Catalyst
Tradução / A primeira edição de Catalyst aparece em uma conjuntura política profundamente contraditória. É o momento de maior promessa para a classe trabalhadora e para as forças populares desde a década de 1960, mas é também um momento de perigo significativo. O sistema capitalista há muito tempo perdeu a capacidade de realizar sua ostensiva vantagem histórica comparativa e justificação – impulsionar acumulação de capital incessante, o que contribui para o crescimento econômico auto-sustentado e cria o potencial para níveis de vida crescentes. Em resposta, as elites políticas e econômicas mundiais, minúsculas em tamanho, reorientaram seus esforços, nos níveis corporativo e do governamental, para longe do investimento e do crescimento, na direção da redistribuição ascendente do produto econômico. Isso deixou 1% no topo dos EUA possuindo 40% da riqueza do país; 1% no topo da população mundial possuindo metade da riqueza global e a metade inferior da população mundial possuindo a mesma quantia de riqueza que as oito pessoas mais ricas do mundo. Para manter a coesão social, as elites neoliberais já não tentam co-optar ou comprar partes significativas da população, mas, ao invés, se preparam para as esperadas explosões de oposição popular através da construção de seu aparato coercitivo – desde a vigilância maciça da população até a militarização da polícia e a repressão brutal de manifestações de resistência pequenas e que não representam qualquer ameaça.
A conseqüência é que a classe trabalhadora do mundo atual, definida livremente e em seus múltiplos aspectos, se sente pouco atraída pela visão de mundo neoliberal, que constitui a ideologia unânime e inquestionável das elites mundiais e de sua mídia cativa – uma ideologia que não faz nada pela classe trabalhadora. Ela está, pelo contrário, aberta a uma gama de perspectivas políticas de oposição que poderiam colocá-la em movimento contra seus carrascos neoliberais e globalizantes. À partir da Grande Recessão de 2007 até 2009, testemunhamos uma impressionante série de explosões políticas militantes e radicais em grande parte do globo contra a ordem estabelecida: a Primavera Árabe, as greves do setor público de Wisconsin, o Occupy Wall Street, as ocupações de praças na Grécia, Espanha e Turquia, e as greves e manifestações de massa francesas durante o inverno e a primavera de 2016.
Mas permanece o fato de que, até agora, na maior parte do mundo, as forças nacionalista-populistas de Direita têm conseguido capitalizar com o profundo sofrimento e o descontentamento dos trabalhadores de forma muito mais eficaz do que a Esquerda radical. Eles têm feito isso trazendo atrás de si eleitorados nativos da classe trabalhadora que antes constituíam a principal base social dos partidos de Centro-Esquerda, mas que há muito têm sido ignorados por eles – notadamente trabalhadores das fábricas e mineiros atingidos duramente pela estagnação econômica, avanço tecnológico e globalização. Especialmente na esteira da Grande Recessão – que trouxe um mergulho no padrão de vida popular de uma extensão sem paralelos desde a Grande Depressão – essas forças nacionalistas têm explorado o sofrimento de amplas camadas da população para alcançar vitórias históricas nos países da vanguarda da globalização, austeridade e redistribuição ascendente de renda – o Brexit no Reino Unido e, claro, Donald Trump nos Estados Unidos.
Até agora, as forças da esquerda radical têm expressado, na melhor das hipóteses, confusão e, na pior, a indiferença diante da tarefa indispensável de desafiar a extrema direita pela lealdade dos brancos da classe trabalhadora, economicamente deprimidos e profundamente alienados. A adoção do multiculturalismo e da inclusão por partidos neoliberais como os Democratas, combinada com a sua recusa em reconhecer a exploração de classes – e a existência de classes -, desorientou não só muitos dos seguidores desses partidos, mas também forças muito mais à esquerda, que têm priorizado sua crítica das vantagens muito reais e contínuas das pessoas brancas, sem colocar essa crítica no contexto do desastroso declínio de décadas nos padrões de vida e de uma mobilidade decrescente para todos os trabalhadores, incluindo trabalhadores brancos. O fato simples é que esses trabalhadores têm sido arruinados pelo capitalismo em sua forma neoliberal. Eles seguirão uma extrema direita populista, auto-proclamada anti-neoliberal, que fará pouco ou nada por eles, a menos que a Esquerda possa oferecer uma versão mais viável dessa luta anti-neoliberal.
Não há razão para acreditar que, no futuro previsível, as elites políticas dominantes poderão assegurar muito em termos de estabilidade política – e sobram razões para esperar oposição por parte de amplas parcelas da população. A questão é se uma esquerda radical ainda embrionária pode desenvolver a capacidade para explorar as oportunidades implícitas e explícitas que certamente se apresentarão no próximo período.
O propósito da Catalyst é provocar e contribuir para um esforço colaborativo para entender o mundo político de hoje, a fim de ajudar as lutas para mudá-lo. Para esse fim, a tarefa fundamental é promover uma ampla discussão e organizar o debate sobre as questões urgentes enfrentadas pela classe trabalhadora, os movimentos de massa emergentes e as organizações políticas radicais e socialistas. O que se segue é uma tentativa inicial e muito parcial de apresentar aos nossos leitores como entendemos o panorama político de hoje; uma série de características notáveis; as aberturas que se apresentam aos movimentos e à esquerda; e os problemas que a esquerda enfrenta.
Não é o capitalismo dos seus pais
O ponto de partida necessário para entendermos a política de hoje é o histórico declínio da economia ao longo dos últimos quarenta anos, mais ou menos. Este processo transformou – para além do reconhecível – a classe capitalista em todo o mundo, em suas múltiplas formas e seções, bem como as restrições sob as quais ela opera e as perspectivas político-econômicas que ela leva em frente. Impôs aos trabalhadores, aos movimentos de massa e às organizações políticas em todo o mundo a necessidade de repensar suas estratégias de resistência, um projeto que mal começou.
Desde 1973, as economias dos países capitalistas avançados têm apresentado desempenhos cada vez piores. O crescimento do PIB, o investimento, a produtividade, o nível de emprego, os salários reais e o consumo real experimentaram uma desaceleração histórica, que tem prosseguido sem interrupção, década após década, ciclo econômico após ciclo econômico, até o presente. A fonte dessa perda de dinamismo foi a queda profunda e o fracasso na recuperação da taxa de lucro na economia como um todo, um processo que ocorreu principalmente do final da década de 1960 até o início dos anos 80 e derivou em grande parte do implacável acúmulo de sobrecapacidade por todo o setor de manufatura global. Esse aumento de capacidade excedente resultou de um processo de desenvolvimento econômico que fez picadinho da compreensão ortodoxa da Economia sobre o comércio mundial. Em vez de aprofundar a divisão mundial do trabalho ao longo das linhas traçadas por Adam Smith, por meio de uma especialização e complementaridade cada vez maiores, os novos participantes mais dinâmicos da economia global têm trazido redundância crescente e intensificado a concorrência.
