Adam Tooze e o "dilema energético".
Cédric Durand
Tradução / Em minha recente intervenção no blog Sidecar, desenvolvi o argumento de que as perturbações econômicas desencadeadas pela alta dos preços de energia - especialmente no mercado de gás - podem estar conectadas às políticas climáticas dos governos. Adam Tooze, respondendo em seu Chartbook # 51, desafia essa tese que chamei de "dilema energético". O que Tooze rejeita sem ambiguidade é o mote de que as empresas de combustíveis fósseis ocidentais avaliaram a perspectiva de mudanças nas políticas relacionadas ao clima em seu comportamento de investimento e que isso contribuiu para as tensões no lado da oferta que vieram à tona neste outono. Embora eu concorde que evidências mais fortes são necessárias para chegar a uma conclusão definitiva, ainda assim tenho várias reservas sobre o ensaio de Tooze.
No contexto da crise atual, o termo "dilema energético" foi cunhado por Lara Dong, analista da consultoria IHS Markit, que explicou como as autoridades chinesas têm lutado para equilibrar as preocupações ambientais com o carvão com a necessidade de segurança energética. No entanto, esta não é uma ideia nova. Trata-se de uma tese que pode ser rastreada desde a década de 1970, quando os especialistas se tornaram cada vez mais conscientes da tensão entre alcançar o fornecimento de energia confiável e acessível e limitar o impacto prejudicial do crescente consumo de combustível fóssil. Em 2010, o geógrafo Michael J. Bradshaw produziu uma formulação sistemática do dilema apresentando-o em "Global Energy Dilemmas: A Geographical Perspective". Nesse escrito, perguntou: "é possível ter a energia necessária para o desenvolvimento econômico e, ao mesmo tempo, gerenciar a transição para um sistema de energia de baixo carbono necessário para evitar mudanças climáticas catastróficas?"
Tooze, em sua peça, apresenta a tese do "dilema da energia" da seguinte forma:
No contexto da crise atual, o termo "dilema energético" foi cunhado por Lara Dong, analista da consultoria IHS Markit, que explicou como as autoridades chinesas têm lutado para equilibrar as preocupações ambientais com o carvão com a necessidade de segurança energética. No entanto, esta não é uma ideia nova. Trata-se de uma tese que pode ser rastreada desde a década de 1970, quando os especialistas se tornaram cada vez mais conscientes da tensão entre alcançar o fornecimento de energia confiável e acessível e limitar o impacto prejudicial do crescente consumo de combustível fóssil. Em 2010, o geógrafo Michael J. Bradshaw produziu uma formulação sistemática do dilema apresentando-o em "Global Energy Dilemmas: A Geographical Perspective". Nesse escrito, perguntou: "é possível ter a energia necessária para o desenvolvimento econômico e, ao mesmo tempo, gerenciar a transição para um sistema de energia de baixo carbono necessário para evitar mudanças climáticas catastróficas?"
Tooze, em sua peça, apresenta a tese do "dilema da energia" da seguinte forma:
o boato que continua circulando é que o déficit de oferta está diretamente ligado à política climática. Muita conversa sobre a "zeragem líquida" desencorajou os investidores de combustíveis fósseis, resultando em menor investimento, oferta restrita e vulnerabilidade a choques de demanda.
Seu objetivo digno de crédito é evitar que essa narrativa seja usada para adiar a transição verde. No entanto, é importante notar desde o início que a definição que ele apresenta é estreita, limitada às restrições de oferta que surgem do declínio do investimento privado em combustíveis fósseis precipitado por políticas climáticas e discursos relacionados. Para Tooze, existe um dilema energético apenas quando as políticas climáticas exercem um "efeito indireto" sobre o investimento privado que resulta em oferta limitada e se traduz em fragilidades sistêmicas.
