3 de outubro de 2014

Imaginando a cidade socialista

Não vamos entrar na cidade socialista de olhos vendados, mas carregando as lições de um século de experiências.

Por Owen Hatherley


O mais prolífico dos edifícios da Escola de Amsterdam, Het Schip (O Barco) foi desenhado por Michael de Klerk em 1919 como um produto da Lei da Moradia de 1901, que favorecia a criação de associações cooperativas de moradia.

Tradução / O historiador italiano Manfredo Tafuri não acreditava que pudesse haver uma arquitetura que fosse distintamente socialista, já que não vivíamos no socialismo. “Não existe arquitetura de classe, apenas uma crítica de classe à arquitetura.”

Tafuri, nas suas obras influentes e bem argumentadas da década de 1970 – Arquitetura e utopia e A esfera e o labirinto – encerrou um debate que existiu por quase um século: se seria possível ou se valeria a pena sequer pensar numa cidade especificamente socialista sob o capitalismo – e, mais especificamente, se seríamos capazes de construir fragmentos dela dentro do capitalismo. O estridente “não” de Tafuri à segunda questão acompanhou um “não” mais silencioso à primeira.

Mas desde a ascensão do neoliberalismo, esses pequenos fragmentos da “cidade socialista”, construídos de maneira desigual nos cem anos entre William Morris e o Conselho da Grande Londres de Ken Livingstone, começaram gradualmente a ser vistos não como uma forma de manter uma população tranquila e saudável para ser explorada pelo capitalismo, mas como objetos de nostalgia.

A cidade socialista já chegou a existir? Será que é totalmente inútil pensar nela até termos sucesso na tarefa muito mais difícil de superar o capitalismo? E – se quebrarmos a regra de que não deveríamos evocar imagens de utopia – como poderia ser o aspecto dela?

O gótico socialista

As intervenções de Tafuri foram parcialmente concebidas como esclarecimentos. Décadas de experiências sociais em arquitetura, de conjuntos habitacionais e de novas cidades e assentamentos igualitários, não haviam enfraquecido o capitalismo por meio da criação de ilhas subversivas no seu interior; em vez disso, o fortaleceram.

Citando Antonio Negri, Tafuri invocou o “Estado Planejador” da conciliação corporativista pelo qual o capital absorveu a social-democracia, a tornando mais poderosa ao fazê-lo. É estranho que a sua crítica ainda seja frequentemente citada, dada o espantoso erro de leitura que ela representou sobre a forma como o vento soprava na década de 1970, quando o capital na verdade se preparava para se livrar quase que completamente dessa conciliação de classes, preferindo, em vez dela, declarar guerra contra tudo, desde os sindicatos até a moradia municipal.

Tafuri pode ser perdoado por, naquele momento, afirmar que o resultado final do reformismo do movimento Arts and Crafts – do expressionismo, do construtivismo, do brutalismo – era a cidade administrada do capitalismo fordista. No entanto, nós não precisamos cometer o mesmo erro, e podemos olhar mais objetivamente para as ilhas da cidade socialista, para aqueles lugares que estavam, para citar outro dissidente comunista italiano, Mario Tronti, “dentro do capitalismo e contra ele”.

O projetista que teve talvez a maior influência nestes enclaves de progresso dentro e contra a cidade capitalista não pensava que o socialismo encontraria muita utilidade para a cidade moderna. Notícias de lugar nenhum, de William Morris, é uma criatura diferente dos exemplos anteriores de planejamento urbano utópico socialista. Ao contrário daquelas outras obras, as suas estão surpreendentemente livres de paternalismo.

Mais cedo no século XIX, Charles Fourier havia proposto ambientes abertos, comunais e centralmente planejados de moradia e de trabalho, chamados falanges; estes ambientes seriam realizados, pelo menos em parte, por industriais progressistas, como no Familistério de Guise, construído na década de 1850 para os trabalhadores de uma fundição de ferro. O assentamento utópico de Robert Owen em New Lanark, onde altos apartamentos de pedra e instalações sociais foram construídos firmemente em torno de um moinho, foi, pelo menos no início, uma forma de garantir trabalhadores mais felizes e saudáveis pelo bem da empresa.

