No entanto, uma das coisas com as quais tenho me debatido, como escritor, é a tendência dos meus escritos mais especulativos de despertar uma linha de quietude apocalíptica na esquerda radical. Para mim, a história que estou contando é toda sobre esperança e ação: o futuro está aqui, só que mal distribuído, e apenas através de luta poderemos realizá-lo de maneira mais adequada. Suponho que não seja surpresa, entretanto, depois de décadas de recuo, que algumas pessoas prefiram contar para si mesmas fábulas sobre um destino inevitável ao invés de enfrentar o problema maior de descobrir como poderemos, coletivamente, seguir o caminho para o paraíso.
Assim, dos quatro futuros que descrevi, aquele que acredito ser o mais repleto de esperança e o mais interessante – que chamo de “comunismo” – é também o menos discutido. Ao invés dele, é o exterminismo, a mistura de restrições ecológicas, automação e elites assassinas que parece grudar nos cérebros das pessoas, com a distopia anti-Star Trek de rentistas de propriedade intelectual chegando num próximo segundo lugar.
Despidos do arcabouço marxista e utópico, tudo o que sobra nisso é uma recusa sombria da possibilidade de políticas igualitárias. Há algo nesse sentido quando Noah Smith ecoa minhas considerações sobre o exterminismo, mas as atualiza para os nossos tempos obsessivos sobre drones. Para muitos comentaristas intelectuais mais isolados, pode ser perversamente tranquilizador pensar que atingir um mundo melhor não é apenas difícil, mas na verdade impossível. De que outra forma explicar o apelo dos comentários de Chris Hedges sobre o colapso de sociedades complexas?
Outra notícia de alguns anos atrás que despertou essa sensibilidade foi um texto no jornal The Guardian sobre um suposto “estudo da NASA” que predizia o “colapso irreversível” da civilização industrial. Seguindo a dica de Doug Henwood, chegamos a uma crítica do estudo em si e da mídia preguiçosa que o propagou. Outro usuário do Twitter indicou um artigo ainda mais condenatório. Resumindo, o estudo – que o autor original não se deu ao trabalho nem mesmo de referenciar – não tinha nada a ver com a NASA, e era um modelo meramente teórico baseado em um punhado de equações. Francamente, até onde alcança a “futurologia”, acredito que Quatro Futuros se baseava em uma fundamentação científica bem mais razoável.
O que me deprime nem é tanto as perambulações de algum bitolado irresponsável com uma coluna no The Guardian – tais pessoas provavelmente estarão por aí para sempre. Porém, muitas pessoas que conheço e de quem gosto estavam ansiosas para compartilhar nas redes sociais esse pedaço de disparate com fontes duvidosas, sugerindo que essa ideia se conectava com um desejo por cenários apocalípticos entre pessoas de esquerda, acostumadas a ostentar o seu pragmatismo.
Esse fatalismo é o complemento perfeito para a positividade igualmente vazia que permeia o discurso burguês, venha ela na forma da autoajuda, como dissecado por Barbara Ehrenreich, ou como o pseudo-utopismo sem-vergonha dos plutocratas do Vale do Silício. A classe dirigente nos diz que o futuro é inevitavelmente brilhante, enquanto ranzinzas de esquerda reafirmam para si mesmos a convicção de que ele é inevitavelmente tenebroso. Nós não venceremos jogando esse jogo, ficando com nossas escassas recompensas emocionais enquanto nossos oponentes recebem seu pagamento em uma forma muito mais tangível.
Sobre o autor
Assim, dos quatro futuros que descrevi, aquele que acredito ser o mais repleto de esperança e o mais interessante – que chamo de “comunismo” – é também o menos discutido. Ao invés dele, é o exterminismo, a mistura de restrições ecológicas, automação e elites assassinas que parece grudar nos cérebros das pessoas, com a distopia anti-Star Trek de rentistas de propriedade intelectual chegando num próximo segundo lugar.
Despidos do arcabouço marxista e utópico, tudo o que sobra nisso é uma recusa sombria da possibilidade de políticas igualitárias. Há algo nesse sentido quando Noah Smith ecoa minhas considerações sobre o exterminismo, mas as atualiza para os nossos tempos obsessivos sobre drones. Para muitos comentaristas intelectuais mais isolados, pode ser perversamente tranquilizador pensar que atingir um mundo melhor não é apenas difícil, mas na verdade impossível. De que outra forma explicar o apelo dos comentários de Chris Hedges sobre o colapso de sociedades complexas?
Outra notícia de alguns anos atrás que despertou essa sensibilidade foi um texto no jornal The Guardian sobre um suposto “estudo da NASA” que predizia o “colapso irreversível” da civilização industrial. Seguindo a dica de Doug Henwood, chegamos a uma crítica do estudo em si e da mídia preguiçosa que o propagou. Outro usuário do Twitter indicou um artigo ainda mais condenatório. Resumindo, o estudo – que o autor original não se deu ao trabalho nem mesmo de referenciar – não tinha nada a ver com a NASA, e era um modelo meramente teórico baseado em um punhado de equações. Francamente, até onde alcança a “futurologia”, acredito que Quatro Futuros se baseava em uma fundamentação científica bem mais razoável.
O que me deprime nem é tanto as perambulações de algum bitolado irresponsável com uma coluna no The Guardian – tais pessoas provavelmente estarão por aí para sempre. Porém, muitas pessoas que conheço e de quem gosto estavam ansiosas para compartilhar nas redes sociais esse pedaço de disparate com fontes duvidosas, sugerindo que essa ideia se conectava com um desejo por cenários apocalípticos entre pessoas de esquerda, acostumadas a ostentar o seu pragmatismo.
Esse fatalismo é o complemento perfeito para a positividade igualmente vazia que permeia o discurso burguês, venha ela na forma da autoajuda, como dissecado por Barbara Ehrenreich, ou como o pseudo-utopismo sem-vergonha dos plutocratas do Vale do Silício. A classe dirigente nos diz que o futuro é inevitavelmente brilhante, enquanto ranzinzas de esquerda reafirmam para si mesmos a convicção de que ele é inevitavelmente tenebroso. Nós não venceremos jogando esse jogo, ficando com nossas escassas recompensas emocionais enquanto nossos oponentes recebem seu pagamento em uma forma muito mais tangível.
Sobre o autor
Peter Frase está no conselho editorial de Jacobin e é autor do livro "Quatro futuro: a vida após o capitalismo", publicado pela Autonomia Literária em 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário