12 de agosto de 2004

Crescimento sustentado ou vôo da galinha?

Paulo Nogueira Batista Jr.

Folha de S.Paulo

O desempenho da economia brasileira melhorou sensivelmente nos últimos meses. As projeções de crescimento do PIB em 2004, antes na faixa de 3% a 3,5%, deslocaram-se para cerca de 4%, com a indústria crescendo mais do que os outros setores. O mercado de trabalho começou a reagir. A imagem do governo voltou a melhorar. Apareceram resultados mais positivos nas pesquisas de opinião pública divulgadas nesta semana.

A dúvida agora é a seguinte: trata-se de mais um "vôo da galinha", semelhante às recuperações de fôlego curto do período Fernando Henrique Cardoso? Ou estamos no início de uma fase de crescimento sustentado?
Ninguém pode ter certeza. A capacidade de previsão dos economistas é notoriamente limitada. Mas a comparação com o período FHC não é inteiramente convincente. Há pelo menos uma grande diferença entre a recuperação atual e as anteriores: o fortalecimento da balança comercial e do balanço de pagamentos em conta corrente. Esse aspecto é fundamental, uma vez que as tentativas de retomar o crescimento no governo anterior foram quase sempre interrompidas por problemas nas contas externas do país.
Nessa área, o Brasil vem acumulando surpresas favoráveis. A primeira foi a velocidade e a intensidade da reação da balança comercial à depreciação cambial, desde meados de 2002. A segunda, a resistência dos bons resultados comerciais à revalorização do real ocorrida em 2003. Terceira: o superávit comercial continuou crescendo em 2004, a despeito da retomada da economia. As importações vêm aumentando rapidamente, refletindo a retomada, mas o ritmo de expansão das exportações tem sido ainda maior.
É bem verdade que a reativação econômica é muito recente. O importante é gerar superávits comerciais expressivos (ainda que não necessariamente tão altos quanto os de 2003 e 2004) com a economia crescendo sustentadamente em ritmo vigoroso, de 5% a 6% ao ano, pelo menos. Mas, como a razão exportações/importações está em nível elevado, é preciso que a taxa de crescimento das importações supere a das exportações por larga margem e longo período para que o superávit da balança comercial venha a se reduzir de forma perigosa.
Atualmente, a vulnerabilidade da posição externa decorre, sobretudo, da excessiva abertura da conta de capitais, do perfil inadequado da dívida externa e do nível insuficiente das reservas internacionais do país. Apesar do excelente desempenho do balanço de pagamentos em conta corrente neste ano, a recomposição das reservas foi modesta. Portanto, se houver forte deterioração do contexto mundial e uma nova rodada de choques vindos do exterior, a fragilidade das contas externas pode voltar a restringir o crescimento.
Mesmo assim, é inegável o progresso em matéria de ajustamento externo. A recuperação pode até ser interrompida por fatores internos, tais como restrições de capacidade de produção, aumento da inflação ou rigidez excessiva das políticas macroeconômicas. Mas, no que diz respeito ao que constituía o calcanhar-de-aquiles da economia brasileira desde o Plano Real -a fragilidade das contas externas-, a nossa posição é hoje mais sólida.
É um forte motivo para admitir que a recuperação em curso tenha boas chances de vingar. As chances serão maiores se prosseguir o esforço de consolidação da posição externa. Isso inclui não relaxar na promoção das exportações (evitando, por exemplo, novos períodos de apreciação cambial), acelerar a recomposição das reservas internacionais e aproveitar o período de calmaria para disciplinar os movimentos de capital e alongar a dívida externa.

Sobre o autor
Paulo Nogueira Batista Jr., 49, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "A Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).

1 de agosto de 2004

Vichy no Rio Tigre

Susan Watkins

Editorial


O governo de Sua Majestade e eu estamos no mesmo barco e afundaremos ou nadaremos juntos [...] se querem que eu e a política dos senhores tenhamos sucesso, é loucura condenar-me permanentemente aos olhos do público fazendo de mim um títere óbvio.

Do rei Faissal I ao alto-comissário britânico, Mesopotâmia, 17 de agosto de 1921

 

NLR 28 July/Aug 2004

Raramente uma transmissão de poderes foi tão furtiva. A cerimônia, realizada dois dias antes da data marcada, bem no meio da fortificada Zona Verde de Bagdá, durou apenas dez minutos, com a presença de trinta autoridades norte-americanas e iraquianas. Fora da paliçada de cimento, a realidade militar permanece a mesma: uma tropa de ocupação de 160 mil soldados comandados pelos Estados Unidos, um exército adicional de guardas de segurança contratados e unidades nervosas de polícia local. Antes de partir, a Autoridade Provisória de Coalizão estabeleceu uma estrutura paralela de governo de comissários e inspetores-gerais (que ainda se auto-referiam como “autoridades da coalizão” uma semana depois da suposta dissolução daquele órgão) que, apesar das eleições, controlarão os principais ministérios do Iraque nos próximos cinco anos. A maior embaixada norte-americana do mundo dominará Bagdá, com “núcleos” regionais planejados em Mossul, Kirkuk, Hilla e Bazra. A maior parte dos 3,2 bilhões de dólares que foram prometidos até agora vai para a construção de bases militares estrangeiras. A ONU resolveu que os rendimentos do petróleo do país continuarão a ser depositados no Fundo de Desenvolvimento do Iraque, dominado pelos Estados Unidos, durante mais cinco anos. O recém-empossado governo Allawi não terá autoridade para realocar os contratos assinados pela APC, em sua maioria com empresas estrangeiras que estarão acima das leis do país. Dois terços dos próprios ministros do gabinete são cidadãos norte-americanos ou britânicos.