As indústrias de sucessivas novas potências econômicas emergentes têm usado a tecnologia mais recente, geralmente emprestada dos líderes econômicos, em combinação com salários relativamente baixos, para fazer produtos de exportação que já estavam sendo produzidos para o mercado mundial, mas a um preço mais baixo: Alemanha e Japão nas décadas de 1960 e 1970; os países de nova industrialização do Leste Asiático (NICs) e os “tigres” do Sudeste Asiático nos anos 1970, 1980 e 1990; e, finalmente, o gigante chinês nas décadas de 1990 e 2000, com seu devastador “preço da China”. O resultado tem sido uma oferta excessiva em comparação com a demanda em uma indústria após a outra, forçando para baixo os preços e, assim, as taxas de lucro, em um ciclo interminável que finalmente submergiu seus principais progenitores em excesso de capacidade, sobretudo a China.
O declínio na taxa de lucro resultante da intensificação da capacidade excessiva têm provocado uma queda nos excedentes disponíveis para as empresas, ao mesmo tempo em que piora as perspectivas de investimento dos mesmos. O resultado foi um enfraquecimento histórico da acumulação de capital (o crescimento do investimento). A redução da taxa de retorno também provocou um assalto contínuo aos salários e benefícios dos trabalhadores e às suas condições de trabalho, o que, ao redistribuir para cima o rendimento dos trabalhadores para o capital, subsidiou os lucros e impediu um declínio ainda maior da lucratividade. Essa combinação de investimento fraco e de salários em queda tem gerado uma crise de demanda agregada – contínua e cada vez pior – que é a causa imediata da longa desaceleração e que permanece suspensa como uma nuvem escura sobre a economia global. Em outras palavras, os próprios processos pelos quais a taxa de lucro foi estabilizada impediram que a estabilização aumentasse a vitalidade da economia.
O enfraquecimento da demanda agregada no longo-prazo trouxe uma tendência para desacelerações cíclicas mais profundas e mais duradouras, e para expansões cíclicas mais superficiais e – mais cedo ou mais tarde – detonaria uma grave recessão (ou até mesmo depressão), não fosse pelo crescimento histórico do crédito, tanto público quanto privado, nutrido direta ou indiretamente pelos governos. A mudança na direção de déficits keynesianos e de crédito fácil numa escala cada vez maior havia sido, antes, uma característica inovadora e definidora da era pós-Segunda Guerra Mundial; eles de fato trouxeram uma certa estabilidade, o que teria sido impossível na sua ausência. No entanto, eles também perpetuaram a fraqueza da economia, impedindo que os produtores de altos custos e baixos lucros fossem suficientemente abalados e substituídos por produtores mais produtivos e mais dinâmicos. O resultado foi que os aumentos em estímulos keynesianos sobre a demanda geravam aumentos cada vez menores sobre a oferta. Uma maior estabilidade foi, portanto, comprada ao preço de uma queda no desempenho. Durante a primeira metade da década de 1990, esse processo atingiu um ponto inicial de culminação, com a economia mundial tendo um desempenho pior do que em qualquer outro período de cinco anos desde 1950. O keynesianismo havia fracassado e um breve breve experimento de revitalização da economia por meio de orçamentos equilibrados tanto nos Estados Unidos quanto na Europa apenas exacerbaram sua languidez.
De meados da década de 1990 até meados da década de 2000, a Reserva Federal dos EUA tentou desencadear a economia, recorrendo a taxas de juros ultra-baixas para elevar os preços dos ativos financeiros – valores de ações e imobiliários. Fez isso para elevar no papel a riqueza das empresas e das famílias e para aumentar a sua credibilidade aos olhos dos bancos, lhes permitindo pegar mais empréstimos e gastar mais, inflando assim a demanda. Este ensaio em duas partes em “keynesianismo de preços de ativos”, ou “Economia de Bolha”, conseguiu explodir os preços das ações (1995-2000) e, em seguida, os preços da habitação (2001 a 2007). As bolhas consecutivas possibilitaram booms sucessivos – primeiro nos gastos em investimento, depois nas despesas de consumo – transmitindo a impressão de que a economia de alguma forma havi recuperado sua vitalidade.
Essa impressão era, de qualquer forma, ainda mais vívida no mundo em desenvolvimento, que experimentou uma aceleração sem precedentes da expansão econômica, mesmo que breve, impulsionada em grande medida pela ascensão da China ao status de fábrica do mundo. A China baseou sua forte subida em exportações recordes para os Estados Unidos, que foram alimentadas pela fenomenal explosão de consumo impulsionado por dívida e baseada em bolhas por lá. O crescimento espetacular das exportações da China – capaz de chacoalhar o mundo – por sua vez, facilitou as maciças importações chinesas de matérias-primas e produtos semi-acabados de lugares como Brasil, África do Sul e outras partes da África, bem como Leste e Sudeste Asiático. Economistas, mesmo no sóbrio Banco de Compensações Internacionais, concluíam cautelosamente que os países menos desenvolvidos poderiam, pela primeira vez, estar fechando o abismo entre eles e os países capitalistas avançados, que havia se expandido por meio milênio. Ao mesmo tempo, o espantoso crescimento da classe trabalhadora industrial chinesa parecia compensar o encolhimento da classe trabalhadora no Norte Global, e o aumento vertiginoso do número anual de greves parecia indicar uma mudança no locus primário da luta de classes em uma escala global para o “Reino do Meio”.
No entanto, isso foi na maior parte uma ilusão. As sucessivas expansões baseadas em bolhas nos EUA não conseguiram aumentar os ganhos e os rendimentos (ou seja, lucros e salários) que poderiam dar suporte aos aumentos recorde acumulados nos preços das ações e dos imóveis. Assim, quando a bolha dos preços de moradia explodiu em 2006 e 2007, a riqueza das famílias evaporou, novos empréstimos foram substituídos pelo aumento das obrigações de e execuções de dívida, e o gasto colapsou. A demanda agregada definhou, mergulhando a economia estadunidense – e uma economia mundial que era inalteravelmente dependente do mercado dos EUA – na Grande Recessão. A pior crise desde a década de 1930 agravou a longa desaceleração no núcleo capitalista, que havia começado em 1973, e entregou às economias em desenvolvimento um enorme revés, deixando seus futuros muito em dúvida.
A recuperação que se seguiu não tem sido digna desse nome, de longe a mais fraca desde a Grande Depressão. Durante o ciclo econômico estadunidense que começou em 2008, os aumentos anuais médios do PIB, do investimento em capital e da produtividade do trabalho têm sido menos da metade dos aumentos médios durante a longa desaceleração de 1973 a 2007 e quase um quarto dos aumentos médios durante o boom do pós-guerra entre 1948 e 1973. O crescimento dos empregos durante o mesmo intervalo deixou a taxa de participação na força de trabalho como porcentagem da população ativa de 18 a 65 anos em 59%, muito abaixo do seu nível de 63% em 2007 ou a média de 61,7% entre 1990 e 2007. O rendimento familiar médio real ainda ainda não voltou ao seu nível de 2007, que era, ele mesmo, notavelmente inferior ao seu pico em 1999 e 2000. Incríveis 95% das famílias ainda recebem rendimentos inferiores aos de 2007.
O capitalismo, no auge do boom do pós-guerra, entre meados e o final dos anos 1960, prometia um futuro cada vez mais próspero para uma parte cada vez maior da população mundial. Grande parte da população mundial ainda estava amplamente excluída dos benefícios do sistema, incluindo os afro-americanos e outras minorias nos Estados Unidos, juntamente de grande parte da cidadania do mundo menos desenvolvido. Mas poucos, mesmo entre os críticos marxistas mais radicais do capitalismo, poderiam se convencer a defender a abolição do capitalismo com o argumento de que ele não seria capaz de garantir crescimento auto-sustentado e padrões de vida crescentes. Para dar fundamento às suas críticas, eles tinham basicamente de se voltar à alienação no núcleo do capitalismo, juntamente com traços secundários como o consumismo, a suburbanização e a de-sublimação repressiva.
Hoje, tudo isso se provou quimérico. Na sequência de quatro décadas de declínio econômico contínuo e padrões de vida em queda, as promessas do período de ouro do capitalismo foram brutalmente difamadas. O apelo à eliminação do capitalismo, que há não muito tempo poderia ser descartado como irrealista e utópico, precisa ser hoje o ponto de partida para qualquer Esquerda realista, e reconceitualizar o objetivo socialista de uma forma que dialogue com a economia social transformada e os potenciais tecnológicos de hoje aprimorados precisa ser a mais alta prioridade.
O que é o neoliberalismo?
A incapacidade do sistema capitalista de fornecer mais do que a aparência de um bolo crescente, impulsionou quase uma unanimidade dos dirigentes econômicos e políticos do mundo (o 1% no topo por renda ou acima) e seus séquitos parasíticos (uma minoria de, no melhor dos casos, uns 10%) para adotar a virada política radical agora conhecida como neoliberalismo. No início da década de 1970, as corporações o Estado nos EUA lançaram uma contra-ofensiva total com o objetivo de revitalizar a economia, alimentando a demanda à moda keynesiana e reduzindo custos para reavivar a competitividade industrial. Mas isso só piorou o excesso de capacidade que havia derrubado a lucratividade, em primeiro lugar. Nos anos seguintes, a melhor competitividade de custos dos fabricantes do Leste Asiático permitiu que eles se apropriassem de parcelas cada vez mais maiores do mercado mundial de produtos manufaturados, levando a uma forte redução nas oportunidades de investimentos lucráveis nos Estados Unidos, exceto nos extremos mais altos – uma tendência que foi exacerbada pela ascensão das cadeias globais de valor, que quebraram a produção industrial em suas partes componentes e as distribuíram para os locais onde poderiam ser feitas de forma mais barata.
A conseqüência foi que as classes capitalistas e seus governos, não apenas nos Estados Unidos, mas nos países de capitalismo avançado em geral, cessaram em grande parte de tentar estimular uma nova onda de investimento e crescimento – seja através de déficits keynesianos, política industrial ou reconstrução de infra-estrutura na forma de escolas, hospitais, estradas, pontes e similares. Eles já não acreditam na possibilidade de assegurar um reavivamento em grande-escala de produção rentável por quaisquer meios. Em vez disso, eles se voltaram para um programa abrangente de redistribuição ascendente, politicamente empreendida, subscrito pelas corporações financeiras e não-financeiras e pelo governo, que teve o efeito impressionante de possibilitar que eles, nas últimas décadas, se apropriassem de uma proporção esmagadora dos aumentos na renda produzidos anualmente pela economia, enquanto expropriavam cada vez mais a riqueza já existente da classe trabalhadora.
Em retrospectiva, a mudança para o neoliberalismo teve dois aspectos fundamentais – a austeridade, por um lado, e redistribuição direta para cima politicamente impelida, por outro. A essência da austeridade neoliberal é abrir caminho para a entrada no mercado a todos os agentes econômicos e sujeitá-los ao gélido banho da concorrência absoluta, impondo a sobrevivência do mais forte como primeiro princípio, e o benefício ostensivo sendo preços mais baixos para cada mercadoria – acima de todas, a força de trabalho. A mercadificação enfraqueceu, se não eliminou, todas as proteções contra os impactos adversos da concorrência, como os sindicatos, o Estado de Bem-Estar Social, a regulamentação trabalhista e a proteção ao consumidor. Também tem significado barreiras menores ao comércio e ao investimento internacionais, bem como a eliminação de facto das leis anti-truste, para não mencionar as políticas macroeconômicas governamentais que permitiam inflação.
O neoliberalismo tem exigido, também, aumentar o número e a qualidade dos jogadores em todos os mercados. Isso significou ampliar o acesso àqueles anteriormente excluídos por sua posição geográfica ou nacional (ou seja, a globalização). Isso também significou incluir aqueles anteriormente excluídos por discriminação em linhas raciais, étnicas e de gênero; trazer implicitamente a representação de cada grupo em todos os níveis de renda e ocupações em linha com sua proporção em relação à população (ou seja, o multiculturalismo). A mercadificação tem, enquanto isso, retornado ao setor privado atividades que há muito tempo haviam sido assumidas pelo Estado, como saúde, educação e infra-estrutura.
Os publicistas do neoliberalismo gostam de falar em aumentar a liberdade e promover igualdade de oportunidades. Eles buscam equalizar as posições jurídicas dos jogadores no mercado, sem nunca mencionar a equalização dos ativos iniciais que eles possuem (o que frustraria todo o propósito). Os beneficiários dessa liberdade crescente, portanto, têm sido totalmente previsíveis. Aqueles entrando no mercado com mais ativos, em termos de capital (meios de produção), capacidade tecnológica, potencial inovador e conhecimento, têm se apropriado de cada vez mais renda. Dito de outra forma, renda e riqueza cada vez maiores vão para aquelas atividades econômicas mais difíceis de se entrar, onde a concorrência é menos intensa por causa dos níveis de capacidade inovadora, tecnologia, meios de produção e capital humano necessários. Oligopolistas como Apple, Facebook, Google e Microsoft são emblemáticos a este respeito. De forma correspondente, cada vez menos renda e riqueza vão para aquelas atividades mais fáceis de se entrar, onde a concorrência é mais intensa – acima de todas, a venda de força de trabalho não-qualificada. Embora o multiculturalismo neoliberal possa portanto, em teoria, clamar pela equalização da representação de negros, latinos e mulheres, o fato dos membros desses grupos tenderem, em média, a entrar no mercado com os níveis mais baixos de capital, educação, habilidades e capacidade de inovação, garante a exatamente o oposto.
O segundo aspecto do neoliberalismo provavelmente tem sido ainda mais conseqüente em termos de efetuar redistribuição ascendente de renda e riqueza, mas tem passado sem divulgação pelos publicistas pró-capitalistas pela simples razão de que vai diretamente contra os pretensos valores neoliberais e princípios capitalistas. Isso tem ocorrido por meio de governos e corporações entregando a um pequeno número de indivíduos favorecidos o acesso exclusivo a oportunidades econômicas constituídas politicamente, rendendo somas fabulosas de dinheiro. Os principais beneficiários são os líderes dos partidos políticos aliados e os principais gerentes corporativos que foram os principais responsáveis pela instalação da economia política neoliberal ao redor do mundo capitalista, o que os aliviou da necessidade de se envolver nos processos confusos e incertos da produção com fins lucrativos em mercados competitivos ou de investimentos de alto risco nos mercados financeiros.