Mas a era de descanso de Morris chega, como descreve a primeira parte do seu livro, depois de uma violenta revolução proletária. Muitos anos depois, Londres foi despovoada, as Casas do Parlamento são utilizadas para armazenar estrume, pontes de ferro foram reconstruídas em pedra, e a maior parte da população vive uma vida longa, tranquila e realizada em cabanas em meio à vegetação, algo que curiosamente não parece ter produzido uma mentalidade suburbana. Não há nenhum sinal de falanges, coletivos ou comunas nesta visão do comunismo.

Morris, então membro do grupo marxista Federação Social-Democrata (SDF) e correspondente de Engels, destacava-se tanto pelo radicalismo da sua visão da luta de classes quanto pelo conservadorismo da sua visão da cidade. Seus discípulos viriam a perder a primeira característica, mas se apegariam à segunda.

O arquiteto e urbanista Raymond Unwin, um colega de Morris na SDF, regressaria à ideia, ridicularizada por Marx e Engels, de construir a sociedade socialista por meio de fragmentos sob o capitalismo, recorrendo ao “socialismo de bom senso” da “Cidade Jardim do Amanhã”, de Ebenezer Howard, com uma visão baseada em auto-organização, mas profundamente fabiana. Entre 1903 e 1913, Unwin projetou a cidade-jardim de Letchworth, nos arredores de Londres, o Jardim-Subúrbio de Hampstead e o enorme subúrbio de Wythenshawe, ao sul de Manchester.

Os dois primeiros foram financiados por filantropos e visavam misturar – até o ponto de não ser mais óbvio qual era de quem – chalés para trabalhadores e chalés para a classe média, mas em breve estes últimos acabariam tomando conta das regiões. Letchworth é uma cidade-dormitório como qualquer outra, enquanto o Jardim-Subúrbio de Hampstead – local de nascimento de Jerry Springer, Elizabeth Taylor e lar de uma geração de líderes do Partido Trabalhista – é, em algumas medidas, a parte mais rica de Londres.

Enquanto isso, em Wythenshawe, onde as casas eram alugadas pela Câmara Municipal de Manchester aos residentes da classe trabalhadora que estivessem na lista de espera municipal, os arranjos pitorescos de casas e grandes jardins ao longo de ruas sinuosas e arborizadas abrigavam dezenas de milhares de pessoas. No entanto, ali não estavam presentes todas as instalações — os institutos, os centros das cidades — que eram planejadas e construídas nos assentamentos filantrópicos. Wythenshawe não teve um centro durante surpreendentes quarenta anos, até que um foi finalmente construído na década de 1970. Nunca teve sequer uma estação ferroviária.

Esta combinação de fracasso parcial para os trabalhadores e sucesso total para os ricos sugeria que a visão neo-medieval de Morris da cidade socialista na realidade era impossível sob o capitalismo britânico. O Estado podia até construir casas, mas não iria paga pelos equipamentos sociais e coletivos que poderiam criar verdadeiros espaços urbanos; enquanto a filantropia privada criava uma utopia profundamente insular para a classe média, onde o conservadorismo da visão suburbana se tornaria cada vez mais nítido.

As ideias de Morris sobre a alienação do trabalho deram origem a aplicações mais interessantes do que suas ideias sobre os males da cidade industrializada. Um produto delas foi a Escola de Amsterdã, um grupo de arquitetos expressionistas na capital holandesa que evidentemente levou a sério a noção, popularizada pelo crítico de arte do período Alto Vitoriano de tendência crescentemente socialista, John Ruskin, de que o trabalho repetitivo e desumanizador era comum tanto na arquitetura clássica, renascentista e barroca, quanto nos produtos mecanizados de ferro e vidro da indústria de construção capitalista.

No Reino Unido, a arquitetura que emergiu destas escolas significava muitas vezes apenas um tipo diferente de trabalho alienado, copiando e reproduzindo detalhes góticos ao invés de detalhes clássicos, com igual foco na “correção” – a questão sobre se o pedreiro em um edifício neogótico era de fato capaz de se expressar como um ser humano completo, como imaginou Ruskin, era provavelmente algo mais questionável.