Iyad Allawi, louvado pelos meios de comunicação ocidentais como o líder duro e de idéias independentes de que o país precisa, é a indicação adequada para primeiro-ministro. Pouco segredo se faz do fato de que, como seu colega Karzai, do Afeganistão, foi agente pago pela CIA durante muitos anos – já se vai há tempos a época em que isso era algo a se ocultar. A carreira de Allawi até hoje mais que o qualifica para seu papel atual. Os iraquianos lembram-se dele como disciplinador do Baath nos círculos estudantis de Londres na década de 1970, com um diploma falso de medicina concedido pelo regime por serviços prestados. Segundo um excolega do Acordo Nacional Iraquiano (ANI), ao mesmo tempo em que trabalhava com o M16, administrou um esquadrão da morte da Muhabarat para a facção de Saddam, perseguindo dissidentes do Baath na Europa até ele mesmo tornar-se vítima em 1978. Depois de alguns anos na clandestinidade, reapareceu em Amã como co-fundador do Acordo Nacional Iraquiano em 1991, junto de Salih Omar Ali al-Tikriti, ex-supervisor dos enforcamentos públicos em Bagdá. O ANI especializou-se em recrutar desertores do exército e dos serviços de espionagem; os
atentados a bomba a ele atribuídos em meados dos anos 1990 – um deles num teatro lotado, outro que matou crianças num ônibus escolar – foram supostamente “testes de competência” organizados pela CIA. Devidamente convencida dos méritos do ANI, a Agência forneceu recursos para a tentativa frustrada de golpe de Allawi em 1996, tentativa que, descoberta por Saddam, resultou em mais de cem
execuções. Depois foi responsável por repassar as informações que levaram à declaração de Blair sobre sistemas de lançamento de armas de destruição em massa em 45 minutos e localizaram o suposto bunker de Saddam para bombardeio no início da Guerra do Iraque em 2003.

Com a ocupação já realizada, Allawi foi integrado ao Conselho Governante como responsável pela segurança. Sua campanha pelo cargo de primeiro-ministro – sua empresa de lobby gastou mais de 370 mil dólares – foi, naturalmente, realizada em Washington, não em Bagdá. Depois de nomeado, constrangeu seus senhores ao tentar proclamar a lei marcial antes da posse. Seu colega Ghazi al-Yawar, o novo presidente do Iraque, fez uma comparável demonstração de independência ao lançar objeções à proposta de Bush de explodir Abu Ghraib: seria uma pena demolir a prisão depois de os norte-americanos terem gasto tanto dinheiro nela. (Yawar, um obscuro gerente de telecomunicações na Arábia Saudita na época em que os Estados Unidos o contataram, não muito antes da invasão, começou a usar as roupas tribais de Shammar assim que passou a fazer parte do Conselho Governante – talvez uma dica de Karzai, do Afeganistão.) Do mesmo modo, o primeiro ato do Ministro Provisório dos Direitos Humanos, Baktiar Amin, foi anunciar as leis do estado de emergência. Seu antecessor na pasta dos Direitos Humanos, outro curdo, renunciou, desgostoso com as fotografias de torturas em Abu Ghraib; Amin não demonstrou os mesmos escrúpulos.

O caráter da resistência

O fato de Washington ter levado mais de um ano para criar uma frente tão esfarrapada – Karzai foi lançado de pára-quedas em Cabul em questão de dias – testemunha a força da resistência. Em junho de 1940 o exército francês, como o moderno exército iraquiano, desmoronou diante da Blitzkrieg alemã sem nenhum combate sério. Um mês depois, os deputados da Assembléia Nacional francesa reunidos em Vichy aprovaram, por 569 votos a 80, o regime colaboracionista encabeçado pelo marechal Pétain. O governo de Vichy foi logo reconhecido pelos Estados Unidos e por outras potências, e a maioria dos franceses não-judeus voltou à vida normal sob a ocupação. Passaram-se dois anos até que os maquis
começassem a oferecer resistência séria. Em outros lugares da Europa, o padrão foi parecido. Os alemães foram eficientes para organizar o apoio local: Quisling na Noruega, o croata Ustashi e os regimentos bósnios e kosovares treinados pelas SS na Iugoslávia, a Cruz de Ferro na Romênia, a Cruz de Flechas na Hungria. Em sua forma clássica, os movimentos de resistência do século XX demoraram a constituir-se. Os que surgiram tiveram quase sempre apoio estatal externo. Assim como os suprimentos aliados foram fundamentais para os movimentos clandestinos antinazistas na Europa continental, o padrão geral foi mais ou menos o mesmo na Ásia e na África. O armamento chinês foi precondição da vitória vietcongue, assim como o apoio egípcio e tunisiano para as FLN da Argélia. Em geral, essa ajuda estrangeira funcionava em conjunto com uma liderança política e uma rede partidária já existente com potencial de hegemonia em nível nacional, como nos movimentos comunistas locais da França, da Itália ou da Indochina.

