Kohei Saito
Debates sobre Agricultural Chemistry de Liebig
Olhando para as cartas e cadernos deste período, parece mais provável que a mudança em relação à contribuição de Liebig na segunda edição representou mais do que uma mera correção. Marx estava bem ciente dos debates acalorados em torno de Agricultural Chemistry de Liebig, então, após a publicação do primeiro volume d’O Capital, ele julgou necessário acompanhar a validade da teoria de Liebig. Em uma carta a Engels datada de 3 de janeiro de 1868, Marx pediu-lhe que procurasse aconselhamento com um amigo de longa data e químico, Carl Schorlemmer:
1. Ver John Bellamy Foster, prefácio a nova edição de Paul Burkett, Marx and Nature (Chicago: Haymarket, 2014).
2. O financiamento e o apoio ao projeto MEGA foram estendidos pelos próximos 15 anos. Este artigo é baseado em minha pesquisa como bolsista visitante na Academia de Ciências de Berlin-Brandenburg em 2015. Sou especialmente grato a Gerald Hubmann, que apoiou meu projeto desde o início.
3. Paul Burkett e John Bellamy Foster, “The Podolinsky Myth,” Historical Materialism 16, no. 1 (2008): 115–61.
4. Foster, Marx’s Ecology (New York: Monthly Review Press, 2000), capítulo 4; Kohei Saito, “The Emergence of Marx’s Critique of Modern Agriculture,” Monthly Review 66, no. 5 (outubro 2014): 25–46.
5. Karl Marx e Frederick Engels, Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA) II, vol. 6 (Berlin: De Gruyter, 1975), 409.
6. John Bellamy Foster, Brett Clark e Richard York, The Ecological Rift (New York: Monthly Review Press, 2010), 7.
7. MEGA II, vol. 5, 410.
8. Carl-Erich Vollgraf, Introduction to MEGA II, vol. 4.3, 461. É importante, no entanto, notar que Marx havia dito a mesma coisa em uma carta a Engels em 13 de fevereiro de 1866. Ver Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works (New York: International Publishers, 1975), vol. 42, 227. Lá ele escreveu: “Tive de explorar a nova química agrícola na Alemanha, em particular Liebig e Schönbein, que é mais importante para este assunto do que todos os economistas juntos”.
9. Karl Marx, Capital, vol. 1 (London: Penguin, 1976), 638; êfase nossa.
10. A introdução de Liebig inclui uma seção chamada “Economia Nacional e Agricultura”; Marx começa seus trechos com esta seção e, em seguida, retorna ao início da introdução.
11. Wilhelm Roscher, System der Volkswirthschaft, 4th ed., vol. 2 (Stuttgart: Cotta’scher, 1865), 66.
Karl Marx and Friederick Engels, Collected Works, vol. 42, 507–8.
12. Ver especialmente Karl Marx, Capital, vol. 3 (London: Penguin, 1981), 878.
13. Para uma discussão introdutória da teoria de Liebig, ver William H. Brock, Justus von Liebig: The Chemical Gatekeeper (Cambridge: Cambridge University Press, 1997), chapter 6.
14. Foster, Marx’s Ecology, 153.
15. Michael Perelman, “The Comparative Sociology of Environmental Economics in the Works of Henry Carey and Karl Marx,” History of Economics Review 36 (2002): 85–110.
16. Eugen Dühring, Carey’s Umwälzung der Volkswirthschaftslehre und Socialwissenschaft (Munich: Fleischmann, 1865), xiii.
17. Eugen Dühring, Kritische Grundlegung der Volkswirthschaftslehre (Berlin: Eichhoff, 1866), 230.
19. Dühring, Carey’s Umwälzung, 67. Embora Dühring não use essa expressão para caracterizar a teoria de Liebig, Karl Arnd afirma que ela é assombrada por um “fantasma da exaustão do solo”. Ver Karl Arnd, Justus von Liebig’s Agrikulturchemie und sein Gespenst der Bodenerschöpfung (Frankfurt am Main: Brönner, 1864).
20. Liebig, Einleitung in die Naturgesetze des Feldbaues (Braunschweig: Friedrich Vieweg, 1862), 125.
21. Sobre a importância de Anderson para todo o argumento de Marx, ver Foster, Marx’s Ecology, 142–47.
22. Liebig escreveu intencionalmente em termos provocativos na esperança de restaurar sua fama profissional e, nesse sentido, a sétima edição foi jbem sucedida. Ver Mark R. Finlay, “The Rehabilitation of an Agricultural Chemist: Justus von Liebig and the Seventh Edition,” Ambix 38, no. 3 (1991): 155–66.
23. Dühring, Carey’s Umwälzung, 67.
24. Marx and Engels, Collected Works, vol. 43, 384.
25. Roscher, Nationalökonomie des Ackerbaues, 65.
26. Marx-Engels Archive (MEA), International Institute of Social History, Sign. B 107, 31–32. Albert Friedrich Lange, J. St. Mill’s Ansichten über die sociale Frage und die angebliche Umwälzung der Socialwissenschaft durch Carey (Duisburg: Falk and Lange, 1866), 197.
27. Ibid., 203.
28. MEGA IV, vol. 32, 42.
29. Julius Au, Hilfsdüngermittel in ihrer volks- und privatwirtschaftlichen Bedeutung (Heidelberg: Verlagsbuchhandlung von Fr. Bassermann, 1869), 179.
30. MEGA IV, vol. 32, 42.
31. Marx and Engels, Collected Works, vol. 43, 527.
Volume 67, Issue 09 (February) |
Tradução / Karl Marx há muito tempo é criticado por seu chamado “prometeísmo” ecológico — um compromisso extremo com o industrialismo, independentemente dos limites naturais. Essa visão, apoiada até por uma série de marxistas, como Ted Benton e Michael Löwy, tornou-se cada vez mais difícil de aceitar após uma série de análises cuidadosas e estimulantes das dimensões ecológicas do pensamento de Marx, elaboradas na Monthly Review e em outros lugares. O debate do prometeísmo não é uma questão meramente filológica, mas altamente prática, pois o capitalismo enfrenta crises ambientais em escala global sem soluções concretas. Qualquer uma dessas soluções provavelmente virá de um dos vários movimentos ecológicos emergentes em todo o mundo, alguns dos quais questionam explicitamente o modo de produção capitalista. Agora, mais do que nunca, portanto, a redescoberta de uma ecologia marxiana é de grande importância para o desenvolvimento de novas formas de estratégia de esquerda e de luta contra o capitalismo global.
No entanto, raramente existe um acordo inequívoco entre as pessoas de esquerda sobre até que ponto a crítica de Marx pode fornecer uma base teórica para essas novas lutas ecológicas. “Ecossocialistas de primeiro estágio”, na categorização de John Bellamy Foster, como André Gorz, James O’Connor e Alain Lipietz, reconhecem as contribuições de Marx sobre as questões ecológicas até certo ponto, mas, ao mesmo tempo, argumentam que suas análises do século XIX são muito incompletas e datadas para serem de real relevância hoje. Em contraste, “ecossocialistas de segundo estágio”, como Foster e Paul Burkett, enfatizam o significado metodológico contemporâneo da crítica ecológica de Marx ao capitalismo, com base em suas teorias de valor e reificação.1
Este artigo fará uma abordagem diferente e investigará os cadernos de ciências naturais de Marx, especialmente os de 1868, que serão publicados pela primeira vez no volume quatro, seção dezoito da nova Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA).2 Como Burkett e Foster acertadamente enfatizam, os cadernos de notas de Marx nos permitem ver claramente seus interesses e preocupações antes e depois da publicação do primeiro volume d’O Capital em 1867, e as direções que ele poderia ter tomado através de sua pesquisa intensiva em disciplinas como biologia, química, geologia e mineralogia, muitas das quais ele não foi capaz de integrar totalmente a O Capital 3. Enquanto o grande projeto d’O Capital permaneceria inacabado, nos últimos quinze anos de sua vida Marx preencheu um enorme número de cadernos com fragmentos e trechos. Na verdade, um terço de seus cadernos datam desse período, e quase a metade deles trata das ciências naturais. A intensidade e o escopo dos estudos científicos de Marx são surpreendentes. Assim, é simplesmente inválido concluir, como alguns críticos concluíram, que os poderosos argumentos ecológicos de Marx em O Capital e outros escritos eram meros parênteses, ignorando a massa de evidências contrárias a serem encontradas em suas últimas pesquisas de ciências naturais.
Olhando para os cadernos depois de 1868, pode-se reconhecer imediatamente a rápida expansão dos interesses ecológicos de Marx. Argumentarei que a crítica de Marx à economia política, se concluída, teria colocado uma ênfase muito mais forte na perturbação da “interação metabólica” (Stoffwechsel) entre a humanidade e a natureza como a contradição fundamental dentro do capitalismo. Além disso, o aprofundamento dos interesses ecológicos de Marx serve para complicar a crítica de Liebig ao “sistema de roubo” moderno, que discuto a seguir. A centralidade da ecologia nos últimos escritos de Marx permaneceu difícil de discernir por muito tempo porque ele nunca foi capaz de completar seu magnum opus. Os cadernos recém-publicados prometem nos ajudar a compreender esses aspectos ocultos, mas vitais, do projeto de vida de Marx.
Marx e Liebig em Diferentes Edições d'O Capital
Já é um fato bem conhecido que a crítica de Marx à irracionalidade da agricultura moderna em O Capital é profundamente informada pelo livro Agricultural Chemistry (Química Agrícola), de Justus von Liebig, e por Notes on North America (Notas sobre a América do Norte), de James F.W. Johnston, trabalhos que argumentam que a negligência das leis naturais dos solos inevitavelmente leva à sua exaustão.4 Após o estudo intensivo desses livros em 1865–66, Marx integrou as ideias centrais de Liebig ao volume um d’O Capital. Em uma seção chamada “Indústria e Agricultura Modernas”, Marx escreveu que o modo de produção capitalista
Este artigo fará uma abordagem diferente e investigará os cadernos de ciências naturais de Marx, especialmente os de 1868, que serão publicados pela primeira vez no volume quatro, seção dezoito da nova Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA).2 Como Burkett e Foster acertadamente enfatizam, os cadernos de notas de Marx nos permitem ver claramente seus interesses e preocupações antes e depois da publicação do primeiro volume d’O Capital em 1867, e as direções que ele poderia ter tomado através de sua pesquisa intensiva em disciplinas como biologia, química, geologia e mineralogia, muitas das quais ele não foi capaz de integrar totalmente a O Capital 3. Enquanto o grande projeto d’O Capital permaneceria inacabado, nos últimos quinze anos de sua vida Marx preencheu um enorme número de cadernos com fragmentos e trechos. Na verdade, um terço de seus cadernos datam desse período, e quase a metade deles trata das ciências naturais. A intensidade e o escopo dos estudos científicos de Marx são surpreendentes. Assim, é simplesmente inválido concluir, como alguns críticos concluíram, que os poderosos argumentos ecológicos de Marx em O Capital e outros escritos eram meros parênteses, ignorando a massa de evidências contrárias a serem encontradas em suas últimas pesquisas de ciências naturais.
Olhando para os cadernos depois de 1868, pode-se reconhecer imediatamente a rápida expansão dos interesses ecológicos de Marx. Argumentarei que a crítica de Marx à economia política, se concluída, teria colocado uma ênfase muito mais forte na perturbação da “interação metabólica” (Stoffwechsel) entre a humanidade e a natureza como a contradição fundamental dentro do capitalismo. Além disso, o aprofundamento dos interesses ecológicos de Marx serve para complicar a crítica de Liebig ao “sistema de roubo” moderno, que discuto a seguir. A centralidade da ecologia nos últimos escritos de Marx permaneceu difícil de discernir por muito tempo porque ele nunca foi capaz de completar seu magnum opus. Os cadernos recém-publicados prometem nos ajudar a compreender esses aspectos ocultos, mas vitais, do projeto de vida de Marx.
