18 de novembro de 2017

Os hippies soviéticos

Um olhar sobre a contra cultura atrás da Cortina de Ferro.

Um entrevista com
Terje Toomistu


Guru Mihkel Ram Tamm, late 1970s. Courtesy of Soviet Hippies.

Entrevistado por
Loren Balhorn

Tradução / Embora os militantes de esquerda veteranos fiquem incomodados com a ideia, na imaginação popular a cultura hippie continua associada a protestos políticos. Durante o auge da radicalização estudantil da década de 1960, a música, roupas e estética visual associadas ao movimento hippie permearam a cultura de protesto da Nova Esquerda. Esta imagem continua a animar nos dias de hoje as caricaturas de direita sobre a Esquerda. 

Embora este tipo particular de rebelião cultural fosse mais proeminente nas sociedades fordistas do ocidente capitalista, esta atravessou o Atlântico e ganhou forma própria na cada vez mais estagnada União Soviética de Leonid Brezhnev. Aí, milhares de jovens descontentes reuniram-se numa rede underground de pessoas que se identificavam enquanto hippies, à qual chamaram Sistema. A história do movimento, maioritariamente esquecida, é o foco de um recente documentário intitulado Soviet Hippies, onde se capta esta parte cultural única da Guerra Fria, na qual um difuso sentimento anti autoritário ressoou com os jovens dos dois lados da Cortina de Ferro. Loren Balhorn falou recentemente com o realizador, Terje Toomistu.

O seu filme documenta a vida de uma rede de hippies chamada Sistema, concentrada sobretudo nos Estados Bálticos, mas que se espalhou pela URSS. De onde surgiu o nome e por que se tornou na alcunha deste grupo de miúdos soviéticos rebeldes e de cabelos compridos?

De acordo com o que se diz, esta surgiu com um hippie carismático que vivia em Moscovo no final de 1960, chamado Sontse, que significa “ensolarado”. Os outros hippies referiam-se a ele como “o sol”, pelo que o grupo à sua volta começou aos poucos a ser chamado de “sistema solar”. É provável que o nome Sistema venha daí. De qualquer modo, nesta fase o Sistema ainda não funcionava como aquilo que viria a tornar-se mais tarde: uma rede auto organizada e auto sustentável de pessoas que partilhavam certos valores e ideais, viajando pelo país e reunindo em casa das pessoas e em acampamentos temporários com muitas pessoas.

Quando surgiu esta rede?

A rede propriamente dita surgiu alguns anos depois, no início dos anos de 1970. O movimento começou entre algumas pessoas das maiores cidades da União Soviética que tinham acesso à música ocidental. Algum tempo depois, começaram a questionar-se sobre se existiriam outras pessoas como elas noutras partes do país, e rapidamente estabeleceram contacto com outras pessoas de cabelos compridos em cidades de grandes dimensões. Foi aí que o Sistema se começou a desenvolver enquanto cultura, com os hippies a viajar pela URSS e a fazer “couch surfing”, digamos assim, em casa de outras pessoas de cabelos compridos. Os membros do Sistema compilavam em cadernos os números de telefone de hippies de outras cidades, permitindo-lhes estabelecer contacto com pessoas com os mesmos ideais em Kaunas, Tallinn e outros sítios, durante as suas viagens de verão.

E a política do movimento hippie? Parece-me que estes se estavam a rebelar contra o mesmo tipo de atitudes conservadoras e normas sociais que no contexto ocidental, embora sob um diferente sistema socioeconómico e instituições políticas. Ao passo que, nos anos de 1960, muitos jovens rebeldes nos Estados Unidos da América idealizavam, por exemplo, a Revolução Cultural de Mao na China, muitos das pessoas no seu filme parecem idealizar tudo o que fosse estado-unidense. Porém, tal como o filme admite, muitos dos primeiros hippies eram filhos da elite soviética. Quais os problemas e fatores que deram origem a este afastamento da sociedade soviética?

Existiram certamente algumas semelhanças entre o Leste e o Ocidente, mas também algumas diferenças. Na URSS o pacifismo não era puramente político - tinha também implicações a nível quotidiano. A sociedade soviética da altura era profundamente autoritária e altamente militarista. A maioria dos hippies rejeitava essas atitudes e tentavam modelar as suas vidas diárias em torno de valores como a “paz” e o “amor”. 

Dito isto, a cena hippie começou com pessoas que tinham acesso a música e a jornais ocidentais e é claro que isso só poderia acontecer entre a elite - as únicas pessoas na União Soviética que tinham acesso a bens do Ocidente. Altos funcionários - membros do Partido Comunista, agentes do KGB, etc. - conseguiam obter autorização para viajar para países ocidentais, trazendo geralmente todo o tipo de presentes estrangeiros e exóticos para os seus filhos. Os filhos da elite também tinham mais dinheiro para comprar discos em contrabando, algo que era muito caro. Muitas vezes, as pessoas formavam pequenos clubes de quatro ou cinco amantes de música que reuniam dinheiro para comprar um disco que, depois, copiam à vez para cassete.

Nesse sentido, continha um aspeto de dissidência, mas também era uma questão de estatuto. Se se tinha uma boa coleção de discos, tinha-se muitos amigos. Por isso, pelo menos no início, os hippies eram filhos de famílias soviéticas poderosas. Em termos ideológicos, existia certamente uma idealização do Ocidente como sendo o “mundo livre” e, a um menor nível, uma idealização do mercado livre.

Então o movimento tinha um certo cunho pró-mercado livre?

Sim, porque associavam o mercado livre a boa música e a boas calças de ganga. Não é que fossem a favor do capitalismo per se, mas tinham uma noção idealizada da liberdade de consumo. Isto era mais ou menos verdade entre a população soviética em termos mais gerais: o consumo era reprimido e, em consequência, idealizado. As pessoas queriam usar calças de ganga como expressão desse desejo de liberdade. É difícil julgá-los por isso em retrospectiva: numa sociedade onde os bens são difíceis de obter, é compreensível que o consumo ganhasse esse significado.

Uma coisa que não surge no seu filme é a invasão soviética do Afeganistão em 1979. A guerra no Afeganistão teve algum efeito no movimento hippie? Cresceu ou teve alguma relação com o sentimento anti guerra?

Bem, o Afeganistão não entra no meu filme porque o documentário concentra-se no surgimento do movimento hippie, que se tornou numa entidade social visível em 1971, quando os hippies se reuniram em Moscovo para protestar contra a guerra do Vietname. Esta ocasião foi escolhida por se alinhar com o posicionamento em termos de política externa do Governo soviético, bem como com o pacifismo prevalente entre a comunidade hippie. Foi também um momento importante para o movimento, sobretudo porque foram todos detidos e identificados pela polícia, o que de repente fez com que ser hippie na URSS fosse algo muito perigoso.

Desta forma, as autoridades mataram o elemento político do movimento - este tornou-se muito mais underground, mais virado para si mesmo e talvez mais espiritual, mas também muito mais envolvido com drogas e álcool. Os aspetos sociais e políticos recuaram. Quando pergunto aos hippies mais velhos se estes se interessavam por política, estes respondem geralmente que viam a política como algo estagnado. Sentiam não ter como mudar algo na sociedade soviética e que seriam presos caso tentassem. De certa forma, acho que a sua rejeição da política era em si mesmo um protesto.

Existia alguma ligação entre o movimento hippie, ou o Sistema, e a intelligentsia de Leninegrado ou a dissidência soviética avant-garde, ou tratavam-se de meios separados?

Existiam certamente ligações. Na Estônia, por exemplo - que era uma sociedade comparativamente livre em relação à maioria da URSS - as pessoas que trabalhavam na música e nas artes, literatura, etc., estavam sempre meio que entre estas esferas oficiais e não oficiais, produzindo a sua arte livre e radical ao mesmo tempo que tentavam manter boas relações com as autoridades. Muitas pessoas também se aproximaram da cultura hippie quando eram jovens, antes de se tornarem artistas soviéticos “oficiais”, mais estabelecidos e respeitados. Foquei-me deliberadamente no Sistema, este grupo de hippies mais radicais que realmente “saíram” da sociedade soviética e viajaram pelo país como espíritos livres, mas existiram certamente ligações com artistas e a intelligentsia.

E o género? Não é bem um foco do filme, mas várias das pessoas entrevistadas fazem comentários ao de leve onde sugerem que as políticas de género na comunidade não eram particularmente progressistas. Existia um elemento feminista nestes meios?

Os hippies soviéticos não tiveram uma revolução sexual comparável à que associamos aos hippies ocidentais - as comunas, o amor livre e tudo isso. Os hippies soviéticos apaixonavam-se, viajavam pelo país em casais, passavam de um parceiro para outro, etc., mas não existia esse elemento de “amor livre”. Havia, claro, muito sexo, mas mais sob forma de casos que ocorriam entre pessoas nas suas viagens pela União Soviética. Nesse sentido era muito convencional, mas ainda assim muito mais liberal que o resto da sociedade soviética!

Perguntei a várias mulheres hippies se se consideravam feministas, mas estas geralmente diziam que isso não se relacionava com as sua vidas (com algumas exceções, claro). Porém, ouvi falar de uma mulher chamada Ophelia que liderava um grupo de hippies de Moscovo e que se interessava muito por drogas psicadélicas. Teve vários namorados ao mesmo tempo e praticava uma forma consciente de “amor livre”. O movimento tinha mulheres fortes, mas em geral “os homens eram homens e as mulheres eram mulheres”, por assim dizer. Há que ter em mente que muitas mulheres eram socializadas no movimento quando se apaixonavam por homens hippies.