A ornamentação da Escola de Amsterdã, entretanto, era imensamente mais criativa, dando amplo espaço para a expressão – seus edifícios, geralmente em belos e robustos tijolos vermelhos, são cobertos por delicados ornamentos de flora e fauna, apresentando pouca relação com qualquer precedente histórico. Embora a Escola de Amsterdã talvez devesse mais aos planos do arquiteto do que à vontade do trabalhador na construção, estes edifícios eram objetos altamente elaborados e o trabalho envolvido obviamente não era mecanizado, mas intensivo.

A maior parte dos seus edifícios foram concebidos para o governo municipal social-democrata de Amsterdã ou para sociedades sindicais de construção, e a maioria, seguindo a tradição holandesa, eram apartamentos em vez de casas, juntamente com escolas, câmaras municipais, banhos públicos, bibliotecas, cafés – um programa ambicioso que ainda caracteriza as zonas ao norte e ao sul do centro histórico da cidade.

Estas áreas, majoritariamente dominadas por moradias sociais, ainda permanecem incríveis na sua combinação de fantasia e eficiência, na sua generosidade espacial e literal, e na sua natureza tátil. Também permanecem sendo áreas modernas e urbanas, bem mais atraentes como possíveis modelos urbanos do que Wythenshawe ou Letchworth.

A Escola de Amsterdã não desafiou seriamente o capitalismo, mas pode-se dizer que ela prefigurou, pelo menos para aqueles que podiam desfrutar dela, uma cidade socialista – feita do mesmo material, igualitária e densamente coletiva, embora permanecendo ricamente individualizada ao ponto da excentricidade.

Taylorizando a arquitetura

A arquitetura da década de 1920 na Alemanha, nos Países Baixos, na Áustria e na União Soviética – não importa se eram os social-democratas ou os comunistas que detinham o poder – oscilava entre este tipo de expressionismo e uma forma de arquitetura mais futurista que parecia ter como objetivo exacerbar a alienação, a fim de provocar sua transformação.

Depois de um flerte inicial com Morris e Ruskin – encapsulado no slogan inicial “A Catedral do Socialismo” – os arquitetos reformadores na Alemanha optaram por uma arquitetura deliberadamente mecanizada e tecnófila que, em muitos casos, na verdade utilizava técnicas de trabalho tayloristas, com estudos de gestão de tempo e linhas de produção no local.

Em alguns casos, houve tentativas de combinar isso com a noção de socialismo como auto-atividade da classe trabalhadora – a GEHAG, a sociedade sindical de construção que construiu vários bairros operários em Berlim na década de 1920, foi ambiciosa na sua tentativa de promover tanto o taylorismo quanto a democracia operária por meio de conselhos, com um compensando o outro.

Os resultados arquitetônicos – os conjuntos habitacionais do período entre guerras de Berlim, Frankfurt, Dessau, Roterdã e Moscou – são extremamente elegantes, precisos, repletos de cores vibrantes e lacônicos nos seus detalhes, com uma sensação ligeiramente falsa de extrema modernidade (na sua maioria, trata-se de tijolo e reboco, e não de aço e concreto). Tal como as cidades-jardim e ao contrário de Amsterdã, esses prédios estão cercados por um mar de vegetação rasteira meticulosamente planejado, com árvores e arbustos exóticos fluindo por entre os edifícios angulares, retilíneos e deliberadamente artificiais.

A auto-expressão do trabalhador na construção era cada vez mais vista como um resquício, mera nostalgia da era pré-industrial. Quando o dramaturgo expressionista alemão Ernst Toller lhe perguntou como ele justificava a exploração dos trabalhadores, o antigo diretor do sindicato dos metalúrgicos, Aleksei Gastev, afirmou que a gestão científica era um passo no caminho para a eliminação completa do trabalho. Com ela, as horas de trabalho diminuiriam radicalmente até serem necessárias apenas algumas horas por dia. Depois de algum tempo, as máquinas fariam todo o trabalho.