Marx e Liebig em Diferentes Edições d'O Capital
Já é um fato bem conhecido que a crítica de Marx à irracionalidade da agricultura moderna em O Capital é profundamente informada pelo livro Agricultural Chemistry (Química Agrícola), de Justus von Liebig, e por Notes on North America (Notas sobre a América do Norte), de James F.W. Johnston, trabalhos que argumentam que a negligência das leis naturais dos solos inevitavelmente leva à sua exaustão.4 Após o estudo intensivo desses livros em 1865–66, Marx integrou as ideias centrais de Liebig ao volume um d’O Capital. Em uma seção chamada “Indústria e Agricultura Modernas”, Marx escreveu que o modo de produção capitalista
reúne a população em grandes centros, e faz com que a população urbana atinja uma preponderância cada vez maior. ... [Ele] perturba a interação metabólica entre o homem e a terra, ou seja, impede o retorno ao solo de seus elementos constituintes consumidos pelo homem na forma de alimentos e roupas; portanto, impede o funcionamento da condição natural eterna para a fertilidade duradoura do solo. Assim, destrói, ao mesmo tempo, a saúde física do trabalhador urbano e a vida intelectual do trabalhador rural.5
Esta passagem justamente famosa tornou-se a pedra angular das recentes análises da “fenda metabólica”.6 Em uma nota de rodapé a esta seção, Marx expressa abertamente sua dívida com a sétima edição de Agricultural Chemistry, publicada em 1862: “Ter desenvolvido do ponto de vista das ciências naturais o lado negativo, ou seja, o lado destrutivo da agricultura moderna, é um dos méritos imortais de Liebig.” Essas observações são a razão pela qual a abordagem da “fenda metabólica” se concentrou na crítica de Liebig à agricultura moderna como uma fonte intelectual para a crítica ecológica de Marx ao capitalismo.
No entanto, é pouco sabido que na primeira edição alemã d’O Capital (1867), que infelizmente não está disponível em inglês, Marx afirmou que os “breves comentários de Liebig sobre a história da agricultura, embora não estejam isentos de erros grosseiros, contêm mais lampejos de percepção do que todas as obras dos economistas políticos modernos reunidas [mehr Lichtblicke als die Schriften sämmtlicher modernen politischen Oekonomen zusammengenommen].”7 Um leitor cuidadoso pode notar imediatamente uma diferença entre esta versão e as edições posteriores, embora isso tenha sido apontada apenas recentemente, por um editor alemão da MEGA, Carl-Erich Vollgraf.8 Marx modificou essa frase na segunda edição d’O Capital publicada em 1872–73. Consequentemente, normalmente só lemos: “Seus breves comentários…embora não estejam isentos de erros grosseiros, contêm flashes de percepção.”9 Marx excluiu a declaração de que Liebig era mais perspicaz “do que todas as obras de economistas políticos modernos juntas”. Por que Marx suavizou seu endosso das contribuições de Liebig em relação à economia política clássica?
Pode-se argumentar que esta eliminação é apenas uma mudança trivial, destinada a esclarecer as contribuições originais de Liebig no campo da química agrícola e separá-las da economia política, onde o grande químico cometeu alguns “erros grosseiros”. Além disso, Marx, como mostram estas páginas, estava muito entusiasmado com a compreensão de um determinado economista político sobre o problema do solo, chamado James Anderson, que, ao contrário de outros economistas políticos clássicos, examinou as questões da destruição do solo. Foi o próprio reconhecimento de Liebig do “lado destrutivo da agricultura moderna”, que Marx caracterizou como “um dos méritos imortais de Liebig”. Portanto, Marx pode ter pensado que sua expressão na primeira edição de O Capital foi um tanto exagerada.
No entanto, também deve ser observado que o livro de Liebig foi avidamente discutido por uma série de economistas políticos na época, precisamente por causa de suas supostas contribuições para a economia política, especialmente a teoria do aluguel da terra e a teoria da população.10 Por exemplo, o economista alemão Wilhelm Roscher reconheceu a relevância da teoria mineral de Liebig para a economia política antes mesmo de Marx, e acrescentou algumas passagens e notas dedicadas a Liebig em sua quarta edição de National Economy of Agriculture and the Related Branches of Natural Production (Economia Nacional da Agricultura e os Ramos Relacionados da Produção Natural) [Nationalökonomie des Ackerbaues und der verwandten Urproductionen] (1865), a fim de integrar as novas descobertas agrícolas de Liebig ao seu próprio sistema de economia política. Notavelmente, Roscher o elogia em termos semelhantes: “Mesmo que muitas das afirmações históricas de Liebig sejam altamente contestáveis…mesmo que ele não se atente a alguns fatos importantes sobre a economia nacional, o nome deste grande cientista natural sempre manterá um lugar de honra comparável ao nome de Alexander Humboldt na história da economia nacional.”11 Na verdade, é muito provável que o livro de Roscher tenha levado Marx a reler Agricultural Chemistry em 1865–66. As observações semelhantes de ambos os autores refletem uma opinião generalizada sobre esta obra de Liebig, na época.
Além disso, é razoável supor que Marx na primeira edição d’O Capital estava intencionalmente comparando Liebig com aqueles economistas políticos que postularam um desenvolvimento trans-histórico e linear da agricultura, seja de solos mais produtivos para menos produtivos (Malthus, Ricardo e J.S. Mill), ou de menos produtivos para mais produtivos (Carey e mais tarde Dühring). A crítica de Liebig ao “sistema de roubo” do cultivo, em vez disso, denuncia precisamente a forma moderna de agricultura e sua produtividade decrescente como resultado do uso irracional e destrutivo do solo. Em outras palavras, a historicização de Liebig da agricultura moderna fornece a Marx uma base útil nas ciências naturais para rejeitar abordagens abstratas e lineares do desenvolvimento agrícola.
No entanto, como visto anteriormente, Marx relativiza um pouco a contribuição de Liebig à economia política entre 1867 e 1872–73. Será que Marx tinha dúvidas sobre os estudos químicos de Liebig, bem como sobre seus erros econômicos? Neste contexto, o estudo atento das cartas e cadernos de Marx nos ajuda a compreender os objetivos e métodos mais amplos de sua pesquisa após 1868.
No entanto, é pouco sabido que na primeira edição alemã d’O Capital (1867), que infelizmente não está disponível em inglês, Marx afirmou que os “breves comentários de Liebig sobre a história da agricultura, embora não estejam isentos de erros grosseiros, contêm mais lampejos de percepção do que todas as obras dos economistas políticos modernos reunidas [mehr Lichtblicke als die Schriften sämmtlicher modernen politischen Oekonomen zusammengenommen].”7 Um leitor cuidadoso pode notar imediatamente uma diferença entre esta versão e as edições posteriores, embora isso tenha sido apontada apenas recentemente, por um editor alemão da MEGA, Carl-Erich Vollgraf.8 Marx modificou essa frase na segunda edição d’O Capital publicada em 1872–73. Consequentemente, normalmente só lemos: “Seus breves comentários…embora não estejam isentos de erros grosseiros, contêm flashes de percepção.”9 Marx excluiu a declaração de que Liebig era mais perspicaz “do que todas as obras de economistas políticos modernos juntas”. Por que Marx suavizou seu endosso das contribuições de Liebig em relação à economia política clássica?
Pode-se argumentar que esta eliminação é apenas uma mudança trivial, destinada a esclarecer as contribuições originais de Liebig no campo da química agrícola e separá-las da economia política, onde o grande químico cometeu alguns “erros grosseiros”. Além disso, Marx, como mostram estas páginas, estava muito entusiasmado com a compreensão de um determinado economista político sobre o problema do solo, chamado James Anderson, que, ao contrário de outros economistas políticos clássicos, examinou as questões da destruição do solo. Foi o próprio reconhecimento de Liebig do “lado destrutivo da agricultura moderna”, que Marx caracterizou como “um dos méritos imortais de Liebig”. Portanto, Marx pode ter pensado que sua expressão na primeira edição de O Capital foi um tanto exagerada.
No entanto, também deve ser observado que o livro de Liebig foi avidamente discutido por uma série de economistas políticos na época, precisamente por causa de suas supostas contribuições para a economia política, especialmente a teoria do aluguel da terra e a teoria da população.10 Por exemplo, o economista alemão Wilhelm Roscher reconheceu a relevância da teoria mineral de Liebig para a economia política antes mesmo de Marx, e acrescentou algumas passagens e notas dedicadas a Liebig em sua quarta edição de National Economy of Agriculture and the Related Branches of Natural Production (Economia Nacional da Agricultura e os Ramos Relacionados da Produção Natural) [Nationalökonomie des Ackerbaues und der verwandten Urproductionen] (1865), a fim de integrar as novas descobertas agrícolas de Liebig ao seu próprio sistema de economia política. Notavelmente, Roscher o elogia em termos semelhantes: “Mesmo que muitas das afirmações históricas de Liebig sejam altamente contestáveis…mesmo que ele não se atente a alguns fatos importantes sobre a economia nacional, o nome deste grande cientista natural sempre manterá um lugar de honra comparável ao nome de Alexander Humboldt na história da economia nacional.”11 Na verdade, é muito provável que o livro de Roscher tenha levado Marx a reler Agricultural Chemistry em 1865–66. As observações semelhantes de ambos os autores refletem uma opinião generalizada sobre esta obra de Liebig, na época.
Além disso, é razoável supor que Marx na primeira edição d’O Capital estava intencionalmente comparando Liebig com aqueles economistas políticos que postularam um desenvolvimento trans-histórico e linear da agricultura, seja de solos mais produtivos para menos produtivos (Malthus, Ricardo e J.S. Mill), ou de menos produtivos para mais produtivos (Carey e mais tarde Dühring). A crítica de Liebig ao “sistema de roubo” do cultivo, em vez disso, denuncia precisamente a forma moderna de agricultura e sua produtividade decrescente como resultado do uso irracional e destrutivo do solo. Em outras palavras, a historicização de Liebig da agricultura moderna fornece a Marx uma base útil nas ciências naturais para rejeitar abordagens abstratas e lineares do desenvolvimento agrícola.
No entanto, como visto anteriormente, Marx relativiza um pouco a contribuição de Liebig à economia política entre 1867 e 1872–73. Será que Marx tinha dúvidas sobre os estudos químicos de Liebig, bem como sobre seus erros econômicos? Neste contexto, o estudo atento das cartas e cadernos de Marx nos ajuda a compreender os objetivos e métodos mais amplos de sua pesquisa após 1868.
Debates sobre Agricultural Chemistry de Liebig
Olhando para as cartas e cadernos deste período, parece mais provável que a mudança em relação à contribuição de Liebig na segunda edição representou mais do que uma mera correção. Marx estava bem ciente dos debates acalorados em torno de Agricultural Chemistry de Liebig, então, após a publicação do primeiro volume d’O Capital, ele julgou necessário acompanhar a validade da teoria de Liebig. Em uma carta a Engels datada de 3 de janeiro de 1868, Marx pediu-lhe que procurasse aconselhamento com um amigo de longa data e químico, Carl Schorlemmer:
Gostaria de saber de Schorlemmer qual é o melhor e mais recente livro (alemão) sobre química agrícola. Além disso, qual é o estado atual da discussão entre o pessoal do fertilizante mineral e o pessoal do fertilizante com nitrogênio? (Desde a última vez que verifiquei o assunto, todo tipo de coisa nova apareceu na Alemanha.) Ele sabe alguma coisa sobre os alemães mais recentes que escreveram contra a teoria da exaustão do solo de Liebig? Ele conhece a teoria do aluvião do agrônomo de Munique Fraas (professor da Universidade de Munique)? Para o capítulo sobre aluguel de terra, terei de estar ciente do último estado da questão, pelo menos até certo ponto.12
As observações de Marx nesta carta indicam claramente seu objetivo, no início de 1868, de estudar livros sobre agricultura. Ele não está apenas procurando a literatura recente sobre agricultura em geral, mas presta atenção particular aos debates e críticas de Agricultural Chemistry de Liebig. É importante notar que no manuscrito do volume três d’O Capital, Marx atipicamente aponta para a importância da análise de Liebig, embora essencialmente indicando que essa precisa ser complementada no futuro. Ou seja, isso era parte do argumento de que ele estava continuando a pesquisar — e em áreas tão básicas quanto “o declínio da produtividade do solo” relacionadas às discussões sobre a queda da taxa de lucro.13
Liebig, muitas vezes chamado de “pai da química orgânica”, demonstrou de forma convincente que o crescimento saudável das plantas requer substâncias orgânicas e inorgânicas, como nitrogênio, ácido fosfórico e potássio. Ele alegou, contra as teorias dominantes centradas no húmus (um componente orgânico do solo feito de matéria vegetal e animal em decomposição) ou nitrogênio, que todas as substâncias necessárias devem ser fornecidas em mais do que uma “quantidade mínima”, uma proposição conhecida como a “lei do mínimo” de Liebig.14 Embora a visão de Liebig sobre o papel das substâncias inorgânicas permaneça válida hoje, duas teses derivadas dela, as teorias da fertilização mineral e da exaustão do solo, geraram Segundo Liebig, a quantidade de substâncias inorgânicas nos solos permanece limitada sem reposição constante. Portanto, é necessário devolver regularmente ao solo aquelas substâncias inorgânicas que as plantas absorveram, para que possamos cultivar de forma sustentável. (Estas podem ser devolvidas em formas inorgânicas ou orgânicas, que são convertidas [mineralizadas] em formas inorgânicas.) Liebig chama essa necessidade de “lei de reposição” e afirma que a substituição completa das substâncias inorgânicas é o princípio fundamental da agricultura sustentável. Visto que a natureza sozinha não poderia fornecer material inorgânico suficiente quando uma quantidade tão grande de nutrientes fosse removida anualmente, Liebig defendeu o uso de fertilizante mineral químico. Ele sustentou que não apenas a teoria do húmus de Principles of Practical Agriculture (Princípios da Agricultura Prática) de Albrecht Daniel Thaer, mas também a teoria do nitrogênio de John Bennett Lawes e Joseph Henry Gilbert apresentavam falhas graves, porque não deram atenção à quantidade limitada de substâncias inorgânicas disponíveis no solo.
