11 de março de 2017

Alienígenas, anti-semitismo e academia

Os teóricos da conspiração alt-right abraçaram a filosofia pós-moderna. A esquerda deve retornar ao Iluminismo para se opor à sua política irracional e odiosa.

Landon Frim e Harrison Fluss


Jason Reza Jorjani

Tradução / Um escândalo ronda a academia. Na foto que ilustra um artigo recente do Atlantic, Jason Reza Jorjani, que recebeu um PHD da Stony Brook University, abraçou Richard Spencer, o supremacista branco que cunhou o termo alt-right em 2010.

Jorjani, detalha o artigo, tornou-se uma liderança proeminente no movimento. E agora trabalha como editor cultural para o site altright.com e serve de editor chefe da New Right, editora da Arktos Media. Em novembro passado, ele discursou ao lado dos notórios supremacistas brancos Spencer, Jared Taylor e Kevin MacDonald na conferencia do National Policy Institute(NPI) em Washington, DC.

Enquanto Spencer liderava a multidão nos gritos de “Hail Trump!”, o discurso de Jorjani revelou mais claramente a lógica filosófica perversa da Alt-Right.

Os textos de Jorjani, suas atividades politicas e suas aparições na mídia provocavam acusações de antissemitismo e islamofobia. Ele, por exemplo, sugere que Javé e Allah eram na verdade alienígenas que escravizaram seus crentes e enganaram-nos para cometer genocídio. Ele caracterizou abertamente alguns oficiais nazistas de alto escalão como super-homens com poderes psíquicos. Enquanto Jorjani negou veementemente as acusações de intolerância contra ele, sua declarações públicas fazem você se questionar.

Tudo isso atraiu atenção desconfortável e ocasionalmente hostil para sua alma mater.

O departamento de filosofia de Stony Brook, famoso por seu pluralismo e politica progressista, parece um contexto improvável para esse escândalo. Muitos alunos e docentes do departamento se identificam como esquerdistas e liberais. Seu foco na filosofia continental inclui pesquisa sobre teoria critica, feminismo, pós-colonialismo e leituras críticas das teorias queer e de raça. Houve um grande choque, então, que um dos novos alunos de Stony Brook tivesse se autoproclamado porta-voz do “império ariano”.

Jorjani escreveu uma carta aberta ao departamento depois que descobriu que um participante em uma reunião de faculdade sugeriu revisar sua pesquisa de dissertação. Embora não haja nenhuma evidencia de que o departamento está conduzindo uma investigação, ele anda suscitando uma enxurrada de artigos do Inside Higher Ed e de blogs da área como Leiter Reports e Daily Nous, que destacam questões de censura, a revogabilidade de graduações, liberdade acadêmica e o papel dos comitês de dissertação.

O constrangimento institucional certamente decorre das opiniões reacionárias de Jorjani sobre cultura, que ele descreve em Prometheus e Atlas, seu livro baseado na sua dissertação. Mas o desfile de esquisitices que aparecem no livro- incluindo, mas não apenas, feiticeiros, precogs, alienígenas do passado, telepatia e a cidade submersa de Atlântida – são igualmente desconcertantes.

Para se defender contra as acusações de antissemitismo, Jorjani cita suas referências ocasionais a filósofos judeus como Leo Strauss, se gaba da participação de judeus na conferencia da NPI, e lembra como até Mussolini contava com o apoio de alguns judeus italianos, mesmo que brevemente. Seu livro também é dedicado a Jeffrey Mishlove, um parapsicólogo judeu e personalidade de mídia.

Contudo, estas provas não bastam para anular as acusações. Afinal, o filosofo nazista Martin Heidegger dedicou sua maior obra. “ Ser e Tempo”, ao seu mentor judeu, Edmund Husserl.

