Leigh Phillips
Jacobin
Foto: Wikimedia Commons |
Tradução / Bill Gates, o titã original na área de tecnologia e por muito tempo o homem mais rico no mundo, anda por aí dizendo para praticamente qualquer um que lhe der ouvidos que o livre-mercado é terrível para a inovação.
Parece que tudo começou em 2010, quando ele reclamou para as plateias do TED Talks sobre os “níveis ridiculamente baixos” de gastos governamentais em pesquisas básicas em energias renováveis, uma frase que ele vem repetindo em vários locais.
Em junho de 2015, Gates deu uma longa e surpreendente entrevista para o Financial Times onde afirmou não uma mas repetidas vezes que é o setor público, e não as companhias privadas por si mesmas, quem vai conduzir uma mudança global rumo a uma economia de energias-limpas, e que embora ele ame filantropia, isso não substitui a taxação como mecanismo para gerar redistribuição de riquezas.
Em meio à discussão dos tipos de projetos de inovação em energia verde que mais o excitavam – energia nuclear reciclada de Urânio empobrecido, pipas de grandes altitudes ou “kytoons”, e turbinas voadoras captando a força constante dos ventos das correntes altas – ele contou ao repórter do FT como no setor de energia, assim como no setor da saúde, há áreas de pesquisa que possuem um potencial interessante para auxiliar a humanidade mas que não oferecem retorno financeiro. O setor público, entretanto, pode adotar uma visão de longo-prazo e assim “os orçamentos governamentais de pesquisa e desenvolvimento devem ser aumentados nesse espaço.”
Ele chegou a contar como foi o “setor público que esteve lá no início” nas tecnologias digitais, na Internet, nos transportes. Isso é certamente verdade. Se ele não tem lido Marx, certamente parece ter lido o livro O Estado Empreendedor: Desmascarando o mito do setor público vs. setor privado, da economista da inovação e keynesiana Mariana Mazzucato – um campeão de vendas entre os frequentadores de cúpulas e encontros, que oferece uma série de casos de estudo desde biotecnologia, passando pela indústria farmacêutica até microcomputadores, e que mostra como historicamente tem sido o setor público quem faz os investimentos de alto-risco em novas tecnologias muito antes do setor privado se sentir confiante o bastante para entrar com seu dinheiro.
A razão é simples: empresas são avessas demais ao risco para investir na ausência de algo garantido. As amplas evidências que ela reuniu demonstram que, ao contrário da crença popular, é mais frequentemente o Estado quem pavimenta o caminho com inovações, não os capitães dos negócios. Ela clama por gastos públicos “orientados por missões” em projetos como o vôo à Lua para arrancar a humanidade do atual deserto de inovações.
“Como há tanta incerteza e existem tantos caminhos diferentes,” continuou Gates, ecoando a tese de Mazzucato, “deveria ser como no Projeto Manhattan e o Projeto Apollo, no sentido de que o governo deveria investir expressivas quantias em pesquisa e desenvolvimento.”
Alguns dias depois, em um post em seu blog, Gates expandiu seu argumento:
No novembro seguinte ele disse ao Atlantic, novamente sobre o tema da pesquisa em energias verdes: “Sim, o governo será um tanto inepto, mas o setor privado é inepto em geral. Quantas das companhias em que os capitalistas de risco investem acabam dando errado? De longe, a maioria delas.”
Tudo isso culminou na grande revelação, durante as discussões das Nações Unidas sobre o clima em Paris, quando Gates e líderes dos negócios como Mark Zuckerberg do Facebook e Jeff Bezos do Amazon estavam lá para os anúncios gêmeos da “Missão Inovação” – um compromisso de 21 países incluindo Reino Unido, EUA, China, India e México para dobrar os gastos públicos em pesquisa de energias limpas até o final da década; e a “Breakthrough Energy Coalition”, um grupo de empresas e fundações que pretendiam “dar suporte para as companhias tirarem ideias inovadoras em energia-limpa dos laboratórios para levá-las ao mercado.”
