4 de fevereiro de 2020

"O prefeito Pete era o tipo de garoto que desconectava o Sega se estivesse perdendo."

O Caucus de Iowa foi uma merda. Sim, a ONU deve ser chamada. Jimmy Carter deveria ter que certificar esta eleição.

Connor Kilpatrick


De acordo com Dave Wasserman, do Cook Political Report, "praticamente não há dúvida de que Sanders ganhou o maior apoio" (Brendan Smialowski / AFP via Getty Images)

Tradução / Não consigo pensar em um apoio maior à “revolução política” do que na noite passada em Iowa.

É difícil dizer onde termina a incompetência e começa a corrupção. Ou se realmente há alguma diferença. A incompetência, neste caso, está funcionando como um monte de merda sobre o qual o prefeito Pete Buttigieg está mais do que feliz em escalar e plantar sua bandeira.

A campanha de Bernie Sanders, no entanto, estava preparada com seus próprios dados internos, relatando a totalidade de mais de metade dos distritos. Segundo a contagem, Sanders está em primeiro lugar, cinco pontos à frente de Buttigieg. Este parece ser o crescente consenso. De acordo com Dave Wasserman, do Cook Political Report, “não há dúvida de que Sanders ganhou o maior apoio” no primeiro turno das primárias e que a contagem final “inclina a Sanders”, uma avaliação ecoada por Nate Cohn, do New York Times.

Em todos os sentidos, Sanders venceu Iowa. Não está claro quando os resultados oficiais serão relatados e quem, depois de tudo isso (incluindo vídeos virais de lançamentos de moedas usados para premiar delegados), acreditará neles.

E este é apenas um dos muitos sinais de podridão. Nas últimas duas décadas, tivemos dois presidentes norte-americanos que perderam no voto popular, mas viraram presidente. O primeiro deles sentou na Casa Branca graças à Suprema Corte e o último que perdeu por quase três milhões de votos virou presidente graças ao sistema de delegados. Imagine o que pensariam os principais especialistas sobre uma república latino-americana com esse tipo de histórico.

Os liberais céticos com a campanha de Sanders frequentemente concentram sua ira mais em seu apelo por uma “revolução política” do que em qualquer política individual. Eles acreditam que a raiva que temos de nossas instituições não é apenas extraviada, mas perigosa.

Não apenas essa raiva é algo injusto, mas o fato é que o verdadeiro perigo é deixar a podridão se aprofundar como na noite de ontem, gerando mais cinismo e mais alienação até da ideia de que vivemos em algo que se assemelha vagamente a uma democracia.

Embora o centro da campanha de Bernie seja o Medicare for All e o pleno emprego, é a sua convocação para reverter o sistema político que deixa muitos democratas – e seus doadores – nervosos. Sanders quer um partido e um país dirigido por e para trabalhadores, e a necessidade desse tipo de “revolução política” nunca foi tão aparente. Historicamente, os partidos dos trabalhadores foram bloqueados nos sistemas parlamentares pelo mesmo tipo de sistema de votação antidemocrático (e facilmente corrompível) que os usados nos caucus na noite passada.

A campanha de Pete Buttigieg pressionou a CNN para influir nas pesquisas mais importantes da política norte-americana – que previram corretamente as três últimas vitórias no caucus – apenas quarenta e oito horas antes do resultado, depois que a pesquisa o mostrou em terceiro lugar. E ontem à noite, sem a contagem dos votos verificada, o prefeito Peter declarou vitória. Como disse o comediante Ian Fidance, “o prefeito Pete era o tipo de garoto que desconectava o Sega se estivesse perdendo”.

Embora nenhum fato único comprove corrupção, o conjunto – o drama que se desenrola sobre o novo aplicativo misterioso usado para relatar resultados – aflora um aroma de ovo podre no ar, para dizer o mínimo, e parece estar saindo do bolso de Buttiegieg. Tudo isso apenas aprofunda a suspeita de que o prefeito Buttiegieg seja, de fato, uma figura objetivamente assustadora, praticando o tipo de operações sombrias para as quais seu ex-empregador McKinsey & Company é famoso. O fato de ele não gostar tanto do público norte-americano, enquanto Sanders é tão amado, é um dos muitos fatos que devem animar a todos nós.

O desempenho de Biden na noite passada, segundo todos os relatos, foi além do abismo, e Warren provou repetidas vezes que sua missão é profundamente confusa em querer reconciliar a esquerda do Partido Democrata com a direita – nos termos da direita, é claro – não tendo a minima chance de ganhar apoio de massa.

Não vamos nos enganar: Pete Buttigieg não tem chance de se tornar candidato em 2020, mas ele é o futuro que o Partido Democrata deseja desesperadamente para todos nós. Ele é o Barry Goldwater da classe liberal do patronato – e não queremos conhecer o Reagan deles.

Sobre o autor

Connor Kilpatrick é editor da Jacobin.

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