25 de junho de 2022

Centrão joga pela reeleição de Bolsonaro, mas vê crise como chance de ampliar poder

Lira e Nogueira bancam aposta no presidente enquanto trabalham pelo próprio capital político

Bruno Boghossian


Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), conversa com ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), atrás do presidente Jair Bolsonaro (PL), em setembro de 2021 - Adriano Machado/Reuters

Na reunião convocada para discutir respostas ao aumento dos combustíveis, na segunda-feira (20), um aliado alertou o presidente da Câmara de que ele estava assumindo uma responsabilidade que não era sua.

O desgaste com a alta de preços, afinal, estava concentrado na figura de Jair Bolsonaro (PL), o que deveria obrigar o governo a liderar a busca de soluções para o problema. Arthur Lira (PP-AL) até concordou com aquelas premissas, mas avisou que não ficaria parado.

A associação com Bolsonaro rendeu um protagonismo inédito a Lira e seus aliados. O presidente da Câmara e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), controlam uma fatia mais do que generosa do Orçamento, negociam as propostas que rodam no Congresso e definem parte das políticas operadas pelo Palácio do Planalto. Em resumo: fazem praticamente o próprio governo.

Em tempos de crise, essa posição privilegiada dos chefes do centrão oferece uma oportunidade e impõe uma necessidade: a oportunidade de ampliar ainda mais essa influência e a necessidade de manter o presidente vivo. A encrenca em torno dos combustíveis apresentou ao grupo esses dois caminhos.

Lira e Nogueira aproveitaram o vácuo da articulação política do Planalto para liderar uma operação que permitisse a expansão de seus poderes. A dupla disparou ataques coordenados contra a Petrobras, telefonou para o então presidente da companhia sem dar muita satisfação a Bolsonaro e passou a elaborar uma agenda que atendesse aos interesses do grupo.

O centrão patrocinou o plano de reformular a Lei das Estatais como suposta solução para uma independência excessiva da empresa. Sob o pretexto de facilitar a demissão de diretores insubordinados, porém, estava a ideia de abrir caminho para a volta de nomeações políticas na petroleira –um expediente que abasteceu o PP e seus aliados durante governos petistas.

Um dos principais adversários de Lira e Nogueira dentro do governo se opôs a essa ideia. Paulo Guedes (Economia) espalhou a versão de que a ampliação do Auxílio Gás e o pagamento de um vale-combustível para caminhoneiros seria uma alternativa à reforma da Lei das Estatais. Lira mostrou quem dá as cartas ao dizer que o plano de mexer nas normas das empresas públicas continua de pé.

Os prognósticos cada vez mais nítidos de derrota de Bolsonaro explicam outra parte das atitudes de Lira e Nogueira. Seguindo as regras frias do jogo político, o centrão não se importaria tanto com a sorte eleitoral do presidente caso seu próprio destino não estivesse relacionado ao desempenho do capitão.

O centrão não só vendeu uma estabilidade política para o mandato de Bolsonaro, mas também investiu pesado na reeleição. A nomeação de Nogueira para a chefia da Casa Civil, há quase um ano, se deu com a condição de que ele trabalhasse para recauchutar a máquina governista, com o objetivo de ampliar as chances do presidente.

A aposta foi alta. Há poucos meses, Nogueira falava nas chances de uma vitória de Bolsonaro ainda no primeiro turno. Lira, que trabalha de maneira mais discreta como cabo eleitoral, afirmou que o presidente deveria ultrapassar Lula (PT) nas pesquisas "no final de maio ou junho". O prazo está terminando e não há sinal de que isso vá ocorrer.

O interesse desses atores numa recuperação vertiginosa de Bolsonaro parte de um cálculo simples. Num segundo mandato, a aliança seria renovada, com a expectativa de uma influência ainda maior desses políticos.

A vitória de qualquer outro candidato deixaria o centrão um pouco mais afastado do núcleo do poder ou, no mínimo, obrigaria os partidos a negociarem novos arranjos, numa posição pouco favorável. Aliados de Lula, por sinal, deixam claro que o petista jamais cederia um espaço tão nobre como a Casa Civil a um político do bloco.

A matemática também leva em conta a estatura do próprio centrão a partir do resultado das urnas. Embora as eleições para a Câmara e o Senado apresentem uma dinâmica ancorada em fatores locais, o derretimento de Bolsonaro pode ter efeitos colaterais sobre as bancadas do grupo.

Se o eleitor for às urnas em busca de punição aos responsáveis pela inflação e pelo mal-estar generalizado na economia, a coalizão de centro-direita que hoje sustenta o presidente certamente sentirá um impacto.

O efeito imediato dessa derrota se daria naquela que é a principal fonte de poder do centrão: a presidência da Câmara. Arthur Lira acumulou força no plenário graças às gordas emendas direcionadas às bases políticas dos deputados, mas perderá a condição de candidato natural ao comando da Casa se Bolsonaro estiver fora do Palácio do Planalto em 2023.

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