9 de fevereiro de 2019

De mãos amarradas

Lula está sendo posto fora da condição de candidato para sempre

Andre Singer


Reprodução.

Luiz Inácio Lula da Silva, 73, foi condenado na quarta (6) a 12 anos e 11 meses de reclusão por acusações referentes ao sítio de Atibaia. Somada à pena de 12 anos e 1 mês no caso do apartamento no Guarujá, o ex-presidente ficaria inteiramente livre aos 96. Se não tiver outras condenações, passaria para o regime semiaberto em quatro anos e para o de liberdade provisória em oito.

Lula está sendo posto fora da condição de candidato para sempre. O mesmo não acontece, nem ocorrerá, enquanto as condições atuais permanecerem, em relação ao presidente da República, hoje o principal líder das hostes antilulistas. A assimetria de recursos torna manca a democracia brasileira.

De modo a evidenciar o desequilíbrio, adotemos, para efeito de raciocínio, a tese expressa pelo repórter Mario Cesar Carvalho nesta Folha.

Haveria provas abundantes de que as reformas no sítio foram bancadas “por uma espécie de consórcio informal” entre a Odebrecht e a OAS. Mas não existiria evidência de que a obra teria relação com os desvios de recursos na Petrobras.

Para o desembargador João Pedro Gebran Neto, do TRF-4, que revê as penas impostas a Lula, não precisa comprovar a relação entre atos específicos, pois o petista “seria o garantidor de um esquema maior, que tinha por finalidade incrementar de modo sub-reptício o financiamento de partidos”.

Agora vejamos o caso de Bolsonaro. Em janeiro, o Ministério Público do Rio de Janeiro deflagrou operação contra supostos chefes de milícias na zona oeste da capital fluminense.

Revelou-se que um dos alvos tinha a mãe e a mulher empregadas no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Flávio, por sinal, homenageara duas vezes o acusado de liderar milicianos.

A assessoria de Flávio reconheceu que uma das familiares do ex-capitão fora indicada por Fabrício Queiroz. Este, por sua vez, é alvo de investigação devido a movimentação financeira atípica. Um dos pagamentos realizados por Queiroz, amigo de 30 anos do presidente e por este recomendado para o gabinete do filho, foi destinado à primeira-dama do Brasil.

Alguém acha que o ministro da Justiça, Sergio Moro, o homem que comandou a caçada a Lula, virá a público afirmar que não é preciso comprovar o vínculo entre o seu chefe e determinados episódios de violência no Rio, pois “ele seria o garantidor de um esquema maior”? Evidente que não.

Sobre Bolsonaro serão exigidas provas minuciosas de ligação entre o primeiro servidor do país e atos específicos, sem as quais acusações serão consideradas “meras acusações”. Dois pesos e duas medidas. Elas obrigam o campo popular a jogar com as mãos amarradas, enquanto o antipopular nada de braçada.

Sobre o autor


Professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”.

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