A resistência que surgiu no último ano à ocupação norte-americana do Iraque não se encaixa em nenhuma dessas categorias. Começou mais cedo, com os primeiros ataques armados explodindo em maio de 2003, semanas depois da queda de Bagdá. Aumentou no verão, quando surgiram regularmente manifestações e protestos de rua. (“O aprendiz se foi, eis aqui o mestre” foi o canto da marcha de
um milhão em Karbala naquela primavera.) Os ataques aleatórios iniciais à tropa de ocupação – bombas na beira da estrada, granadas propulsadas por foguetes, bombardeio amador do complexo da APC – evoluíram, em agosto de 2003, para ataques a alvos militares e diplomáticos estratégicos: a embaixada da Jordânia, o complexo da ONU. Em novembro as tropas norte-americanas sofreram baixas
mais pesadas, com os rebeldes derrubando helicópteros. As represálias cruéis levaram a uma escalada ainda maior. Como qualquer outra ocupação militar, a do regime anglo-americano é de sanção a assassinatos e torturas; a resistência a ele também é selvagem. Ataques suicidas, carros-bomba e morteiros semearam a destruição nas cidades grandes. As ações ofensivas às tropas dos Estados Unidos
entre outubro e dezembro de 2003 dobraram de cerca de quinze para mais de trinta; em junho de 2004, chegaram a estimadas 45 por dia. Os ataques cada vez mais sofisticados a oleodutos e estações de bombeamento (avaliados em mais de 2 mil no ano passado) interromperam durante semanas, a cada vez, a exportação de petróleo. Mas foram as rebeliões simultâneas que eclodiram no sul xiita e no
centro sunita em abril de 2004 e o comboio conjunto xiita-sunita de Bagdá a Faluja
que mais despertaram o alarme dos governos ocidentais e árabes, prefigurando uma liderança nacional da resistência, a ser evitada a qualquer custo. Enquanto isso, as pesquisas da APC mediam a margem sólida de apoio popular por trás dos combatentes; cerca de 92% dos iraquianos viam os soldados norte-americanos como ocupantes; apenas 2% consideravam-nos uma tropa de libertação.

E a resistência iraquiana não recebe apoio de nenhum Estado estrangeiro. Externamente, arrosta uma frente sem precedentes de hostilidade oficial, uma unanimidade global inimaginável em qualquer período anterior. A resolução 1546 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em 8 de junho de 2004, amplia o apoio irrestrito ao regime nomeado pela APC, conferindo a legitimidade total da
“comunidade internacional” à sua coletânea de forasteiros e antigos empregados da CIA. Explicando que o país – sem exército e com a ausência transparente de armas de destruição em massa – “continua a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais”, autoriza a força de ocupação comandada pelos Estados Unidos a tomar “todas as providências necessárias”, isto é, fazer tudo o que os comandantes norte-americanos acharem adequado. É claro que todos os membros da ONU estão claramente proibidos de fornecer armas ou matérias-primas ao povo iraquiano. A França e a Alemanha até se aventuraram a pedir que o controle soberano sobre o exército ocupante fosse confiado à fachada iraquiana que fabricara, só para ouvir de Allawi e Yawar que Paris e Bonn não deviam “ser mais iraquianas que os iraquianos”, que só desejavam que o comando norte-americano “os mantivesse informados”.

No próprio Oriente Médio, os Estados árabes desempenharam seu papel de costume. Os governos que se uniram a Washington na primeira Guerra do Golfo – Cairo, Damasco, Riad, Túnis, Argel, Rabat – continuaram a seu lado na segunda, com Amã alcançando-os rapidamente. A Argélia aprovou a resolução 1546; a Síria, a 1511, sua antecessora, em outubro de 2003. Mubarak ofereceu os serviços de
segurança do Egito para treinar a nova polícia iraquiana, apoiando, ao mesmo tempo, as razzias de Israel na Faixa de Gaza. O rei Abdalah está fornecendo campos de treinamento na Jordânia e preparou seus soldados para ajudar. O mundo islâmico mais amplo mostrou-se igualmente digno de confiança. Em junho, os 57 Estados da Organização da Conferência Islâmica reuniram-se em Istambul para prometer apoio à fachada nativa da ocupação – logicamente, com Karzai na liderança. Erdogan, o anfitrião, não só ofereceu soldados turcos ao Iraque como também apressou-se a participar da iniciativa Broader Middle East [Grande Oriente Médio], de Washington, que até Mubarak rejeitou. O Irã ajudou a manter quieto o clero do sul enquanto os norte-americanos cercam as cidades-santuário da pátria xiita. No Paquistão, Musharraf bombardeia seus súditos waziri seguindo instruções dos Estados Unidos.

Em termos políticos, a resistência iraquiana é heterogênea e fragmentada e falta-lhe a rede partidária que foi fundamental na maioria dos movimentos antiocupação anteriores. Inclui nasseristas, ex-baathistas, liberais e socialdemocratas seculares, redes de todos os matizes sediadas em mesquitas e facções do Dawa e do Partido Comunista – ambos partidos iraquianos colaboracionistas. Os observadores norte-americanos comentaram o fôlego social de uma oposição que recebe apoio de quase todas as classes, sejam urbanas ou rurais: “Suas fileiras incluem estudantes, intelectuais, ex-soldados, jovens das tribos, fazendeiros e islamitas”10. Em termos ideológicos, o nacionalismo e o islamismo – “por Deus e pelo Iraque” – são apelos poderosos, mas há também elementos de antiimperialismo terceiromundista e pan-arabismo. Ainda não se sabe se esses grupos podem criar algo equivalente a uma frente de libertação nacional para unir os grupos religiosos e seculares em torno da exigência central de expulsão de todos os soldados estrangeiros.

Recursos subjetivos

Externamente isolados e não-sincronizados internamente, ainda assim os maquis iraquianos possuem vários recursos bem particulares. Em primeiro lugar, fortes redes sociais: conexões flexíveis e resistentes entre clãs e famílias; bairros urbanos que mantêm alguma coesão; mesquitas que constituem local seguro para reuniões, algo inimaginável na Europa ocupada. Os escritores árabes ressaltaram
as fraquezas que acompanham essas formas: particularismo, rivalidade local, falta de coordenação, traição ou oportunismo de incontáveis demagogos, uma facção de criminalidade – embora nesse ambiente fluido, oral e mobilizadíssimo os líderes também possam ser obrigados a assumir posturas mais resolutas para manter seus seguidores11.

Em segundo lugar, a quantidade considerável de armas que a resistência tem à disposição. As estimativas norte-americanas – 3 milhões de toneladas de bombas e projéteis, AK-47s, lançadores de foguetes e morteiros, mais as granadas de artilharia usadas para fazer as bombas de beira de estrada – podem ser exageradas. Mas, diversamente dos movimentos antiocupação anteriores, que sofriam de falta de armas, parece provável que os guerrilheiros iraquianos tenham explosivos suficientes para atacar os ocupantes durante anos. Resistentes a choques, essas armas têm de ser trabalhosamente desmontadas uma a uma; a tentativa de explodir um depósito de munição apenas a espalha, sem explodi-la. No Iraque, os Estados Unidos só têm algumas poucas centenas de engenheiros
habilitados para a tarefa12.

Em terceiro lugar, o desagrado natural de qualquer povo com a ocupação estrangeira foi reforçado pela grande deterioração das condições sociais desde a invasão anglo-americana. Em boa parte do campo, a crise agrária de longo prazo – salinização, bombas quebradas, canais assoreados – está piorando com o
aumento de importações do agronegócio. O crescimento do desemprego rural inchou as favelas de Bazra e Bagdá. Na maioria das cidades fora do norte, as pequenas empresas foram golpeadas por uma combinação de mercadorias estrangeiras baratas e o colapso da lei e da ordem. Boa parte do pequeno setor industrial do Iraque na década de 1970 – já desviado para a produção de armas durante a guerra Irã–Iraque e então alvo das bombas ocidentais na década de 1990 – enfrenta não a privatização, mas o fechamento, jogando nas ruas uma força de trabalho que já foi especializada. Dois terços dos trabalhadores de antes da invasão podem estar desempregados agora. Quanto ao futuro, a literatura promocional que mostra o país como núcleo comercial regional – uma Dubai gigantesca, controlando operações de frete para o Grande Oriente Médio13 – oferece aos iraquianos pouco mais que uma possibilidade distante de integração na economia global como carregadores de bagagens e arrumadores de armazéns. A crise social cada vez mais profunda esconde-se por trás dos comunicados militares diários, e a presença tangível da ocupação constitui alvo fácil para a sabotagem.

Em quarto lugar, a resistência pode aproveitar as vivas lembranças históricas das batalhas finalmente vitoriosas contra o último ocupante imperial. A moderna nação iraquiana foi uma criação da luta contra o colonialismo britânico, depois que Londres tomou a Mesopotâmia de Istambul em 1917. A revolta do campo no verão de 1920 – pequenos xeques e saids ao longo do Eufrates, unidos a ex-autoridades otomanas de Bagdá e mercadores nortistas de Mossul duramente atingidos – obrigou Londres a retirar-se do governo direto que seguia o modelo de Délhi. Sua solução, “dominar sem governar”, como mais tarde definiu o Secretário de Estado para as Colônias14, foi criar uma monarquia que dependia das armas britânicas para sobreviver, apoiada por um mandato da Liga das Nações que autorizava “todas as providências necessárias”. O alto-comissário britânico continuava a ser o poder maior no país, e, quando o mandato expirou, o Tratado Anglo-Iraquiano garantiu o controle britânico sobre a política externa, portos, ferrovias, bases aéreas e, em tempo de guerra, as forças de segurança do Iraque. As obedientes autoridades locais assinaram o tratado, dispostas a abrir mão da independência externa –como disse uma dessas autoridades –, contanto que detivessem o controle interno. A maioria da população rejeitou isso. Quando a resistência explodiu, em 1922, o alto-comissário britânico prendeu líderes políticos, proibiu partidos nacionalistas e ficou famoso ao subjugar as tribos rebeldes com bombardeios punitivos e gás de mostarda.