Também estudamos no departamento de filosofia de Stony Brook, onde éramos contemporâneos de Jorjani. Sabemos que algumas pessoas na academia preferirem que não dessemos atenção a essa história. Jorjani, dizem eles, é uma curiosidade mórbida que não merece uma critica séria. Isso reflete aqueles especialistas de centro-esquerda que advertem contra a “normalização de Trump”, levando a sério sua retórica inflamatória e suas propostas estranhas.

Tão confortante quanto é possível que essa postura seja, não reconhece o lugar das ideias de Trump e Jorjani tem na cultura contemporânea. Pedidos para ignorar essas figuras são baseadas na premissa falha de que eles são birutas solitários, bips estranhos no radar sem conexão real com tendencias mais amplas na politica ou na filosofia. Ah se isso fosse verdade…

Ainda que a alt-right permaneça na periferia ideológica nos Estados unidos, ela chegou próxima ao poder real e está tentando se posicionar no tribunal como filosofa. Figuras como Richard Spencer se veem como intelectuais orgânicos do movimento pró-Trump, guiando os seguidores do presidente, que caracterizam como um “corpo sem cabeça” desorientado.

Esses aspirantes a Rasputin tem uma infinidade de antecessores modernos a que eles seguem, incluindo intelectuais como Carl Schmitt e Ernst Jünger no Terceiro Reich, Filippo Tommaso Marinetti na Itália fascista e o anti-dreyfusard Charles Maurras na França. Ideias, mesmo incoerentes, muitas vezes acumulam muitos seguidores políticos.

Em segundo lugar, o trabalho de Jorjani participa de uma tradição filosófica que combina antissemitismo com crenças ocultistas. Alonga associação histórica entre irracionalismo e anti judaísmo sugere que eles emanam uma cosmovisão comum. Afinal, os escritos místicos e neopagãos de Dietrich Eckart inspiraram grande parte do Terceiro Reich, e Houston Stewart Chamberlain, amigo e mentor de Hitler, proclamou que “todo mistico é, quer queira quer não, um antissemita de nascença”.

“Os Protocolos dos Sábios de Sião”, talvez seja o primeiro caso de teoria da conspiração popular, são repletos de imagens de manifestação demoníacas associadas á “traição judaica”. E já no seculo XVIII, os ideólogos anti-iluministas procuravam depreciar a própria razão como “judaica” e a emancipação politica como uma trama judaica subversiva. Figuras comoJoseph de Maistre elogiaram a inquisição espanhola por erradicar o “câncer” político e espiritual dos judeus , e o conservador Edmund Burke comparou a revolução francesa a uma cabala de banqueiros judeus.

Criticar o pensamento iluminista tornou-se moda em todo o espectro politico. Nas ultimas décadas, cada vez mais acadêmicos colocaram a racionalidade em questão, especialmente a cosmovisão racionalista que surgiu nos seculo XVII e XVIII.

Isto é especialmente verdadeiro entre os pensadores da esquerda, pós-modernos e pós estruturalistas. Embora parece surpreendente que alguém como Jorjani saísse de um departamento conscientemente progressista, a suspeita ao racionalismo iluminista tornou-se endêmica nos programas de filosofia de centro-esquerda, como o de Stony Brook.

Isso coincide com uma das táticas primárias da Alt-Right: adotar a retórica de esquerda como cobertura de suas agendas racistas, nativistas e muitas vezes misóginas.

Sua apropriação da politica identitária para sua própria marca chauvinista de politica de identidade branca atesta o sucesso dessa estratégia. Se a esquerda quer resistir ao crescente poder da Alt-right, precisa retornar às raízes da racionalidade iluminista, que insiste na igualdade de todas as pessoas e fornece uma base teórica forte para a transformação social e a emancipação universal.

Anti-semitismo e anti-iluminismo

A alt-right descende diretamente do anti-iluminismo. Quando a declaração dos direitos do homem e do cidadão(1789) , fundamentada nos princípios da razão universal e da igualdade, emancipou os judeus, os Estados tradicionalistas, da França à Prússia, viram uma revolução violenta na cosmovisão hierárquica que tinha por muito tempo ordenado a consciência politica europeia.

