The New Yorker
Um banner na frente da Catedral de São Paulo na cidade de Londres no dia 16 de outubro, parte do dia global de protestos contra o corporativismo de Wall Street. |
Tradução / Onde fica Wall Street? Céticos em relação ao “Occupy Wall Street” – e há muitos deles, apesar de serem muito menos hoje do que eram há uma semana – gostam de apontar que os manifestantes não estão de fato ocupando uma rua chamada Wall, mas um parque chamado Zuccotti; e que “Wall Street” é um termo arcaico, de qualquer forma, já que muitas firmas financeiras não residem lá. Os manifestantes, em outras palavras, foram ingênuos e mal orientados: eles nem sabem onde estão de pé, quanto mais contra quê estão levantando-se. Mas na noite de sábado, conforme os protestos, que já haviam sido replicados em cidades de Boston a Seattle, moveram-se para outras partes da cidade, como o Washington Square Park e a Times Square, e ao redor do mundo, puderam vislumbrar aonde eles podem estar indo. Onde não fica Wall Street, afinal? Está nos termos de financiamento de um imóvel, e em empréstimos estudantis e em legislaturas. E onde não há raiva?
A Times Square, onde quarenta e cinco pessoas foram presas no sábado – com mais quarenta e sete no Washington Square Park e em outros lugares – seria uma boa escolha como nova base para o Occupy Wall Street, não porque é um espaço comercial e corporativo (Condè Bast, pai do The New Yorker, é um dos inquilinos) mas porque é um espaço cívico. É bem maior do que o Zuccotti Park. Nova Iorquinos sabem como se reunir lá (e turistas também). É cheio de câmeras e cheio de representantes, a qualquer dado instante, de dúzias de países. É onde se pode ter acesso a notícias, e compartilha-las.
Os manifestantes do O.W.S. já foram testemunhas eficazes. O que é impactante em relação a este fim de semana é como bem sintonizados foram os ecos, e a maneira como as vozes se uniram. Não era apenas um monte de gente gritando a respeito de bancos, com os italianos descontrolando-se mais do que a maioria (embora eles tenham se descontrolado, queimando carros em Roma). Pessoas em Londres, Hong Kong, Madrid, Tóquio, Coreia do Sul, Estocolmo, e Sydney carregavam cartazes parecidos e alegavam fazer parte dos “99%”. Não se deve dispensar este termo como algo ingênuo ou sem significado sem observar o que vem acontecendo, nos últimos anos, à desigualdade de renda: como Nicholas Kristof aponta no Times, “O 1% do topo dos americanos possui mais riquezas do que os 90% debaixo”. Der Spiegel, reportando sobre os protestos em Berlin e Frankfurt, referiu-se ao “Occupy-Märsche”. Wall Street há muito tem sido uma marca multinacional; agora o Occupy também é.
Outro par de reclamações em relação ao movimento é que ele é baseado apenas em retórica cativante, e que é desarticulado quanto ao que quer. E ainda assim, de alguma maneira, conforme as marchas espalham-se, as ideias estão ficando mais coerentes, não menos. Há uma conversação global acontecendo no momento, e seria tolice não escutá-la. Para um movimento anti-corporativista, o O.W.S. tem um bom senso de concessão – mais importante, ele tem algo a dizer sobre emancipação.
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