Com base em sua teoria, Liebig alertou que as violações da lei de reposição e o consequente esgotamento do solo ameaçavam toda a civilização europeia. De acordo com Liebig, a industrialização moderna criou uma nova divisão de trabalho entre a cidade e o campo, de modo que os alimentos consumidos pela classe trabalhadora nas grandes cidades não mais voltam e restauram os solos originais, mas fluem para o rio através de vasos sanitários sem uso posterior. Além disso, através da mercantilização de produtos agrícolas e fertilizantes (osso e palha), o objetivo da agricultura diverge da sustentabilidade e passa a ser a mera maximização dos lucros, espremendo os nutrientes do solo para as lavouras no menor período possível. Perturbado por esses fatos, Liebig denunciou a agricultura moderna como um “sistema de roubo” e alertou que a interrupção da interação metabólica natural acabaria por causar a decadência da civilização. Mudando de sua crença bastante otimista, no início da década de 1850, na panaceia da fertilização química, a edição de 1862 de Agricultural Chemistry de Liebig, especialmente sua nova introdução, enfatizou os aspectos destrutivos da agricultura moderna com muito mais fervor.
À medida que Liebig fortalecia sua crítica a esse sistema de roubo em 1862 e corrigia seu otimismo anterior, Marx, compreensivelmente, sentiu a necessidade de revisar o debate sobre a fertilidade do solo por uma nova perspectiva. Ao mesmo tempo, a crítica de Liebig ao sistema de roubo e exaustão do solo inspirou uma série de novos argumentos entre acadêmicos e agrônomos. A carta de Marx a Engels deixa claro que, mesmo após a publicação do volume um d’O Capital, ele tentou examinar a validade da teoria de Liebig de uma perspectiva mais crítica.
Notavelmente, vários economistas políticos, além de Marx e Roscher, também participaram desse debate. Conforme descrito por Foster, Henry Charles Carey já havia se referido ao desperdício de produção agrícola nos Estados Unidos e alegado que o irresponsável “roubo da terra” constituía um sério “crime” contra as gerações futuras.15 Liebig também estava interessado em Carey e citou seu trabalho extensivamente, mas Marx pode não ter tido clareza sobre a relação entre Liebig e Carey quando leu Agricultural Chemistry em 1865–66. Marx havia se correspondido com Carey, que lhe enviou seu livro sobre a escravidão, o qual continha alguns de seus argumentos sobre o esgotamento do solo, e Marx estudou as obras econômicas de Carey.16 No entanto, o papel de Carey no debate geral sobre o solo provavelmente se tornou mais aparente quando Marx encontrou o trabalho de Eugen Dühring. Marx começou a estudar os livros de Dühring em janeiro de 1868, depois que Louis Kugelmann lhe enviou a resenha de Dühring d’O Capital — a primeira resenha do livro em qualquer lugar — publicada em dezembro de 1867.
Dühring, um professor da Universidade de Berlim, era um defensor entusiasmado do sistema econômico de Carey. Ele também integrou a teoria de Liebig em sua análise econômica como validação adicional da proposta de Carey de estabelecer comunidades autárquicas em que produtores e consumidores vivessem em harmonia, sem desperdiçar nutrientes para as plantas e, portanto, sem esgotar os solos. Dühring sustentou que a teoria de Liebig de exaustão do solo “constrói um pilar no sistema [de Carey]” e afirmou que
Liebig, muitas vezes chamado de “pai da química orgânica”, demonstrou de forma convincente que o crescimento saudável das plantas requer substâncias orgânicas e inorgânicas, como nitrogênio, ácido fosfórico e potássio. Ele alegou, contra as teorias dominantes centradas no húmus (um componente orgânico do solo feito de matéria vegetal e animal em decomposição) ou nitrogênio, que todas as substâncias necessárias devem ser fornecidas em mais do que uma “quantidade mínima”, uma proposição conhecida como a “lei do mínimo” de Liebig.14 Embora a visão de Liebig sobre o papel das substâncias inorgânicas permaneça válida hoje, duas teses derivadas dela, as teorias da fertilização mineral e da exaustão do solo, geraram Segundo Liebig, a quantidade de substâncias inorgânicas nos solos permanece limitada sem reposição constante. Portanto, é necessário devolver regularmente ao solo aquelas substâncias inorgânicas que as plantas absorveram, para que possamos cultivar de forma sustentável. (Estas podem ser devolvidas em formas inorgânicas ou orgânicas, que são convertidas [mineralizadas] em formas inorgânicas.) Liebig chama essa necessidade de “lei de reposição” e afirma que a substituição completa das substâncias inorgânicas é o princípio fundamental da agricultura sustentável. Visto que a natureza sozinha não poderia fornecer material inorgânico suficiente quando uma quantidade tão grande de nutrientes fosse removida anualmente, Liebig defendeu o uso de fertilizante mineral químico. Ele sustentou que não apenas a teoria do húmus de Principles of Practical Agriculture (Princípios da Agricultura Prática) de Albrecht Daniel Thaer, mas também a teoria do nitrogênio de John Bennett Lawes e Joseph Henry Gilbert apresentavam falhas graves, porque não deram atenção à quantidade limitada de substâncias inorgânicas disponíveis no solo.
Com base em sua teoria, Liebig alertou que as violações da lei de reposição e o consequente esgotamento do solo ameaçavam toda a civilização europeia. De acordo com Liebig, a industrialização moderna criou uma nova divisão de trabalho entre a cidade e o campo, de modo que os alimentos consumidos pela classe trabalhadora nas grandes cidades não mais voltam e restauram os solos originais, mas fluem para o rio através de vasos sanitários sem uso posterior. Além disso, através da mercantilização de produtos agrícolas e fertilizantes (osso e palha), o objetivo da agricultura diverge da sustentabilidade e passa a ser a mera maximização dos lucros, espremendo os nutrientes do solo para as lavouras no menor período possível. Perturbado por esses fatos, Liebig denunciou a agricultura moderna como um “sistema de roubo” e alertou que a interrupção da interação metabólica natural acabaria por causar a decadência da civilização. Mudando de sua crença bastante otimista, no início da década de 1850, na panaceia da fertilização química, a edição de 1862 de Agricultural Chemistry de Liebig, especialmente sua nova introdução, enfatizou os aspectos destrutivos da agricultura moderna com muito mais fervor.
À medida que Liebig fortalecia sua crítica a esse sistema de roubo em 1862 e corrigia seu otimismo anterior, Marx, compreensivelmente, sentiu a necessidade de revisar o debate sobre a fertilidade do solo por uma nova perspectiva. Ao mesmo tempo, a crítica de Liebig ao sistema de roubo e exaustão do solo inspirou uma série de novos argumentos entre acadêmicos e agrônomos. A carta de Marx a Engels deixa claro que, mesmo após a publicação do volume um d’O Capital, ele tentou examinar a validade da teoria de Liebig de uma perspectiva mais crítica.
Notavelmente, vários economistas políticos, além de Marx e Roscher, também participaram desse debate. Conforme descrito por Foster, Henry Charles Carey já havia se referido ao desperdício de produção agrícola nos Estados Unidos e alegado que o irresponsável “roubo da terra” constituía um sério “crime” contra as gerações futuras.15 Liebig também estava interessado em Carey e citou seu trabalho extensivamente, mas Marx pode não ter tido clareza sobre a relação entre Liebig e Carey quando leu Agricultural Chemistry em 1865–66. Marx havia se correspondido com Carey, que lhe enviou seu livro sobre a escravidão, o qual continha alguns de seus argumentos sobre o esgotamento do solo, e Marx estudou as obras econômicas de Carey.16 No entanto, o papel de Carey no debate geral sobre o solo provavelmente se tornou mais aparente quando Marx encontrou o trabalho de Eugen Dühring. Marx começou a estudar os livros de Dühring em janeiro de 1868, depois que Louis Kugelmann lhe enviou a resenha de Dühring d’O Capital — a primeira resenha do livro em qualquer lugar — publicada em dezembro de 1867.
Dühring, um professor da Universidade de Berlim, era um defensor entusiasmado do sistema econômico de Carey. Ele também integrou a teoria de Liebig em sua análise econômica como validação adicional da proposta de Carey de estabelecer comunidades autárquicas em que produtores e consumidores vivessem em harmonia, sem desperdiçar nutrientes para as plantas e, portanto, sem esgotar os solos. Dühring sustentou que a teoria de Liebig de exaustão do solo “constrói um pilar no sistema [de Carey]” e afirmou que
a exaustão do solo, que já se tornou bastante ameaçadora na América do Norte, por exemplo, será... interrompida no longo prazo apenas por meio de uma política comercial construída sobre a proteção e a educação do trabalho doméstico. Porque o desenvolvimento harmonioso das várias instalações de uma nação... promove a circulação natural dos materiais [Kreislauf der Stoffe] e permite que os nutrientes das plantas sejam devolvidos ao solo de onde foram retirados.17
No manuscrito do volume três d’O Capital, Marx imaginou uma sociedade futura além do antagonismo entre a cidade e o campo, na qual “os produtores associados regulam racionalmente seu intercâmbio metabólico com a natureza”. Ele deve ter ficado surpreso ao saber que Dühring similarmente exigia, como a “única contramedida” contra a produção ineficaz, a “regulamentação consciente da distribuição material”, superando a divisão entre cidade e campo.18 Em outras palavras, a afirmação de Marx, juntamente com a de Dühring, reflete uma tendência popular da “escola de Liebig” da época. Nos anos subsequentes, a visão de Marx de Dühring tornou-se mais crítica, à medida que Dühring começou a promover seu próprio sistema como o único verdadeiro fundamento da social-democracia. Isso provavelmente reforçou a suspeita de Marx sobre a interpretação de Dühring do esgotamento do solo e seus defensores, mesmo que ele continuasse a reconhecer a utilidade da teoria de Liebig. De qualquer forma, no início de 1868, a constelação discursiva já incitava Marx a estudar livros “contra a teoria da exaustão do solo de Liebig”.
Malthusianismo de Liebig?
Marx estava particularmente preocupado com o fato de que as advertências de Liebig sobre o esgotamento do solo traziam uma pitada de malthusianismo. Eles reabilitaram, para usar a expressão de Dühring, “o fantasma de Malthus”, já que Liebig parecia fornecer uma nova versão “científica” dos velhos temas malthusianos de escassez de alimentos e superpopulação.19 Como observado acima, o tom geral do argumento de Liebig mudou de otimismo na década de 1840 até meados da década de 1850 para pessimismo no final dos anos 1850 e 1860. Severamente crítico da agricultura industrial britânica, ele previu um futuro sombrio para a sociedade europeia, cheio de guerra e fome, se a “lei da reposição” continuasse a ser ignorada:
Malthusianismo de Liebig?