Nas últimas décadas, os mecanismos de espoliação constituída politicamente têm incluído a concessão de maciças reduções de impostos aos ricos e às corporações; facilitar o investimento em dívida pública por parte dos ricos à taxas de juros ultra-altas; privatizar ativos públicos muito abaixo do valor de mercado; pagar salários obscenamente elevados aos CEOs; e bancos centrais usando taxas de juros baixas para elevar o valor de ações e títulos de dívida, que são propriedade quase que exclusiva dos muito ricos. Talvez a mais escandalosa fraude política tenha ocorrido por meio da ascensão do setor financeiro, onde a privatização de lucros vertiginosos para uma fina camada de grandes gerentes foi possível graças à socialização por parte dos governos de perdas de trilhões de dólares.
A natureza inteiramente política dos poderes e privilégios que foram entregues aos maiores gerentes corporativos e seus aliados políticos no centro do neoliberalismo dificilmente poderia ser mais clara do que naquilo que poderia ser visto como uma redução ao absurdo de todo o processo – a suspensão, politicamente dirigida, da aplicação da lei em relação aos magnatas financeiros. O governo dos EUA (e outros) tem acomodado cada vez mais a criminalidade aberta dos bancos, como demonstrado pela diminuição do número de prisões feitas ao longo do tempo, em comparação com a quantidade crescente de pilhagem apropriada. Os escândalos de poupança e empréstimo da década de 1980 e início da década de 1990 viram centenas de prisões de trapaceiros relativamente pequenos, que roubaram o que agora seria considerado migalhas. Houveram cerca de duas dúzias de prisões do círculo muito mais impressionante de gestores-empresários criminosos, que roubaram centenas de milhões de dólares de gigantes tecnológicos como nos escândalos Enron, WorldCom e Global Crossing da “Nova Economia” do final dos anos 90 e início dos anos 2000. Os detidos até agora totalizaram zero entre os banqueiros dos maiores bancos internacionais, que planejaram e se beneficiaram da rapinagem aberta que trouxe às suas instituições cem bilhões de dólares ou mais através da manipulação da taxa LIBOR, do câmbio internacional, e de lavagem de dinheiro de grandes traficantes nos escândalos dos últimos dez anos, mais ou menos. Não é exagero dizer que esses magnatas estão literalmente acima da lei, e o governo Obama os reconheceu explicitamente como tal, em declarações do ex-procurador-geral dos EUA Eric Holder e de Lanny Breuer, então chefe da divisão criminal no Departamento de Justiça.
Um processo paralelo de corrupção e de aceitação crescentes poderia ser traçado para muitos dos principais políticos mundiais, através da revelação da correlação estreita entre o nível de renda ou remuneração, a quantidade de poder e prestígio do político e o grau de adoração pela mídia. A lista incluiria não apenas notáveis como os Clintons, os Blairs e Silvio Berlusconi, mas seus homólogos europeus ostensivamente mais tradicionais Helmut Kohl e Gerhard Schröder na Alemanha e Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy na França, cujos mandatos no cargo contaram com fundos secretos, desfalque de dinheiro do contribuinte e favores lucrativos para amigos em altas posições. Essas figuras egrégias constituíram a vanguarda da neoliberalização em escala mundial, e provocaram rodadas de aplausos cada vez mais altos de um pequeno número de corporações gigantes de mídia – seus parceiros no crime, cujos oligopólios eles alimentaram. A imprudência de Hillary Clinton ao levar um total de $21,5 milhões dos principais bancos de Wall Street por noventa e duas palestras durante um período de dois anos entre 2013 e 2015 pode ser espantosa, mas ainda mais surpreendente foi a gratidão com que essa revelação foi saudada pelos meios de comunicação subservientes. Somente a estranha aparição de Bernie Sanders na cena estragou a celebração.
Os Republicanos e Ronald Reagan haviam liderado o avanço político inicial para o neoliberalismo em 1980 e 1981, apresentando de repente, com a aprovação total dos Democratas, medidas que distribuíam diretamente renda para líderes corporativos e para os ricos pelos meios políticos que vieram a distinguir o novo regime. O resultado foi conduzir uma mudança histórica na distribuição de renda para o 1% no topo, que persistiria até o presente. Mas o problema para os Republicanos era que, uma vez que os beneficiários dessa generosidade eram tão poucos, suas políticas típicas prometiam poucos ganhos para os trabalhadores brancos que eles estavam tentando liderar – trabalhadores que, não coincidentemente, estavam sendo submetidos às mais devastadoras reduções em seus padrões de vida desde a Grande Depressão, graças ao aumento dos impostos da Segurança Social e à diminuição dos serviços sociais, bem como à queda dos salários reais e ao aumento do desemprego. A resposta na qual o Partido Republicano apostou – aparentemente muito superficial para se colocar em palavras – foi investir em seu compromisso racista dissimulado (mesmo que óbvio) de favorecer os brancos, a “maioria silenciosa”, contra os negros, ao se voltar às “questões sociais”, desde o crime, até a oposição aos direitos LGBT, ao aborto e assim por diante. Ainda assim, a resultante dependência dos republicanos de que sua base eleitoral siga agindo politicamente contra seus próprios interesses materiais era uma solução instável.
De maneira notória, Bill Clinton assumiu o bastão do neoliberalismo de seus antecessores republicanos e consolidou o projeto que eles haviam iniciado, uma ruptura necessária para os Democratas se eles pretendiam continuar a competir com sucesso em termos de angariação de fundos. Em particular, Clinton conquistou uma falange impressionante dos maiores banqueiros ao colocar em prática uma série de grandes peças legislativas que favoreciam o sistema financeiro, que dariam forma à economia pela próxima década e além. Mas essa mudança na direção de Wall Street deixou o eleitorado democrata na classe trabalhadora e entre os negros em maus lençóis. Para compensar e distrair, os Democratas se voltaram para a propagação do multiculturalismo, na esperança de atrair e estimular uma base crescente de apoiadores num ponto cada vez mais alto na escala de renda. Mas, como com os Republicanos, a mudança para o neoliberalismo deixou seus apoiadores tradicionais da classe baixa para trás, uma estratégia problemática para além do curto prazo.
O resultado que rapidamente emergiu foi que os gêmeos fraternos neoliberais Democrata e Republicano vieram a parecer cada vez mais idênticos em termos da questão de classe. Em particular, os democratas vieram a representar os ricos praticamente no mesmo grau em que os republicanos. O que os diferenciavam eram identificações político-culturais – multiculturalismo para os Democratas e “questões sociais” para os Republicanos. Mas partidos políticos que atendiam, em termos materiais, apenas aos muito abastados, dificilmente poderiam estabilizar suas próprias posições políticas. Nesse sentido, como em muitos outros, uma dúzia de anos de “Economia-de-Bolhas” proporcionou uma fuga temporária da realidade, permitindo que os dois partidos adiassem o enfrentamento do problema de falar aos interesses materiais dos grandes eleitorados de classe baixa que eram cruciais para ambos. Mas eles não conseguiriam se safar por muito tempo.
Por enquanto, a mudança para o neoliberalismo dificilmente poderia ter representado um sucesso mais retumbante para a minúscula elite corporativa e política no topo da escala de renda e de riqueza. Ela trouxe, especialmente por meio de suas formas distintas de pilhagem politicamente constituída, uma redistribuição de renda – de outra forma inconcebível e histórica – para o 1% no topo, de 10% em 1980 para 23,5% em 2007, um nível anteriormente alcançado apenas no fim da década de 1920, que rugia às vésperas do colapso do mercado de ações. O 1% no topo se apropriou de nada menos que 95% do aumento total de renda entre a Grande Recessão e 2013. Como outro lado da moeda, os salários reais dos trabalhadores de produção e não-supervisores, compondo os 80% inferiores, não aumentaram entre 1972 e 2012 (caindo, de fato, em pouco menos de 10%). Isso significou que a classe trabalhadora dos EUA não conseguiu obter um aumento acima do salário inicial por quarenta anos.
Do consentimento à coerção: Uma crise de legitimidade
Com sua incapacidade de impulsionar crescimento, sua imposição cada vez mais extrema de austeridade sobre os trabalhadores, e seu flagrante roubo dos 90% mais pobres em nome do 1% no topo, as elites neoliberais perderam grande parte da legitimidade política que a classe capitalista dirigente da época precedente possuía – uma posição de liderança que ela havia conquistado, em primeiro lugar, acumulando capital e incitando crescimento, trazendo aumento rápido de empregos e de salários reais. Com sua hegemonia político-ideológica em dúvida, os partidos governantes de hoje, da direita para a esquerda, começaram os preparativos para usar fraude e força em caso de resistência. Deve-se evitar exagerar o grau em que esta tendência à repressão já foi realizada no núcleo capitalista, onde liberdades básicas ainda estão em grande parte intactas (embora estas sempre tenham sido restritas, na melhor das hipóteses, para os afro-americanos). Até agora, naquela parte do mundo, tem sido principalmente uma questão de localizar e monitorar potenciais opositores, como o extraordinário programa do governo estadunidense para vigiar literalmente toda a população, revelado por Edward Snowden; a tentativa de intimidar, enquanto se preparava para reprimir ativistas radicais, bem como a militarização dos departamentos policiais em todo o mundo; e o uso da repressão política mais cedo e não mais tarde para colocar abaixo movimentos ativistas de oposição, como a dispersão do Ocuppy.
O fato é que já estamos testemunhando grandes episódios de repressão muito mais séria, envolvendo estados de emergência, suspensão de liberdades e desestabilização da democracia formal. Até agora, eles têm ficado confinados em grande parte à periferia – por exemplo, nos estados de emergência que acompanharam os golpes político-militares no Egito e na Turquia (embora a França também permaneça em seu próprio estado de emergência mais de um ano após os ataques terroristas em Paris). No entanto, onde explosões de resistência em grande escala pelos de baixo não só perturbaram a ordem pública, mas também ameaçaram extrair grandes ganhos das corporações, o núcleo não passou imune à repressão política. Durante o primeiro semestre de 2016, o governo de François Hollande não conseguiu passar uma nova lei para desregulamentar o mercado de trabalho francês diante de um enorme movimento militante de massa que reuniu contingentes aliados de trabalhadores, estudantes e a juventude urbana de classe-média, um movimento que desfrutava de um apoio avassalador do público em geral. Mas, não obstante, Hollande forçou sua aprovação de forma totalmente antidemocrática – essencialmente usando uma disposição da constituição promulgada especificamente para esse tipo de ocasião. Em um registro um tanto diferente, a Alemanha e seus países parceiros no Norte da Europa infligiram uma espécie de tortura em massa sobre a população grega, impondo medidas extremas de austeridade que são explicitamente destinadas a levar a cabo a pauperização e demonstrar até onde esses Estados irão para esmagar a resistência e fazer dela um exemplo. Seria insensatez acreditar que isso não poderia acontecer em outros lugares no núcleo capitalista.
O colapso da social-democracia rumo ao neoliberalismo
Os partidos social-democratas e esquerdistas-liberais ao redor do mundo alcançaram grandes alturas durante a longa expansão do pós-guerra. No entanto, mesmo aquela época suas perspectivas estavam profundamente limitadas pelas prioridades políticas dos políticos do partido e líderes sindicais que lideravam grandes aparatos de funcionários bem pagos. Os últimos consideravam seu interesse fundamental como sendo nutrir os partidos e sindicatos que constituíam seu suporte material – que proporcionavam seus salários, estabeleciam os caminhos de suas carreira e constituíam todo o seu modo de vida. O compromisso primordial desses líderes de proteger suas organizações de ameaças tanto de cima como de baixo os levou a adotar uma estratégia política que buscava aumentar progressivamente os ganhos de salários, benefícios e bem-estar social, para que pudessem acomodar as necessidades econômicas e políticas do capital enquanto satisfaziam minimamente seus membros. Isto significava colocar os lucros capitalistas primeiro, como condição prévia para a acumulação de capital e para o crescimento do emprego e dos salários, ao mesmo tempo evitando a todo custo confrontações diretas com os empregadores e o Estado. Tais confrontos poderiam facilmente pôr em perigo o seu partido e organizações sindicais. Esta perspectiva estratégica implicava, como questões táticas, a negociação coletiva regulada pelo Estado, formas corporativas de regulação estatal das relações capital-trabalho, e o caminho eleitoral, complementados de tempos em tempos por ações de greve estritamente rotineiras e limitadas – ao invés de formas cada vez mais amplas de mobilização dos membros dos sindicatos e do partido. A dependência destes métodos é o que torna os social-democratas e sindicalistas reformistas – e não a luta por reformas, da qual estão incumbidas todas as organizações que presumem representar os trabalhadores.
Esta estratégia funcionou razoavelmente bem durante a longo período de crescimento, quando os altos lucros e a rápida acumulação de capital permitiram que as organizações social-democratas, junto com os sindicatos, conseguissem obter melhorias materiais constantes para seus membros e para a cidadania. Mas quando a lucratividade começou a cair, de meados da década de 1960 até meados da década de 1970, os líderes social-democratas e os dirigentes dos sindicatos foram progressivamente desarmados ou desarmaram a si mesmos. No começo, eles obrigaram seus seguidores a aceitar restrições sobre salários e benefícios, bem como a moderar sua luta para defender o estado do bem-estar social, na esperança de que isso permitiria que seus empregadores restaurassem suas taxas de lucro, recuperassem os níveis anteriores de investimento e de crescimento e, sobre essa base, mais uma vez proporcionassem melhorias constantes nos padrões de vida. Mas, à medida em que foi se tornando cada vez mais claro que as concessões não incentivariam os empregadores a elevar suas taxas de acumulação de capital, que a economia continuaria estagnada e que a austeridade se tornava um fato permanente da vida, líderes de partido, juntamente com seus homólogos sindicais , encontraram-se bastante marginalizados, esperando que a economia recuperasse seu dinamismo.
Quando as classes dominantes por quase todo lado abraçaram o neoliberalismo, os líderes social-democratas seus aliados sindicais não tinham escolha. Tendo abandonado há muito tempo a luta de classes militantes, eles não tinham um caminho viável para conquistar ganhos econômicos para seus seguidores, mas a posição política extrema adotada pelos principais partidos capitalistas lhes ofereceu um caminho a seguir. Eles poderiam se estabelecer como uma espécie de “mal menor”, efetivamente se unindo aos seus adversários na implementação de políticas neoliberais, ao mesmo tempo em que mantendo a esperança de oferecer concessões mínimas aos trabalhadores que seus adversários não ofereceriam.