Esteticamente, o efeito alienante de todos aqueles ângulos rectos era compensado por árvores, cores e experiências geométricas excitantes. Em termos da cidade em si, Berlim e Frankfurt eram as mais próximas da ideia de Morris, com casas unifamiliares e jardins; Viena e Moscovo preferiam estruturas mais densas com instalações colectivas integradas, por vezes eliminando até mesmo as cozinhas privadas em favor de cantinas, como nos famosos apartamentos “semi-coletivizados” de Narkomfins ou no albergue de estudantes “totalmente coletivizado” do Instituto Têxtil de Moscou.

Tradições artesanais continuaram sendo praticadas no regime social-democrata incomumente radical da Viena do entre guerras. Enormes quarteirões que encerravam várias instalações coletivas, quase mini-cidades em si, estavam repletos de estátuas, majólica e mosaicos, e eram meticulosos nos seus detalhes e materiais, demonstrando poucos sinais de taylorismo. Em parte, esta fuga à mecanização foi ditada pela necessidade de criar empregos, gerando trabalho intensivo numa cidade de grandes dimensões que deixara de ser a capital de um império.

O Palácio dos Trabalhadores

É improvável que um impulso semelhante estivesse por trás da súbita virada da União Soviética em meados da década de 1930 do modernismo para um neoclassicismo estranho e eclético, mas as semelhanças podem ser impressionantes. Engelsplatz, o último grande projeto em Viena antes de suas propriedades serem bombardeadas por fascistas, era um imenso bloco neoclássico simétrico e revestido de azulejos com torres, farois e estátuas repletos de simbologia com trabalhadores corpulentos em marcha.

É só um pequeno passo daí para os enormes e retóricos “palácios dos trabalhadores” do stalinismo. Como se em compensação pela superlotação, pela remuneração por peça, o terror e a ausência de representação política, uma sortuda minoria de trabalhadores (apesar de grande em números) — geralmente aqueles que se destacavam no “trabalho de choque” — recebia apartamentos palacianos. Estes ostentavam tetos altos, abundantes ornamentos de superfície e uma infraestrutura de escolas, clubes e cinemas, como pode ser visto nos distritos operários de Moscou ou em cidades fabris como Nizhny Novgorod.

Ridicularizadas (talvez com razão) como puro espetáculo, essas estruturas, como os sistemas de metrô abaixo delas, tinham a virtude de uma abordagem para a cidade de um “mundo virado de cabeça para baixo”. Elas reaproveitavam as formas que foram inventadas para o deleite dos governantes absolutistas, burgueses parisienses ou Khans e czares do século XVIII para dar abrigo a trabalhadores da siderurgia e da mineração. A maioria das pessoas, no entanto, continuava a viver em blocos de apartamentos do século XIX, subdivididos e apertados, onde era comum que várias famílias dividissem um único apartamento pequeno.

Em vez de ser vista como socialista, a cidade soviética no seu auge assemelhava-se ao que Rudolf Bahro chamou de “industrialização não-capitalista”, herdando mais da tradição espacial local e não-ocidental do que da mera emulação.

A cidade stalinista era a cidade de Pedro, o Grande, virada de cabeça para baixo. O czar decretou a construção de uma metrópole neoclássica de tamanha generosidade espacial e ordem que ela simplesmente não poderia ter sido construída sob um sistema de especuladores, construtoras e propriedade individualizada. As “sete irmãs” de Stalin adaptaram a ideia do arranha-céu a um sistema de uso despótico da terra, onde hotéis, escritórios e apartamentos de luxo de imensidão babilônica foram arranjados em um círculo ao redor do Kremlin, com qualquer coisa em seu caminho sendo impiedosamente removida.

Ao fazê-lo, eles relembraram uma ideia arquitetônica socialista anterior — a noção de “coroa da cidade” do arquiteto berlinense Bruno Taut, onde uma cidade estaria centrada em uma estrutura piramidal gigante que abrigaria uma sala de concertos, uma prefeitura, um salão de dança e muito mais em torno do qual giraria a vida da comunidade.

É uma questão aberta à discussão se tal coisa tenha sido realmente alcançada na forma do Palácio da Cultura e Ciência, construído no centro de Varsóvia no início da década de 1950, onde o edifício definitivo, visível a partir de todos os pontos, foi dedicado a uma miscelânea de funções sociais, incluindo piscinas, duas salas de concerto, um teatro, um museu de tecnologia, vários bares, um cinema, um “Palácio da Juventude”, vários escritórios e um ponto de observação pública no trigésimo andar.

