André Singer
Folha de S.Paulo
Jair Bolsonaro participa de cerimônia de aniversário da Justiça Militar, em Brasília. Marcos Corrêa/Presidência da República. |
Com a pacificação arranjada entre Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia pôs-se fim, aparente, à crise. Mas voltou a circular uma hipótese que vai crescer na próxima rodada de dificuldades presidenciais. Trata-se da perene proposta de implantar o regime parlamentarista no Brasil.
Por enquanto, o sobe e desce da bolsa prejudica uns, mas favorece outros. Por exemplo, os que compraram ações na baixa para vender na alta. Se o bate-boca entre Executivo e Legislativo faz o dólar ficar mais caro, quem tem a moeda americana ganha (exportadores).
Em outras palavras, o despreparo do atual ocupante do Planalto ainda não ocasionou uma perda generalizada para os detentores de capital. Porém os sinais de que o eleito começa a ficar sem governabilidade se avolumam, causando preocupação de médio prazo entre os donos do dinheiro.
1. Em três meses, o capitão reformado perdeu quase um terço do eleitorado que o apoiava, sobretudo na área popular. A sua aprovação caiu de 49% em janeiro para 34% em março. Em lugar de ocupar-se com uma estratégia que pudesse estancar a sangria de suporte entre o povo, o presidente dedica-se a postar tuítes doidos que só interessam à sua própria bolha ideológica.
2. Ao comprar briga com o único brasileiro que pode dar curso a um eventual pedido de impeachment (Maia), Bolsonaro mostrou não ter lido o manual básico do cargo que ocupa. Dilma Rousseff fez isso com o atual presidiário Eduardo Cunha e os dois caíram fora da Praça dos Três Poderes. Fernando Collor de Mello já tinha demonstrado, um quarto de século antes, que, na Constituição de 1988, o deputado que chefia a Câmara precisa ser tratado a pão de ló.
3. Em menos de cem dias, o vice-presidente Hamilton Mourão projetou a imagem de que, comparativamente, tem a cabeça no lugar, o que, convenhamos, foi fácil. Ter um vice, apoiado pelas Forças Armadas, que tenta e consegue se mostrar melhor que o chefe é receita certa para o esvaziamento do poder presidencial.
O projeto parlamentarista tinha estado na origem da confabulação que acabou por levar Michel Temer ao Alvorada. Agora, renasce sob o signo do general da reserva que reside temporariamente no Jaburu. Comenta-se que o militar estaria disposto a encaminhar o assunto.
Tal como em 1960, a direita elegeu um populista autoritário e pouco confiável para impedir que o campo popular voltasse ao poder. Assim como naquela época, o parlamentarismo será a saída cogitada para contornar as crises que o Messias de turno provoca. Retirando, de passo, para sempre, o fantasma de uma Presidência popular e reformista do horizonte nacional.
Por enquanto, o sobe e desce da bolsa prejudica uns, mas favorece outros. Por exemplo, os que compraram ações na baixa para vender na alta. Se o bate-boca entre Executivo e Legislativo faz o dólar ficar mais caro, quem tem a moeda americana ganha (exportadores).
Em outras palavras, o despreparo do atual ocupante do Planalto ainda não ocasionou uma perda generalizada para os detentores de capital. Porém os sinais de que o eleito começa a ficar sem governabilidade se avolumam, causando preocupação de médio prazo entre os donos do dinheiro.
1. Em três meses, o capitão reformado perdeu quase um terço do eleitorado que o apoiava, sobretudo na área popular. A sua aprovação caiu de 49% em janeiro para 34% em março. Em lugar de ocupar-se com uma estratégia que pudesse estancar a sangria de suporte entre o povo, o presidente dedica-se a postar tuítes doidos que só interessam à sua própria bolha ideológica.
2. Ao comprar briga com o único brasileiro que pode dar curso a um eventual pedido de impeachment (Maia), Bolsonaro mostrou não ter lido o manual básico do cargo que ocupa. Dilma Rousseff fez isso com o atual presidiário Eduardo Cunha e os dois caíram fora da Praça dos Três Poderes. Fernando Collor de Mello já tinha demonstrado, um quarto de século antes, que, na Constituição de 1988, o deputado que chefia a Câmara precisa ser tratado a pão de ló.
3. Em menos de cem dias, o vice-presidente Hamilton Mourão projetou a imagem de que, comparativamente, tem a cabeça no lugar, o que, convenhamos, foi fácil. Ter um vice, apoiado pelas Forças Armadas, que tenta e consegue se mostrar melhor que o chefe é receita certa para o esvaziamento do poder presidencial.
O projeto parlamentarista tinha estado na origem da confabulação que acabou por levar Michel Temer ao Alvorada. Agora, renasce sob o signo do general da reserva que reside temporariamente no Jaburu. Comenta-se que o militar estaria disposto a encaminhar o assunto.
Tal como em 1960, a direita elegeu um populista autoritário e pouco confiável para impedir que o campo popular voltasse ao poder. Assim como naquela época, o parlamentarismo será a saída cogitada para contornar as crises que o Messias de turno provoca. Retirando, de passo, para sempre, o fantasma de uma Presidência popular e reformista do horizonte nacional.
Sobre o autor
Professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”.
Professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”.
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