Em muitos países do Bloco de Leste houve certamente uma sobreposição entre políticas pró-democracia e um ressurgimento do nacionalismo. Houve uma dinâmica semelhante na comunidade hippie soviética? No documentário há pelo menos um hippie ucraniano que afirma “odiar a Rússia”, por exemplo.

Sim e não. Alguns hippies envolveram-se com o nacionalismo, sobretudo nos Bálticos onde as pessoas ainda viam a era soviética como uma era de ocupação, havendo assim um toque nacionalista desde o início. Ainda assim, o Sistema era multicultural e multinacional, com o russo servindo geralmente de língua comum. Os hippies que se envolveram mais com a espiritualidade não se relacionaram muito com o crescimento do nacionalismo nos anos de 1980, embora alguns dos protagonistas do filme, sobretudo os ucranianos, misturassem um pouco a cultura hippie com nacionalismo.

Tal como terá possivelmente visto no filme, os desenvolvimentos não foram iguais. Alguns hippies pós-soviéticos mantiveram-se comprometidos com o pacifismo e tentaram organizar manifestações contra a guerra no Leste da Ucrânia, por exemplo. A reunião anual de hippies em Moscovo, onde foi filmada a cena de encerramento do documentário, comemora o protesto anti-guerra de 1971 que tornou o movimento hippie visível aos olhos do público. Algumas das pessoas com quem falámos aí pareciam sentir uma certa continuidade entre o pacifismo dessa era e dos dias de hoje.

Há uma cena particularmente engraçada no filme, onde dois hippies mais velhos descrevem a um grupo de jovens espantados a forma como cultivavam o seu ópio e canábis. O conceito de uso destas drogas de forma recreativa foi importado do Ocidente ou estava relacionado com tradições locais?

Essas drogas já lá estavam. Não é como se os hippies soviéticos tivessem pensado de repente “oh, os hippies do Ocidente fumam erva? Como é que podemos arranjar?”. Existiam campos de canábis em algumas partes da Rússia, Ásia Central e Ucrânia, geralmente para produção de cânhamo. Os hippies mais velhos contam histórias de mulheres hippies a correrem nuas pelos campos de canábis, recolhendo o pólen no seu suor e produzindo haxixe a partir disso.

Também fiquei surpreendido com as quantidades. A unidade de medida mais pequena para a canábis era a de uma caixa de fósforos, depois uma chávena de chá e, depois disso, geralmente um cesto inteiro. As autoridades perceberam eventualmente que se estava a passar alguma coisa com a erva, mas ficaram mais preocupados com o aspeto do negócio que propriamente com o uso da droga.

Estavam mais preocupados com o envolvimento de cidadãos soviéticos em “especulação” que no facto de estes usarem drogas - suspeito que alguns agentes nem conseguissem compreender o conceito. Existem muitas histórias sobre rusgas da polícia a casas de hippies nas quais procuravam literatura proibida e ignoravam por completo as pilhas de canábis na mesa da cozinha. Muitos contam-me que fumavam charros no Café Moscow, na baixa de Tallinn, pois ninguém reconhecia o cheiro ou sabia o que aquilo era. Para consumir ópio geralmente faziam chá de papoila. No entanto, o problema aqui prendia-se com a dificuldade de medir a quantidade de ópio que ia com o chá, pelo que por vezes as pessoas morriam de overdose.

Uma coisa que noto na música rock da era soviética em geral é a sua mistura de estilos bastante eclética, onde combinam influências e géneros do cânone do pop-rock ocidental com as suas próprias criações e de formas bastante surpreendentes para os ouvidos mais habituados às cenas musicais americanas ou britânicas. Até que ponto é que estes músicos conseguiam promover o seu trabalho através de canais estatais e oficiais? Alguns dos telediscos que surgem no documentário parecem ter custos de produção particularmente elevados. Tocavam na televisão ou na rádio ou eram totalmente alternativos?

Eram maioritariamente alternativos. Aqueles que conseguiam gravar a sua música de forma profissional geralmente descreviam-no como um “milagre”. A banda estónia Suuk, por exemplo, conseguiu gravar o seu disco em 1976 num único dia numa “rádio móvel” do Estado. Este era o caso da Estónia, onde as pessoas tinham mais liberdades que no resto da URSS, motivo pelo qual o meio era mais vibrante aí que nos restantes sítios. Ainda assim, estas bandas não assinavam ou não eram promovidas pela Melodia, a editora musical do Estado. Ocorreram algumas exceções, mas eram muito raras e obscuras. É particularmente difícil encontrar gravações de boa qualidade de música alternativa russa desse período. Devido ao acesso limitado a materiais de gravação, estas bandas tinham de improvisar e de ser muito criativas na forma como produziam as sua música, o que lhes conferia um som único e muito específico.