Marx estava particularmente preocupado com o fato de que as advertências de Liebig sobre o esgotamento do solo traziam uma pitada de malthusianismo. Eles reabilitaram, para usar a expressão de Dühring, “o fantasma de Malthus”, já que Liebig parecia fornecer uma nova versão “científica” dos velhos temas malthusianos de escassez de alimentos e superpopulação.19 Como observado acima, o tom geral do argumento de Liebig mudou de otimismo na década de 1840 até meados da década de 1850 para pessimismo no final dos anos 1850 e 1860. Severamente crítico da agricultura industrial britânica, ele previu um futuro sombrio para a sociedade europeia, cheio de guerra e fome, se a “lei da reposição” continuasse a ser ignorada:
Em poucos anos, as reservas de guano se esgotarão, e então nenhuma disputa científica, nem, por assim dizer, teórica será necessária para provar a lei da natureza que exige do homem que ele se preocupe com a preservação de suas condições de vida. ... Para sua autopreservação, as nações serão compelidas a massacrar e aniquilar umas às outras em guerras sem fim, a fim de restaurar o equilíbrio, e, Deus nos livre, se dois anos de fome como 1816 e 1817 se sucederem novamente, aqueles que sobreviverem irão ver centenas de milhares morrerem nas ruas.20
O novo pessimismo de Liebig aparece claramente nesta passagem. Embora sua visão da agricultura moderna como um “sistema de roubo” mostre sua superioridade sobre a amplamente difundida e a-histórica “lei dos rendimentos decrescentes” de Malthus e Ricardo, sua conclusão deixa sua relação com as idéias malthusianas ambíguas. Na verdade, Marx estava particularmente preocupado com as referências de Liebig à teoria ricardiana. Liebig conheceu pessoalmente John Stuart Mill e pode ter sido diretamente influenciado por este. Ironicamente, no entanto, como Marx aponta, a teoria da renda ricardiana se originou não com Ricardo e nem com Malthus — e certamente não com John Stuart Mill, como Liebig erroneamente supõe — mas com James Anderson, que lhe deu uma base histórica na degradação do solo. O que preocupava Marx, então, era a frequente ligação em sua época de Liebig a Malthus e Ricardo — representando uma lógica oposta à própria análise de Marx e que, em contraste com Malthus e Ricardo, enfatizava a natureza histórica do problema do solo.21
A questão do malthusianismo de Liebig pode parecer um detalhe obscuro no debate mais amplo sobre o esgotamento do solo, mas é uma das principais razões pelas quais seu Agricultural Chemistry se tornou tão popular em 1862.22 Para Dühring, esse malthusianismo não era tão problemático porque ele acreditava que o sistema econômico de Carey já havia dissipado o “fantasma de Malthus”, mostrando que o desenvolvimento da sociedade tornou possível cultivar solos melhores.23 Claro, Marx dificilmente poderia aceitar essa pressuposição ingênua, como escreveu a Engels em novembro de 1869: “Carey ignora até mesmo os fatos mais familiares.”24
Assim, em 1868, Marx começou a ler a obra de autores que assumiram uma postura mais crítica em relação a Agricultural Chemistry de Liebig. Ele já conhecia argumentos como o de Roscher, que defendia que o sistema de roubo deveria ser criticado do ponto de vista das “ciências naturais”, mas poderia ser justificado do ponto de vista “econômico” na medida em que era mais lucrativo.25 Segundo Roscher, bastava parar o roubo pouco antes de ficar muito caro recuperar a fertilidade original do solo — mas os preços de mercado cuidariam disso. Adotando os argumentos de Roscher, Friedrich Albert Lange, um filósofo alemão, argumentou contra a recepção de Liebig e Carey por Dühring em suas J. St. Mill’s Views of the Social Question [J. St. Mills Ansichten über die sociale Frage] (Visões da Questão Social de J. St. Mill) publicado em 1866. Marx leu o livro de Lange no início de 1868, e não é por acaso que seu caderno se concentra em seu quarto capítulo, onde Lange discute os problemas da teoria da renda e exaustão do solo. Especificamente, Marx destacou a observação de Lange de que Carey e Dühring denunciaram o “comércio” com a Inglaterra como a causa de todos os males e consideraram uma “tarifa protetora” como a “panacéia” definitiva, sem o reconhecimento de Lange de que a “indústria” possui uma “tendência centralizadora”, que cria não apenas a divisão entre cidade e campo, mas também a desigualdade econômica.26 Semelhante a Roscher, Lange argumentou que “apesar da correção científica natural da teoria de Liebig”, o cultivo de roubo pode ser justificado de uma perspectiva “econômica nacional”.
Ideias relacionadas também podem ser encontradas no trabalho do economista alemão Julius Au. Marx possuía uma cópia de Supplementary Fertilizers and their Meaning for National and Private Economy [Hilfsdüngermittel in ihrer volks- und privatwirtschaftlichen Bedeutung] (Fertilizantes Suplementares e seu Significado para a Economia Nacional e Privada) (1869), que ele marcou com notas de rodapé e comentários.28 Embora reconhecesse o valor científico da teoria mineral de Liebig, Au duvidava que a teoria da exaustão do solo pudesse ser considerada uma lei natural “absoluta”. Em vez disso, Au argumentou que era uma teoria “relativa” com pouco significado para as economias da Rússia, Polônia ou Ásia Menor, porque nessas áreas a agricultura poderia ser sustentada, presumivelmente por meio de desenvolvimento extensivo, sem seguir a “lei de reposição”. 29 No entanto, Au aparentemente esqueceu que a principal preocupação de Liebig eram os países da Europa Ocidental. Além disso, Au acabou aceitando acriticamente os mecanismos de regulação de preços do mercado, que ele, como Roscher, esperava que impedissem a exploração excessiva da capacidade do solo porque ela simplesmente deixaria de ser lucrativa. O que resta da teoria de Liebig para Lange e Au é o simples fato de que o solo não poderia ser melhorado infinitamente. Afinal, eles eram defensores neomalthusianos da teoria da superpopulação e da lei dos rendimentos decrescentes.
Reagindo a tudo isso, Marx comenta “Idiota!” [Asinus!] e escreve muitos pontos de interrogação incrédulos em sua cópia do livro de Au.30 Sua avaliação dos livros de Lange é igualmente hostil, pois ele comenta ironicamente a explicação malthusiana da história de Lange em sua carta a Kugelmann datada de 27 de julho de 1870.31 Além disso, é seguro presumir que Marx não foi atraído pela ideia de realizar uma agricultura sustentável por meio de flutuações nos preços de mercado. Uma vez que Marx também não foi capaz de apoiar Carey e Dühring, ele começou a estudar o problema da exaustão do solo de forma mais intensiva, a fim de articular uma crítica sofisticada ao sistema moderno de roubo.
Resumindo: Marx pensou inicialmente que a descrição de Liebig dos efeitos destrutivos da agricultura moderna poderia ser usada como um poderoso argumento contra a abstrata lei de rendimentos decrescentes de Ricardo e Malthus, mas começou a questionar a teoria de Liebig após 1868, conforme os debates sobre o esgotamento do solo cada vez mais assumiam um tom malthusiano. Marx, portanto, recuou de sua afirmação um tanto acrítica e exagerada de que as análises de Liebig “contêm mais lampejos de percepção do que todas as obras de economistas políticos modernos juntas”, em preparação para a pesquisa mais extensa sobre o problema que ele claramente pretendia para os volumes dois e três d’O Capital.
A questão do malthusianismo de Liebig pode parecer um detalhe obscuro no debate mais amplo sobre o esgotamento do solo, mas é uma das principais razões pelas quais seu Agricultural Chemistry se tornou tão popular em 1862.22 Para Dühring, esse malthusianismo não era tão problemático porque ele acreditava que o sistema econômico de Carey já havia dissipado o “fantasma de Malthus”, mostrando que o desenvolvimento da sociedade tornou possível cultivar solos melhores.23 Claro, Marx dificilmente poderia aceitar essa pressuposição ingênua, como escreveu a Engels em novembro de 1869: “Carey ignora até mesmo os fatos mais familiares.”24
Assim, em 1868, Marx começou a ler a obra de autores que assumiram uma postura mais crítica em relação a Agricultural Chemistry de Liebig. Ele já conhecia argumentos como o de Roscher, que defendia que o sistema de roubo deveria ser criticado do ponto de vista das “ciências naturais”, mas poderia ser justificado do ponto de vista “econômico” na medida em que era mais lucrativo.25 Segundo Roscher, bastava parar o roubo pouco antes de ficar muito caro recuperar a fertilidade original do solo — mas os preços de mercado cuidariam disso. Adotando os argumentos de Roscher, Friedrich Albert Lange, um filósofo alemão, argumentou contra a recepção de Liebig e Carey por Dühring em suas J. St. Mill’s Views of the Social Question [J. St. Mills Ansichten über die sociale Frage] (Visões da Questão Social de J. St. Mill) publicado em 1866. Marx leu o livro de Lange no início de 1868, e não é por acaso que seu caderno se concentra em seu quarto capítulo, onde Lange discute os problemas da teoria da renda e exaustão do solo. Especificamente, Marx destacou a observação de Lange de que Carey e Dühring denunciaram o “comércio” com a Inglaterra como a causa de todos os males e consideraram uma “tarifa protetora” como a “panacéia” definitiva, sem o reconhecimento de Lange de que a “indústria” possui uma “tendência centralizadora”, que cria não apenas a divisão entre cidade e campo, mas também a desigualdade econômica.26 Semelhante a Roscher, Lange argumentou que “apesar da correção científica natural da teoria de Liebig”, o cultivo de roubo pode ser justificado de uma perspectiva “econômica nacional”.
Ideias relacionadas também podem ser encontradas no trabalho do economista alemão Julius Au. Marx possuía uma cópia de Supplementary Fertilizers and their Meaning for National and Private Economy [Hilfsdüngermittel in ihrer volks- und privatwirtschaftlichen Bedeutung] (Fertilizantes Suplementares e seu Significado para a Economia Nacional e Privada) (1869), que ele marcou com notas de rodapé e comentários.28 Embora reconhecesse o valor científico da teoria mineral de Liebig, Au duvidava que a teoria da exaustão do solo pudesse ser considerada uma lei natural “absoluta”. Em vez disso, Au argumentou que era uma teoria “relativa” com pouco significado para as economias da Rússia, Polônia ou Ásia Menor, porque nessas áreas a agricultura poderia ser sustentada, presumivelmente por meio de desenvolvimento extensivo, sem seguir a “lei de reposição”. 29 No entanto, Au aparentemente esqueceu que a principal preocupação de Liebig eram os países da Europa Ocidental. Além disso, Au acabou aceitando acriticamente os mecanismos de regulação de preços do mercado, que ele, como Roscher, esperava que impedissem a exploração excessiva da capacidade do solo porque ela simplesmente deixaria de ser lucrativa. O que resta da teoria de Liebig para Lange e Au é o simples fato de que o solo não poderia ser melhorado infinitamente. Afinal, eles eram defensores neomalthusianos da teoria da superpopulação e da lei dos rendimentos decrescentes.
Reagindo a tudo isso, Marx comenta “Idiota!” [Asinus!] e escreve muitos pontos de interrogação incrédulos em sua cópia do livro de Au.30 Sua avaliação dos livros de Lange é igualmente hostil, pois ele comenta ironicamente a explicação malthusiana da história de Lange em sua carta a Kugelmann datada de 27 de julho de 1870.31 Além disso, é seguro presumir que Marx não foi atraído pela ideia de realizar uma agricultura sustentável por meio de flutuações nos preços de mercado. Uma vez que Marx também não foi capaz de apoiar Carey e Dühring, ele começou a estudar o problema da exaustão do solo de forma mais intensiva, a fim de articular uma crítica sofisticada ao sistema moderno de roubo.