Ao longo dos últimos trinta anos ou mais, os antigos partidos sociais-democratas ao redor do mundo funcionaram como a ala esquerda do neoliberalismo, participando, com seus rivais de centro-direita, em uma “porta giratória” eleitoral. Partidos democráticos e social-democratas muitas vezes tomaram passos decisivos, se não para originar o impulso neoliberal (como na Austrália ou na Nova Zelândia), pelo menos para torná-lo irrevogável e consolidar a mudança nessa direção. Testemunham Bill Clinton nos Estados Unidos, Tony Blair no Reino Unido, Gerhard Schröeder, na Alemanha. A tendência só se aprofundou desde a Grande Recessão, destacada pela mudança abrupta de Hollande para a direita depois de vencer as eleições com um programa de rompimento com o neoliberalismo. A maior parte do resto da Europa seguiu o mesmo caminho, assim como o Partido Democrata nos Estados Unidos – onde Barack Obama, apesar de abraçar o neoliberalismo ainda mais completamente do que Bill Clinton e George W. Bush, ganhou duas eleições graças ao mergulho dos republicanos ainda mais à direita.
A deserção universal das organizações social-democratas às fileiras do neoliberalismo privou os trabalhadores de qualquer partido político de massa que mesmo remotamente finja representá-los, deixando-os sem uma voz política. O resultado é um enorme vácuo político, completamente sem precedentes desde pelo menos o início do século XX. A questão é se qualquer nova formação política à Esquerda poderá organizar uma alternativa crível que possa barrar o desmoronamento do padrão de vida popular, oferecer um ponto de partida anticapitalista e começar a elaborar uma versão convincente de Socialismo para o nosso tempo. Tal formação deverá fazê-lo contra a oposição dos partidos social-democratas neoliberalizados e em grande parte sem o apoio, pelo menos por enquanto, das organizações sindicais implicitamente ou explicitamente vinculadas a esses partidos. No entanto, eles terão muitas aberturas para fazê-lo.
Evolução da resistência: Um processo de aprendizado?
O colapso do mercado de habitação e de crédito entre 2007 e 2008 e a grande recessão que se seguiu empurraram os trabalhadores em todo o mundo para uma nova era do gelo à qual eles mal começaram a se adaptar. Dezenas de milhões perderam seus empregos e foram obrigados, se tiveram sorte, a aceitar empregos muito piores. Números semelhantes de trabalhadores perderam suas casas e, portanto, grande parte de sua riqueza acumulada. Sua capacidade de empréstimo e de consumo despencou; “Insegurança alimentar”, o risco de fome, ameaçou um número assustadoramente enorme de famílias.
Mas o golpe de misericórdia foi aplicado pelos governos. Em uma resposta surpreendentemente oblíqua diante do colapso, mas de forma totalmente previsível, os dois partidos neoliberais dos EUA lideraram um resgate financeiro coordenado e extremamente caro do setor financeiro global, preservando os bancos que haviam inflado e estourado as bolhas do mercado de ações e do preço da habitação, juntamente com a riqueza do 1% no topo. Eles não viram nenhum risco moral em privatizar os ganhos e socializar as perdas do setor financeiro. De forma igualmente previsível, eles se recusaram a resgatar as hipotecas submersas dos cidadãos comuns, moralizando contra a sua “libertinagem”, mesmo se tal resgate teria sido muito mais barato e muito melhor para a economia. Ostentando sua hipocrisia, governantes neoliberais por todo mundo capitalista avançado, notavelmente na maior parte da Europa, aproveitaram a oportunidade para tentar – de uma vez por todas – destruir o que havia sobrado de instituições protegendo os trabalhadores, seus padrões de vida e sua força de pressão no mercado de trabalho, ou seja, os sindicatos e o Estado de Bem-Estar Social. Resgates financeiros para a classe capitalista, austeridade brutal para a classe trabalhadora foi a regra praticamente em todos os lugares, apoiada por ambos os partidos neoliberais.
No início, os governos – liderados pelos Estados Unidos – chegaram a implementar uma iniciativa curta e superficial de gastos/subsídios keynesianos à demanda via déficits, o que, pelo menos, evitou a depressão total. Em breve, no entanto, neoliberais em ambos os lados do Atlântico voltaram às suas pedras-de-toque: austeridade e rapinagem dirigidos politicamente. Em vez de estimular o consumo e o investimento para catalisar a acumulação de capital, eles se voltaram para o crédito ultra-barato para aumentar os retornos de investimento em ações e títulos de dívida, cujos benefícios o 1% do topo monopolizava. A onda de repulsa popular resultante envolveu parcelas cada vez mais amplas da cidadania e despertou uma longa onda de resistência política pontual, tanto pela Direita quanto pela Esquerda.
Revolta da direita
Sintomaticamente, foi a Direita política que iniciou a oposição popular nos Estados Unidos. Protestos maciços de baixo – emanando em grande parte de uma base republicana ultrajada – saudaram o projeto de lei de resgate dos bancos do “Programa de Alívio de Ativos Problemáticos” do Secretário do Tesouro, Henry Paulson, e forçaram sua derrota quando foi levado pela primeira vez ao Congresso. Foi preciso que os Democratas no congresso, liderados pelo senador de Nova York, Chuck Schumer, um dos principais apóstolos de Wall Street (apesar de suas declarações de boa-fé progressistas), salvassem a pele de Paulson e dos bancos.
À medida que a Grande Recessão chegava a um fim, ao menos formalmente, uma seção-chave da base republicana avançou mais ainda para a Direita, liderada por uma rede pró-negócios de Extrema-Direita encabeçada pelos irmãos Koch. Esses republicanos do Tea Party queriam reduzir impostos, eliminar regulações sobre a indústria e o meio-ambiente e destruir sindicatos. Suas táticas incluíam paralisar o Estado através do bloqueio de orçamentos ou a ameaça de recusar o aumento do teto da dívida. Embora tenham chutado republicanos tradicionais em primárias, no final, eles representavam as políticas neoliberais do partido, mesmo que numa versão ultra-radical.
Dois desenvolvimentos transformaram a situação. Em primeiro lugar, a terrível deterioração dos padrões de vida desencadeada pela Grande Recessão – que deu continuidade a processos de declínio que remontavam a uma década ou mais – provocou tormentos específicos para a população de trabalhadores brancos, em particular à camada menos educada sobre a qual o Partido Republicano por tanto tempo se baseou em seus sucessos como concorrente eleitoral viável. Esses trabalhadores, especialmente os de meia-idade, têm sofrido níveis horríveis de dependência de drogas, intoxicação por álcool, suicídio e desespero generalizado, que vêm aumentando desde a virada do milênio. Como resultado, depois de cair a uma taxa de 2 por cento por ano entre 1978 e 1998, a mortalidade dos brancos nos EUA aumentou em meio por cento por ano até 2013. Isso enquanto os seus homólogos negros e latinos – e, de fato, todos os outros grupos de trabalhadores na Europa e nos Estados Unidos – continuavam a sustentar a queda das taxas de mortalidade praticamente no mesmo ritmo que antes. No mesmo intervalo, o número de mortes de estadunidenses de meia-idade com grau de ensino médio ou inferior aumentou em 134 por 1.000 pessoas, um salto na taxa de mortalidade de nada menos que 20%. Este profundo colapso socioeconômico abriu o caminho para uma nova mensagem que dialogaria diretamente com a condição dos trabalhadores brancos.