Em contraste, na perspectiva de Bradshaw, o "dilema de energia" pode ser usado para se referir mais amplamente à tendência de crise do capitalismo impulsionado pela formulação de políticas climáticas. Ou seja, um dilema ocorre sempre que as políticas climáticas impedem o crescimento econômico. Isso inclui os efeitos diretos da regulamentação pública sobre as operações dos atores econômicos (em particular, o impacto da legislação climática na produção, atividades de financiamento e padrões de consumo), bem como os efeitos indiretos das mudanças de política - ou antecipadas - sobre o investimento privado.
Esses elementos estão intimamente ligados. Uma vez que os efeitos diretos e indiretos colocam restrições no lado da oferta em termos de custos crescentes ou oportunidades de investimento reduzidas, seus resultados são semelhantes: um efeito em cascata sobre os volumes, preços e lucratividade que impacta os padrões de crescimento, seja diretamente ou por meio do sistema financeiro.
Com essa interpretação mais ampla do dilema energético - em que fatores diretos e indiretos contribuem para uma dinâmica de crise desencadeada pela formulação de políticas climáticas - muitas das evidências citadas por Tooze não contradizem minha tese, mas sim a confirmam.
Veja o caso da crise energética da China. Tooze escreve que "não há dúvida de que as decisões deliberadas de Pequim para regular a geração de eletricidade a carvão tiveram um papel fundamental." Embora outros detalhes também devam ser considerados, no contexto da demanda em expansão, um dilema de causalidade direto da energia é discernível: metas obrigatórias para consumo de energia e uso de carvão = escassez de energia = interrupções na fabricação e apagões.
Ora, este processo "se desenrola de modo transnacional e por meio do transbordamento das restrições de fornecimento chinesas, tanto de fontes de carvão quanto de fontes de baixo carbono, para os mercados globais de gás natural liquefeito" (GNL) - uma observação que parece dar ao quadro do dilema de energia uma dimensão global, mostrando como passos provisórios na direção da transição do carbono na China alimenta as tensões nos mercados internacionais que repercutem no aumento do custo do gás, especialmente na Europa.
Tooze corretamente aponta que as tentativas das autoridades da União Europeia de limitar sua dependência do gás russo saiu pela culatra. A construção de capacidades superdimensionadas de armazenamento de GNL subsidiadas por dinheiro público na Europa tinha como objetivo estabelecer uma alternativa confiável ao fornecimento russo, a fim de extrair preços mais baratos da Gazprom. Mas essa integração nos mercados globais de GNL acabou aumentando a vulnerabilidade da região aos aumentos do preço do gás.
A dificuldade interna da transição energética é, portanto, agravada pela exposição direta às repercussões da metamorfose energética da China. Além disso, Tooze escreve que, em 2021, "o fator verde finalmente entra na história europeia", uma vez que "um aumento no preço das licenças de emissão no sistema ETS da União Europeia", além do aumento dos preços do carvão, impediu os operadores europeus de voltar a gerar eletricidade do carvão. Aqui, a política climática restringe diretamente as possibilidades de mobilizar opções mais baratas que neutralizariam a pressão de custos - outra iteração do dilema de energia que Tooze supostamente rejeita.
No entanto, embora muitos dos exemplos de Tooze se encaixem na estrutura do dilema energético concebida de forma mais ampla, o impulso geral de seu argumento é distinto. Ele afirma que a queda dramática nos investimentos em combustíveis fósseis desde 2015 não é consequência de políticas e campanhas climáticas, mas da queda dos preços da energia, eles próprios relacionados com a revolução americana do gás de xisto no início dos anos 2010.
Vale a pena interrogar mais um pouco esse ponto. Concentrando-nos no enigma carvão-gás renovável nos países ocidentais, devemos entender até que ponto o atual desalinhamento entre a oferta e a demanda se deve à diminuição do investimento em carvão, aumento insuficiente de fontes renováveis e/ou investimento insuficiente em gás para superar o lacuna - e como as políticas climáticas influenciaram essas questões interligadas.