Desde o seu inicio, o anti-iluminismo pertenceu á direita. Frequentemente á direita romântica, etnocêntrica e antissemita.

No seu ponto mais consistente, o racionalismo do iluminismo substituiu o pluralismo pelo monismo. Ele acabou com a concepção medieval de um cosmo estratificado e encantado, onde cada parte da natureza(planetas, seres vivos, objetos inanimados) obedecia a suas próprias leis locais. A visão probabilística do mundo, que abria espaço para todo tipo de milagres e intervenções divinas, começou a desaparecer. Uma concepção propriamente universal da natureza, sujeita a uma lei natural inteligível e determinante, descolocou o mistério e a espiritualidade que definiram o período medieval.

Esta nova cosmovisão suscitou uma visão atualizada da humanidade também. A pluralidade qualitativa dos povos deu lugar a uma crença na natureza humana inteligível, comum a todos e comumente governada por nossa faculdade natural da razão. Os princípios do iluminismo rivalizam assim com a subjugação das comunidades minoritárias baseada em alguma diferença supostamente inata da maioria.

Baruch Espinoza membro da comunidade judaica sefardita que fugiu da inquisição portuguesa para Amsterdã, tornou-se o principal expoente desta visão do “iluminismo Radical”, sua comunidade de ex-marranos secretamente manteve sua identidade judaica depois de ser forçada a se converter ao catolicismo.

O universalismo de Espinoza implicava que os governos exercitassem a tolerância em relação às comunidades minoritárias e lhes concedessem a emancipação politica como cidadãos sem exigir que abandonassem suas identidades religiosas e culturais particulares. Também considerava que os membros dessas comunidades deveriam poder assimilar livremente, se assim desejassem, a cultura europeia mais ampla(como ele mesmo fez após sua excomunhão). Enquanto isso, seu racionalismo capacitou as minorias a tornarem-se criticas da cultura dominante que agora estava aberta a elas.

A alt-right, em particular Kevin MacDonald, aproveitou essa dinâmica como prova do “destrutivo intelecto judaico”. O judeu se esconde atrás de uma máscara cosmopolita enquanto tenta subverter e destruir a cultura cristão ocidental. Esta crença também vem diretamente do anti-iluminismo.

No final do seculo XVIII, pensadores como Jacobi e Hamann encontraram algo suspeitamente judeu sobre o racionalismo europeu. De fato, durante décadas nesse período, ser chamado de espinozista carregou o mesmo peso de ser chamado de comunista durante a “Ameaça Vermelha” dos anos 1950.

Entre a direita do entreguerras do seculo XX, encontramos Martin Heidegger ligando a modernidade ao judaísmo em seus cadernos negros. O jurista nazista Carl Schmitt concordou, argumentando que o intelecto judeu de Espinoza explorava a magnanimidade das liberdades europeias para destruir os fundamentos cristãos da civilização ocidental. O próprio Hitler afirma no Mein Kampf que a crença de que podemos conhecer e controlar a natureza é essencialmente uma ideia judaica.

De Hamann a Wagner e a Heidegger, persiste a ideia de que o povo judeu racionalista é o “assassino do senso comum”.

Oposta à razão abstrata, a epistemologia da direita respeita, em vez disso, uma abordagem subjetiva e fenomenológica – a sabedoria terrena do povo comum. Heidegger chama da homogeneidade matemática do espaço cartesiano de “esquecimento do ser” por que ignora nossas experiencias mundanas. Hitler, em uma aplicação politica dessa mesma ideia, caracteriza a consciência judaica como obcecada com “a massa de números e seu peso morto”.

Parceiros estranhos

Feminismo, antirracismo, socialismo e anticolonialismo figuram entre os frutos mais radicais do pensamento iluminista, mas estes ideais não poderiam garantir a emancipação humana por conta própria. Na metade do seculo XX , uma esquerda impaciente e desmoralizada jogava mais uma vez o bebê do iluminismo fora junto com a água burguesa do banho.

Pensadores culpavam o universalismo, o determinismo e o que parecia ser uma visão de mundo insuportável demais após a matança em massa provocada por duas guerras mundiais, as atrocidades do holocausto, o horror da bomba atômica e a miséria do capitalismo industrial.

Assim começou o que Georg Lukàcs chamou de casamento de “ética da esquerda com epistemologia da direita”, um projeto tentou derivar politicas progressistas e noções como liberdade, igualdade e solidariedade de uma visão mais tradicional da existência semelhante ao anti-iluminismo. Entender as tendencias da esquerda acadêmica de hoje requer o reconhecimento dessa mudança crucial.

Grande parte desse pensamento contemporaneo restabelece uma visão encantada do mundo que é inerentemente pluralista. Com base em figuras como Nietzsche e Heidegger, os pensadores da esquerda aprenderam a desconfiar da racionalidade que antes lhes pertencia;

Essa rejeição ao iluminismo nem sempre foi consistente ou total. Alguns (Adorno, Horkheimer ) mantiveram uma tensão entre as ideias de emancipação do iluminismo, por um lado, e a critica nietzschiana da razão, por outro. Outros (Lyotard , Derrida, Foucault ) resolveram a tensão de forma mais direta, movendo-se sem reservas em direção a Nietzsche.

Fora do pensamento continental, os pragmáticos do seculo XIX como William James, o modelo de liberal americano colocaram “a vontade de acreditar” acima da realidade objetiva. Isso , por sua vez, deu-lhe licença para entrar no modismo das então populares sessões espiritas.

Talvez o exemplo mais marcante desse casamento da ética de esquerda e da epistemologia de direita apareça em certas correntes do pensamento pós-colonial. Estes, como documentado por Vivek Chibber, criticam a própria razão como não verdadeiramente universal a toda a humanidade, mas sim como cúmplice em um projeto eurocêntrico de dominação.

O tolo e o louco

A alt-right sempre flanqueará a esquerda pós-moderna porque, nas palavras de Mike Pence os primeiros estão “voltando pra casa” enquanto os segundos estão tentando acampar em território estrangeiro. O livro de Jorjani resume esse fato. Repetidamente , ele usa pensadores esquerdistas e progressistas para demarcar seus próprios argumentos reacionários. Ele pode fazê-lo precisamente porque esses pensadores absorveram o pensamento anti-iluminista.

O caso de Jorjani merece nossa atenção porque ele não é o único, mas é tipico. Seus trabalho é a consequência previsível, quase mecânica, de um antigo recuo intelectual do legado do iluminismo.

O que lhe falta em originalidade, ele compensa com consistência. A máxima de John Locke sobre o tolo e o louco é útil aqui: o tolo não pode tirar conclusões de premissas, mesmo quando estas são verdadeiras, enquanto o louco extrai suas conclusões de premissas falsas.

Jorjani pode não ser tolo, mas não podemos garantir sua sanidade. Ele ridiculariza os pensadores pós-modernos como Derrida e Foucalt não por suas premissas defeituosas – isto é, não por sua critica ao iluminismo -, mas sim por não permitir que suas deduções os levem a conclusões perturbadoras, Jorjani não hesita, assim, em celebrar suas conclusões que abertamente entram em conflito com a democracia e o igualitarismo.

Jorjani frequentemente se baseia em Heidegger e William James. A confiança em Heidegger não é particularmente surpreendente, pois este tinha compromissos explícitos com o Nazismo e nunca conseguiu se distanciar completamente dele. Mas William James pode ser chocante, na medida q seu pragmatismo é considerado amplamente como o modelo da filosofia liberal americana.