Mas, apesar do esforço de Londres para promover a posse conservadora de terras rurais, enchendo as domesticadas assembléias nacionais de xeques leais e fabricando-lhes uma imagem “masculina” do deserto, as forças sociais urbanas não puderam ser contidas indefinidamente. Em 1936, advogados socialdemocratas e funcionários públicos uniram forças com os oficiais nacionalistas num golpe de
Estado de vida curta. O nascente Partido Comunista Iraquiano começou a organizar os soldados rasos. As ondas de greves varreram as docas de Bazra, as oficinas ferroviárias de Bagdá, as fábricas de tecido de Najaf, os campos de petróleo de Kirkuk e a base militar de Habaniah. Em maio de 1941, o regente pró-britânico, o príncipe herdeiro e o primeiro-ministro Nuri al-Said foram obrigados a fugir
para o exterior quando oficiais pan-arabistas, com o apoio nacionalista da massa, tomaram o poder e anularam as determinações de tempo de guerra do tratado. O Reino Unido teve de reocupar o país para restaurar o controle imperial, levando o príncipe herdeiro de volta a Bagdá num tanque britânico.

Em janeiro de 1948, a raiva popular com a reformulação do tratado15 e com o papel britânico na Palestina deflagrou um movimento de insurreição na capital, misturando estudantes e nacionalistas de classe média com ferroviários comunistas e moradores de favelas. Em novembro de 1952, outro levante jogouos contra soldados e policiais hashimitas nas ruas de Bagdá. Quatro anos depois, explodiram protestos violentos em Najaf e Hay contra o ataque anglo-francês-israelense ao Egito. Por fim, em julho de 1958, o golpe dos Oficiais Livres derrubou a monarquia com apoio tanto dos comunistas quanto dos baathistas (naquela época, um partido pequeno com menos de mil membros). Multidões imensas lotaram as ruas para impedir qualquer contra-revolução, enquanto se proclamava a República do Iraque, com um governo nacionalista de esquerda liderado por Abdul-Karim Qassim, e se abria a porta da independência nacional e das reformas sociais16.

Os iraquianos conhecem bem essas batalhas, o abecê de sua história moderna. Mas o passado raras vezes permite analogias exatas, e ver os acontecimentos contemporâneos através dessa lente destaca tanto as diferenças quanto as similaridades entre a antiga ocupação imperial e a nova. Em termos militares e políticos, a atual máquina do poderio norte-americano no Iraque é muito mais formidável do que a da Grã-Bretanha. Com 160 mil soldados a sua disposição, Negroponte, como um vice-rei, tem um domínio da violência muito maior do que o alto-comissário britânico. O controle norte-americano sobre portos, aeroportos e forças de segurança iraquianos – sem falar dos tribunais, da educação, do comércio, das finanças, dos meios de comunicação e da política externa – recebeu o selo de aprovação da ONU, com uma força de “lei internacional” que vai bem além do bilateral Tratado Anglo-Iraquiano. Os cofres de Washington são mais profundos do que jamais foram os de Londres, e a receita do petróleo hoje seria inimaginável na década de 1920. A capacidade da ocupação de comprar consenso para seu domínio é muito maior. A ocupação também pode ter esperanças de contar com a pura exaustão e a desorganização da vida depois de março de 2003 para criar o desejo desesperado de alguma aparência de normalidade, sob um novo sistema que promete transferir, embora só no papel, alguns elementos de soberania de volta ao país.

Perspectivas para a Zona Verde

Seria, portanto, um erro pensar que nada mudou desde que Bremer fugiu do Iraque. Como na Europa de 1940-41, ocupada pelos alemães, os regimes colaboracionistas locais oferecem, em geral, algum nível de alívio depois da humilhação da invasão estrangeira, além de negócios lucrativos e cargos administrativos para quem servir à nova ordem. O governo-títere de Bagdá goza hoje de muito menos autonomia que o regime de Pétain em Vichy – nesse aspecto, aproxima-se mais do de Quisling, em Oslo. Mas tem como base de apoio uma série de grupos privilegiados na paisagem pós-invasão, não apenas os forasteiros da folha de pagamento da CIA e do M16, mas também tecnocratas em busca de oportunidades de carreira; um bom volume da burguesia semi-expatriada e de nouveaux riches que querem o fim das sanções; famílias rurais tradicionalmente colaboracionistas como os Yawar, líderes da tribo Shamar da região de Mossul, que ficaram do lado britânico em 1920; e a grande população curda do norte. Por enquanto, o regime goza também da tolerância da hierarquia xiita em torno do aiatolá Sistani; parece que Teerã ainda tende a apaziguar os Estados Unidos. Washington pode, pelo menos, ter esperança de que a situação se mantenha fora das manchetes às vésperas das eleições nos Estados Unidos. Pode ainda tirar proveito de sua aventura com a estabilização de um estado dependente, caso consiga esmagar ou cooptar os maquis antes que obtenham demasiado apoio doméstico.