O filme mostra um excerto de um noticiário soviético onde denunciavam os hippies por roubo de fios de cabines telefônicas para usarem nas guitarras, mas não são apresentados mais detalhes. Esta parece ser uma queixa comum e oficial em relação aos hippies na URSS. Que se passava?

Isso era porque na União Soviética muitas pessoas construíam as suas próprias guitarras, enquanto a maioria dos instrumentos disponíveis na URSS eram fabricados na antiga Checoslováquia. Os miúdos hippies da era soviética no final dos anos de 1960 usavam as bobines eletromagnéticas dos telefones nas guitarras elétricas, algo que, quando colocado debaixo das cordas da guitarra, transformava uma guitarra acústica numa elétrica. Como os materiais de captação não estavam acessíveis através dos canais oficiais, os miúdos faziam os seus próprios destruindo cabines telefônicas.

Muitas das pessoas que participam no documentário relatam terem sido enviadas para hospitais psiquiátricos pelos seus pais ou por outras figuras de autoridade, como retaliação pelo seu envolvimento na cena hippie. Era algo comum?

Um dos hippies do filme conta ter sido enviado pela sua mãe para uma ala psiquiátrica pois a sua resposta entusiástica a uma versão contrabandeada do disco Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles fez com que ela pensasse que ele tinha enlouquecido. Este caso ilustra o poder das normas sociais na sociedade soviética da época, na qual, não apenas as autoridades, mas também grande parte da população, impunha uma cultura muito antiquada e conformista. Além do assédio policial, os hippies também se deparavam com o policiamento moral dos cidadãos comuns, que se referiram a estes de forma pejorativa como “os tipos de cabelo comprido”, os denunciavam à polícia ou os assediavam nas ruas.

É por isso que os hippies que eram vistos como líderes ou considerados demasiado visíveis para o gosto do Estado eram muitas vezes enviados para hospitais psiquiátricos ao invés de prisões. Um dos maiores receios dos hippies era o de serem enviados para os hospitais por doenças da pele ou infeções sexualmente transmissíveis, pois estes eram particularmente rígidos. Muitas vezes as autoridades identificavam ou simplesmente inventavam a presença de piolhos nos detidos, e usavam isso como argumento para os forçar a cortar os cabelos. Isto era muito difícil para muitos deles a nível psicológico, pois os cabelos longos eram considerados como sendo “a bandeira da liberdade”, um grande símbolo de não conformismo na URSS à época.

Contudo, um aspeto interessante na dinâmica com os hospitais psiquiátricos era o facto de muitos hippies e outros dissidentes se internarem voluntariamente em alas psiquiátricas de forma a evitarem o serviço militar obrigatório. Cruzavam-se muitas vezes com outros artistas, músicos e pessoas “boémias” em geral, todos eles procurando evitar o serviço militar. Os funcionários do hospital foram percebendo gradualmente que esta era uma estratégia dos objetores de consciência, e então era-lhes dado um diagnóstico e eram mandados embora. É importante notar que, embora muitos hippies tenham tido experiências horríveis e traumatizantes em alas psiquiátricas, estas também tiveram um aspeto positivo para muitos.

Em retrospetiva, como é que os hippies soviéticos que entrevistou refletiam sobre a sua experiência trinta ou quarenta anos depois? Estavam orgulhosos do que tinham feito? Tinham saudades?

Há mais de seis anos que trabalho neste projeto - organizamos há uns anos uma exposição num museu na Estônia e o filme foi exibido em cinemas do país durante vários meses. Foi uma importante contribuição para a revitalização de velhas amizades e ligações entre hippies, e de alguma forma trouxe o movimento de volta - ou pelo menos as memórias. Muitos dos hippies soviéticos que ainda são vivos esperam que o filme e a experiência que este documenta ajudem a inspirar a juventude dos dias de hoje - afinal, mesmo que o sistema sociopolítico dos países da antiga URSS tenham mudado muito desde os anos de 1970, a luta antimilitarista e o conformismo social permanecem iguais.

Colaboradores

Terje Toomistu é um documentarista, autor e antropólogo estoniano. Seu trabalho frequentemente se baseia em vários processos interculturais, realidades queer e memória cultural. Seu filme mais recente, Soviet Hippies, está atualmente em exibição em festivais de cinema ao redor do mundo e será exibido na sexta-feira, 17 de novembro, na ARTE.

Loren Balhorn é editor colaborador da Jacobin e coeditor, junto com Bhaskar Sunkara, de Jacobin: Die Anthologie (Suhrkamp, ​​2018).

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