência esta que hoje se reflete numa politica de genocídio da população negra, pobre e periférica.

O relatório da CPI do Senado Federal de 2016 relata que a cada 23 minutos morre um jovem negro no Brasil, o índice de encarceramento da população negra aumenta a cada ano, o Brasil é um dos países que mais mata LGBTs no mundo, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou em 2017 que mais de 135 mulheres são violentadas por dia, os índices de feminicídio vêm a cada ano crescendo, e todo esse cenário de violências contra as mulheres, negros, LGBTs e indígenas, são reforçados por uma estrutura de um Poder Judiciário racista, misógino e classista, que está dominado por uma elite brasileira herdeira dos senhores de engenho, e que pervertem as leis para de acordo com seus interesses, pois o Direito nada mais serve do que para a manutenção do status quo conservador e escravocrata.

A partir de 2003, com os governos de Lula, e posteriormente de Dilma, presenciamos uma transformação social e econômica sem precedentes em nosso país, mais de 40 milhões de pessoas saíram da miséria, a juventude negra e periférica, graças ao PROUNI, FIES e as cotas, passaram a ter acesso ao Ensino Superior, os interiores de nosso país passaram a ter acesso à água e energia elétrica, tivemos um aumento real do salário mínimo, no cenário internacional com a politica ativa e altiva de Celso Amorim, ex-chanceler do país, estreitando laços com os países de África e da América do Sul, o Brasil passou a ser visto como potência mundial. Tudo isso a partir da chegada de um ex-torneiro mecânico ao Palácio do Planalto, que fez um governo que por mais que tenha suas contradições, transformou o Brasil em um país cada vez mais justo e igualitário.

A elite que historicamente dominou este país, não suportou as transformações sociais que ocorreram nos últimos anos, e a partir de uma articulação entra a mídia, o judiciário e o capital internacional iniciaram uma série de ataques a Democracia brasileira resultando no golpe contra a Presidenta Dilma, em um processo de Impeachment sem crime de responsabilidade, para articular uma série de desmontes contra os direitos do povo brasileiro, que passe desde as reformas trabalhistas e previdenciária à tentativa de flexibilização do trabalho escravo, e pela perseguição sistemática ao ex-presidente Lula em uma série de acusações sem embasamento em provas e apenas com a convicção de operadores do Direito.

No dia 24 de janeiro o Brasil e o mundo assistiram ao espetáculo dos três Desembargadores do TRF-4, em Porto Alegre, que condenaram o ex-presidente Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sem a utilização de provas e com base em um sensacionalismo da imprensa e em delações premiadas, que estão sendo utilizadas de maneira arbitraria pelo Poder Judiciário para condenar Lula.

Toda essa perseguição, e a utilização do Judiciário para isso, não surpreende quem faz uma análise histórica do sistema de justiça criminal, de quem são os alvos desse sistema, pois condenam o presidente Lula por ele representar um projeto de emancipação e transformação social no Brasil, o único crime que ele cometeu foi o de tirar milhões do mapa da fome, de garantir princípios básicos, como a cidadania fosse realmente garantida para todas e todos.

A condenação de Lula é a resposta da elite escravocrata que acredita que lugar de preto é na cadeia, que quer acabar com os direitos da classe trabalhadora, e que quer impedir de qualquer forma que ele se candidate a Presidente da República em 2018, pois sabe que seu projeto de transformação social será vitorioso. Por isso não reconheceremos a condenação e denunciaremos as arbitrariedades do Poder Judiciário que ocorrem não só com o Lula, mas com os mais pobres e negros desse país.

Sobre a autora
Tamires Gomes Sampaio é advogada, mestranda em Direito Politico e econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie e Diretora do Instituto Lula.

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