Tudo isso, entretanto, precisa enfrentar a ojeriza generalizada da população árabe à própria ocupação norte-americana. A mão estrangeira é visível por toda parte no novo Iraque. Até no norte, onde os soldados norte-americanos são pouco necessários, os líderes curdos instalaram uma rede de agentes da espionagem israelense e esquadrões de atiradores, fechando com chave de ouro sua ficha desastrosa de erros políticos, embora por uma causa legítima17. Se não quiser que esse regime dependente seja associado para sempre aos bombardeiros, blindados e prisões norte-americanos, os Estados Unidos precisam com urgência de um órgão local e eficaz para impor o cumprimento da lei18. Uma boa medida da força da resistência é que, apesar do nível de desemprego, o alistamento militar, em junho de 2004, arrastava-se em 10% do volume planejado, e a lealdade dos novos recrutas é ainda uma incerteza. Não se sabe se a tentativa de Allawi de reunir ou conquistar os ex-oficiais do Baath produzirá resultados melhores.

Na frente ideológica, não há muito mais luz. Parece já haver dúvidas sobre o nebuloso horizonte eleitoral. Segundo as regras endossadas pela resolução 1546 da ONU, as eleições de janeiro de 2005 (se existirem) escolherão candidatos selecionados pela embaixada dos Estados Unidos para um governo “de transição” com poderes estritamente limitados, encarregado de esboçar uma Constituição para outra votação também restrita em janeiro de 2006. Entrementes, uma conferência consultiva de mil membros escolhidos a dedo pode ou não ser convocada para discutir a nomeação, dentre seus integrantes, de um organismo menor e igualmente consultivo19.

Em termos internacionais, o regime e seus senhores esperam fortalecer sua posição tornando a plantar a bandeira da ONU em solo iraquiano. Até agora o Secretariado não ousou voltar a Bagdá, e por boas razões. A mortalidade infantil sob o regime de sanções da ONU da década de 1990 provocou, segundo estimativas conservadoras, cerca de 300 mil mortes de crianças com menos de cinco anos
por doenças e desnutrição, enquanto o Secretariado cobrava taxas administrativas de mais de 1 bilhão de dólares. Em dezembro de 1998, o Comitê de Contratos da ONU, trabalhando no escritório do Secretariado, concedeu o contrato do programa “petróleo por comida”, para monitorar as importações iraquianas (de alimentos muitas vezes apodrecidos e remédios diluídos) à Cotecna Inspections, empresa que contratou Kojo, filho de Kofi Annan, como consultor durante o processo de concorrência20. Em junho, o enviado especial Lakhdar Brahimi, um dos líderes da junta que cancelou as eleições da Argélia em 1992 e defensor do regime de Karzai no Afeganistão, aprovou a escolha de Bremer dos membros do Conselho Governante que reencarnariam como ministros do Governo Provisório; mas, com o dever cumprido, não esperou para cair fora. Quando voltarem, os funcionários da ONU vão precisar de um grande exército particular para protegê-los.

Novembro e depois

Formalmente falando, a invasão anglo-americana perdeu seus pretextos originais. Não existiam armas de destruição em massa. As violações aos direitos humanos foram a marca dos libertadores. A necessidade de levar a democracia ao Iraque, sem falar do restante do Oriente Médio, ficou menos premente. Foi a força da resistência iraquiana – e só ela – que provocou o desconforto generalizado no establishment ocidental. Os centros de estudos de Washington começaram a debater as estratégias de saída, estimando os custos para a credibilidade política norte-americana (“elevados ou aceitáveis?”) e avaliando “indicadores da retirada”21. O eleitorado norte-americano ficou contra a guerra desde abril de 2004: 56% dos eleitores agora acham que a invasão foi um erro. As imagens de Abu Ghraib enfraqueceram a autoridade da Casa Branca.

Mas aqueles que desaprovaram as proclamações preventivas da Estratégia de Segurança Nacional de 2002 não querem vê-la afundar. Com o aumento da resistência no Iraque houve uma torrente de conselhos imperialistas liberais sobre como administrar melhor a ocupação. Joseph Nye lamenta a escassez de canais de TV norte-americanos capazes de promover o soft power dos Estados Unidos
no mundo árabe. Anthony Cordesman dá receitas para um interrogatório mais eficaz dos prisioneiros. Michael Ignatieff, depois de lamentar as dolorosas justaposições morais que chegaram a sujar o funeral de Reagan, avisa que “os Estados Unidos não podem abdicar de sua responsabilidade”. Andrew Moravcsik explica: “Os europeus podem descobrir que o próximo Iraque é um Kosovo e querer que os Estados Unidos intervenham”22. Embora as comemorações tenham sido abafadas, a instalação patrocinada pela ONU de um regime de aluguel em Bagdá foi louvada de forma quase universal pelos meios de comunicação ocidentais como um “passo positivo”.

