Nelson Barbosa
Folha de S.Paulo
Os leitores desta coluna já devem ter reparado que evito bater palmas para maluco dançar. Nessa semana o desafio é grande. Houve mais uma micareta bolsonarista, aquele surto coletivo onde uma minoria pede intervenção militar. Como analisar a bizarrice sem dar destaque ao autor? É difícil, mas tentarei.
Muitos já falaram e eu reforço: o que os bolsonaristas querem é o direito de eliminar quem pensa diferente, haja vista as ameaças à segurança física de líderes de oposição e qualquer autoridade que ouse cumprir seu papel constitucional.
A família Bolsonaro quer algo mais simples: escapar dos diversos processos de investigação contra eles e esconder os fracassos do atual governo, na economia e em tarefas básicas de qualquer administração.
Bolsonaro conta com o apoio de alguns ex-militares, oficiais de reserva que hoje ocupam cargos públicos civis, de alta remuneração, e sabem que isto não aconteceria facilmente em outro governo. Mais do que ética e patriotismo, a busca por prestígio e renda explica o comportamento de algumas pessoas.
Bolsonaro também conta temporariamente com o apoio do Centrão, aquele pessoal que, desde Dom João VI, fica do lado de quem tem caneta, enquanto houver tinta na caneta. À medida que nos aproximarmos da eleição, a estagnação da economia e a baixa aprovação do governo farão o Centrão buscar outros rumos, provavelmente o muro, até termos nova administração.
O mercado parece não mais apoiar o governo. Os ataques crescentes de Bolsonaro ao Judiciário fizeram até o pessoal nem-nem da Faria Lima assinar manifesto em defesa da democracia (antes tarde do que nunca) e arrocho contínuo sobre os mais pobres (não aprenderam nada e não esqueceram nada).
Já a “intelligentsia” de direita teme que tenhamos golpe de Estado. A ameaça existe mesmo, mas tenho dificuldade em levar alguns dos atuais “democratas” a sério, pois há apenas três anos eles apoiavam as mentiras do governo Temer e a farsa da Lava Jato.
Lembro, também, que vários dos “centristas” de hoje bateram palmas à eleição de Bolsonaro, para que Guedes continuasse a agenda Temer, de reformas para quebrar o piso da vida dos outros.
Agora que ficou claro que o governo “Temeraro” deu errado, os novos udenistas querem lavar as mãos dizendo que Bolsonaro os enganou. Os mais cínicos chegam a dizer que a culpa é da esquerda, que tirou os “iluminados de centro” do segundo turno de 2018 e pode fazer o mesmo em 2022.
A última piada de elitistas disfarçados de centristas é que a esquerda deve viabilizar uma candidatura de direita para evitar um golpe de estado em 2022. Faltou dizer que o golpe já ocorreu! Foi em 2016, com o afastamento de Dilma sob pretexto de crime fiscal, e reforçado em 2018, com a prisão política de Lula. Nos dois casos já havia pedidos de intervenção militar e fechamento do Supremo Tribunal Federal, só não viu quem não quis, muitos não quiseram.
O desafio de reconstrução do Brasil é grande. Neste processo recomendo não bater palmas para bolsonaristas ou lavajatistas dançarem. Não devemos dar palanque a quem pede o direito de exterminar quem pensa diferente, tampouco levar a sério quem ateou fogo ao país e agora reclama que está tudo queimado.
Para sair do buraco, sugiro a quem apoiou o golpe de 2016 ter o mínimo de autocrítica e parar de criar falsas equivalências. Devemos todos defender a democracia, reconhecendo nossos erros e acertos. A esquerda já vem fazendo isso há algum tempo, mas o mesmo ainda não ocorreu na direita. Ainda dá tempo, faltam 13 meses para a eleição.
Sobre o autor
A família Bolsonaro quer algo mais simples: escapar dos diversos processos de investigação contra eles e esconder os fracassos do atual governo, na economia e em tarefas básicas de qualquer administração.
Bolsonaro conta com o apoio de alguns ex-militares, oficiais de reserva que hoje ocupam cargos públicos civis, de alta remuneração, e sabem que isto não aconteceria facilmente em outro governo. Mais do que ética e patriotismo, a busca por prestígio e renda explica o comportamento de algumas pessoas.
Bolsonaro também conta temporariamente com o apoio do Centrão, aquele pessoal que, desde Dom João VI, fica do lado de quem tem caneta, enquanto houver tinta na caneta. À medida que nos aproximarmos da eleição, a estagnação da economia e a baixa aprovação do governo farão o Centrão buscar outros rumos, provavelmente o muro, até termos nova administração.
O mercado parece não mais apoiar o governo. Os ataques crescentes de Bolsonaro ao Judiciário fizeram até o pessoal nem-nem da Faria Lima assinar manifesto em defesa da democracia (antes tarde do que nunca) e arrocho contínuo sobre os mais pobres (não aprenderam nada e não esqueceram nada).
Já a “intelligentsia” de direita teme que tenhamos golpe de Estado. A ameaça existe mesmo, mas tenho dificuldade em levar alguns dos atuais “democratas” a sério, pois há apenas três anos eles apoiavam as mentiras do governo Temer e a farsa da Lava Jato.
Lembro, também, que vários dos “centristas” de hoje bateram palmas à eleição de Bolsonaro, para que Guedes continuasse a agenda Temer, de reformas para quebrar o piso da vida dos outros.
Agora que ficou claro que o governo “Temeraro” deu errado, os novos udenistas querem lavar as mãos dizendo que Bolsonaro os enganou. Os mais cínicos chegam a dizer que a culpa é da esquerda, que tirou os “iluminados de centro” do segundo turno de 2018 e pode fazer o mesmo em 2022.
A última piada de elitistas disfarçados de centristas é que a esquerda deve viabilizar uma candidatura de direita para evitar um golpe de estado em 2022. Faltou dizer que o golpe já ocorreu! Foi em 2016, com o afastamento de Dilma sob pretexto de crime fiscal, e reforçado em 2018, com a prisão política de Lula. Nos dois casos já havia pedidos de intervenção militar e fechamento do Supremo Tribunal Federal, só não viu quem não quis, muitos não quiseram.
O desafio de reconstrução do Brasil é grande. Neste processo recomendo não bater palmas para bolsonaristas ou lavajatistas dançarem. Não devemos dar palanque a quem pede o direito de exterminar quem pensa diferente, tampouco levar a sério quem ateou fogo ao país e agora reclama que está tudo queimado.
Para sair do buraco, sugiro a quem apoiou o golpe de 2016 ter o mínimo de autocrítica e parar de criar falsas equivalências. Devemos todos defender a democracia, reconhecendo nossos erros e acertos. A esquerda já vem fazendo isso há algum tempo, mas o mesmo ainda não ocorreu na direita. Ainda dá tempo, faltam 13 meses para a eleição.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
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