O segundo desenvolvimento foi o surgimento de uma força política crível que podia dialogar com essas necessidades – Donald Trump. Desde o início, ele colocou à frente e no centro uma lista de demandas econômicas populistas-nacionalistas supostamente concebidas para defender os trabalhadores estadunidenses. Isso incluía a oposição à imigração e a tratados internacionais de comércio, ataques ao sistema financeiro, de tempos em tempos, de uma maneira torta, ameaças sobre reduzir gastos militares e punir corporações que exportam empregos. Trump combinou esse nacionalismo/populismo econômico com uma mistura de invectivas racistas, anti-latinas, islamofóbicas e misóginas. O racismo e a misoginia aumentavam o nacionalismo econômico e o nacionalismo econômico intensificava o racismo, aumentando a potência de sua mensagem
Essa combinação representava – ao menos na retórica – uma ruptura ressonante com o neoliberalismo, dotando os trabalhadores brancos do que parecia ser um veículo político alternativo. Esta ruptura foi tornada ainda mais poderosa porque a habilidade de Trump de conquistar trabalhadores brancos encontrou paralelo no fracasso abjeto de Hillary Clinton – a encarnação do neoliberalismo – em inspirar pessoas da classe trabalhadora de qualquer cor em todo o país. Dinâmicas semelhantes já haviam trazido a vitória para uma aliança de forças semelhante (com trabalhadores nativos e baixa participação desempenhando um papel central) na vitória do Brexit no Reino Unido, e também estiveram em jogo nas campanhas da Marine Le Pen e da Frente Nacional na França além de, em menor grau, no voto vitorioso contra as reformas constitucionais pró-neoliberais pró-União Europeia levadas em frente por Matteo Renzi na Itália.
O progresso da esquerda
Enquanto isso, a resistência pela Esquerda na sequência da Grande Recessão evoluiu através de três fases distintas, mesmo que sobrepostas.
I. Ruas e praças: Anti-política autônoma.
A série de protestos de massa e ocupações em espaços públicos que marcaram a Primavera Árabe estabeleceu o padrão para a fase inicial de rebelião de baixo e à Esquerda. Foi seguida pela operação de ocupação da sede do governo estadual de Wisconsin por sindicatos e movimentos sociais em defesa dos direitos sindicais dos trabalhadores do setor público contra um assalto de longo alcance aos trabalhadores desencadeado por um governador de Direita. Os próximos dois ou três anos testemunharam ocupações de longo prazo análogas, com políticas radicais, em destaque os movimentos de “indignados” que tomaram a praça Puerta del Sol em Madri, a Praça Syntagma em Atenas e a Praça Taksim em Istambul.
A dinâmica política desses movimentos foi similar em quase todos os lugares, pelo menos nas grandes ocupações. Seus programas tinham como alvo os regimes neoliberais por todo o mundo, incluindo oposição à austeridade, ao poder do sistema financeiro e apoio aos sem-teto e mal-alimentados. A estratégia, ou método político, era democracia de baixo para cima da democracia e autonomia dos movimentos, o que significava independência em relação a todos os partidos políticos tradicionais e sindicatos burocratizados: uma “antipolítica” autodenominada.
O isolamento desses movimentos, o outro lado de sua autonomia, trouxe sua destruição. Na maior parte, dificilmente poderíamos falar que foi por sua culpa; eles receberam quase nada de apoio dos sindicatos e partidos estabelecidos de Esquerda. Mas seu fracasso em se preocupar com o estabelecimento de programas políticos (mesmo que provisórios) para suas organizações em desenvolvimento, por mais rudimentares que fossem, tornou impossível para eles olhar para seus próprios futuros e fornecer continuidade ao impulso político das ocupações conforme a energia que as sustentava inevitavelmente diminuiu.
II. Eleitoralismo: Cargo sem poder.
Na sequência da dissolução dos movimentos de massa por trás das ocupações antipolíticas, surgiu uma onda política muito diferente, que se concentrou na luta eleitoral. Seus expoentes às vezes afirmaram fornecer as políticas e organizações que faltaram à fase anterior de auto-organização militante e autonomia política, a qual ainda precisava identificar seus objetivos políticos. Mas eles são principalmente motivados pela esperança de preencher o vazio político enorme deixado pelos partidos social-democratas, desde que essas organizações tornaram clara sua submissão abjeta aos governantes do norte da Europa, especialmente no que se refere ao cumprimento de suas dívidas externas e à aplicação de programas de austeridade para pagá-las.
Tanto o Syriza, na Grécia, quanto o Podemos, na Espanha, procuraram explorar o desprezo quase universal de seus eleitorados com as perspectivas políticas e a corrupção extrema de seus respectivos ambientes políticos neoliberais dominantes. Syriza era uma aliança complexa de organizações políticas, mas sua liderança e seus seguidores, sempre dominantes no interior do partido, funcionavam como uma roupagem social-democrata clássica. Eles buscavam controlar o partido com pouca consulta aos membros como um todo e fizeram todos os esforços para isolar e destruir seus adversários políticos dentro da organização, minimizando, por exemplo, o número de reuniões dos principais órgãos do partido. Seu objetivo era criar uma organização essencialmente de uma-facção-só, a da liderança, de modo a ganhar a liberdade de manobrar politicamente para evitar, a todo custo, confrontos com os poderes estabelecidos, acima de tudo a Alemanha e seus aliados.
Syriza se identificava com as poderosas lutas de massa que haviam sido avivadas pela morte, em dezembro de 2008, de Alexandros Grigoropoulos nas mãos da polícia, pela ocupação da Praça Syntagma em 2010 e pelo movimento dinâmico anti-austeridade que surgiu em resposta à piora das condições econômicas e ao poder da Troika. Mas à medida que essa onda de lutas diminuía, o Syriza se concentrava quase inteiramente nas campanhas eleitorais – porque mobilizar movimentos de massas era arriscar confrontações potencialmente destrutivas com as elites políticas gregas e europeias. No final, o Syriza não pôde evitar a recusa em massa à austeridade, expressa no voto “não” em seu próprio referendo sobre os termos do memorando da União Europeia. Mas acabou por contornar essa situação, eventualmente impondo um programa ainda mais severo de austeridade e afirmando que “não há alternativa”.
A experiência do Podemos até agora tem sido uma pálida cópia de carbono da do Syriza. O Podemos adquiriu um dinamismo súbito quando um punhado de professores universitários, conhecidos por apresentarem um programa bem sucedido buscou, na sequência do movimento dos “indignados“, construir um partido como o Syriza, à esquerda do desacreditado Partido Socialista dos Trabalhadores (PSOE). O programa que eles apresentaram era ambíguo ao extremo, se concentrando na corrupção como um menor denominador comum e minimizando a dominação das classes e até a divisão de classes na Espanha. No entanto, eles conseguiram impressionantes resultados eleitorais iniciais.
Entretanto, o aparente domínio eleitoral emergente do Podemos foi interrompido pelo surgimento de um partido político anticorrupção similarmente mal-definido, desta vez à sua direita. O Podemos poderia avançar apenas se dando uma maior definição política. Mas, para colocar peso real sobre qualquer programa de reforma que pudesse defender, teria que cultivar lutas de massa nos espaços de trabalho e nas ruas, a única fonte de poder real para a Esquerda em qualquer lugar. Isso levantaria o risco de submeter sua organização a represálias políticas, do Estado local e de seus patrocinadores da Europa do Norte. Se o Podemos estará disposto a tentar tal diligência permanece em muita dúvida.
