Nelson Barbosa
Além de criar um novo CMN, o projeto limita a capacidade financeira de o BC intervir no câmbio ou de emprestar dinheiro a bancos. Fernando Frazão/Folhapress |
A economia brasileira cresceu 0,6% no terceiro trimestre. Tudo indica que fecharemos 2019 com expansão entre 1% e 1,5%. O resultado parece bom, pois flertamos com a recessão na virada de 2018 para 2019. Porém, quando lembramos que teremos o terceiro ano de crescimento entre 1% e 1,5%, não há motivo para comemoração.
Na semana passada, analisei a grande recessão de 2014-16. Hoje, passo à lenta recuperação de 2017-19, pois, após episódios similares no passado, quando o PIB per capita caiu por três anos seguidos, a economia brasileira se recuperou bem mais rapidamente do que agora. O que há de diferente? Várias coisas, mas tentarei resumir.
Primeiro há a interpretação de sempre: “É tudo culpa do Petê”. Se você acha isso, pode parar de ler aqui e retomar domingo, nas colunas de alguns colegas da Folha.
Segundo, se você ainda estiver aqui, reconheço que a grande recessão de 2014-16 tem efeitos até hoje. Quais? Ainda precisamos reequilibrar o Orçamento, aprender a combater a corrupção sem paralisar a economia e reconstruir consensos políticos.
Mas, passados três anos, é difícil atribuir todos os males atuais àqueles radicais do PT que aceitaram impeachment sem crime, prisão por ato indeterminado e continuam a defender seus direitos pelas vias institucionais, com manifestações pacíficas. Pode parecer absurdo, mas outras causas também explicam a lenta recuperação.
Por exemplo, na política monetária, o Copom demorou a cortar a Selic no fim de 2016 e no início de 2017, quando ficou claro que a inflação estava desabando, e repetiu a dose no final de 2018 e no início de 2019 (o erro de Goldfajn). Agora o Copom corre atrás do prejuízo, mas pode ser tarde demais, diante da incerteza sobre o cenário internacional.
Do lado orçamentário, houve tentativa de consolidação fiscal prematura no início de 2017 (o erro de Meirelles). Parte disso foi revertida com o “libera FGTS” ao fim de 2017, mas no início de 2019 voltamos ao “Orçamento sanfona”, contingenciando em janeiro e liberando em dezembro. E, como em 2017, houve outro “libera FGTS” neste ano.
Em 2020, não teremos mais “Orçamento sanfona”. O teto de gasto não permitirá liberação de recursos em dezembro. Teremos contração fiscal lenta, gradual e segura, com impactos negativos sobre o crescimento da economia no segundo semestre.
Antes disso, os efeitos dos cortes da Selic, do “libera FGTS” e da renda extra de petróleo para prefeitos e governadores devem impulsionar o crescimento, no início de 2020, gerando otimismo.
Do lado orçamentário, houve tentativa de consolidação fiscal prematura no início de 2017 (o erro de Meirelles). Parte disso foi revertida com o “libera FGTS” ao fim de 2017, mas no início de 2019 voltamos ao “Orçamento sanfona”, contingenciando em janeiro e liberando em dezembro. E, como em 2017, houve outro “libera FGTS” neste ano.
Em 2020, não teremos mais “Orçamento sanfona”. O teto de gasto não permitirá liberação de recursos em dezembro. Teremos contração fiscal lenta, gradual e segura, com impactos negativos sobre o crescimento da economia no segundo semestre.
Antes disso, os efeitos dos cortes da Selic, do “libera FGTS” e da renda extra de petróleo para prefeitos e governadores devem impulsionar o crescimento, no início de 2020, gerando otimismo.
A outra causa da lenta recuperação vem de choques exógenos adversos. Em 2018 houve greve dos caminhoneiros. Neste ano, a recessão na Argentina e tensões comerciais entre Estados Unidos e China. Sem esses fatores, a economia brasileira cresceria mais de 2% em 2019. Justamente por esses efeitos, a política econômica deveria ter sido mais expansionista, mas isso é sacrilégio na atual equipe de ideologia econômica do governo.
Apesar dos pesares acima, nós, economistas (eu inclusive), estimamos que a economia crescerá entre 2% e 3% no ano que vem. Nós também achávamos isso no fim de 2017 e de 2018. Agora acho que acertaremos a “recuperação cíclica”.
Sei que hoje o cenário internacional não é tão favorável quanto em 2017, mas continuamos a ter instrumentos para recuperar a economia mais rapidamente, se e quando conseguirmos nos entender politicamente.
Enquanto isso não acontece, vamos de “Deus me livre, mas quem me dera”: crescendo entre 1% e 2%, esperando mais de 2% no ano seguinte, mas torcendo para não cair abaixo de 1%.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
Nenhum comentário:
Postar um comentário