Os deslocamentos causados ​​pelo super-hausmannismo de Stalin apenas exacerbaram um problema habitacional já desastroso — com o primeiro sinal de desestalinização, em 1954, vindo na forma de um decreto recomendando construções simplificadas e pré-fabricadas e o fim dos “excessos” arquitetônicos. O que aconteceu depois representa, evidentemente, a familiar imagem da cidade socialista no mundo do clichê — a intensificação do culto à mecanização e à pré-fabricação, típico da Alemanha de Weimar, ao ponto de ter distritos inteiros, abrigando mais de cem mil pessoas (como Ursynów, em Varsóvia) sendo construídos a partir de painéis de concreto idênticos.

Os resultados muitas vezes ficavam devendo muito em termos de instalações coletivas, como o que se antecipava nos anos do entre-guerras — visite muitos deles hoje, e descobrirá que os desanimadores grandes caixotes de shoppings vieram compensar essa ausência. Como na Europa Ocidental, América Latina ou Japão do pós-guerra, há muitos experimentos sociais fascinantes da era que podem ser selecionados para inspiração, alguns dos quais provaram ser mais capazes de sobreviver “dentro do capitalismo e contra ele” do que outros.

Um índice de possibilidades

Ao longo da primeira metade do século XX, em vez de uma lógica monolítica de um fordismo incipiente, a conjunção do socialismo com a arquitetura foi notável por suas mudanças bruscas, do pré-fabricado ao artesanal e vice-versa, do suburbano ao ultra-urbano, da abundância de instalações sociais na Viena Vermelha à escassez de qualquer coisa além de casas e igrejas em Wythenshawe.

Essas variações apresentam um complexo índice de possibilidades. Há necessidade de escolher qual delas seria genuinamente prefigurativa do futuro? A sugestão de Trotsky em Literatura e Revolução de que escolas de estéticas concorrentes substituiriam os partidos políticos na “era do descanso” sugeriria que não. No entanto, essas continuam sendo questões bem vivas sob o capitalismo.

As ondas de entusiasmo da arquitetura radical contemporânea costumam ser peculiares análogas emergentes como as de Morris, favorecendo o trabalho aparentemente não alienado da autoconstrução, o que geralmente assume a forma de casas unifamiliares; enquanto isso, talvez os maiores conjuntos habitacionais municipais modernistas da história estejam sendo construídos em cidades chinesas.

Curiosamente, são os prédios abandonados em Caracas, e não os arranha-céus municipais em Chongqing, que causam mais fascínio no Ocidente. A autoatividade e mecanização continuam sendo os pólos entre os quais o reformismo oscila. Mas nessa dialética, talvez possamos descobrir mais potencial para imaginar o futuro do trabalho, da estética e da cidade do que se relegarmos tudo isso ao status de irrelevância, àquele familiar “depois da revolução”.

Não entraremos na cidade socialista às cegas, mas cientes de que dezenas de tentativas de ilhas de socialismo já foram estabelecidas, algumas mais bem-sucedidas e duradouras do que outras. Precisaremos pensar sobre quais foram derrotadas por causa de suas falhas intrínsecas como arquitetura e planejamento urbano, e quais foram derrotadas simplesmente porque eram impossíveis sob o capitalismo. Daquelas que tiveram sucesso no capitalismo, poderíamos verificar quais funcionaram porque reproduziram valores capitalistas e quais funcionaram porque eram ilhas inexpugnáveis ​​que conseguiram existir tanto “dentro” dele quanto “contra” ele.

O mais valioso de tudo é que essa experiência de um século é um índice do possível. Esses lugares não foram apenas plantas ou utopias no papel – eles aconteceram. Neles as pessoas viveram e vivem, tiveram suas vidas transformadas. Se adiarmos qualquer pensamento sobre arquitetura até um vago “depois da revolução”, ignoramos o fato de que arquitetos socialistas muitas vezes criaram vislumbres de como uma sociedade diferente poderia ser.

Colaborador

Owen Hatherley é o editor de cultura da Tribune. Seu último livro, "Red Metropolis: Socialism and the Government of London", saiu pela Repeater Books.

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