Mercado financeiro já cobra do futuro presidente
Paulo Nogueira Batista Jr.
O economista Paulo Nogueira Batista Jr, em evento no Palácio do Planalto. Alan Marques/Folhapress. |
Ainda nem chegamos ao primeiro, mas já temos indícios de que o terceiro turno começou. Terceiro? Sim, leitor, a turma da bufunfa não descansa. Quando perde o primeiro e o segundo turnos em eleições presidenciais, ela não demora a providenciar um terceiro. Como a sua derrota nos dois turnos regulamentares está desenhada, os bufunfeiros trataram de se movimentar desde logo.
A turma é afoita e não prima pela sutileza. Recentemente, o jornal Valor Econômico publicou extensa reportagem sobre as inquietações eleitorais do mercado financeiro, apoiada sobretudo em declarações off the record. Bolsonaro preocupa menos, pois entregou o terceiro turno por antecipação, anunciando a nomeação para a Fazenda de um economista ultraliberal. O problema é Haddad, neste momento o favorito.
Um dos entrevistados anônimos do jornal, identificado como "um gestor", avisou que o mercado não dará o benefício da dúvida ao candidato do PT. "O estresse vai ser enorme", ameaçou.
Outro interlocutor anônimo do jornal, um economista do mercado, sugeriu que Haddad anuncie imediatamente nomes liberais para sua equipe. "Algum estelionato eleitoral vai ter que haver", avisou.
Ora, quem conhece a história do Brasil sabe que estelionato eleitoral equivale a suicídio político. Haddad é experiente e hesitará muito antes de embarcar nessa canoa. Mas as pressões nos mercados financeiro e cambial podem ser intensas. Não basta saber; é preciso também ter nervos de aço.
As esperanças da turma da bufunfa têm lá os seus fundamentos. O PT perdeu o terceiro turno duas vezes, pelo menos. A primeira ocorreu em 2002, quando Lula comprou tranquilidade, nomeando Antonio Palocci ministro da Fazenda e Henrique Meirelles para presidente do Banco Central. Em 2014, Dilma perdeu o terceiro turno fragorosamente, cedendo o comando da Fazenda a Joaquim Levy.
A derrota no terceiro turno não se dá pela manutenção pura e simples da equipe econômica do governo anterior. Lula não deu ouvidos aos que queriam a continuação de Pedro Malan e/ou Armínio Fraga. Também não serão ouvidos os que recomendam conservar a equipe econômica de Temer.
Mas isso pouco importa. A turma da bufunfa dispõe de dezenas, para não dizer centenas, de nomes aceitáveis, equivalentes a Meirelles, Ilan Goldfajn ou Fraga. Para seguir a cartilha, não precisa ser nenhum gênio. Profissionais medianos, sempre encontradiços, são até preferíveis, pois seguem ordens com mais satisfação e menos escrúpulos.
Tudo indica, entretanto, que o terceiro turno de 2018 não vai ser tão fácil quanto em 2002 ou 2014. Por duas razões. Primeiro, a centro-esquerda aprendeu com a experiência —particularmente com a de 2014, que foi desastrosa e está viva na memória de todos. Segundo —e talvez mais importante—, o quadro econômico brasileiro, embora muito difícil, não é desesperador, como era por exemplo o de 2002.
A inflação está sob controle, apesar da alta do dólar. As expectativas de inflação continuam próximas do centro da meta. As taxas de inflação corrente e os núcleos de inflação (as medidas de inflação subjacente) estão bem comportados.
Ainda mais significativa é a força do setor externo da economia brasileira. O déficit de balanço de pagamentos em conta corrente é muito pequeno; os ingressos de investimentos diretos estrangeiros equivalem a várias vezes o déficit corrente.
Além disso, o país dispõe de reservas internacionais da ordem de US$ 380 bilhões. O Banco Central pode se valer ainda de swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares sem a entrega de moeda estrangeira.
Ataques especulativos são sempre possíveis. Mas desta vez a turma da bufunfa vai ter que suar a camisa.
A turma é afoita e não prima pela sutileza. Recentemente, o jornal Valor Econômico publicou extensa reportagem sobre as inquietações eleitorais do mercado financeiro, apoiada sobretudo em declarações off the record. Bolsonaro preocupa menos, pois entregou o terceiro turno por antecipação, anunciando a nomeação para a Fazenda de um economista ultraliberal. O problema é Haddad, neste momento o favorito.
Um dos entrevistados anônimos do jornal, identificado como "um gestor", avisou que o mercado não dará o benefício da dúvida ao candidato do PT. "O estresse vai ser enorme", ameaçou.
Outro interlocutor anônimo do jornal, um economista do mercado, sugeriu que Haddad anuncie imediatamente nomes liberais para sua equipe. "Algum estelionato eleitoral vai ter que haver", avisou.
Ora, quem conhece a história do Brasil sabe que estelionato eleitoral equivale a suicídio político. Haddad é experiente e hesitará muito antes de embarcar nessa canoa. Mas as pressões nos mercados financeiro e cambial podem ser intensas. Não basta saber; é preciso também ter nervos de aço.
As esperanças da turma da bufunfa têm lá os seus fundamentos. O PT perdeu o terceiro turno duas vezes, pelo menos. A primeira ocorreu em 2002, quando Lula comprou tranquilidade, nomeando Antonio Palocci ministro da Fazenda e Henrique Meirelles para presidente do Banco Central. Em 2014, Dilma perdeu o terceiro turno fragorosamente, cedendo o comando da Fazenda a Joaquim Levy.
A derrota no terceiro turno não se dá pela manutenção pura e simples da equipe econômica do governo anterior. Lula não deu ouvidos aos que queriam a continuação de Pedro Malan e/ou Armínio Fraga. Também não serão ouvidos os que recomendam conservar a equipe econômica de Temer.
Mas isso pouco importa. A turma da bufunfa dispõe de dezenas, para não dizer centenas, de nomes aceitáveis, equivalentes a Meirelles, Ilan Goldfajn ou Fraga. Para seguir a cartilha, não precisa ser nenhum gênio. Profissionais medianos, sempre encontradiços, são até preferíveis, pois seguem ordens com mais satisfação e menos escrúpulos.
Tudo indica, entretanto, que o terceiro turno de 2018 não vai ser tão fácil quanto em 2002 ou 2014. Por duas razões. Primeiro, a centro-esquerda aprendeu com a experiência —particularmente com a de 2014, que foi desastrosa e está viva na memória de todos. Segundo —e talvez mais importante—, o quadro econômico brasileiro, embora muito difícil, não é desesperador, como era por exemplo o de 2002.
A inflação está sob controle, apesar da alta do dólar. As expectativas de inflação continuam próximas do centro da meta. As taxas de inflação corrente e os núcleos de inflação (as medidas de inflação subjacente) estão bem comportados.
Ainda mais significativa é a força do setor externo da economia brasileira. O déficit de balanço de pagamentos em conta corrente é muito pequeno; os ingressos de investimentos diretos estrangeiros equivalem a várias vezes o déficit corrente.
Além disso, o país dispõe de reservas internacionais da ordem de US$ 380 bilhões. O Banco Central pode se valer ainda de swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares sem a entrega de moeda estrangeira.
Ataques especulativos são sempre possíveis. Mas desta vez a turma da bufunfa vai ter que suar a camisa.
Sobre o autor
Economista, ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (estabelecido pelos Brics em Xangai) e ex-diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países.
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