Resumindo: Marx pensou inicialmente que a descrição de Liebig dos efeitos destrutivos da agricultura moderna poderia ser usada como um poderoso argumento contra a abstrata lei de rendimentos decrescentes de Ricardo e Malthus, mas começou a questionar a teoria de Liebig após 1868, conforme os debates sobre o esgotamento do solo cada vez mais assumiam um tom malthusiano. Marx, portanto, recuou de sua afirmação um tanto acrítica e exagerada de que as análises de Liebig “contêm mais lampejos de percepção do que todas as obras de economistas políticos modernos juntas”, em preparação para a pesquisa mais extensa sobre o problema que ele claramente pretendia para os volumes dois e três d’O Capital.
Marx e a Teoria da Interação Metabólica de Fraas
Se as tendências malthusianas de Liebig constituíram uma razão negativa para a alteração de Marx da frase sobre Liebig na segunda edição d’O capital, também houve uma mais positiva: Marx encontrou vários autores que se tornaram tão importantes quanto Liebig para sua crítica ecológica da economia política . Carl Fraas era um deles. Em uma carta de janeiro de 1868, Marx pergunta a Schorlemmer sobre Fraas, um agricultor alemão e professor da Universidade de Munique. Embora Shorlemmer não pudesse oferecer nenhuma informação específica sobre a “teoria da aluvião” de Fraas, Marx começou a ler vários livros de Fraas nos meses seguintes.
O nome de Fraas aparece pela primeira vez nos cadernos de anotações de Marx entre dezembro de 1867 e janeiro de 1868, quando ele nota o título do livro de Fraas Agrarian Crises and Their Solutions (Crises Agrárias e Suas Soluções) [Die Ackerbaukrisen und ihre Heilmittel], uma polêmica contra a teoria de Liebig da exaustão do solo.32 Quando Marx escreveu em uma carta a Engels em janeiro de 1868 que “desde a última vez em que examinei o assunto, todo tipo de coisa nova apareceu na Alemanha”, ele provavelmente estava pensando no livro de Fraas.
Assim que o livro de Fraas foi publicado, suas relações com Liebig ficaram muito tensas, depois que Liebig criticou a ignorância científica de educadores agrícolas e fazendeiros práticos em Munique, onde Fraas lecionou por muitos anos. Em resposta, Fraas defendeu a práxis agrária em Munique e argumentou que a teoria de Liebig havia sido supervalorizada e representava um retrocesso na teoria malthusiana — que ignorava várias formas históricas de agricultura que mantinham e até aumentavam a produtividade sem causar o esgotamento do solo. De acordo com Fraas, o pessimismo de Liebig surgiu de seu pressuposto tácito de que os humanos devem ser capazes de devolver substâncias inorgânicas e, portanto, o solo exigia — se a divisão entre cidade e campo não fosse dissolvida — a introdução de fertilizantes artificiais, que, no entanto, acabaria sendo muito cara. Em contraste, Fraas sugere um método mais acessível, usando o poder da própria natureza para sustentar a fertilidade do solo, conforme representado em sua “teoria da aluvião”.33
Na definição de Charles Lyell, aluvião é “terra, areia, cascalho, pedras e outros materiais transportados que foram arrastados e lançados por rios, inundações ou outras causas, em terras não permanentemente submersas sob as águas de lagos ou mares.”34 Os materiais aluviais contêm grandes quantidades de substâncias minerais vitais para o crescimento das plantas. Consequentemente, os solos desenvolvidos a partir da deposição regular de tais materiais — geralmente adjacentes a rios em vales — produzem ricas safras ano após ano sem fertilizantes, como nos bancos de areia do Danúbio, nos deltas do Nilo ou do Pó, ou na planície aluvial do rio Mississippi. Os sedimentos rejuvenescedores na água das enchentes são derivados da erosão na parte superior da bacia hidrográfica. Consequentemente, a riqueza do solo aluvial é o resultado do empobrecimento dos solos rio acima, muito provavelmente de encostas de colinas e montanhas. Inspirado por esses exemplos na natureza, Fraas sugere a construção de uma “aluvião artificial”, regulando a água dos rios por meio da construção de represas temporárias sobre campos agrários, fornecendo-lhes de forma barata e quase eterna os minerais essenciais. O caderno de anotações de Marx confirma que ele estudou cuidadosamente os argumentos de Fraas sobre os méritos práticos da aluvião na agricultura.35
O que mais interessou Marx sobre Fraas, entretanto, provavelmente não foi a teoria da aluvião. Depois de ler Fraas avidamente, documentando várias passagens em seus cadernos de anotações, Marx escreve a Engels em uma carta datada de 25 de março de 1868, elogiando o livro de Fraas, Climate and the Plant World Over Time (Clima e o Mundo das Plantas ao Longo do Tempo) [Klima und Pflanzenwelt in der Zeit]:
Se as tendências malthusianas de Liebig constituíram uma razão negativa para a alteração de Marx da frase sobre Liebig na segunda edição d’O capital, também houve uma mais positiva: Marx encontrou vários autores que se tornaram tão importantes quanto Liebig para sua crítica ecológica da economia política . Carl Fraas era um deles. Em uma carta de janeiro de 1868, Marx pergunta a Schorlemmer sobre Fraas, um agricultor alemão e professor da Universidade de Munique. Embora Shorlemmer não pudesse oferecer nenhuma informação específica sobre a “teoria da aluvião” de Fraas, Marx começou a ler vários livros de Fraas nos meses seguintes.
O nome de Fraas aparece pela primeira vez nos cadernos de anotações de Marx entre dezembro de 1867 e janeiro de 1868, quando ele nota o título do livro de Fraas Agrarian Crises and Their Solutions (Crises Agrárias e Suas Soluções) [Die Ackerbaukrisen und ihre Heilmittel], uma polêmica contra a teoria de Liebig da exaustão do solo.32 Quando Marx escreveu em uma carta a Engels em janeiro de 1868 que “desde a última vez em que examinei o assunto, todo tipo de coisa nova apareceu na Alemanha”, ele provavelmente estava pensando no livro de Fraas.
Assim que o livro de Fraas foi publicado, suas relações com Liebig ficaram muito tensas, depois que Liebig criticou a ignorância científica de educadores agrícolas e fazendeiros práticos em Munique, onde Fraas lecionou por muitos anos. Em resposta, Fraas defendeu a práxis agrária em Munique e argumentou que a teoria de Liebig havia sido supervalorizada e representava um retrocesso na teoria malthusiana — que ignorava várias formas históricas de agricultura que mantinham e até aumentavam a produtividade sem causar o esgotamento do solo. De acordo com Fraas, o pessimismo de Liebig surgiu de seu pressuposto tácito de que os humanos devem ser capazes de devolver substâncias inorgânicas e, portanto, o solo exigia — se a divisão entre cidade e campo não fosse dissolvida — a introdução de fertilizantes artificiais, que, no entanto, acabaria sendo muito cara. Em contraste, Fraas sugere um método mais acessível, usando o poder da própria natureza para sustentar a fertilidade do solo, conforme representado em sua “teoria da aluvião”.33
Na definição de Charles Lyell, aluvião é “terra, areia, cascalho, pedras e outros materiais transportados que foram arrastados e lançados por rios, inundações ou outras causas, em terras não permanentemente submersas sob as águas de lagos ou mares.”34 Os materiais aluviais contêm grandes quantidades de substâncias minerais vitais para o crescimento das plantas. Consequentemente, os solos desenvolvidos a partir da deposição regular de tais materiais — geralmente adjacentes a rios em vales — produzem ricas safras ano após ano sem fertilizantes, como nos bancos de areia do Danúbio, nos deltas do Nilo ou do Pó, ou na planície aluvial do rio Mississippi. Os sedimentos rejuvenescedores na água das enchentes são derivados da erosão na parte superior da bacia hidrográfica. Consequentemente, a riqueza do solo aluvial é o resultado do empobrecimento dos solos rio acima, muito provavelmente de encostas de colinas e montanhas. Inspirado por esses exemplos na natureza, Fraas sugere a construção de uma “aluvião artificial”, regulando a água dos rios por meio da construção de represas temporárias sobre campos agrários, fornecendo-lhes de forma barata e quase eterna os minerais essenciais. O caderno de anotações de Marx confirma que ele estudou cuidadosamente os argumentos de Fraas sobre os méritos práticos da aluvião na agricultura.35
O que mais interessou Marx sobre Fraas, entretanto, provavelmente não foi a teoria da aluvião. Depois de ler Fraas avidamente, documentando várias passagens em seus cadernos de anotações, Marx escreve a Engels em uma carta datada de 25 de março de 1868, elogiando o livro de Fraas, Climate and the Plant World Over Time (Clima e o Mundo das Plantas ao Longo do Tempo) [Klima und Pflanzenwelt in der Zeit]:
Muito interessante é o livro de Fraas (1847): Klima und Pflanzenwelt in der Zeit, eine Geschichte beider [Climate and the Plant World Over Time], nomeadamente como prova de que o clima e a flora mudam em tempos históricos. ... Ele afirma que com o cultivo — dependendo de seu grau — a “umidade”, tão amada pelos camponeses, se perde (portanto, também as plantas migram do sul para o norte) e, finalmente, ocorre a formação da estepe. O primeiro efeito do cultivo é útil, mas no fim é devastador pelo desmatamento, etc. ... A conclusão é que o cultivo — quando prossegue em crescimento natural e não é controlado conscientemente (como um burguês, ele naturalmente não chega a este ponto) — deixa desertos atrás dele, Pérsia, Mesopotâmia, etc., Grécia. Portanto, mais uma vez, uma tendência socialista inconsciente!36
Pode parecer surpreendente que Marx tenha encontrado até mesmo “uma tendência socialista inconsciente” no livro de Fraas, apesar da crítica severa de Fraas a Liebig. Climate and the Plant World Over Time explica como civilizações antigas, especialmente a Grécia antiga — Fraas passou sete anos como inspetor do jardim e professor de botânica na Universidade de Atenas — colapsaram depois que o desmatamento não regulamentado causou mudanças insustentáveis no ambiente local. Como as plantas nativas não podiam mais se adaptar ao novo ambiente, a formação da estepe ou, no pior dos casos, a desertificação se instalou. (Embora a interpretação de Fraas tenha sido influente, alguns argumentariam hoje que o que ocorreu não foi a “desertificação” como tal, mas sim o crescimento de plantas que exigiam menos umidade — porque grande parte da chuva foi perdida como escoamento em vez de se infiltrar no solo.)
Em nosso contexto, é antes de tudo interessante notar que Fraas enfatizou a importância de um “clima natural” para o crescimento das plantas, devido a sua grande influência no processo de intemperismo dos solos. Portanto, não basta apenas analisar a composição química do solo, pois as reações mecânicas e químicas no solo, essenciais para o processo de intemperismo, dependem fortemente de fatores climáticos como temperatura, umidade e precipitação. É por isso que Fraas caracterizou seu próprio campo de pesquisa e método como “física agrícola”, em claro contraste com a “química agrícola” de Liebig.37 De acordo com Fraas, em certas áreas onde as condições climáticas são mais favoráveis e os solos são adjacentes a rios e inundam regularmente com água contendo sedimentos, é possível produzir grandes quantidades de safras sem medo do esgotamento do solo, pois a natureza cumpre automaticamente a “lei da reposição” por meio de depósitos aluviais. Isso, é claro, se aplicaria a apenas alguns dos solos de qualquer país em particular.
Depois de ler os livros de Fraas, Marx ficou mais interessado na tal “física agrícola”, como disse a Engels: “Devemos ficar de olho nas novidades recentes e mais atuais da agricultura. A escola física é contraposta à química.”38 Aqui é possível discernir uma mudança clara nos interesses de Marx. Em janeiro de 1868, Marx estava acompanhando principalmente os debates dentro da “escola química”, em termos de se o fertilizante mineral ou de nitrogênio era mais eficaz. Como ele já havia estudado o assunto em 1861, ele agora achava necessário estudar os desenvolvimentos recentes “até certo ponto”. Após dois meses e meio e um exame intensivo das obras de Fraas, no entanto, Marx agrupou Liebig e Lawes em uma mesma “escola química” e tratou a teoria de Fraas como uma escola “física” independente. Notavelmente, essa categorização reflete o próprio julgamento de Fraas, pois ele reclamou que tanto Liebig quanto Lawes apresentaram argumentos abstratos e unilaterais sobre o esgotamento do solo, colocando muita ênfase apenas no componente químico do crescimento das plantas.39 Como resultado, Marx passou a acreditar que ele “deveria” estudar os mais novos desenvolvimentos no campo da agricultura com muito mais cuidado.