Sobre essa questão muito complexa, Tooze faz duas afirmações. A primeira é que o desinvestimento do carvão foi motivado principalmente pela perda de competitividade em relação a fontes alternativas de geração de energia, especialmente gás. Esse foi claramente um fator decisivo no curto prazo, mas seria imprudente descartar a importância das avaliações financeiras de longo prazo informadas pelas promessas climáticas do governo e pela pressão da sociedade civil sobre os investidores.
Por exemplo, Magnus Hall, CEO da Vattenfal, explicou que sua empresa decidiu em 2016 se desfazer da geração de energia a carvão na Alemanha por razões econômicas de curto prazo e perspectivas de longo prazo relacionadas à política climática. Eis o que disse:
Em contraste, na perspectiva de Bradshaw, o "dilema de energia" pode ser usado para se referir mais amplamente à tendência de crise do capitalismo impulsionado pela formulação de políticas climáticas. Ou seja, um dilema ocorre sempre que as políticas climáticas impedem o crescimento econômico. Isso inclui os efeitos diretos da regulamentação pública sobre as operações dos atores econômicos (em particular, o impacto da legislação climática na produção, atividades de financiamento e padrões de consumo), bem como os efeitos indiretos das mudanças de política - ou antecipadas - sobre o investimento privado.
Esses elementos estão intimamente ligados. Uma vez que os efeitos diretos e indiretos colocam restrições no lado da oferta em termos de custos crescentes ou oportunidades de investimento reduzidas, seus resultados são semelhantes: um efeito em cascata sobre os volumes, preços e lucratividade que impacta os padrões de crescimento, seja diretamente ou por meio do sistema financeiro.
Com essa interpretação mais ampla do dilema energético - em que fatores diretos e indiretos contribuem para uma dinâmica de crise desencadeada pela formulação de políticas climáticas - muitas das evidências citadas por Tooze não contradizem minha tese, mas sim a confirmam.
Veja o caso da crise energética da China. Tooze escreve que "não há dúvida de que as decisões deliberadas de Pequim para regular a geração de eletricidade a carvão tiveram um papel fundamental." Embora outros detalhes também devam ser considerados, no contexto da demanda em expansão, um dilema de causalidade direto da energia é discernível: metas obrigatórias para consumo de energia e uso de carvão = escassez de energia = interrupções na fabricação e apagões.
Ora, este processo "se desenrola de modo transnacional e por meio do transbordamento das restrições de fornecimento chinesas, tanto de fontes de carvão quanto de fontes de baixo carbono, para os mercados globais de gás natural liquefeito" (GNL) - uma observação que parece dar ao quadro do dilema de energia uma dimensão global, mostrando como passos provisórios na direção da transição do carbono na China alimenta as tensões nos mercados internacionais que repercutem no aumento do custo do gás, especialmente na Europa.
Tooze corretamente aponta que as tentativas das autoridades da União Europeia de limitar sua dependência do gás russo saiu pela culatra. A construção de capacidades superdimensionadas de armazenamento de GNL subsidiadas por dinheiro público na Europa tinha como objetivo estabelecer uma alternativa confiável ao fornecimento russo, a fim de extrair preços mais baratos da Gazprom. Mas essa integração nos mercados globais de GNL acabou aumentando a vulnerabilidade da região aos aumentos do preço do gás.
A dificuldade interna da transição energética é, portanto, agravada pela exposição direta às repercussões da metamorfose energética da China. Além disso, Tooze escreve que, em 2021, "o fator verde finalmente entra na história europeia", uma vez que "um aumento no preço das licenças de emissão no sistema ETS da União Europeia", além do aumento dos preços do carvão, impediu os operadores europeus de voltar a gerar eletricidade do carvão. Aqui, a política climática restringe diretamente as possibilidades de mobilizar opções mais baratas que neutralizariam a pressão de custos - outra iteração do dilema de energia que Tooze supostamente rejeita.
No entanto, embora muitos dos exemplos de Tooze se encaixem na estrutura do dilema energético concebida de forma mais ampla, o impulso geral de seu argumento é distinto. Ele afirma que a queda dramática nos investimentos em combustíveis fósseis desde 2015 não é consequência de políticas e campanhas climáticas, mas da queda dos preços da energia, eles próprios relacionados com a revolução americana do gás de xisto no início dos anos 2010.
Vale a pena interrogar mais um pouco esse ponto. Concentrando-nos no enigma carvão-gás renovável nos países ocidentais, devemos entender até que ponto o atual desalinhamento entre a oferta e a demanda se deve à diminuição do investimento em carvão, aumento insuficiente de fontes renováveis e/ou investimento insuficiente em gás para superar o lacuna - e como as políticas climáticas influenciaram essas questões interligadas.
Sobre essa questão muito complexa, Tooze faz duas afirmações. A primeira é que o desinvestimento do carvão foi motivado principalmente pela perda de competitividade em relação a fontes alternativas de geração de energia, especialmente gás. Esse foi claramente um fator decisivo no curto prazo, mas seria imprudente descartar a importância das avaliações financeiras de longo prazo informadas pelas promessas climáticas do governo e pela pressão da sociedade civil sobre os investidores.
Por exemplo, Magnus Hall, CEO da Vattenfal, explicou que sua empresa decidiu em 2016 se desfazer da geração de energia a carvão na Alemanha por razões econômicas de curto prazo e perspectivas de longo prazo relacionadas à política climática. Eis o que disse:
A sociedade está aceitando cada vez menos a geração de energia a carvão. Assim, subsiste uma verdade econômica inegável: está se tornando cada vez mais difícil ganhar dinheiro com o carvão na Europa. De nossa parte, vendemos nossas minas e usinas de energia porque sabíamos que esses ativos se tornaram muito arriscados financeiramente.
A segunda alegação de Tooze diz respeito à posição ambígua dos suprimentos de gás. Embora o uso do gás tenha crescido como substituto do carvão - em parte porque é um complemento mais flexível para as energias renováveis - o investimento aumentou no desenvolvimento de infraestrutura de GNL para importação. No entanto, a produção também diminuiu na Europa e o investimento em gás de xisto dos EUA diminuiu. Tooze tenta explicar a razão para essa desaceleração:
Se há uma força que impede novos investimentos na indústria de xisto da América hoje, não é a política climática do governo, mas a insistência de Wall Street de que a indústria de xisto realmente paga dividendos, em vez de investir seus lucros em novas perfurações.
Existem boas razões para duvidar desse argumento. Na verdade, do ponto de vista do capital, não investir – ou desinvestir e distribuir lucros aos acionistas - é uma forma lógica de esvaziar um negócio sem futuro. Nesse sentido, o mantra da teoria da financeirização, "reduzir e distribuir", torna-se uma forma de fugir dos combustíveis fósseis e realocar capital para outros setores. Consistente com isso, observamos uma desvalorização relativa acentuada da capitalização de mercado das empresas de Petróleo e Gás em relação a outros setores no decorrer da última década (Figura 1), refletindo o afastamento dos investidores de ativos retidos em carbono e a antecipação de perspectivas de deterioração.
O Wall Street Journal também reconhece que "as preocupações com a demanda de longo prazo estão exacerbando o excesso de oferta de combustíveis fósseis, e as empresas dizem que se tornaram mais seletivas sobre onde investir", contribuindo para uma das piores baixas de todos os tempos em 2020. Todos isso pode ser lido como evidenciando uma clara - embora dramaticamente insuficiente e inoportuna – mudança do combustível fóssil que, em segmentos específicos do mercado e em meio à crescente demanda, contribuiu para a recente escassez de carvão, gás e geração de eletricidade.
