16 de outubro de 2011

Duas, três, muitas Wall Streets

Amy Davidson

The New Yorker

Um banner na frente da Catedral de São Paulo na cidade de Londres no dia 16 de outubro, parte do dia global de protestos contra o corporativismo de Wall Street.

Tradução / Onde fica Wall Street? Céticos em relação ao “Occupy Wall Street” – e há muitos deles, apesar de serem muito menos hoje do que eram há uma semana – gostam de apontar que os manifestantes não estão de fato ocupando uma rua chamada Wall, mas um parque chamado Zuccotti; e que “Wall Street” é um termo arcaico, de qualquer forma, já que muitas firmas financeiras não residem lá. Os manifestantes, em outras palavras, foram ingênuos e mal orientados: eles nem sabem onde estão de pé, quanto mais contra quê estão levantando-se. Mas na noite de sábado, conforme os protestos, que já haviam sido replicados em cidades de Boston a Seattle, moveram-se para outras partes da cidade, como o Washington Square Park e a Times Square, e ao redor do mundo, puderam vislumbrar aonde eles podem estar indo. Onde não fica Wall Street, afinal? Está nos termos de financiamento de um imóvel, e em empréstimos estudantis e em legislaturas. E onde não há raiva?

A Times Square, onde quarenta e cinco pessoas foram presas no sábado – com mais quarenta e sete no Washington Square Park e em outros lugares – seria uma boa escolha como nova base para o Occupy Wall Street, não porque é um espaço comercial e corporativo (Condè Bast, pai do The New Yorker, é um dos inquilinos) mas porque é um espaço cívico. É bem maior do que o Zuccotti Park. Nova Iorquinos sabem como se reunir lá (e turistas também). É cheio de câmeras e cheio de representantes, a qualquer dado instante, de dúzias de países. É onde se pode ter acesso a notícias, e compartilha-las.

Os manifestantes do O.W.S. já foram testemunhas eficazes. O que é impactante em relação a este fim de semana é como bem sintonizados foram os ecos, e a maneira como as vozes se uniram. Não era apenas um monte de gente gritando a respeito de bancos, com os italianos descontrolando-se mais do que a maioria (embora eles tenham se descontrolado, queimando carros em Roma). Pessoas em Londres, Hong Kong, Madrid, Tóquio, Coreia do Sul, Estocolmo, e Sydney carregavam cartazes parecidos e alegavam fazer parte dos “99%”. Não se deve dispensar este termo como algo ingênuo ou sem significado sem observar o que vem acontecendo, nos últimos anos, à desigualdade de renda: como Nicholas Kristof aponta no Times, “O 1% do topo dos americanos possui mais riquezas do que os 90% debaixo”. Der Spiegel, reportando sobre os protestos em Berlin e Frankfurt, referiu-se ao “Occupy-Märsche”. Wall Street há muito tem sido uma marca multinacional; agora o Occupy também é.

Outro par de reclamações em relação ao movimento é que ele é baseado apenas em retórica cativante, e que é desarticulado quanto ao que quer. E ainda assim, de alguma maneira, conforme as marchas espalham-se, as ideias estão ficando mais coerentes, não menos. Há uma conversação global acontecendo no momento, e seria tolice não escutá-la. Para um movimento anti-corporativista, o O.W.S. tem um bom senso de concessão – mais importante, ele tem algo a dizer sobre emancipação.

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