1 de junho de 2005

Uma nota sobre a morte de Andre Gunder Frank (1929-2005)

Conheci André Gunder Frank e sua companheira Marta Fuentes em 1967.

Samir Amin

Monthly Review

Volume 57, Issue 02 (June)

Conheci André Gunder Frank e sua companheira Marta Fuentes em 1967. Nossa longa conversa nos convenceu de que pensávamos com a mesma amplitude de ondas [“longueurs d’onde”]. A teoria da modernização, dominante à época, atribuía o “subdesenvolvimento” ao caráter tardio e incompleto do desenvolvimento capitalista [nos países periféricos]. A ortodoxia dos Partidos Comunistas retomava a sua maneira esta visão e caracterizava a América Latina como “semifeudal”. Frank formulou uma tese inteiramente diferente e nova: a de que a América Latina fora produzida desde a origem nos marcos do desenvolvimento capitalista enquanto periferia dos centros atlânticos nascentes. Eu propusera, de minha parte, analisar a integração da Ásia e da África no sistema capitalista em termos de exigências da “acumulação em nível mundial”, produtora – por sua própria lógica interna – da polarização da riqueza e do poder.

Alguns anos mais tarde – no México, em 1972 – nos encontramos no Congresso do CLACSO [Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais] que inaugurava a “Teoria da Dependência”, da qual Frank era um dos maiores expoentes, junto com Fernando Henrique Cardoso, Aníbal Quijano, Rui Mario Marini e outros. Eles me pediram para lhes expôr as conclusões paralelas às quais eu chegara a partir da história profundamente diferente da integração da Ásia e da África no sistema mundial.

Era normal, nestas circunstâncias, que nós nos encontrássemos igualmente com a Escola da Economia-Mundo, inaugurada por I. Wallerstein nos anos 1970. Foi assim que se constituiu nosso “grupo dos quatro” (Amin, Arrighi, Frank e Wallerstein). Os “quatro” publicaram então – através da Editora Maspéro-La Découvert – duas obras : Crise, que crise? (1982) e Grande tumulto? Os movimentos sociais na Economia-Mundo (1991). Quando a instalação da nova economia neoliberal mundializada estava ainda recém-iniciada, e a nova geo-estratégia somente começava a se delinear, nós [já] dávamos uma importância estratégica aos “novos movimentos sociais” que iriam – dez anos mais tarde, em Porto Alegre, 2001 – constituir-se em “Fórum Social Mundial”.

Essa proximidade de visões fundamentais, a despeito de diferenças marcantes (que foram estimulantes para todos), nos faria amigos íntimos. Isabelle (minha esposa) e eu amamos a Frank como um irmão e sofremos bastante a degradação de sua saúde ao longo dos doze últimos anos de sua vida, uma luta constante e corajosa contra o câncer. O que amei acima de tudo em Frank foi sua sinceridade e sua devoção sem limites. Frank movia-se exclusivamente por um só desejo: o de ser útil às classes populares e aos povos dominados, vítimas da exploração e da opressão. Ele esteve sempre espontânea e incondicionalmente a seu lado. Uma qualidade que não se encontra, necessariamente, entre a maioria das inteligências privilegiadas.

Samir Arnin é diretor do Third World Forum em Dacar, Senegal. Seus livros recentes incluem Obsolescent Capitalism: Contemporary Politics and Global Disorder (Zed Books, 2004) e The Liberal Virus: Permanent War and the Americanization of the World (Monthly Review, 2004).

Este ensaio foi traduzido do francês por Shane Mage.

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