Daqueles que se opuseram à invasão anglo-americana em 2003 porque lhe faltava a legitimação da ONU ou porque as sanções já estavam resolvendo o problema, houve, é compreensível, um silêncio ensurdecedor sobre o futuro da ocupação, só rompido por murmúrios sobre prazos. Para muitos, a oposição ao império reduziu-se à aversão a Bush. Mas o governo Bush já implementou todos os passos do programa dos democratas: a entrega do governo aos iraquianos, com a bênção da ONU e o envolvimento da Otan, como no Afeganistão. A esperança de que um governo Kerry altere de forma significativa a política norte-americana atual no Oriente Médio é vã. Como explicou recentemente Strobe Talbott, peça fundamental da política externa de Clinton: “O governo Bush estava certo ao identificar o Iraque como um grande problema. Um presidente Gore, McCain ou Bradley teria aumentado a pressão e, mais cedo ou mais tarde, recorrido à força”23. Kerry apoiou a invasão, manterá a Lei Patriota, concorda com a política de segurança de Sharon e vem clamando por mais 40 mil soldados norte-americanos na ativa e pela duplicação do efetivo das tropas especiais. Pelo que se vê hoje, votar nele não passa de mais um tiro no Iraque. Nesse sentido, a revolução Bush foi bem-sucedida: produziu seu herdeiro. Seja qual for sua cor, o próximo governo dos Estados Unidos tentará consolidar sua posição lá. Não serão as eleições de novembro que decidirão o destino da marcha sobre Bagdá. Na realidade, enquanto a resistência continuar a dar duros golpes no exército de ocupação e em seus auxiliares, o apoio doméstico à recolonização do Iraque irá se esvair, seja qual for o multimilionário que se instale na Casa Branca.

O mesmo acontece na Europa, onde Paris e Berlim, de forma previsível, apressaram-se a remendar suas relações com Washington e aprovaram o envolvimento da Otan para apoiar o regime de Bagdá – no caso de Chirac, selando o pacto com a invasão franco-americana do Haiti e a derrubada, com o apoio da ONU, do governo constitucional do país. As rixas que, há dezoito meses, supostamente ameaçaram a aliança atlântica foram cerimoniosamente sepultadas nas areias da Normandia, em County Clare e em Istambul. O avanço militar-imperialista de Washington na Eurásia central, de início deplorado pelos pilares direitistas do status quo como aventura exagerada, tornou-se a base de um novo consenso mundial: não se pode deixar o hegemônico fracassar. O primeiro passo elementar contra essa aquiescência é a solidariedade com a causa da libertação nacional do Iraque. As forças lideradas pelos Estados Unidos não têm o que fazer ali. Os maquis iraquianos merecem todo o apoio na luta para expulsá-las.