III. Rumo à Síntese?
O movimento de massas francês contra a Lei de Reforma do Trabalho de Hollande.
Quando, em 2016, o governo de Hollande anunciou uma ampla reforma do código trabalhista francês destinado a enfraquecer a proteção dos trabalhadores, provocou uma impressionante reação popular que gradualmente conquistou o apoio de claras maiorias da cidadania francesa, como registrado em pesquisas de opinião pública. O movimento exibiu, desde o início, uma militância crescente e uma propagação de tirar o fôlego, com greves, manifestações e ocupações em todo o país. O que ajudou a compor sua força impressionante foi a sucessão de amplas alianças forjadas entre grupos sociais que até então tinham sido separados uns dos outros. Como em poucas (se houve) outras instâncias desde a Grande Recessão, uma importante federação sindical entrou na luta contra a austeridade. A Confederação Geral do Trabalho (CGT), tradicionalmente cautelosa em confrontar seus antigos aliados no Partido Socialista, chamou e apoiou greves gerais recorrentes, bem como bloqueios de portos, refinarias e centrais nucleares. Enquanto isso, surgiram movimentos militantes paralelos de jovens: primeiro tomadas de escolas secundárias, depois ocupações recorrentes da Place de la République, que se tornaram conhecidas como Nuit Debout [“Noite de Pé”]. Em comparação com os seus predecessores, como os “indignados” na Espanha, decorrentes das mesmas camadas sociais, o Nuit Debout clamava pela aliança mais ampla possível, incluindo as federações sindicais, como a chave para a vitória. Embora a promessa de tal aliança nunca tenha sido bem compreendida, era igualmente apoiada pela liderança da CGT, que estava sendo pressionada para unir forças com a juventude por membros cada vez mais agitados. A realização desta unificação em manifestações de massa nos grandes dias de ação, ocorreu apesar dos conflitos iniciais entre delegados sindicais e a juventude radical. Estes foram desarmados quando a liderança sindical concedeu a liderança das manifestações aos jovens e à massa de trabalhadores sindicalizados contra uma repressão policial cada vez mais violenta.
Esses movimentos unidos conseguiram alcançar o que, em um sentido importante, foram os maiores triunfos do longo ciclo de lutas [26], e está claro que as alianças forjadas entre organizações representando diversas camadas sociais foi o que lhes permitiu combinar maior poder e eficácia política do que a maioria dos seus predecessores desde a Grande Recessão. Em um ponto, o governo francês tentou invocar a lei de emergência contra o movimento para proibir manifestações, mas teve que recuar. E tampouco o governo foi capaz de ganhar uma vitória definitiva para aprovar a lei. A oposição, apoiada por uma maioria avassaladora do público, estava poderosa demais. Em certo sentido admitindo a derrota política e, não obstante, insistindo em garantir a sua reforma anti-trabalhista, o governo foi obrigado a recorrer a um poder especial, o artigo 49.3 da Constituição Francesa, para aprovar o projeto de lei sem passar por votação no Congresso.
Em lugar de conclusão
Durante a maior parte da história do capitalismo, as classes capitalistas globais justificaram seu poder com uma ou outra versão do famoso slogan de que “o que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos”. Isso significa que seria do interesse de todos, incluindo da classe trabalhadora, garantir primeiro os lucros dos empregadores, porque somente se estes últimos puderem lucrar, estarão dispostos a acumular capital e, enquanto prevalecerem as relações de propriedade capitalistas, somente se eles acumularem capital (aumentando o investimento e o emprego) os trabalhadores poderão aumentam seus padrões de vida. Dito de outra forma, para obter lucros para si próprios, os capitalistas geralmente não tinham escolha senão contratar trabalhadores e pagá-los salários, juntamente da compra de meios de produção.
Mas nos últimos trinta e poucos anos, esse clichê deixou de se sustentar – e as classes capitalistas globais já não o proclamam. Ao invés, durante este período, o aumento da renda fluindo para a classe capitalista tem resultado cada vez mais da redistribuição ascendente de renda e da riqueza. A redistribuição tem ocorrido basicamente de duas maneiras: através do processo de produção e ignorando a produção por completo. Por um lado, os empregadores, ao mesmo tempo em que reduzem o investimento para níveis cada vez mais irrisórios e obtendo aumentos igualmente irrisórios em produtividade, garantem sua renda/lucros pagando aos trabalhadores salários decrescentes, desacelerando o crescimento salarial ou acelerando o ritmo de trabalho. Em segundo lugar, capitalistas – e ricos em geral – transferem renda e riqueza diretamente dos trabalhadoras para si mesmos por meio de fraudes constituídas politicamente: redução de impostos sobre as corporações e os ricos e assim por diante. As classes capitalistas não podem mais justificar o seu poder afirmando que precisam prover as necessidades dos trabalhadores se pretendem enriquecer a si mesmos. Eles não podem afirmar que “o que é bom para o Goldman Sachs é bom para os Estados Unidos”, porque garantir que o Goldman Sachs ou suas contrapartes na classe dominante de hoje ganhem dinheiro muitas vezes não beneficia ninguém além deles mesmos.
O resultado tem sido desastroso para os trabalhadores em todo o mundo, mas também tem contribuído para uma enorme abertura política. O capitalismo não pode mais garantir a adesão positiva dos trabalhadores ao sistema porque não mais provê suas necessidades, e todos sabem disso. Ao invés disso, os capitalistas precisam confiar em duas motivações negativas para exigir submissão: o medo das pessoas de perder seus empregos – ou de que não haverá nenhum – e de uma repressão ou punição brutal se tentarem contra-atacar. O surgimento dessas condições brutais tem engendrado o marcado aumento da luta de classes que tem tomado parte desde a Grande Recessão
Dito isto, tem havido até agora um fracasso colossal por parte dos movimentos de oposição, que está dolorosamente claro para todos. Mesmo as lutas mais altamente unificadas e sofisticadas não conseguiram sequer garantir sua própria continuação e se preparar para a próxima rodada. Seus progenitores não tem conseguido acumular coletivamente um balanço das batalhas que enfrentaram, derivar as lições políticas apropriadas e tentar descobrir o que essas lições implicam para levar a luta à frente com maior sucesso e efeito. Tampouco tem conseguido constituir as coletividades políticas necessárias para permitir àqueles que desejam continuar a lutar, que possam seguir se organizando e aprendendo – mesmo que a sua luta específica tenha chegado a um fim. Colocando de forma mais simples e grosseira, aqueles que levaram em frente a série de lutas econômicas e políticas que explodiram e evoluíram contra o contexto de tensão econômica em curso desde 2007 não têm feito esforços sérios para construir organizações políticas ou desenvolver programas políticos, apesar da óbvia necessidade de fazê-lo. Fazer esta observação é declarar o óbvio. Mas enfrentar o abismo entre o potencial objetivo e a capacidade subjetiva não é menos urgente porque tão fácil de se ver
Gostaríamos de agradecer Aaron Benanav, Aaron Brenner, John Clegg, Joel Jordan, Suzi Weissman.
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