A singularidade de Fraas também é evidente em sua atenção ao impacto humano no processo de mudança climática histórica. De fato, o livro de Fraas oferece um dos primeiros estudos sobre o assunto, mais tarde elogiado por George Perkins Marsh em Man and Nature (O Homem e a Natureza) (1864).40 Baseando-se em textos gregos antigos, Fraas mostrou como espécies de plantas se moviam do sul para o norte, ou das planícies para as montanhas, à medida que o clima local fica gradualmente mais quente e seco. Segundo Fraas, essa mudança climática é resultado do desmatamento excessivo exigido pelas civilizações antigas. Essas histórias da desintegração de sociedades antigas também têm relevância óbvia para nossa situação contemporânea.
Fraas alertou igualmente contra o uso excessivo de madeira pela indústria moderna, um processo já em andamento durante sua época e que teria um grande impacto na civilização europeia. As leituras da obra de Fraas por Marx o apresentaram ao problema do desaparecimento das florestas da Europa, conforme documentado em seu caderno de anotações: “A França agora não tem mais do que um doze avos de sua área florestal anterior, a Inglaterra apenas 4 grandes florestas entre 69 florestas; na Itália e na península do sudoeste da Europa, o povoamento florestal que também era comum nas planícies antigamente não pode mais ser encontrado nem nas montanhas.”41 Fraas lamentou que o posterior desenvolvimento tecnológico permitiria o corte de árvores em altitudes mais altas das montanhas e apenas acelerar o desmatamento.
Lendo o livro de Fraas, Marx percebeu uma grande tensão entre a sustentabilidade ecológica e a demanda cada vez maior por madeira para alimentar a produção capitalista. A visão de Marx sobre a perturbação da “interação metabólica” entre o ser humano e a natureza no capitalismo vai além do problema da exaustão do solo na noção de Liebig e se estende à questão do desmatamento. Claro, como a segunda edição d’O Capital indica, isso não significa que Marx abandonou a teoria de Liebig. Pelo contrário, ele continuou a honrar a contribuição de Liebig como essencial para sua crítica à agricultura moderna. Entretanto, quando Marx escreveu sobre uma “tendência socialista inconsciente” na obra de Fraas, é claro que ele agora considerava a reabilitação do metabolismo entre o ser humano e a natureza como um projeto central do socialismo, com um escopo muito maior do que na primeira edição do volume um d’O Capital.
O interesse de Marx no desmatamento não se limitou a ler Fraas. No início de 1868, ele também leu History of the Past and Present State of the Labouring Population (História do Passado e do Estado Atual da População Trabalhadora) de John D. Tuckett, observando o número de páginas importantes. Em uma daquelas poucas páginas que Marx registrou, Tuckett argumenta:
Em nosso contexto, é antes de tudo interessante notar que Fraas enfatizou a importância de um “clima natural” para o crescimento das plantas, devido a sua grande influência no processo de intemperismo dos solos. Portanto, não basta apenas analisar a composição química do solo, pois as reações mecânicas e químicas no solo, essenciais para o processo de intemperismo, dependem fortemente de fatores climáticos como temperatura, umidade e precipitação. É por isso que Fraas caracterizou seu próprio campo de pesquisa e método como “física agrícola”, em claro contraste com a “química agrícola” de Liebig.37 De acordo com Fraas, em certas áreas onde as condições climáticas são mais favoráveis e os solos são adjacentes a rios e inundam regularmente com água contendo sedimentos, é possível produzir grandes quantidades de safras sem medo do esgotamento do solo, pois a natureza cumpre automaticamente a “lei da reposição” por meio de depósitos aluviais. Isso, é claro, se aplicaria a apenas alguns dos solos de qualquer país em particular.
Depois de ler os livros de Fraas, Marx ficou mais interessado na tal “física agrícola”, como disse a Engels: “Devemos ficar de olho nas novidades recentes e mais atuais da agricultura. A escola física é contraposta à química.”38 Aqui é possível discernir uma mudança clara nos interesses de Marx. Em janeiro de 1868, Marx estava acompanhando principalmente os debates dentro da “escola química”, em termos de se o fertilizante mineral ou de nitrogênio era mais eficaz. Como ele já havia estudado o assunto em 1861, ele agora achava necessário estudar os desenvolvimentos recentes “até certo ponto”. Após dois meses e meio e um exame intensivo das obras de Fraas, no entanto, Marx agrupou Liebig e Lawes em uma mesma “escola química” e tratou a teoria de Fraas como uma escola “física” independente. Notavelmente, essa categorização reflete o próprio julgamento de Fraas, pois ele reclamou que tanto Liebig quanto Lawes apresentaram argumentos abstratos e unilaterais sobre o esgotamento do solo, colocando muita ênfase apenas no componente químico do crescimento das plantas.39 Como resultado, Marx passou a acreditar que ele “deveria” estudar os mais novos desenvolvimentos no campo da agricultura com muito mais cuidado.
A singularidade de Fraas também é evidente em sua atenção ao impacto humano no processo de mudança climática histórica. De fato, o livro de Fraas oferece um dos primeiros estudos sobre o assunto, mais tarde elogiado por George Perkins Marsh em Man and Nature (O Homem e a Natureza) (1864).40 Baseando-se em textos gregos antigos, Fraas mostrou como espécies de plantas se moviam do sul para o norte, ou das planícies para as montanhas, à medida que o clima local fica gradualmente mais quente e seco. Segundo Fraas, essa mudança climática é resultado do desmatamento excessivo exigido pelas civilizações antigas. Essas histórias da desintegração de sociedades antigas também têm relevância óbvia para nossa situação contemporânea.
Fraas alertou igualmente contra o uso excessivo de madeira pela indústria moderna, um processo já em andamento durante sua época e que teria um grande impacto na civilização europeia. As leituras da obra de Fraas por Marx o apresentaram ao problema do desaparecimento das florestas da Europa, conforme documentado em seu caderno de anotações: “A França agora não tem mais do que um doze avos de sua área florestal anterior, a Inglaterra apenas 4 grandes florestas entre 69 florestas; na Itália e na península do sudoeste da Europa, o povoamento florestal que também era comum nas planícies antigamente não pode mais ser encontrado nem nas montanhas.”41 Fraas lamentou que o posterior desenvolvimento tecnológico permitiria o corte de árvores em altitudes mais altas das montanhas e apenas acelerar o desmatamento.
Lendo o livro de Fraas, Marx percebeu uma grande tensão entre a sustentabilidade ecológica e a demanda cada vez maior por madeira para alimentar a produção capitalista. A visão de Marx sobre a perturbação da “interação metabólica” entre o ser humano e a natureza no capitalismo vai além do problema da exaustão do solo na noção de Liebig e se estende à questão do desmatamento. Claro, como a segunda edição d’O Capital indica, isso não significa que Marx abandonou a teoria de Liebig. Pelo contrário, ele continuou a honrar a contribuição de Liebig como essencial para sua crítica à agricultura moderna. Entretanto, quando Marx escreveu sobre uma “tendência socialista inconsciente” na obra de Fraas, é claro que ele agora considerava a reabilitação do metabolismo entre o ser humano e a natureza como um projeto central do socialismo, com um escopo muito maior do que na primeira edição do volume um d’O Capital.
O interesse de Marx no desmatamento não se limitou a ler Fraas. No início de 1868, ele também leu History of the Past and Present State of the Labouring Population (História do Passado e do Estado Atual da População Trabalhadora) de John D. Tuckett, observando o número de páginas importantes. Em uma daquelas poucas páginas que Marx registrou, Tuckett argumenta:
A indolência de nossos antepassados parece motivo de pesar, por negligenciar o cultivo de árvores e, em muitos casos, causar a destruição das florestas sem substituí-las suficientemente por mudas. Este desperdício geral parece ter sido maior pouco antes do uso de carvão marinho [para fundição de ferro] ser descoberto, quando o consumo para uso de ferro forjado era tão grande que parecia que iria varrer toda a madeira e a mata no país. ... Porém, nos dias atuais, as plantações de árvores, não só aumentam a utilidade, mas também tendem a embelezar o país, e produzem proteções para quebrar as rápidas correntes dos ventos. ... A grande vantagem em plantar um grande conjunto de mata em um país nu não é percebido à primeira vista. Como não há nada para resistir aos ventos frios, o gado alimentado nele tem crescimento atrofiado e a vegetação muitas vezes tem a aparência de estar chamuscada pelo fogo ou golpeada com um pau. Além disso, ao dar calor e conforto ao gado, metade da forragem irá satisfazê-lo.42
As florestas desempenham um importante papel econômico na agricultura e na pecuária, e isso é claramente o que interessava a Marx em 1868.
Embora Marx não mencione diretamente o trabalho de Fraas ou de Tuckett após 1868, a influência de suas idéias é claramente visível no segundo manuscrito para o volume dois d’O Capital, escrito entre 1868 e 1870. Marx já havia notado no manuscrito para o volume três que o desmatamento não seria sustentável sob o sistema da propriedade privada, mesmo que pudesse ser mais ou menos sustentável quando conduzido sob propriedade estatal.43 Depois de 1868, Marx deu mais atenção ao problema do sistema moderno de roubo, que agora ele expandiu da produção agrícola até o desmatamento. Nesse sentido, Marx cita o Manual of Agricultural Business Operations (Manual de Operações Empresariais Agrícolas) [Handbuch der landwirthschaftlichen Betriebslehre] (1852) de Friedrich Kirchhof, em defesa da incompatibilidade entre a lógica do capital e as características materiais do florestamento.44 Ele aponta que o longo tempo necessário para o florestamento impõe um limite natural, obrigando o capital a tentar encurtar o ciclo de desmatamento e rebrota o máximo possível. No manuscrito do volume dois de O Capital, Marx comenta uma passagem do livro de Kirchhof: “O desenvolvimento da cultura e da indústria em geral se evidenciou em uma destruição tão enérgica da floresta que tudo feito por ela ao contrário para sua preservação e restauração parece infinitesimal.”45 Marx certamente tem consciência do perigo de que esse desmatamento venha a causar não apenas uma escassez de madeira, mas também uma mudança climática, que está ligada a uma crise mais existencial da civilização humana.
Uma comparação com a escrita do jovem Marx ilustra esse dramático desenvolvimento de seu pensamento ecológico. No Manifesto Comunista, Marx e Engels escrevem sobre as mudanças históricas trazidas pelo poder do capital:
Embora Marx não mencione diretamente o trabalho de Fraas ou de Tuckett após 1868, a influência de suas idéias é claramente visível no segundo manuscrito para o volume dois d’O Capital, escrito entre 1868 e 1870. Marx já havia notado no manuscrito para o volume três que o desmatamento não seria sustentável sob o sistema da propriedade privada, mesmo que pudesse ser mais ou menos sustentável quando conduzido sob propriedade estatal.43 Depois de 1868, Marx deu mais atenção ao problema do sistema moderno de roubo, que agora ele expandiu da produção agrícola até o desmatamento. Nesse sentido, Marx cita o Manual of Agricultural Business Operations (Manual de Operações Empresariais Agrícolas) [Handbuch der landwirthschaftlichen Betriebslehre] (1852) de Friedrich Kirchhof, em defesa da incompatibilidade entre a lógica do capital e as características materiais do florestamento.44 Ele aponta que o longo tempo necessário para o florestamento impõe um limite natural, obrigando o capital a tentar encurtar o ciclo de desmatamento e rebrota o máximo possível. No manuscrito do volume dois de O Capital, Marx comenta uma passagem do livro de Kirchhof: “O desenvolvimento da cultura e da indústria em geral se evidenciou em uma destruição tão enérgica da floresta que tudo feito por ela ao contrário para sua preservação e restauração parece infinitesimal.”45 Marx certamente tem consciência do perigo de que esse desmatamento venha a causar não apenas uma escassez de madeira, mas também uma mudança climática, que está ligada a uma crise mais existencial da civilização humana.
