As recentes promessas de desinvestimento da BlackRock são medidas de interesse próprio, não passos significativos na luta contra o aquecimento global.
Nicole M. Aschoff
Larry Fink, CEO of BlackRock, speaks at the New York Times DealBook conference on November 1, 2018 in New York City. (Stephanie Keith / Getty Images) |
Tradução / Larry Fink, presidente e CEO da BlackRock, recentemente enviou mais uma de suas famosas cartas. Construída em prévias promessas de valorizar todos os acionistas, a mensagem desse ano para os CEOs descreve o novo papel da BlackRock como uma responsável campeã do meio ambiente – ela promete tanto salvaguardar o dinheiro das pessoas e promover um “capitalismo sustentável e inclusivo”.
A maior empresa de gestão de ativos do mundo diz que ainda no começo desse ano vai desinvestir no carvão térmico e “fazer sustentabilidade integral às carteiras de construção e gestão de risco.” Fink insiste que no futuro a BlackRock “vai ser cada vez mais disposta a votar contra diretores e diretoria quando as empresas não estão fazendo suficiente progresso em divulgação relacionada à sustentabilidade e práticas de negócios e planos subjacentes a elas.”
Mas, em um exame mais de perto, os detalhes do plano da BlackRock são menos empolgantes. A promessa da empresa de afastar-se do carvão térmico se refere a suas carteiras gerenciadas ativamente. Aproximadamente três quartos das carteiras da empresa são gerenciadas passivamente, seus ativos automaticamente selecionados para seguir o mercado global. (O forte crescimento da BlackRock na década passada se deve quase inteiramente ao fluxo de investimento em seus fundos negociados em Bolsa e outros tipos de investimento passivo). A vasta maioria dos mais de $17 bilhões de dólares investidos em carvão está em carteiras investidas passivamente.
A carta de Fink também diz pouco à massiva presença da empresa em outros setores da indústria de combustíveis fósseis. A BlackRock é a maior acionista do mundo em petróleo e gás. Só no ano passado, ela completou um investimento de $4 bilhões de dólares (junto com a KKR) na Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi. A empresa também coloca dinheiro em indústrias associadas com desmatamento, como óleo de palma.
A estratégia primária da BlackRock para construir “sustentabilidade” parece ser uma medida: “Pelo fim de 2020, todas as carteiras ativas e estratégias consultivas vão ser totalmente integradas ESG (métricas de meio ambiente, sociais e de controle) – significando que, no nível das carteiras, nossos gerentes vão ser responsáveis por apropriado gerenciamento de exposição aos riscos ESG e documentar como essas considerações afetaram decisões de investimentos.”
Métricas de meio ambiente, sociais e de controle (ESG), enquanto não inteiramente sem valor, são profundamente falhas. Na próspera indústria caseira das métricas ESG há centenas de medidas, muitas das quais não são comparáveis umas com as outras. E essas medidas – que não são legalmente obrigatórias – geralmente contam com dados auto reportados das companhias. O “The Wall Street Journal” informa que “oito a cada dez dos maiores fundos sustentáveis dos EUA são investidos em empresas de petróleo e gás.”
Não obstante, alguns grupos de meio ambiente expressaram entusiasmo com a última carta de Fink.
Diana Best, estrategista sênior para o Sunrise Project, chamou o anúncio da BlackRock de um “fantástico começo” que “coincide com o tamanho da crise”. A gerente de campanha da ShareAction, Jeanne Martin, louvou a decisão da BlackRock de desinvestimento em carvão como “ainda outro golpe significativo no mercado que já está morrendo.” Ben Cushing, da Sierra Club, chamou as promessas de Fink de “um grande passo na direção certa e um testemunho do poder da pressão pública chamando por ações climáticas.”