De James, Jorjani toma emprestado a ideia de empirismo radical, que rejeita qualquer padrão racional como evidencia aceitando apenas a própria experiencia. James define a experiencia de forma extremamente ampla, incluindo não apenas a percepção simples dos sentidos, mas também os produtos complexos da cultura e da espiritualidade. Este ultimo item inclui especificamente fenômenos parapsicológicos como percepção extrassensorial e psicocinese.

Contra a racionalidade do iluminismo, o empirismo radical de James valida essas habilidade sobrenaturais, assim como uma infinidade de experiencias religiosas. Quando se trata da religião revelada, ele humildemente sustentava que os autores da bíblia estavam lidando primeiramente com suas próprias “experiencias internas”.

Fiel à forma, Jorjani insiste em ir mais longe. Ele usa o empirismo de James para identificar experiencias reveladoras e milagrosas como reais e históricas, e não como simbólicas e alegóricas. Como resultado, sua leitura do Êxodo, Josué e Ezequiel trata o Deus Hebreu não como uma visão nebulosa de algum ser transcendente, mas como uma criatura finita. Javé não aparece na maneira de um Deus infinito, mas simplesmente como “desconhecido” no sentido de um OVNI que paira diretamente dentro de nossa linha de visão. O hiperliteralismo de Jorjani transforma o Deus judaico em uma inteligencia extraterrestre que se comunica telepaticamente com Abraão, Moiśes, Josué e Ezequiel.

Jorjani acredita que a destruição de Sodoma e Gomorra foi uma taque aéreo e que o subsequente abandono de Lot da área indica precipitação nuclear, ele pensa que “algum tipo de feixe antigravitacional vindo do objeto cilíndrico pairando sobre o Mar Vermelho” destruiu as carruagens egípcias durante o Êxodo.

A Arca da Aliança “aparentemente age como um sistema guia ou de orientação” bem como “arma sonora”, pois “interage com as vibrações do som, possivelmente amplificando e concentrando as ondas sonoras antes de dirigi-las nas paredes de jericó” . Descrições de OVNIs em Ezequiel se alinham confortávelmente com a pior programação do History Channel.

De Heidegger, Jorjani pega a ideia de que a cultura histórica da pessoa importa mais do que a realidade objetiva. Ao contrario da crença do iluminismo de que o tempo e o espaço são uniformes e mensuráveis de alguma maneira objetiva, Heidegger afirma que cada grupo de pessoas subjetivamente deseja e molda seu próprio mundo e destino. Nenhum universo comum pertence a todos; há apenas um pluriverso de visões de mundos e forças conflitantes. Como Jorjani parafraseia Heidegger, cada comunidade histórica luta “para tornar-se mais essencialmente o que é, ou para perecer em escravidão a outro povo e seu mundo”.

Jorjani aceita essa “guerra de mundos” Heideggeriana e também abraça a crença do filosofo que o nazismo possuía uma grandeza interior. Mesmo aqui, Jorjani encontra uma maneira de empurrar ainda mais Heidegger, argumentando que o nazismo representa o confronto do homem moderno com a essencial “espectral” da tecnologia.

No relato de Jorjani, a teconologia não é simpelsmente mecânica ou instrumental, mas sim sobrenatural e formadora do mundo. Ele reformula a essencia do nazismo como uma revolução esotérica espectral que começou com a Sociedade Oculta Thule (Atlântida) e terminou com o Instituto Ahnenerbe (pesquisa ancestral) de Himmler , organizações obcecadas por cidades perdidas, percepção extrassensorial e clarividência que consideravam Hitler um super-homem real com competências ocultistas.

Partindo dessas premissas, Jorjani conclui que um sociedade liberal, baseada na privacidade e na igualdade é impossível. O empirismo radical de James lhe permite afirmar a existência de uma “elite psíquica” que exigiria o tipo de sociedade “orgânico-corporativa” que Hitler defendeu, e Jorjani citou isso em tom de aprovação em seu discurso em Estocolmo.