Gates, a cabeça por trás de ambos os esforços, novamente usou seu blog para tratar do seu pensamento por detrás deles, postando um documento de nove páginas que detalha como “programas de pesquisa financiados pelos governos tem produzido muitas das inovações que definem a vida moderna,” e estende o argumento sobre o porquê da falha de mercado no setor de energia ser particularmente ruim: Enquanto companhias farmacêuticas investem 20% de seus ganhos em pesquisa e companhias de IT investem 15%, companhias de energia gastam 0.23%.
Isso por que, diz ele, enquanto a maioria das companhias sabe dentro de poucos anos se uma inovação particular vai se pagar, no setor energético pode demorar décadas para saber se o dinheiro da pesquisa resultará em ganhos incríveis por que demora muito pra se adotar novas tecnologias de energia. “É por isso que governos desempenham um papel indispensável no suporte de pesquisas em energia.”
Ainda assim Gates “e seus amigos bilionários” levaram porrada no The Guardian dos comentaristas progressistas Martin Lukacs e Rajiv Sikora. Eles zombam, afirmando que não precisamos de nenhuma nova tecnologia, e sim de mais cooperativas de pequena escala e de propriedade local de energia eólica e solar, como existentes na Alemanha e na Dinamarca. Gates só estaria desejando “que os governos criem o alicerce para uma nova fronteira de ‘lucros-verdes’,” por meio de “remendos climáticos” como captura e armazenamento de carbono e geoengenharia que “prometem que poderemos continuar queimando combustíveis fósseis.”
É uma pena que Lukacs e Sikora não estejam reconhecendo a gloriosa oportunidade aqui para um pouco de atrevimento no jiu-jitsu político.
Parece que tudo começou em 2010, quando ele reclamou para as plateias do TED Talks sobre os “níveis ridiculamente baixos” de gastos governamentais em pesquisas básicas em energias renováveis, uma frase que ele vem repetindo em vários locais.
Em junho de 2015, Gates deu uma longa e surpreendente entrevista para o Financial Times onde afirmou não uma mas repetidas vezes que é o setor público, e não as companhias privadas por si mesmas, quem vai conduzir uma mudança global rumo a uma economia de energias-limpas, e que embora ele ame filantropia, isso não substitui a taxação como mecanismo para gerar redistribuição de riquezas.
Em meio à discussão dos tipos de projetos de inovação em energia verde que mais o excitavam – energia nuclear reciclada de Urânio empobrecido, pipas de grandes altitudes ou “kytoons”, e turbinas voadoras captando a força constante dos ventos das correntes altas – ele contou ao repórter do FT como no setor de energia, assim como no setor da saúde, há áreas de pesquisa que possuem um potencial interessante para auxiliar a humanidade mas que não oferecem retorno financeiro. O setor público, entretanto, pode adotar uma visão de longo-prazo e assim “os orçamentos governamentais de pesquisa e desenvolvimento devem ser aumentados nesse espaço.”
Ele chegou a contar como foi o “setor público que esteve lá no início” nas tecnologias digitais, na Internet, nos transportes. Isso é certamente verdade. Se ele não tem lido Marx, certamente parece ter lido o livro O Estado Empreendedor: Desmascarando o mito do setor público vs. setor privado, da economista da inovação e keynesiana Mariana Mazzucato – um campeão de vendas entre os frequentadores de cúpulas e encontros, que oferece uma série de casos de estudo desde biotecnologia, passando pela indústria farmacêutica até microcomputadores, e que mostra como historicamente tem sido o setor público quem faz os investimentos de alto-risco em novas tecnologias muito antes do setor privado se sentir confiante o bastante para entrar com seu dinheiro.
A razão é simples: empresas são avessas demais ao risco para investir na ausência de algo garantido. As amplas evidências que ela reuniu demonstram que, ao contrário da crença popular, é mais frequentemente o Estado quem pavimenta o caminho com inovações, não os capitães dos negócios. Ela clama por gastos públicos “orientados por missões” em projetos como o vôo à Lua para arrancar a humanidade do atual deserto de inovações.
“Como há tanta incerteza e existem tantos caminhos diferentes,” continuou Gates, ecoando a tese de Mazzucato, “deveria ser como no Projeto Manhattan e o Projeto Apollo, no sentido de que o governo deveria investir expressivas quantias em pesquisa e desenvolvimento.”