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1 Telegrama do alto-comissário da Mesopotâmia ao Secretário de Estado para as Colônias. Os britânicos estavam preocupados com a possibilidade de o rei Faissal “não perceber a que grau de controle esperamos que se submeta”. Hanna Batatu, The old social classes and the revolutionary movements of Iraq [1978] (Londres, 2004), p. 324. Muito obrigada a Sami Ramadani e outros por seus comentários e suas observações. Naturalmente, não têm responsabilidade nenhuma pelo texto que se segue.
2 Uma autoridade nomeada pela CIA para a Comissão de Comunicação e Mídia, responsável pelo licenciamento de meios de comunicação, explicou que “podem dar adeus a todos os recursos europeus” e que “recursos consideráveis dos Estados Unidos serão suspensos” caso o ministro provisório faça alguma tentativa de desobedecer à Comissão (Financial Times, 5/7/2004).
3 Economist, 26/6/2004; Financial Times, 5/7/2004.
4 Sobre o relato de Dirgam Kadhim, o ex-propagandista do ANI: Eli Lake, New York Sun,
17/1/2004; Seymour Hersh, “Plan B”, New Yorker, 28/6/2004.
5 Daily Telegraph, 7/12/2003.
6 Comessa quantia, a Theros & Theros, empresa lobista contratada por Allawi, organizou reuniões com Bill Frist, Richard Lugar, Dennis Hastert, Tom DeLay, Henry Hyde, várias autoridades do Conselho de Segurança Nacional, do gabinete do vice-presidente, do Departamento de Defesa e da CIA, assim como conseguiu para Allawi uma coluna no Washington Post. Ver Ken Guggenheim, Associated Press, 24/1/2004; Jim Drinkard, USA Today, 2/6/2004.
7 Quanto a essa comparação, ver Tariq Ali, “Postscript”, na edição em brochura de Bush in Babylon, publicada pela Verso em outubro de 2004.
8 Para um retrato vívido da postura dos alienados soldados dos Estados Unidos – um coquetel de cultura das armas, videogames, pornografia e violência gratuita –, ver Evan Wright, Generation kill (Nova York, 2004); a ocorrência comum nas prisões norte-americanas dos métodos de humilhação praticados em Abu Ghraib foi bem documentada.
9 Os membros atuais do Conselho de Segurança da ONU, além dos cinco permanentes, são: Alemanha, Argélia, Angola, Benin, Brasil, Chile, Espanha, Filipinas, Paquistão e Romênia.
10 Ahmed Hashim, “Terrorism and complex warfare in Iraq”, Jamestown Foundation, 18/6/2004.
11 São questões discutidas nos últimos ensaios do romancista Abderrahman Munif (1933-2004), publicados como Al-Iraq: Hawamish min al-Tarikh wa al-Moquoumah [Iraque: notas sobre sua história e resistência] (Beirute, 2003).
12 Evan Wright, ‘Iraq’s vast arsenal’, International Herald Tribune, 18 June 2004.
13 Ver, por exemplo, as efusões de Joseph Braude, The New Iraq, New York 2003, pp. 132–3.
14 Isto Wright, “Iraq’s vast arsenal”, International Herald Tribune, 18/6/2004. por exemplo, as efusões de Joseph Braude, The new Iraq (Nova York, 2003), p. 132-3. é, “exercendo o controle por intermédio de um governo nativo ostensivamente independente”: L. S. Amery, Memorando do Foreign Office, 7/2/1929.
15 Então “lubrificado com as expressões da mutualidade” na forma do Acordo de Portsmouth: Batatu, Old social classes, cit., p. 550.
16 Foi a força dos comunistas iraquianos nesse estado fundamental do Oriente Médio que provocou o primeiro golpe do partido Baath e dos interesses empresariais e petrolíferos, com apoio da CIA, em 1963. Sobre o papel dos Estados Unidos, como descrito pelo rei Hussein da Jordânia, ver Batatu, Old social classes, cit., p. 985-6.
17 O Pentágono não divulgou nenhum desmentido do detalhado relatório de Seymour Hersh no New Yorker sobre a expansão qualitativa de Israel em sua antiga base de segurança nas províncias curdas do Iraque, com o treinamento dos 75 mil peshmerga em táticas de comando dos mistaravim para operações no Iraque, no Irã e na Síria. Segundo um ex-oficial do serviço de informações israelense, os líderes de Israel concluíram, em agosto de 2003, que a possibilidade de salvar a situação no Iraque “Acabou. Não militarmente – os Estados Unidos não podem ser derrotados militarmente no Iraque – mas politicamente”. O “Plano B” tentaria resgatar um Curdistão independente, com acesso ao petróleo de Kirkuk, como plataforma estratégica na região. Hersh, New Yorker, 28/6/2004.
18 Ainda que queiram uma implantação barata. “Está claro que o desejo de reduzir custos e cortar despesas foi um grande fator na opção do Pentágono pelo equipamento ucraniano [...] Dezenas de fornecedores militares norte-americanos revelaram seu desapontamento com as exigências mínimas”; nem mesmo proteção balística para os transportes de tropas nem ar-condicionado nas ambulâncias. Financial Times, 18/6/2004.
19 As eleições para reitores de universidades, realizadas, como previsto no regime anterior, no verão de 2003, escolheram maciçamente candidatos contrários à ocupação; a APC rapidamente cancelou as eleições para prefeito que viriam logo a seguir. 
20 A tarefa complacente da Cotecna era emitir certificados de Confirmação de Chegada para os contêineres de mercadorias que passassem pelo porto de Umm Qasr ou em Trebil, na fronteira com a Jordânia, gerando pagamentos da conta de representação da ONU para a qual era encaminhada a receita da venda de petróleo iraquiano. O comitê de contratos da ONU responde diretamente ao secretário geral, que aprovou todas as fases de seis meses do programa. Atualmente, o Secretariado se recusa a divulgar detalhes dos honorários da Cotecna aos inquéritos parlamentares sobre o escândalo Kofigate. Em maio de 2003, o Conselho de Segurança da ONU deu-lhe seis meses para “atar as pontas soltas” antes que a administração dos recursos do petróleo passasse para a APC naquele mês de novembro. Com isso, 25% dos contratos foram cancelados, porque as empresas tinham desaparecido ou não quiseram assiná-los sem o rebate de 10% que a ONU eliminava apressadamente. Ver Therese Raphael, Wall Street Journal, 11/3/2003; Claudia Rosett, National Review, 10 e 21/3/2004.
21 Ver, por exemplo, o Fórum de Política de abril de 2004 do Centre for Strategic and International Studies, “Iraq: on the precipice”.
22 Respectivamente: Nye, “America needs to use soft power”, Financial Times, 18/4/2004; Ignatieff, New York Times Magazine, 27/6/2004; Moravcsik, Financial Times, 26/6/2004.
23 “The burning of Bush”, Financial Times Magazine, 26/6/2004.

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