Uma comparação com a escrita do jovem Marx ilustra esse dramático desenvolvimento de seu pensamento ecológico. No Manifesto Comunista, Marx e Engels escrevem sobre as mudanças históricas trazidas pelo poder do capital:
A burguesia, durante seu domínio de escassos cem anos, criou forças produtivas mais massivas e colossais do que todas as gerações anteriores juntas. Sujeição das forças da Natureza ao homem, maquinário, aplicação da química à indústria e agricultura, navegação a vapor, ferrovias, telégrafos elétricos, arroteamento de continentes inteiros para cultivo, canalização de rios, populações inteiras brotando da terra.46
Michael Löwy criticou esta passagem como uma manifestação da atitude ingênua de Marx e Engels em relação à modernização e ignorância sobre a destruição ecológica sob o desenvolvimento capitalista: “Prestando homenagem à burguesia por sua capacidade sem precedentes de desenvolver as forças produtivas”, escreve ele, “Marx e Engels celebraram sem reservas a ‘sujeição das forças da natureza ao homem’ e o ‘arroteamento de continentes inteiros para cultivo’ pela produção burguesa moderna.”47 A leitura de Löwy do alegado “prometeísmo” de Marx pode parecer difícil de refutar aqui, embora Foster forneça outra visão.48 No entanto, a crítica de Löwy, mesmo que sua interpretação reflita com precisão o pensamento de Marx na época, dificilmente pode ser generalizada ao longo de toda a carreira de Marx, uma vez que sua crítica ao capitalismo tornou-se cada vez mais ecológica a cada ano que passava. Como visto acima, a evolução de seu pensamento subsequente ao volume um d’O Capital mostra que, em seus últimos anos, Marx tornou-se seriamente interessado no problema do desmatamento, e é altamente duvidoso que o falecido Marx elogiasse o desmatamento em massa em nome do progresso, sem levar em conta a regulação consciente e sustentável da interação metabólica entre a humanidade e a natureza.
O Escopo Adicional da Crítica Ecológica de Marx
Os interesses ecológicos de Marx neste período também se estendiam à pecuária. Em 1865–1866, ele já havia lido Rural Economy of England, Scotland, and Ireland (Economia Rural da Inglaterra, Escócia e Irlanda), de Léonce de Lavergne, em que o economista agrícola francês defendia a superioridade da agricultura inglesa. Lavergne deu como exemplo o processo de criação inglês desenvolvido por Robert Bakewell, com seu “sistema de seleção”, permitindo que as ovelhas crescessem mais rápido e fornecessem mais carne, com apenas a massa óssea necessária para sua sobrevivência.49 A reação de Marx em seu caderno a essa “melhora” é sugestivo: “Caracterizado pela precocidade, totalmente doentio, carente de ossos, muito desenvolvimento de gordura e carne etc. Todos esses são produtos artificiais. Nojento!”50 Essas observações desmentem qualquer imagem de Marx como um defensor acrítico dos avanços tecnológicos modernos.
Desde o início do século XIX, as ovelhas “New Leicester” de Bakewell foram trazidas para a Irlanda, onde foram cruzadas com ovelhas indígenas para produzir uma nova raça, Roscommon, com o objetivo de aumentar a produtividade agrícola da Irlanda.51 Marx estava totalmente ciente dessa modificação dos ecossistemas regionais para fins de acumulação de capital, e rejeitou-a apesar de sua aparente “melhoria” da produtividade: a saúde e o bem-estar dos animais estavam sendo subordinados à utilidade do capital. Assim, Marx deixou claro em 1865 que esse tipo de “progresso” realmente não era nenhum progresso, porque só poderia ser alcançado aniquilando a interação metabólica sustentável entre os humanos e a natureza.
Quando Marx voltou ao tópico da criação de gado capitalista no segundo manuscrito do volume dois d’O Capital, ele a considerou insustentável pelo mesmo motivo que marcou o florestamento capitalista: o tempo de produção é muitas vezes simplesmente longo demais para o capital. Aqui, Marx se refere às Falácias Políticas, Agrícolas e Comerciais (Political, Agricultural and Commercial Fallacies) de William Walter Good (1866):
O Escopo Adicional da Crítica Ecológica de Marx
Os interesses ecológicos de Marx neste período também se estendiam à pecuária. Em 1865–1866, ele já havia lido Rural Economy of England, Scotland, and Ireland (Economia Rural da Inglaterra, Escócia e Irlanda), de Léonce de Lavergne, em que o economista agrícola francês defendia a superioridade da agricultura inglesa. Lavergne deu como exemplo o processo de criação inglês desenvolvido por Robert Bakewell, com seu “sistema de seleção”, permitindo que as ovelhas crescessem mais rápido e fornecessem mais carne, com apenas a massa óssea necessária para sua sobrevivência.49 A reação de Marx em seu caderno a essa “melhora” é sugestivo: “Caracterizado pela precocidade, totalmente doentio, carente de ossos, muito desenvolvimento de gordura e carne etc. Todos esses são produtos artificiais. Nojento!”50 Essas observações desmentem qualquer imagem de Marx como um defensor acrítico dos avanços tecnológicos modernos.
Desde o início do século XIX, as ovelhas “New Leicester” de Bakewell foram trazidas para a Irlanda, onde foram cruzadas com ovelhas indígenas para produzir uma nova raça, Roscommon, com o objetivo de aumentar a produtividade agrícola da Irlanda.51 Marx estava totalmente ciente dessa modificação dos ecossistemas regionais para fins de acumulação de capital, e rejeitou-a apesar de sua aparente “melhoria” da produtividade: a saúde e o bem-estar dos animais estavam sendo subordinados à utilidade do capital. Assim, Marx deixou claro em 1865 que esse tipo de “progresso” realmente não era nenhum progresso, porque só poderia ser alcançado aniquilando a interação metabólica sustentável entre os humanos e a natureza.
Quando Marx voltou ao tópico da criação de gado capitalista no segundo manuscrito do volume dois d’O Capital, ele a considerou insustentável pelo mesmo motivo que marcou o florestamento capitalista: o tempo de produção é muitas vezes simplesmente longo demais para o capital. Aqui, Marx se refere às Falácias Políticas, Agrícolas e Comerciais (Political, Agricultural and Commercial Fallacies) de William Walter Good (1866):
Por esta razão, lembrando que a agricultura é regida pelos princípios da economia política, os bezerros que vinham para o sul dos condados leiteiros para a criação são agora amplamente sacrificados, às vezes em uma semana e dez dias de idade, nas ruínas de Birmingham, Manchester, Liverpool e outras grandes cidades vizinhas... O que esses homenzinhos agora dizem, em resposta às recomendações para criação, é: “Sabemos muito bem que valeria a pena criar com leite, mas primeiro exigiria que colocássemos as mãos em nossa bolsa, o que não podemos fazer, e então teríamos que esperar muito tempo por uma devolução, em vez de obtê-la de uma vez por leite.”52
Não importa o quão rápido o crescimento do gado se torne, graças a Bakewell e outros criadores, ele apenas encurta o tempo de abate prematuro em favor de um giro de capital mais curto. Segundo Marx, isso também não conta como “desenvolvimento” das forças produtivas, precisamente porque só pode ocorrer sacrificando a sustentabilidade em prol do lucro de curto prazo.
Todos esses são apenas exemplos encontrados nos cadernos de 1868. Marx na época também ficou intrigado com Questão do Carvão (Coal Question) de William Stanley Jevons (1865), cuja advertência sobre o esgotamento do suprimento de carvão da Inglaterra provocou intensa discussão no Parlamento.53 Sem dúvida, Marx estava estudando os livros mencionados acima enquanto preparava os manuscritos d’O Capital, e continuou a fazê-lo nas décadas de 1870 e 1880. Portanto, é bastante razoável concluir que Marx planejava usar esses novos materiais empíricos para elaborar questões como a rotação do capital, a teoria da renda e a taxa de lucro. Em uma passagem, Marx na verdade escreve que o abate prematuro acabará por causar “grandes danos” à produção agrícola.54 Ou, como Marx discute em outra seção do manuscrito de 1867–68, o esgotamento dos solos ou minas também poderia atingir tal extensão que a “condição natural decrescente de produtividade” na agricultura e na indústria extrativa não poderia mais ser contrabalançada pelo aumento da produtividade do trabalho.55
Não surpreendentemente, os cálculos de Marx das taxas de lucro no manuscrito incluem aqueles casos em que as taxas de lucro afundam devido aos aumentos de preços nas partes “flutuantes” do capital constante, sugerindo que a lei da taxa de lucro em queda não deve ser tratada como uma mera fórmula matemática . Sua dinâmica real está intimamente ligada aos componentes materiais do capital e não pode ser tratada independentemente deles.56 Em outras palavras, a valorização e a acumulação do capital não é um movimento abstrato de valor; o capital é necessariamente encarnado em componentes materiais, inevitavelmente assumindo uma “composição orgânica” — um termo tirado de Agricultural Chemistry de Liebig — restringida por elementos materiais concretos do processo de trabalho. Apesar de sua elasticidade, essa estrutura orgânica do capital não pode ser modificada arbitrariamente, ou levada a divergir muito do caráter material de cada elemento natural da produção. Em última análise, o capital não pode ignorar o mundo natural.
Isso não significa que o capitalismo inevitavelmente entrará em colapso um dia. Explorando plenamente a elasticidade material, o capital sempre tenta superar as limitações por meio da inovação científica e tecnológica. O potencial de adaptação do capitalismo é tão grande que ele provavelmente pode sobreviver como um sistema social dominante até que muitas partes da terra se tornem inadequadas para a habitação humana.57 Como os cadernos de Marx sobre as ciências naturais documentam, ele estava particularmente interessado em compreender as rupturas no processo de interação metabólica entre o homem e a natureza que resulta das transformações infinitas do mundo material em prol da valorização eficiente do capital. Essas rupturas metabólicas são ainda mais desastrosas porque corroem as condições materiais para o “desenvolvimento humano sustentável”.58
Marx entendeu essas cisões como uma manifestação das contradições fundamentais do capitalismo e achou necessário estudá-las cuidadosamente como parte da construção de um movimento socialista radical. Conforme mostrado neste artigo, Marx estava bem ciente de que a crítica ecológica do capitalismo não foi concluída pela teoria de Liebig e tentou desenvolvê-la e estendê-la com base em novas pesquisas de diversas áreas da ecologia, agricultura e botânica. A teoria econômica e ecológica de Marx não está desatualizada, mas permanece totalmente aberta a novas possibilidades para integrar o conhecimento científico natural com a crítica do capitalismo contemporâneo.
Todos esses são apenas exemplos encontrados nos cadernos de 1868. Marx na época também ficou intrigado com Questão do Carvão (Coal Question) de William Stanley Jevons (1865), cuja advertência sobre o esgotamento do suprimento de carvão da Inglaterra provocou intensa discussão no Parlamento.53 Sem dúvida, Marx estava estudando os livros mencionados acima enquanto preparava os manuscritos d’O Capital, e continuou a fazê-lo nas décadas de 1870 e 1880. Portanto, é bastante razoável concluir que Marx planejava usar esses novos materiais empíricos para elaborar questões como a rotação do capital, a teoria da renda e a taxa de lucro. Em uma passagem, Marx na verdade escreve que o abate prematuro acabará por causar “grandes danos” à produção agrícola.54 Ou, como Marx discute em outra seção do manuscrito de 1867–68, o esgotamento dos solos ou minas também poderia atingir tal extensão que a “condição natural decrescente de produtividade” na agricultura e na indústria extrativa não poderia mais ser contrabalançada pelo aumento da produtividade do trabalho.55
Não surpreendentemente, os cálculos de Marx das taxas de lucro no manuscrito incluem aqueles casos em que as taxas de lucro afundam devido aos aumentos de preços nas partes “flutuantes” do capital constante, sugerindo que a lei da taxa de lucro em queda não deve ser tratada como uma mera fórmula matemática . Sua dinâmica real está intimamente ligada aos componentes materiais do capital e não pode ser tratada independentemente deles.56 Em outras palavras, a valorização e a acumulação do capital não é um movimento abstrato de valor; o capital é necessariamente encarnado em componentes materiais, inevitavelmente assumindo uma “composição orgânica” — um termo tirado de Agricultural Chemistry de Liebig — restringida por elementos materiais concretos do processo de trabalho. Apesar de sua elasticidade, essa estrutura orgânica do capital não pode ser modificada arbitrariamente, ou levada a divergir muito do caráter material de cada elemento natural da produção. Em última análise, o capital não pode ignorar o mundo natural.