Alguns dias depois, em um post em seu blog, Gates expandiu seu argumento:
“Por que os governos deveriam financiar a pesquisa básica? Pela mesma razão por que as companhias tendem a não fazer isso: por que ela é um bem público. Os benefícios para a sociedade são muito maiores que a quantia que um inventor pode captar. Um dos melhores exemplos disso é a criação da Internet. Ela levou a inovações que continuam a mudar nossas vidas, mas nenhuma das companhias que fornecem essas inovações jamais poderia tê-la construído.”
No novembro seguinte ele disse ao Atlantic, novamente sobre o tema da pesquisa em energias verdes: “Sim, o governo será um tanto inepto, mas o setor privado é inepto em geral. Quantas das companhias em que os capitalistas de risco investem acabam dando errado? De longe, a maioria delas.”
Tudo isso culminou na grande revelação, durante as discussões das Nações Unidas sobre o clima em Paris, quando Gates e líderes dos negócios como Mark Zuckerberg do Facebook e Jeff Bezos do Amazon estavam lá para os anúncios gêmeos da “Missão Inovação” – um compromisso de 21 países incluindo Reino Unido, EUA, China, India e México para dobrar os gastos públicos em pesquisa de energias limpas até o final da década; e a “Breakthrough Energy Coalition”, um grupo de empresas e fundações que pretendiam “dar suporte para as companhias tirarem ideias inovadoras em energia-limpa dos laboratórios para levá-las ao mercado.”
Gates, a cabeça por trás de ambos os esforços, novamente usou seu blog para tratar do seu pensamento por detrás deles, postando um documento de nove páginas que detalha como “programas de pesquisa financiados pelos governos tem produzido muitas das inovações que definem a vida moderna,” e estende o argumento sobre o porquê da falha de mercado no setor de energia ser particularmente ruim: Enquanto companhias farmacêuticas investem 20% de seus ganhos em pesquisa e companhias de IT investem 15%, companhias de energia gastam 0.23%.
Isso por que, diz ele, enquanto a maioria das companhias sabe dentro de poucos anos se uma inovação particular vai se pagar, no setor energético pode demorar décadas para saber se o dinheiro da pesquisa resultará em ganhos incríveis por que demora muito pra se adotar novas tecnologias de energia. “É por isso que governos desempenham um papel indispensável no suporte de pesquisas em energia.”
Ainda assim Gates “e seus amigos bilionários” levaram porrada no The Guardian dos comentaristas progressistas Martin Lukacs e Rajiv Sikora. Eles zombam, afirmando que não precisamos de nenhuma nova tecnologia, e sim de mais cooperativas de pequena escala e de propriedade local de energia eólica e solar, como existentes na Alemanha e na Dinamarca. Gates só estaria desejando “que os governos criem o alicerce para uma nova fronteira de ‘lucros-verdes’,” por meio de “remendos climáticos” como captura e armazenamento de carbono e geoengenharia que “prometem que poderemos continuar queimando combustíveis fósseis.”
É uma pena que Lukacs e Sikora não estejam reconhecendo a gloriosa oportunidade aqui para um pouco de atrevimento no jiu-jitsu político.
Sejamos claros: embora seja uma piada divertida sugerir que Gates estaria virando um comuna porque ele teve uma epifania sobre falhas de mercado e a importância da taxação progressiva e do setor público, a verdade é que sua fundação, junto de uma tropa de outras, vem enfiando bilhões na privatização da educação nos EUA – em esforços para vincular os pagamentos dos professores a testes sobre os alunos, para expandir escolas privadas, e para restringir negociações coletivas.
Mesmo onde a Fundação Gates conseguiu angariar mais fãs – com seu trabalho sobre a AIDS, a malaria e a crescente ameaça da tuberculose – sua crítica não oficial às políticas da Organização Mundial de Saúde deveria incomodar qualquer um que acredita na democracia.
Mas Lukacs e Sikora não acham no mínimo digno de nota que Bill Gates esteja andando por aí evangelizando sobre como o capitalismo não é o bastante?
Gates na verdade não menciona a captura de carbono ou a geoengenharia em seu documento. Ao invés disso, uma das áreas fascinantes que ele espera que receba mais financiamento público é a Química Solar, também conhecida como fotossíntese artificial.