Ele sintetiza esse insight com o pluralismo mundial de Heidegger para sugerir que este estado não deve ser apenas internamente homogêneo, mas também conquistador do mundo externamente. Isso ecoa a declaração final de Hitler no Mein Kampf de que a pureza da raça ariana implica em seu potencial para dominar o mundo.

Jorjani subordina consistentemente a teoria à pratica, a ciência à técnica e a evidencia à vontade. Como tal, suas visões bizarras sobre percepção extrassensorial e estrangeiros realmente se alinham e apoiam seu racismo.Jorjani pode acreditar em percepção extrassensorial em provas, por que acredita que a presença de mentes céticas suprime sua manifestação. Da mesma forma , que Tom Davies apontou de todas as formas possíveis que Jorjani entende todos seus estudos sobre os povos indo-europeus de forma errada, minando totalmente suas opiniões sobre a supremacia ariana, Jorjani não se importa. Afinal, não é ceticismo ou evidencia objetiva, mas a “o poder da crença” que pode conquistar o mundo.

A outra tradição continental

Quase todos parecem estar perdendo o ponto chave desta história. Para a alt-right, o escândalo real de sua cosmovisão é muitas vezes ocultado por um escândalo falso criado por eles mesmos: sua perseguição imaginária pelas elites de centro-esquerda ou marxistas.

Aqui novamente, o caso de Jason Jorjani é completamente tipico, A história do Inside Higher Ed, que colou as faculdades de filosofia em primeiro plano, discutiu se era ou não era justo revogar o doutorado de Jorjani à luz de suas atividades politica recentes. Naturalmente , apenas o próprio Jorjani sugeriu que essa ação estava acontecendo.

Da mesma forma, o Leiter Reports perde o ponto chave ao criticar ferozmente os departamentos de filosofia continental, como o de Stony Brook, como se as únicas filosofias continentais fossem heideggerianas ou irracionalistas. Outros comentadores erroneamente atribuíram a culpa a um cânone filosófico injustamente restrito aos autores ocidentais.

Na verdade, Jorjani elimina grande parte do cânone ocidental e se inspira, ainda que excentricamente, no pensamento oriental, do budismo zen japonês e do Taoismo ao anime contemporâneo. A ideia de “Europa” de Jorjani é, de fato, descentrada: ele traça suas raízes culturais de volta ao império persa, que insiste enfaticamente que era uma civilização branca antes da miscigenação forçada com invasores árabes muçulmanos e mongóis. Para Jorjani, o destino da Pérsia “ariana” constituiu o que ele, assim como grande parte da alt-right, se refere como um “genocídio branco”.

Seu livro, ‘Prometheus e Atlas”, enfaticamente refuta a alegação que a intolerância pode ser sanada por um maior ecletismo, pluralismo e interdisciplinaridade, todos que se tornaram palavras de ordem acadêmicas. Seu trabalho é extremamente interdisciplinar, incorporando historiografia, hermenêutica bíblica, tecnociência, parapsicologia, estudos culturais, mitologia e desconstrução. Tudo isto sugere que o pluralismo do método e da cosmovisão não produz necessariamente um pensamento progressista.

Podemos evitar a loucura de Jorjani, mas devemos começar a usar as premissas corretas. A utilidade de Jorjani resiste justo em como, ao atacar seus inimigos filosóficos, ele identifica a linhagem da filosofia continental mais adequada para estabelecer uma politica humana e antirracista.

De Descartes, Espinoza e os materialistas franceses às revoluções francesa e haitiana até Hegel e Marx, temos uma tensão de pensamento que procede de um mundo inteligível para a plena emancipação da humanidade. Devemos retornar a este cânone, se quisermos resistir eficazmente à ascensão de uma direita irracional.

Sobre os autores

Harrison Fluss é editor correspondente da Historical Materialism e professor de filosofia na St. John's University e no Manhattan College.

Landon Frim é professor assistente de filosofia no St. Joseph's College-New York.

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