Isso não significa que o capitalismo inevitavelmente entrará em colapso um dia. Explorando plenamente a elasticidade material, o capital sempre tenta superar as limitações por meio da inovação científica e tecnológica. O potencial de adaptação do capitalismo é tão grande que ele provavelmente pode sobreviver como um sistema social dominante até que muitas partes da terra se tornem inadequadas para a habitação humana.57 Como os cadernos de Marx sobre as ciências naturais documentam, ele estava particularmente interessado em compreender as rupturas no processo de interação metabólica entre o homem e a natureza que resulta das transformações infinitas do mundo material em prol da valorização eficiente do capital. Essas rupturas metabólicas são ainda mais desastrosas porque corroem as condições materiais para o “desenvolvimento humano sustentável”.58
Marx entendeu essas cisões como uma manifestação das contradições fundamentais do capitalismo e achou necessário estudá-las cuidadosamente como parte da construção de um movimento socialista radical. Conforme mostrado neste artigo, Marx estava bem ciente de que a crítica ecológica do capitalismo não foi concluída pela teoria de Liebig e tentou desenvolvê-la e estendê-la com base em novas pesquisas de diversas áreas da ecologia, agricultura e botânica. A teoria econômica e ecológica de Marx não está desatualizada, mas permanece totalmente aberta a novas possibilidades para integrar o conhecimento científico natural com a crítica do capitalismo contemporâneo.
Notas
2. O financiamento e o apoio ao projeto MEGA foram estendidos pelos próximos 15 anos. Este artigo é baseado em minha pesquisa como bolsista visitante na Academia de Ciências de Berlin-Brandenburg em 2015. Sou especialmente grato a Gerald Hubmann, que apoiou meu projeto desde o início.
3. Paul Burkett e John Bellamy Foster, “The Podolinsky Myth,” Historical Materialism 16, no. 1 (2008): 115–61.
4. Foster, Marx’s Ecology (New York: Monthly Review Press, 2000), capítulo 4; Kohei Saito, “The Emergence of Marx’s Critique of Modern Agriculture,” Monthly Review 66, no. 5 (outubro 2014): 25–46.
5. Karl Marx e Frederick Engels, Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA) II, vol. 6 (Berlin: De Gruyter, 1975), 409.
6. John Bellamy Foster, Brett Clark e Richard York, The Ecological Rift (New York: Monthly Review Press, 2010), 7.
7. MEGA II, vol. 5, 410.
8. Carl-Erich Vollgraf, Introduction to MEGA II, vol. 4.3, 461. É importante, no entanto, notar que Marx havia dito a mesma coisa em uma carta a Engels em 13 de fevereiro de 1866. Ver Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works (New York: International Publishers, 1975), vol. 42, 227. Lá ele escreveu: “Tive de explorar a nova química agrícola na Alemanha, em particular Liebig e Schönbein, que é mais importante para este assunto do que todos os economistas juntos”.
9. Karl Marx, Capital, vol. 1 (London: Penguin, 1976), 638; êfase nossa.
10. A introdução de Liebig inclui uma seção chamada “Economia Nacional e Agricultura”; Marx começa seus trechos com esta seção e, em seguida, retorna ao início da introdução.
11. Wilhelm Roscher, System der Volkswirthschaft, 4th ed., vol. 2 (Stuttgart: Cotta’scher, 1865), 66.
Karl Marx and Friederick Engels, Collected Works, vol. 42, 507–8.
12. Ver especialmente Karl Marx, Capital, vol. 3 (London: Penguin, 1981), 878.
13. Para uma discussão introdutória da teoria de Liebig, ver William H. Brock, Justus von Liebig: The Chemical Gatekeeper (Cambridge: Cambridge University Press, 1997), chapter 6.
14. Foster, Marx’s Ecology, 153.
15. Michael Perelman, “The Comparative Sociology of Environmental Economics in the Works of Henry Carey and Karl Marx,” History of Economics Review 36 (2002): 85–110.
16. Eugen Dühring, Carey’s Umwälzung der Volkswirthschaftslehre und Socialwissenschaft (Munich: Fleischmann, 1865), xiii.
17. Eugen Dühring, Kritische Grundlegung der Volkswirthschaftslehre (Berlin: Eichhoff, 1866), 230.
19. Dühring, Carey’s Umwälzung, 67. Embora Dühring não use essa expressão para caracterizar a teoria de Liebig, Karl Arnd afirma que ela é assombrada por um “fantasma da exaustão do solo”. Ver Karl Arnd, Justus von Liebig’s Agrikulturchemie und sein Gespenst der Bodenerschöpfung (Frankfurt am Main: Brönner, 1864).
20. Liebig, Einleitung in die Naturgesetze des Feldbaues (Braunschweig: Friedrich Vieweg, 1862), 125.
21. Sobre a importância de Anderson para todo o argumento de Marx, ver Foster, Marx’s Ecology, 142–47.
22. Liebig escreveu intencionalmente em termos provocativos na esperança de restaurar sua fama profissional e, nesse sentido, a sétima edição foi jbem sucedida. Ver Mark R. Finlay, “The Rehabilitation of an Agricultural Chemist: Justus von Liebig and the Seventh Edition,” Ambix 38, no. 3 (1991): 155–66.
23. Dühring, Carey’s Umwälzung, 67.
24. Marx and Engels, Collected Works, vol. 43, 384.
25. Roscher, Nationalökonomie des Ackerbaues, 65.
26. Marx-Engels Archive (MEA), International Institute of Social History, Sign. B 107, 31–32. Albert Friedrich Lange, J. St. Mill’s Ansichten über die sociale Frage und die angebliche Umwälzung der Socialwissenschaft durch Carey (Duisburg: Falk and Lange, 1866), 197.
27. Ibid., 203.
28. MEGA IV, vol. 32, 42.
29. Julius Au, Hilfsdüngermittel in ihrer volks- und privatwirtschaftlichen Bedeutung (Heidelberg: Verlagsbuchhandlung von Fr. Bassermann, 1869), 179.
30. MEGA IV, vol. 32, 42.
31. Marx and Engels, Collected Works, vol. 43, 527.
32. MEA, Sign. B 107, 13.
33. Carl Fraas, Die Ackerbaukrisen und ihre Heilmittel (Leipzig: Brockhaus, 1866), 151.
34. Charles Lyell, Principles of Geology, vol. 3 (London: John Murray, 1832),
35. MEA, Sign. B 107, 94; Carl Fraas, Die Natur der Landwirthschaft, vol. 1 (München: Cotta’sche, 1857) 17.
36. Marx eEngels, Collected Works, vol. 42, 559.
37. Fraas, Natur der Landwirthschaft, vol. 1, 357.
38. Marx eEngels, Collected Works, vol. 42, 559.
39. Fraas, Die Ackerbaukrisen und ihre Heilmittel, 141.
40. George Perkins Marsh, Man eNature (Seattle: University of Washington Press, 2003), 14.
41. MEA, Sign. B 112, 45. Carl Fraas, Klima und Pflanzenwelt in der Zeit: Ein Beitrag zur Geschichte beider (Landshut: J. G. Wölfle, 1847), 7.
42. MEA, Sign. B 111, 1. John Devell Tuckett, A History of the Past and Present State of the Labouring Population (London: Longman, Brown, Green and Longmans, 1846), vol. 2, 402.
43. MEGA II, vol. 4.2, 670.
44. Friedrich Kirchhof, Handbuch der landwirthschaftlichen Betriebslehre (Dessau: Moriz Ratz, 1852). Marx tinha uma cópia desse livro (MEGA IV, vol. 32, 673).
45. MEGA II, vol. 11, 203; Karl Marx, Capital, vol. 2 (London: Penguin, 1978), 322.
46. Marx eEngels, Collected Works, vol. 6, 489.
47. Michael Löwy, “Globalization and Internationalism: How Up-to-date is the Communist Manifesto?” Monthly Review 50, no. 6 (November 1998): 20
48. John Bellamy Foster, The Ecological Revolution(New York: Monthly Review Press, 2009), 213–32.
49. Léonce de Lavergne, Rural Economy of England, Scotland, and Ireland (Edinburgh: William Blackwood, 1855), 19–20, 37–39.
50. MEA, Sign. B 106, 209; William Walter Good, Political, Agricultural and Commerical Fallacies (London: Edward Stanford, 1866), 11–12.
51. Janet Vorwald Dohner, ed., The Encyclopedia of Historic and Endangered Livestock and Poultry Breeds (New Haven, CT: Yale University Press, 2001), 121.
52. MEGA II, vol. 11, 188.
53. MEA, Sign. B 128, 2.
54. MEGA II, vol. 11, 187.
55. MEGA II, vol. 4.3, 80.
56. Para um tratamento matemático da lei, ver Michael Heinrich, An Introduction to the Three Volumes of Karl Marx’s Capital (New York: Monthly Review Press, 2012), chapter 7.
57. Burkett, Marx and Nature, 192.
58. John Bellamy Foster, “The Great Capitalist Climacteric,” Monthly Review 67, no. 6 (November 2015): 9.
34. Charles Lyell, Principles of Geology, vol. 3 (London: John Murray, 1832),
35. MEA, Sign. B 107, 94; Carl Fraas, Die Natur der Landwirthschaft, vol. 1 (München: Cotta’sche, 1857) 17.
36. Marx eEngels, Collected Works, vol. 42, 559.
37. Fraas, Natur der Landwirthschaft, vol. 1, 357.
38. Marx eEngels, Collected Works, vol. 42, 559.
39. Fraas, Die Ackerbaukrisen und ihre Heilmittel, 141.
40. George Perkins Marsh, Man eNature (Seattle: University of Washington Press, 2003), 14.
41. MEA, Sign. B 112, 45. Carl Fraas, Klima und Pflanzenwelt in der Zeit: Ein Beitrag zur Geschichte beider (Landshut: J. G. Wölfle, 1847), 7.
42. MEA, Sign. B 111, 1. John Devell Tuckett, A History of the Past and Present State of the Labouring Population (London: Longman, Brown, Green and Longmans, 1846), vol. 2, 402.
43. MEGA II, vol. 4.2, 670.
44. Friedrich Kirchhof, Handbuch der landwirthschaftlichen Betriebslehre (Dessau: Moriz Ratz, 1852). Marx tinha uma cópia desse livro (MEGA IV, vol. 32, 673).
45. MEGA II, vol. 11, 203; Karl Marx, Capital, vol. 2 (London: Penguin, 1978), 322.
46. Marx eEngels, Collected Works, vol. 6, 489.
47. Michael Löwy, “Globalization and Internationalism: How Up-to-date is the Communist Manifesto?” Monthly Review 50, no. 6 (November 1998): 20
48. John Bellamy Foster, The Ecological Revolution(New York: Monthly Review Press, 2009), 213–32.
49. Léonce de Lavergne, Rural Economy of England, Scotland, and Ireland (Edinburgh: William Blackwood, 1855), 19–20, 37–39.
50. MEA, Sign. B 106, 209; William Walter Good, Political, Agricultural and Commerical Fallacies (London: Edward Stanford, 1866), 11–12.
51. Janet Vorwald Dohner, ed., The Encyclopedia of Historic and Endangered Livestock and Poultry Breeds (New Haven, CT: Yale University Press, 2001), 121.
52. MEGA II, vol. 11, 188.
53. MEA, Sign. B 128, 2.
54. MEGA II, vol. 11, 187.
55. MEGA II, vol. 4.3, 80.
56. Para um tratamento matemático da lei, ver Michael Heinrich, An Introduction to the Three Volumes of Karl Marx’s Capital (New York: Monthly Review Press, 2012), chapter 7.
57. Burkett, Marx and Nature, 192.
58. John Bellamy Foster, “The Great Capitalist Climacteric,” Monthly Review 67, no. 6 (November 2015): 9.
Kohei Saito recebeu recentemente um PhD em filosofia pela Humboldt University, Berlin. Em 2015, ele foi um pesquisador convidado da Academia de Ciências de Berlin-Brandenburg, onde ajudou a editar os cadernos de Marx sobre ciências naturais.
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