Segundo uma estimativa, Elon Musk possui mais de um quarto de todos os satélites ativos que orbitam a Terra. Embora sua fantasia de se tornar o imperador de Marte provavelmente não se concretize, temos que reduzir o poder incontrolável dos tipos vilões como os de Bond enlouquecidos, como Musk, antes que se estenda da Terra aos céus.
Luke Savage
O CEO da SpaceX, Elon Musk, revela a espaçonave tripulada da empresa, The Dragon V2, em 29 de maio de 2014, em Hawthorne, CA. (Kevork Djansezian / Getty Images) |
Tradução / Mês passado, Elon Musk atingiu oficialmente o posto de homem mais rico do mundo. E, embora soe como o enredo de um filme de James Bond mal feito, ele também se tornou o barão espacial mais poderoso do planeta.
Isso é o que apontou uma nova análise que identificou que o CEO da SpaceX atualmente controla mais de 27% de todos os satélites ativos em órbita — algo em torno de mil de um total de 3.500. É quase uma certeza que a fatia de Musk aumente nos próximos anos, conforme a estimativa do físico Alastar Isaacs: pode chegar a 50% em 2022, com base no número de lançamentos em curso associados com a SpaceX. A maior parte desses lançamentos estão relacionados com a Starlink — uma iniciativa que a companhia declara que trará, esse ano, cobertura de internet de altíssima velocidade “quase global”.
Tendo em vista a tendência constrangedora de Musk em se auto promover, essa declaração deve ser lida com ressalvas. Afinal de contas, há alguns anos atrás o bilionário exalava confiança em uma conferência de tecnologia, afirmando que ele enviaria foguetes para Marte em 2018 e poderia enviar missões de colonização em uma década. Embora seja pura fantasia, como de costume, a propaganda da tecno-utopia de Musk o fez parecer muito mais um inventor falastrão do que um capitalista usual — como se ele fosse um vanguardista da humanidade interestelar e não um monopolista das comunicações do presente.
Seja a SpaceX capaz ou não de enviar pessoas a Marte, uma olhada rápida para a perspectiva que Musk adota em relação à viagem espacial já faz pulsar um alarme sobre os perigos da concessão de mais poder aos bilionários, estendendo-se à além da atmosfera.
Ano passado, a empresa publicou uma atualização dos termos de serviço para o seu projeto Starlink, anunciando que ele não reconheceria leis internacionais no Planeta Vermelho. Em vez disso, Musk prevê uma espécie de Randianismo extraterrestre, no qual “os princípios do autogoverno” (isto é, aqueles determinados pela empresa dele) pavimentam as regras. Embora seu projeto de colonização marciana pareça insanidade (que implica, entre outras coisas, cálculos matemáticos absurdos), deveríamos considerá-lo como uma declaração de intenções genuína. Se uma nova forma de vida de fato nos espera nas colônias extraterrestres, os monopolistas espaciais estão obstinados a moldá-la, sem nenhum tipo de limitação. Tendo em vista como as empresas como a Tesla tratam seus trabalhadores, não requer muita imaginação para visualizar como seria esse futuro.
De fato, o que o próprio Musk deu a entender em uma conferência no Twitter no verão passado era mais ou menos uma forma explícita de feudalismo. Segundo observação feita por Tom Mckay, da equipe do Gizmodo, o futuro de Marte idealizado nas redes sociais do bilionário implicava inclusive pôr ao serviço da SpaceX peregrinos recém chegados:
Ah, e qualquer um que queira juntar-se à viagem terá que pagar por ela, embora seja legítimo afirmar que Marte será um novo lugar de trabalho da SpaceX.
Não pode pagar? Faça um empréstimo e pague-o trabalhando para a SpaceX assim que chegar lá, o que definitivamente não se caracteriza como servidão porque… Marte? Porque acontece em Marte. Parece lógico.
Até o momento, pelo menos, Musk ainda é apenas um super rico oligarca corporativo comum com uma presença nas redes sociais particularmente constrangedora. Porém, mesmo que a sua visão de tornar-se o deus imperador de Marte não venha a se consolidar, o bilionário já está no caminho de controlar uma parte vital da infraestrutura global nas próximas décadas. Assim como os capitalistas sem escrúpulos da Idade de Ouro dos monopólios norte-americanos de ferrovias, aço, petróleo e outros produtos, os do século XXI agora controlam a internet, a esfera pública digital e outras arquiteturas cruciais da vida socioeconômica cultural moderna.
Hoje, o homem mais rico do mundo controla quase 30% de todos os satélites terrestres: o que poderia dar errado? No futuro, talvez seja preciso evitar que as pessoas mais ricas do planeta expandam seus poderes sob todo o sistema solar. Por hora, já passou da hora de colocarmos um fim ao domínio que exercem na infraestrutura da nossa vida cotidiana. O espaço além da atmosfera terrestre deve ser protegido de Elon Musk.
Sobre o autor
Não pode pagar? Faça um empréstimo e pague-o trabalhando para a SpaceX assim que chegar lá, o que definitivamente não se caracteriza como servidão porque… Marte? Porque acontece em Marte. Parece lógico.
Até o momento, pelo menos, Musk ainda é apenas um super rico oligarca corporativo comum com uma presença nas redes sociais particularmente constrangedora. Porém, mesmo que a sua visão de tornar-se o deus imperador de Marte não venha a se consolidar, o bilionário já está no caminho de controlar uma parte vital da infraestrutura global nas próximas décadas. Assim como os capitalistas sem escrúpulos da Idade de Ouro dos monopólios norte-americanos de ferrovias, aço, petróleo e outros produtos, os do século XXI agora controlam a internet, a esfera pública digital e outras arquiteturas cruciais da vida socioeconômica cultural moderna.
Hoje, o homem mais rico do mundo controla quase 30% de todos os satélites terrestres: o que poderia dar errado? No futuro, talvez seja preciso evitar que as pessoas mais ricas do planeta expandam seus poderes sob todo o sistema solar. Por hora, já passou da hora de colocarmos um fim ao domínio que exercem na infraestrutura da nossa vida cotidiana. O espaço além da atmosfera terrestre deve ser protegido de Elon Musk.
Sobre o autor
Luke Savage é colunista da Jacobin.
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