Enquanto células fotovoltaicas geram eletricidade à partir dos raios do sol, e a energia termo-solar usa raios de sol rebatendo em espelhos para aquecimento, a química solar explora o poder do sol para dividir as moléculas de água e produzir oxigênio e hidrogênio que podem ser usados como combustível, ou usa a luz do sol, água e gás carbônico para criar hidrocarbonetos que podem então sofrer combustão sem liberação de dióxido de carbono na atmosfera.
Nós já temos a tecnologia para eletrificar nossa frota de veículos de passageiros; só precisamos de políticas de demanda ao estilo norueguês para rapidamente induzir a adoção de veículos elétricos. Porém, graças à baixa densidade de energia mesmo das baterias mais avançadas, aviões jumbo e navios cargueiros elétricos ainda estão fora de alcance. As baterias necessárias para fazer o trabalho seriam simplesmente pesadas demais.
As emissões de gases do efeito estufa da maioria dos biocombustíveis de primeira e segunda geração se revelaram piores que os de combustíveis fósseis uma vez que uma análise de ciclo de vida completo foi realizada. Então a química solar poderia ser a opção milagrosa para solucionar as emissões nestes setores chave. Gates está certo em clamar por novos investimentos públicos nessa área enquanto a maioria dos investidores privados não enxergam de onde eles poderiam tirar uma grana.
Contudo, melhor ainda, progressistas podem pegar de onde Gates começa seu argumento, expor as contradições, e levar à conclusão lógica que faria corar os bilionários.
Nós sabemos que a energia não é o único setor a sofrer a influência da preguiça do investidor avesso ao risco e da estagnação da inovação. O que faz da já mencionada tuberculose e de outras infecções bacterianas algo tão aterrorizante é que nós estamos ficando sem drogas para tratar essas doenças. A tuberculose multirresistente vem se espalhando pelo ocidente e aparentemente não temos muito o que fazer para pará-la, na ausência do desenvolvimento de uma nova classe de antibióticos.
Estamos no limiar de uma era pós-antibióticos, onde uma infecção após um arranhão ou através de um cateter num hospital qualquer pode representar uma sentença de morte.
O crescimento da resistência microbial é, de muitas maneiras, uma ameaça mais imediata para a humanidade do que a mudança climática, e todo mundo familiarizado com o problema sabe que existe uma razão para isso: a recusa da indústria farmacêutica por cerca de três décadas em investir na pesquisa necessária, por que antibióticos simplesmente não são lucrativos o bastante em comparação com drogas para doenças crônicas.
Setor por setor, o conjunto de todas as coisas que são lucráveis é muito menor que o conjunto de todas as coisas que são úteis. O capitalismo acorrenta a produção, limitando o que podemos produzir para apenas aquelas coisas que permitem ao capital se expandir – e degradando as vidas de todos, mesmo dos indivíduos mais ricos. A tuberculose multirresistente não se importa com quantos bilhões você possui numa conta nas Bahamas.
Expressando numa linguagem que o pessoal no Vale do Silício poderia entender, isso significa que o capitalismo só pode oferecer uma sombra do potencial inovador que o socialismo poderia oferecer. Enquanto isso, o micro-esquerdismo neo-malthusiano na linha de “o negócio é ser pequeno” de gente como Lukacs e Sikora não tem nada a dizer sobre inovação, pesquisa e o avanço de nossa espécie.
Em nome do clima, em nome do enfrentamento da resistência aos antibióticos, e por tantos outros motivos, nós precisamos reviver os argumentos sobre como o capitalismo limita a produção e asfixia a inovação, que um dia estiveram no centro do discurso progressista.
Nós poderíamos ter tanto mais – e sem precisar depender de gente como Bill Gates.
Mesmo onde a Fundação Gates conseguiu angariar mais fãs – com seu trabalho sobre a AIDS, a malaria e a crescente ameaça da tuberculose – sua crítica não oficial às políticas da Organização Mundial de Saúde deveria incomodar qualquer um que acredita na democracia.
Mas Lukacs e Sikora não acham no mínimo digno de nota que Bill Gates esteja andando por aí evangelizando sobre como o capitalismo não é o bastante?
Gates na verdade não menciona a captura de carbono ou a geoengenharia em seu documento. Ao invés disso, uma das áreas fascinantes que ele espera que receba mais financiamento público é a Química Solar, também conhecida como fotossíntese artificial.
Enquanto células fotovoltaicas geram eletricidade à partir dos raios do sol, e a energia termo-solar usa raios de sol rebatendo em espelhos para aquecimento, a química solar explora o poder do sol para dividir as moléculas de água e produzir oxigênio e hidrogênio que podem ser usados como combustível, ou usa a luz do sol, água e gás carbônico para criar hidrocarbonetos que podem então sofrer combustão sem liberação de dióxido de carbono na atmosfera.
Nós já temos a tecnologia para eletrificar nossa frota de veículos de passageiros; só precisamos de políticas de demanda ao estilo norueguês para rapidamente induzir a adoção de veículos elétricos. Porém, graças à baixa densidade de energia mesmo das baterias mais avançadas, aviões jumbo e navios cargueiros elétricos ainda estão fora de alcance. As baterias necessárias para fazer o trabalho seriam simplesmente pesadas demais.
As emissões de gases do efeito estufa da maioria dos biocombustíveis de primeira e segunda geração se revelaram piores que os de combustíveis fósseis uma vez que uma análise de ciclo de vida completo foi realizada. Então a química solar poderia ser a opção milagrosa para solucionar as emissões nestes setores chave. Gates está certo em clamar por novos investimentos públicos nessa área enquanto a maioria dos investidores privados não enxergam de onde eles poderiam tirar uma grana.
Contudo, melhor ainda, progressistas podem pegar de onde Gates começa seu argumento, expor as contradições, e levar à conclusão lógica que faria corar os bilionários.
Nós sabemos que a energia não é o único setor a sofrer a influência da preguiça do investidor avesso ao risco e da estagnação da inovação. O que faz da já mencionada tuberculose e de outras infecções bacterianas algo tão aterrorizante é que nós estamos ficando sem drogas para tratar essas doenças. A tuberculose multirresistente vem se espalhando pelo ocidente e aparentemente não temos muito o que fazer para pará-la, na ausência do desenvolvimento de uma nova classe de antibióticos.
Estamos no limiar de uma era pós-antibióticos, onde uma infecção após um arranhão ou através de um cateter num hospital qualquer pode representar uma sentença de morte.
O crescimento da resistência microbial é, de muitas maneiras, uma ameaça mais imediata para a humanidade do que a mudança climática, e todo mundo familiarizado com o problema sabe que existe uma razão para isso: a recusa da indústria farmacêutica por cerca de três décadas em investir na pesquisa necessária, por que antibióticos simplesmente não são lucrativos o bastante em comparação com drogas para doenças crônicas.
Setor por setor, o conjunto de todas as coisas que são lucráveis é muito menor que o conjunto de todas as coisas que são úteis. O capitalismo acorrenta a produção, limitando o que podemos produzir para apenas aquelas coisas que permitem ao capital se expandir – e degradando as vidas de todos, mesmo dos indivíduos mais ricos. A tuberculose multirresistente não se importa com quantos bilhões você possui numa conta nas Bahamas.
Expressando numa linguagem que o pessoal no Vale do Silício poderia entender, isso significa que o capitalismo só pode oferecer uma sombra do potencial inovador que o socialismo poderia oferecer. Enquanto isso, o micro-esquerdismo neo-malthusiano na linha de “o negócio é ser pequeno” de gente como Lukacs e Sikora não tem nada a dizer sobre inovação, pesquisa e o avanço de nossa espécie.
Em nome do clima, em nome do enfrentamento da resistência aos antibióticos, e por tantos outros motivos, nós precisamos reviver os argumentos sobre como o capitalismo limita a produção e asfixia a inovação, que um dia estiveram no centro do discurso progressista.
Nós poderíamos ter tanto mais – e sem precisar depender de gente como Bill Gates.
Sobre o autor
Leigh Phillips é articulista científico e jornalista especializado em questões sobre a União Europeia. É autor de "Austerity Ecology & the Collapse-Porn Addicts" ("Ecologia da austeridade e os viciados em pornô do colapso") e co-autor de República Democrática do Walmart (Autonomia Literária 2020).
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