O Wall Street Journal também reconhece que "as preocupações com a demanda de longo prazo estão exacerbando o excesso de oferta de combustíveis fósseis, e as empresas dizem que se tornaram mais seletivas sobre onde investir", contribuindo para uma das piores baixas de todos os tempos em 2020. Todos isso pode ser lido como evidenciando uma clara - embora dramaticamente insuficiente e inoportuna – mudança do combustível fóssil que, em segmentos específicos do mercado e em meio à crescente demanda, contribuiu para a recente escassez de carvão, gás e geração de eletricidade.
Figura 1. Índice All-World versus índice Dow Jones Global Oil & Gas: últimos 10 anos (dados de mercado do Financial Times) |
Tooze afirma que "o que 2021 expõe é que o impulso verde desde 2015 foi promulgado contra o pano de fundo de um regime de preços de energia baixos estabelecido pelo colapso dos preços em 2014." Por impulso verde, ele entende o fato de que a substituição de alguns suprimentos de carvão por gás relativamente mais limpo foi apoiada por uma evolução favorável de seus preços relativos.
O quadro geral é que este não é um caminho viável para a energia verde, devido às emissões de metano e subnotificação de vazamentos, o que sugere que o gás natural poderia ser mais destrutivo para o meio ambiente do que se pensava. No entanto, no que diz respeito ao debate do dilema energético, os dividendos de um ambiente de preços favorável a uma mudança do carvão simplesmente adicionam mais peso à ideia de que os custos do ajuste são reais. Embora tenham sido adiados por alguns anos, eles agora se manifestam abruptamente.
Nesse sentido, não seria razoável excluir o dilema da energia de nossa análise da conjuntura atual. Existem conexões diretas e precisas entre a turbulência do mercado de energia e as políticas climáticas na China e na Europa. O aumento temporário no suprimento de carvão na China para diminuir as tensões econômicas atesta pelo menos uma compensação de curto prazo entre emissões e crescimento econômico.
Pode ser difícil separar o papel dos preços baixos do declínio de longo prazo no investimento privado em combustíveis fósseis desde 2015; mas não devemos descartar a ideia de que este último foi em parte impulsionado por previsões sombrias para o setor baseadas em políticas climáticas antecipadas. Os altos pagamentos aos acionistas e o declínio da capitalização de mercado podem, de fato, ser interpretados como sintomas de tais previsões.
Tooze corretamente sugere que as empresas de energia são responsáveis pela miopia em relação à evolução dos padrões de demanda que resultou em investimento insuficiente em energia. O fato de o investimento global em energias renováveis e eficiência energética ter realmente diminuído desde 2015 é indicativo do engajamento fraco do setor com os esforços de descarbonação.
No entanto, embora essas empresas tenham responsabilidade coletiva, a questão também é sistêmica. Ele revela um problema de coordenação mais profundo que as empresas não podem resolver apenas por meio de mecanismos de mercado. A tese do dilema de energia é, neste sentido, consistente com os repetidos avisos da IEA sobre os desafios de coordenação relacionados à transição e sua exacerbação pela formulação de políticas lenta e inconsistente:
À medida que o mundo avança em direção às emissões líquidas zero, existe um risco sempre presente de descompasso entre a oferta e a demanda de energia, como resultado da falta de sinais de investimento adequados, progresso tecnológico insuficiente, políticas mal elaboradas ou gargalos decorrentes de falta de infraestrutura.
Atualmente, a escassez de carvão e gás coincide com o crescimento da demanda, mas se a produção renovável se expandir rapidamente, a eletrificação se acelerar e/ou o consumo de energia diminuir significativamente, um colapso dos preços dos combustíveis fósseis é possível.
Na primavera de 2020, o excesso de oferta de petróleo resultante do bloqueio pandêmico empurrou os preços dos EUA para território negativo. Reduções adicionais podem ocorrer quando os produtores de combustíveis fósseis competem para valorizar os últimos recursos vendáveis em um mundo que está indo além do carbono. No entanto, mesmo que tais quedas de preços ocorram em meio a uma transição energética, seu contexto mais amplo será o aumento dos custos impulsionados por esforços de investimento caro e o peso morto dos legados de ativos de carbono.
