André Singer
Folha de S.Paulo
Silvia Izquierdo/AP |
Passadas as intensas emoções eleitorais, o governo eleito em 28 de outubro começa a desenhar o seu verdadeiro rumo.
Para além do programa escrito, que sempre tem algo de flutuante, esta semana permitiu enxergar algo do que efetivamente espera o país a partir de janeiro. Ao autoritarismo propagado na campanha, soma-se agora uma visão simplista dos problemas nacionais, à qual falta o conhecimento acumulado nos centros de estudos universitários.
Responsável por uma área-chave da era bolsonariana, a segurança pública, Sergio Moro defendeu um "plano forte, mas simples". Com todo o respeito pelo excelentíssimo futuro ministro da Justiça, sua postura faz lembrar a conhecida frase de Mencken: "Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e errada".
As oposições devem reconhecer que os temas relativos à criminalidade alcançaram uma dimensão central no Brasil. Bolsonaro soube fazer do assunto uma potente alavanca política. Não obstante, a tentativa de resolvê-lo por meio só do endurecimento geral da repressão levará ao seu agravamento.
Se de fato, Moro pretende atuar de modo a conter os exageros do capitão reformado, como se deduz da bizarra afirmação segundo a qual o presidente eleito seria figura "moderada", faria melhor se buscasse atalhar o perigo de um aumento generalizado da violência a partir de 2019. A flexibilização de controles sobre o uso estatal da força, assim como a esperada resposta por parte do crime organizado, faz prever um quadro de guerra no próximo período, agravando o já alto índice de homicídios em Pindorama.
Na área crucial da economia, o responsável, Paulo Guedes, apostou na aceleração da reforma da Previdência. Os bolsonaristas defendem a ideia intuitivamente compreensível de que cada um deve ter a aposentadoria que for capaz de amealhar. Trata-se do chamado regime de "capitalização".
Mas conforme mostrou o colega colunista Nelson Barbosa, a tendência desse sistema é criar "uma legião de idosos pobres, recebendo menos que um salário mínimo". Registra, ainda, que o Chile de Pinochet foi um dos poucos casos nacionais "em que a capitalização substituiu a Previdência Social". Os resultados foram desastrosos, conclui.
A extrema direita acredita sinceramente que atitudes descomplicadas e duras resolvem conflitos profundos. O problema é que ao descobrir, na prática, as consequências deletérias de tais gestos, em geral opta por dobrar a aposta na violência repressiva. Caminho aberto para a barbárie.
Professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”.
Se de fato, Moro pretende atuar de modo a conter os exageros do capitão reformado, como se deduz da bizarra afirmação segundo a qual o presidente eleito seria figura "moderada", faria melhor se buscasse atalhar o perigo de um aumento generalizado da violência a partir de 2019. A flexibilização de controles sobre o uso estatal da força, assim como a esperada resposta por parte do crime organizado, faz prever um quadro de guerra no próximo período, agravando o já alto índice de homicídios em Pindorama.
Na área crucial da economia, o responsável, Paulo Guedes, apostou na aceleração da reforma da Previdência. Os bolsonaristas defendem a ideia intuitivamente compreensível de que cada um deve ter a aposentadoria que for capaz de amealhar. Trata-se do chamado regime de "capitalização".
Mas conforme mostrou o colega colunista Nelson Barbosa, a tendência desse sistema é criar "uma legião de idosos pobres, recebendo menos que um salário mínimo". Registra, ainda, que o Chile de Pinochet foi um dos poucos casos nacionais "em que a capitalização substituiu a Previdência Social". Os resultados foram desastrosos, conclui.
A extrema direita acredita sinceramente que atitudes descomplicadas e duras resolvem conflitos profundos. O problema é que ao descobrir, na prática, as consequências deletérias de tais gestos, em geral opta por dobrar a aposta na violência repressiva. Caminho aberto para a barbárie.
Sobre o autor
Professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”.
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