Nelson Barbosa
Folha de S.Paulo
O atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante cerimônia de transmissão de cargo. Divulgação. |
O Banco Central reduziu a Selic para 5% ao ano. Tudo indica que teremos outra redução em dezembro, para 4,5%, e em janeiro, para 4%. Há possibilidade de cortes adicionais em 2020, levando os juros básicos para menos de 4%. Será? Vejamos o cenário de curto prazo.
Começando pela taxa de juro real esperada para os próximos 12 meses, que é a variável relevante para decisões econômicas, as expectativas de mercado estão em 1%. No passado, o valor mais baixo foi de 1,4%, no fim de 2012, mas em um contexto de aceleração de preços.
A situação atual é mais confortável, pois as expectativas de mercado também indicam inflação abaixo da meta em 2020. Traduzindo do economês, os juros podem cair mais sem ameaçar o controle da inflação.
Aí entra o cenário macroeconômico: se a economia se recuperar mais rapidamente, a Selic provavelmente se estabilizará entre 4,5% e 4% em 2020. Se isso não acontecer, a Selic poderá cair mais no próximo ano.
Será que a economia se recuperará mais rapidamente? Pelo cenário econômico interno, a resposta é sim, pois o governo adotou uma série de estímulos ao crescimento.
Considerando apenas o “libera FGTS”, o “13º do Bolsa Família” e a transferência de parte da receita do leilão de petróleo para estados e municípios, o impulso de demanda poderá ser de R$ 80 bilhões na virada de 2019 para 2020.
Além dos estímulos temporários, também há a eterna expectativa de recuperação dos investimentos privados em infraestrutura, até hoje prejudicados pelo “apagão das canetas” trazido pela Operação Lava Jato.
E o próprio corte da Selic estimula o crescimento, barateando o crédito, mas, para que isso se transforme em crescimento, é preciso que os bancos repassem a queda dos juros e que famílias e empresas tenham confiança na recuperação da economia.
Se o cenário econômico não melhorar como esperado, restará ao Banco Central reduzir ainda mais a Selic para compensar a falta de estímulo de outras áreas. Estamos, portanto, na situação de que Selic abaixo de 4% pode ser mais sinal de fraqueza, do que de força, da economia.
Para os leitores não acharem que isso é mais uma jabuticaba, o mesmo ocorreu nos países avançados, onde os juros básicos caíram para zero de modo a compensar a falta de outros estímulos, sobretudo fiscais, à recuperação da economia. Alguns economistas chamam isso de “estagnação secular”. Por enquanto estamos longe desse problema, mas é sempre bom bater na madeira.
Ainda temos vários instrumentos para recuperar a economia além da política monetária, mas também temos alguns riscos não desprezíveis para 2020.
Primeiro, tudo indica que o investimento público federal continuará à míngua no próximo ano, o que compromete o investimento privado, sobretudo em construção civil.
Segundo, os impactos de curto prazo da reforma da Previdência também serão negativos, pois as pessoas terão que consumir menos (poupar mais) para obter a mesma aposentadoria.
Terceiro, continua a incerteza sobre o crescimento nos EUA, na Europa e na China, bem como sobre a Argentina, que é, sim, importante para o Brasil. Dificilmente o resto do mundo será motor de crescimento para nós em 2020.
Por fim, temos um cenário político incerto diante dos embates do presidente da República com a mídia, o Judiciário, a oposição e até com a situação.
Até agora a economia tem ignorado a maioria das bizarrices do Planalto, mas, dado que a família Bolsonaro resolveu radicalizar sua estratégia política, perda de governabilidade e crise institucional voltaram a ser riscos reais para o Brasil.
Considerando apenas o “libera FGTS”, o “13º do Bolsa Família” e a transferência de parte da receita do leilão de petróleo para estados e municípios, o impulso de demanda poderá ser de R$ 80 bilhões na virada de 2019 para 2020.
Além dos estímulos temporários, também há a eterna expectativa de recuperação dos investimentos privados em infraestrutura, até hoje prejudicados pelo “apagão das canetas” trazido pela Operação Lava Jato.
E o próprio corte da Selic estimula o crescimento, barateando o crédito, mas, para que isso se transforme em crescimento, é preciso que os bancos repassem a queda dos juros e que famílias e empresas tenham confiança na recuperação da economia.
Se o cenário econômico não melhorar como esperado, restará ao Banco Central reduzir ainda mais a Selic para compensar a falta de estímulo de outras áreas. Estamos, portanto, na situação de que Selic abaixo de 4% pode ser mais sinal de fraqueza, do que de força, da economia.
Para os leitores não acharem que isso é mais uma jabuticaba, o mesmo ocorreu nos países avançados, onde os juros básicos caíram para zero de modo a compensar a falta de outros estímulos, sobretudo fiscais, à recuperação da economia. Alguns economistas chamam isso de “estagnação secular”. Por enquanto estamos longe desse problema, mas é sempre bom bater na madeira.
Ainda temos vários instrumentos para recuperar a economia além da política monetária, mas também temos alguns riscos não desprezíveis para 2020.
Primeiro, tudo indica que o investimento público federal continuará à míngua no próximo ano, o que compromete o investimento privado, sobretudo em construção civil.
Segundo, os impactos de curto prazo da reforma da Previdência também serão negativos, pois as pessoas terão que consumir menos (poupar mais) para obter a mesma aposentadoria.
Terceiro, continua a incerteza sobre o crescimento nos EUA, na Europa e na China, bem como sobre a Argentina, que é, sim, importante para o Brasil. Dificilmente o resto do mundo será motor de crescimento para nós em 2020.
Por fim, temos um cenário político incerto diante dos embates do presidente da República com a mídia, o Judiciário, a oposição e até com a situação.
Até agora a economia tem ignorado a maioria das bizarrices do Planalto, mas, dado que a família Bolsonaro resolveu radicalizar sua estratégia política, perda de governabilidade e crise institucional voltaram a ser riscos reais para o Brasil.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
Nenhum comentário:
Postar um comentário