Mônica Benício
Mônica Benício durante ensaio da Mangueira no Rio, no mês passado; a escola homenageou a vereadora Marielle Franco em seu desfile neste ano. Bruna Prado/UOL. |
Há um ano eu estava gripada, em casa, fazendo o jantar. Lembro o que cozinhava, afinal são 12 meses sem fazer o jantar. São 12 meses que minha companheira não está mais entre nós. São 12 meses que minha vida mudou. Não só a minha como a de todas nós. Mas a minha vida é uma outra vida que nunca quis ter.
Eu, moradora da favela, tinha enquanto perspectiva de vida estar com a família que Marielle e eu construíamos, terminar meu mestrado em arquitetura e adentrar na vida acadêmica, continuar com meu autocuidado alimentar e atividades físicas diárias, passear com meu cachorro e amigas. Ter uma vida “comum”, digamos assim.
Mas no dia 14 de março de 2018 isso foi encerrado. No dia 14 de março, Marielle, a mulher que amei durante 14 anos da minha vida, foi executada. Tiraram a vida da Marielle. Aqueles envolvidos com essa crueldade não sabiam o que aconteceria. Confesso que nos três primeiros meses eu não sabia a dimensão e o poder que estariam por vir.
Hoje, a Marielle é conhecida internacionalmente pelo crime bárbaro que tirou sua vida, mas também pela mulher incrível que era. Mulher negra, mãe, minha esposa, amiga, parlamentar, socialista e defensora de direitos humanos. Tudo isso somado em um corpo que é lido como aquele que não deve estar entre nós, por desafiar os padrões normativos. Mas eles não sabiam. Não sabiam que milhares de mulheres somariam na luta por Justiça.
Hoje, não se trata apenas da Marielle. Trata-se de não permitimos que nem uma outra companheira ou companheiro deixe de terminar o jantar. A luta hoje é o que me faz estar viva. É uma forma de estar perto dela. Mas é mais que isso, é não silenciar o que acontece no Brasil. Nosso país mata pessoas, encarcera o povo negro, mata mulheres e LGBTs, violenta crianças e adolescentes. É um país que não reconhece o racismo entranhado na sua história. Assumir isso é um desafio, pois nos faz muitas vezes achar que não é possível outra forma de existir e permanecer.
Eu, moradora da favela, tinha enquanto perspectiva de vida estar com a família que Marielle e eu construíamos, terminar meu mestrado em arquitetura e adentrar na vida acadêmica, continuar com meu autocuidado alimentar e atividades físicas diárias, passear com meu cachorro e amigas. Ter uma vida “comum”, digamos assim.
Mas no dia 14 de março de 2018 isso foi encerrado. No dia 14 de março, Marielle, a mulher que amei durante 14 anos da minha vida, foi executada. Tiraram a vida da Marielle. Aqueles envolvidos com essa crueldade não sabiam o que aconteceria. Confesso que nos três primeiros meses eu não sabia a dimensão e o poder que estariam por vir.
Hoje, a Marielle é conhecida internacionalmente pelo crime bárbaro que tirou sua vida, mas também pela mulher incrível que era. Mulher negra, mãe, minha esposa, amiga, parlamentar, socialista e defensora de direitos humanos. Tudo isso somado em um corpo que é lido como aquele que não deve estar entre nós, por desafiar os padrões normativos. Mas eles não sabiam. Não sabiam que milhares de mulheres somariam na luta por Justiça.
Hoje, não se trata apenas da Marielle. Trata-se de não permitimos que nem uma outra companheira ou companheiro deixe de terminar o jantar. A luta hoje é o que me faz estar viva. É uma forma de estar perto dela. Mas é mais que isso, é não silenciar o que acontece no Brasil. Nosso país mata pessoas, encarcera o povo negro, mata mulheres e LGBTs, violenta crianças e adolescentes. É um país que não reconhece o racismo entranhado na sua história. Assumir isso é um desafio, pois nos faz muitas vezes achar que não é possível outra forma de existir e permanecer.
A execução de Marielle é um divisor de águas e, por mais que doa, por mais que todos os dias eu durma pensando “menos um dia” e acorde sem conseguir dizer bom-dia, a sociedade brasileira está indignada. Eu sinto isso pela dimensão que tomou a “Monica Benício, viúva”. Hoje, recebemos uma solidariedade e somos impulsionadas pela urgência em mudarmos a ordem vigente.
A verdade é que arrancaram do Rio de Janeiro o que tínhamos de melhor. Hoje, eu entendo que Marielle foi um fenômeno político como poucas vezes vimos no Brasil. Eleita com 46 mil votos (quatro vezes acima da projeção mais otimista que ouvi), ela estava ali para segurar as bandeiras que o povo precisa levantar.
Talvez por isso ela incomodasse tanto. Era muito amada, muito querida, estava ao lado da maioria e tinha luz própria. Não à toa a Cinelândia ficou lotada durante o velório e o crime repercutiu em todo o planeta. Decerto, Marielle incomodava os velhacos que dominam a política no Rio e tinha plenas condições de dar novo fôlego à resistência em escala nacional.
Nós perdemos muito e não há mais como voltar. Hoje, a nossa escolha é segurar nas mãos de todas e todos que compreendem o que é solidariedade, o que é amor e afeto. É argumentar que esse sistema está falido e se reconstrói em cima das opressões de nossos corpos. E são elas que levaram a quem mandou matar Marielle cometer um dos crimes mais odiosos da história do Brasil. Acharam que a carne mais barata do mercado era a dela. Nós estamos ressignificando que não.
Por isso, por ela, eu sigo lutando. Quero Justiça para Marielle, para que o Estado brasileiro pare de matar pessoas como ela. Por isso, eu sigo com as bandeiras e vou seguir lutando até a vitória, sempre. Tenho certeza de que é isso que ela esperaria de nós. Vamos juntas!
Sobre a autora
Arquiteta e urbanista, militante LGBT e viúva de Marielle Franco.
Sobre a autora
Arquiteta e urbanista, militante LGBT e viúva de Marielle Franco.
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