Seu otimismo foi temperado por preocupações sobre como a BlackRock irá basear-se na sua decisão de parcialmente abandonar carvão térmico. Martin diz que permanecem perguntas sobre “qual é o objetivo da BlackRock, e como sua administração oferece o desempenho social, ambiental e financeiro que os seus clientes estão procurando.” Cushing, enquanto isso, argumenta que a BlackRock deve ir além: “É a hora de desligar o gasoduto do dinheiro para combustíveis fósseis para sempre. A BlackRock deve expandir em seus compromissos e outras instituições financeiras devem seguir o exemplo.” Caroline Lucas, uma integrante do Partido Verde do parlamento do Reino Unido pediu para a Black Rock “combinar a retórica com ações reais e rapidamente desinvestir em petróleo e gás, assim como carvão”, tanto nas suas carteiras gerenciadas ativamente e passivamente.
Obviamente, essas organizações sabem que a BlackRock continua uma grande investidora em energia suja. Mas suas declarações demonstram uma esperança de que a decisão de Fink sobre carvão térmico é um primeiro passo significativo em uma ampla reorganização para a empresa a longo prazo – e um sinal claro que a pressão de grupos ambientalistas está funcionando.
É uma lógica de organização que é comum em grupos ambientalistas hoje: empresas como a BlackRock são grandes e poderosas, com um vasto potencial para moldar a economia global, então mesmo se as mudanças que elas fazem são relativamente pequenas, o pensamento vai, a batida nos efeitos será bastante significativa. Portanto, grupos ambientalistas devem investir suas energias em campanhas de pressão corporativa.
Campanhas de desinvestimento têm substancial valor político, organizacional e educacional, e as decisões recentes da BlackRock são certamente um resultado, pelo menos em parte, de sentir o calor de grupos ambientalistas. Mas é importante ter os olhos claros sobre os limites da estratégia de pressão corporativa. É altamente duvidoso que os recentes movimentos da BlackRock vão adicionar algo significativo para o movimento ambientalista.
Ao invés, o desinvestimento parcial da BlackRock em carvão, sua recém-descoberta ênfase em métricas ESG e produtos de investimento verde, e suas promessas de valorizar todos os acionistas são uma tentativa de ter seu bolo e come-lo também. Experts crescentemente concordam que exposição térmica a carvão se tornou um passivo financeiro; não é apenas politicamente esclarecido para a BlackRock começar a despeja-lo, também é financeiramente inteligente. Ao mesmo tempo, fundos verdes se tornaram descontroladamente populares e altamente lucrativos, então empresas como a BlackRock estão felizes em fornece-los. Por trás das cenas, a BlackRock e o resto dessas firmas de Wall Street vão manter seus investimentos passivos, lucrando com energia suja enquanto for lucrativo.
O “propósito” da BlackRock é claro – fazer dinheiro. Pequenas mudanças direcionais para seu modelo de administração são destinadas a evitar censura política e atrair clientes amigáveis ao verde, não fundamentalmente alterar a natureza da empresa. Ela pode até “combinar retórica com ação real”, e desinvestir de combustíveis fósseis em algum ponto, mas apenas se é lucrativo faze-lo – não importa quão forte grupos ambientalistas pressionem.
Ao mesmo tempo, enquanto “desligando o gasoduto do dinheiro para combustíveis fósseis paras sempre” é importante, deixa um buraco que o mercado não vai preencher. As firmas de Wall Street estão interessadas em lucros rápidos e fáceis; elas não vão bancar infraestrutura verde de maneira significativa. Apenas os governos, empurrados por movimentos sociais democráticos de base ampla, podem prover os financiamentos de longo prazo e visão necessários para transformar nossa infraestrutura de energia – e forçar as empresas a fazer mais do que apenas oferecer promessas retóricas e reformas que interessam a elas mesmas.
Sobre o autor
Nicole Aschoff is on the editorial board at Jacobin. She is the author of The Smartphone Society: Technology, Power, and Resistance in the New Gilded Age and The New Prophets of Capital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário