Não aceitamos pagar mais por menos ônibus em São Paulo
Francisco Ximenes, Gabriela Dantas e Sofia Sales
Folha de S.Paulo
Após duas manifestações contra o aumento das tarifas do transporte, em que milhares de pessoas indignadas ocuparam as ruas, a gestão Doria somente buscou criminalizar a luta, e o secretário de transportes da gestão Covas, Edson Caram, finalmente se pronunciou sobre o tema nesta Folha (18/1).
Francisco Ximenes, Gabriela Dantas e Sofia Sales
Folha de S.Paulo
Manifestantes contra o aumento da passagem em SP fazem concentração perto do Theatro Municipal. Danilo Veroa/Folhapress |
Após duas manifestações contra o aumento das tarifas do transporte, em que milhares de pessoas indignadas ocuparam as ruas, a gestão Doria somente buscou criminalizar a luta, e o secretário de transportes da gestão Covas, Edson Caram, finalmente se pronunciou sobre o tema nesta Folha (18/1).
Mesmo assim, seu discurso não traz nada de novo. O que se vê é a velha defesa da tarifa como essencial para o funcionamento do sistema de ônibus municipal. Ao dizer que, se a tarifa não fosse aumentada em R$ 0,30, a Prefeitura teria que retirar recursos da saúde e da educação, o secretário apresenta os R$ 4,30 como algo dado e não como uma escolha política. A primeira coisa que Caram ou ignora ou omite é que, atualmente, para que acessemos qualquer equipamento público, é necessário pagar para se deslocar até eles.
O secretário de Covas ainda tem a audácia de dizer que o aumento de tarifa tem como objetivo promover a justiça social! Argumenta que as gratuidades para idosos e estudantes (que têm sofrido duros cortes) só se mantêm com o aumento para o restante dos passageiros.
Tenta, assim, colocar usuários do transporte uns contra os outros, pressupondo que os custos do sistema e seus subsídios são imutáveis, e que a organização do transporte coletivo --ou tratá-lo como mera mercadoria-- não são escolhas. Pensando assim, talvez ele tenha dificuldade de entender estudos como os da própria SPTrans de 2018, que permitem concluir que, a cada real de subsídio nas passagens, a cidade ganha R$ 3.
O inquestionável elemento oculto no raciocínio do secretário é o lucro dos empresários à custa da população. São taxas de lucro mínimas de 9,85% --num universo de mais de R$ 8 bilhões ao ano-- garantidas pelos próximos 20 anos na nova licitação. Sem contar que o próprio custo do sistema é aferido por quem vai receber --ou seja, há uma facilidade por parte das empresas em inflar valores, além do que já receberiam pelo serviço normalmente.
Caram tenta ainda justificar o absurdo aumento de R$ 0,30 deste ano --mais que o dobro da inflação--, pois teria que repor a inflação acumulada desde 2016.
Sabemos que o secretário provavelmente não andou de ônibus nesse período, mas esperávamos que, pelo cargo que ocupa, tivesse conhecimento que há uma história pregressa: aumentos de R$ 0,80 entre 2015 e 2016, e na integração e bilhetes temporais em 2017, além do acumulado de outros anos.
No fim, o que resta do discurso do secretário são as mesmas palavras de quem busca cortar direitos: "eficiência", "economia" e "racionalização". Junto com o aumento, a Prefeitura propõe um modelo de licitação dos ônibus que prevê cortes de linhas e redução da frota para os próximos 20 anos! A dita "racionalização" nos obriga a pagar mais caro por mais baldeações para chegar ao centro --para quem ela serve? Que cidade ela cria?
Justiça social só se garante com um transporte realmente público, servindo às necessidades de toda a população. E por isso não aceitamos cada vez mais tarifa e cada vez menos ônibus e linhas!
Sobre os autores
O inquestionável elemento oculto no raciocínio do secretário é o lucro dos empresários à custa da população. São taxas de lucro mínimas de 9,85% --num universo de mais de R$ 8 bilhões ao ano-- garantidas pelos próximos 20 anos na nova licitação. Sem contar que o próprio custo do sistema é aferido por quem vai receber --ou seja, há uma facilidade por parte das empresas em inflar valores, além do que já receberiam pelo serviço normalmente.
Caram tenta ainda justificar o absurdo aumento de R$ 0,30 deste ano --mais que o dobro da inflação--, pois teria que repor a inflação acumulada desde 2016.
Sabemos que o secretário provavelmente não andou de ônibus nesse período, mas esperávamos que, pelo cargo que ocupa, tivesse conhecimento que há uma história pregressa: aumentos de R$ 0,80 entre 2015 e 2016, e na integração e bilhetes temporais em 2017, além do acumulado de outros anos.
No fim, o que resta do discurso do secretário são as mesmas palavras de quem busca cortar direitos: "eficiência", "economia" e "racionalização". Junto com o aumento, a Prefeitura propõe um modelo de licitação dos ônibus que prevê cortes de linhas e redução da frota para os próximos 20 anos! A dita "racionalização" nos obriga a pagar mais caro por mais baldeações para chegar ao centro --para quem ela serve? Que cidade ela cria?
Justiça social só se garante com um transporte realmente público, servindo às necessidades de toda a população. E por isso não aceitamos cada vez mais tarifa e cada vez menos ônibus e linhas!
Sobre os autores
Militantes do Movimento Passe Livre SP e usuários de transporte público
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