Tooze e eu concordamos com os limites do mecanismo de preços para orientar a transição verde e a necessidade de planejamento macroeconômico. Quando se trata da questão do dilema da energia, simpatizo com sua relutância em dar aos interesses dos fósseis qualquer argumento que pudesse ser usado para adiar mais reduções de gases do efeito estufa. No entanto, devemos também resistir à ilusão de que as tendências de crise relacionadas à política climática não estão em jogo.
Uma transição suave além do carbono não é mais uma opção. Não existe uma forma Pareto-eficiente de erradicar o uso de combustíveis fósseis em um período de tempo compatível com a prevenção de desordens climáticas. Um jogo de soma zero ou mesmo de soma negativa está em jogo, o que significa que algumas partes da população arcarão com o custo do ajuste mais do que outras.
Esse conflito distributivo iminente impõe restrições drásticas aos compromissos de classe. Nesta fase, não vejo o que deve impedir uma grande frente progressista de se mobilizar a favor de restrições às emissões evitáveis relacionadas com os padrões de consumo dos ultra ricos. Uma ecologia punitiva com viés de classe poderia se tornar um meio eficaz de impedir que os gastos ecologicamente perversos repercutissem nos mais pobres.
Também pode ser um trampolim para mobilizações sociais mais amplas. Crucialmente, a implicação primária da tendência à crise não é a impossibilidade da humanidade de lidar com os desafios da transição energética, mas as barreiras adicionais à agência coletiva erguidas pelo imperativo da valorização do capital. A subordinação da obtenção de lucros à rápida descarbonização é, em minha opinião, um preço que vale a pena pagar pela causa da justiça climática.
Na primavera de 2020, o excesso de oferta de petróleo resultante do bloqueio pandêmico empurrou os preços dos EUA para território negativo. Reduções adicionais podem ocorrer quando os produtores de combustíveis fósseis competem para valorizar os últimos recursos vendáveis em um mundo que está indo além do carbono. No entanto, mesmo que tais quedas de preços ocorram em meio a uma transição energética, seu contexto mais amplo será o aumento dos custos impulsionados por esforços de investimento caro e o peso morto dos legados de ativos de carbono.
Tooze e eu concordamos com os limites do mecanismo de preços para orientar a transição verde e a necessidade de planejamento macroeconômico. Quando se trata da questão do dilema da energia, simpatizo com sua relutância em dar aos interesses dos fósseis qualquer argumento que pudesse ser usado para adiar mais reduções de gases do efeito estufa. No entanto, devemos também resistir à ilusão de que as tendências de crise relacionadas à política climática não estão em jogo.
Uma transição suave além do carbono não é mais uma opção. Não existe uma forma Pareto-eficiente de erradicar o uso de combustíveis fósseis em um período de tempo compatível com a prevenção de desordens climáticas. Um jogo de soma zero ou mesmo de soma negativa está em jogo, o que significa que algumas partes da população arcarão com o custo do ajuste mais do que outras.
Esse conflito distributivo iminente impõe restrições drásticas aos compromissos de classe. Nesta fase, não vejo o que deve impedir uma grande frente progressista de se mobilizar a favor de restrições às emissões evitáveis relacionadas com os padrões de consumo dos ultra ricos. Uma ecologia punitiva com viés de classe poderia se tornar um meio eficaz de impedir que os gastos ecologicamente perversos repercutissem nos mais pobres.
Também pode ser um trampolim para mobilizações sociais mais amplas. Crucialmente, a implicação primária da tendência à crise não é a impossibilidade da humanidade de lidar com os desafios da transição energética, mas as barreiras adicionais à agência coletiva erguidas pelo imperativo da valorização do capital. A subordinação da obtenção de lucros à rápida descarbonização é, em minha opinião, um preço que vale a pena pagar pela causa da justiça climática.
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