Nelson Barbosa
Há três meses, quando o IBGE divulgou o PIB do primeiro trimestre, alguns colegas disseram que a economia brasileira cresceria quase 6% neste ano. Naquela época, escrevi que era difícil saber se a recuperação seria em “V” de vigorosa ou vulnerável, pois havia muitas nuvens no horizonte. O PIB do segundo trimestre indicou que nossa recuperação é em “V” de vulnerável.
A economia ficou estagnada no segundo trimestre deste ano, quando consideramos o número com ajuste sazonal, em relação ao trimestre anterior. Já se considerarmos o número em relação ao mesmo trimestre de 2020, houve crescimento de 12,4%, praticamente compensando a parada súbita causada pela Covid em abril, maio e junho de 2020, quando a economia caiu 10,9% na mesma base de comparação.
Como já disse neste espaço, prefiro usar o crescimento ante o mesmo período do ano anterior como referência, pois um choque como a Covid afeta muito o ajuste sazonal das estatísticas. Sempre que um novo número é publicado, a série é ajustada e as observações mais recentes podem mudar bastante.
Focando o sentido econômico do resultado do PIB, a boa notícia é que a economia voltou ao patamar pré-Covid. O PIB do segundo trimestre de 2021 foi 0,2% superior ao verificado no mesmo período de 2019, antes da pandemia. Não foi um desempenho espetacular como nos EUA e na China, mas também não foi decepcionante como em outros países, sobretudo na Europa.
As novas projeções do FGV Ibre, que tem bom histórico de acerto, indicam que o PIB crescerá 4,9% em 2021. Parece bom, mas, traduzindo do economês, esse número significa que a economia vai andar de lado até o fim do ano. Após a recuperação do primeiro trimestre, o PIB tende a ficar estável no restante de 2021, mas, quando compararmos a média de 2021 com a média de 2020, haverá crescimento de 4,9%.
A má notícia do resultado do PIB é que, após a “parada súbita” da pandemia, nossa economia parece estar retornando ao ritmo de crescimento pré-Covid, de 1,5% ao ano, o que, por sua vez, é insuficiente para reduzir desemprego, diminuir desigualdade e reequilibrar as contas públicas rapidamente.
Se a economia crescer mesmo 1,5% em 2022, voltaremos à semiestagnação do governo Temer e primeiro ano de Bolsonaro, o que chamo de governo “Temeraro”, pois a política econômica foi a mesma no triênio 2017-19: arrocho no orçamento do povo, expansão no orçamento de poucos e destruição da capacidade de planejamento e atuação do Estado para o desenvolvimento econômico e social.
Teoricamente ainda é possível mudar, pois o choque da Covid mostrou como o governo pode atenuar a crise e promover a recuperação mais rápida da economia. Vários países do mundo aprenderam a lição e estão adotando políticas de reconstrução econômica e social pós-pandemia, com substituição de medidas anticrise por iniciativas estruturais de investimento em infraestrutura, ambiente e inclusão social, a serem pagas com crescimento e aumento gradual e progressivo da tributação.
Por aqui, ainda estamos presos na lógica pré-Covid, de apostar na “contração fiscal expansionista”, aquela hipótese possível, mas improvável, de que arrocho fiscal acelera crescimento. Hoje acho que até Bolsonaro já perdeu a fé nos prognósticos de sua equipe econômica, mas, como seu governo relutou em adequar nossas regras fiscais à realidade pós-pandemia, provavelmente teremos uma política fiscal desorganizada em 2022.
A economia ficou estagnada no segundo trimestre deste ano, quando consideramos o número com ajuste sazonal, em relação ao trimestre anterior. Já se considerarmos o número em relação ao mesmo trimestre de 2020, houve crescimento de 12,4%, praticamente compensando a parada súbita causada pela Covid em abril, maio e junho de 2020, quando a economia caiu 10,9% na mesma base de comparação.
Como já disse neste espaço, prefiro usar o crescimento ante o mesmo período do ano anterior como referência, pois um choque como a Covid afeta muito o ajuste sazonal das estatísticas. Sempre que um novo número é publicado, a série é ajustada e as observações mais recentes podem mudar bastante.
Focando o sentido econômico do resultado do PIB, a boa notícia é que a economia voltou ao patamar pré-Covid. O PIB do segundo trimestre de 2021 foi 0,2% superior ao verificado no mesmo período de 2019, antes da pandemia. Não foi um desempenho espetacular como nos EUA e na China, mas também não foi decepcionante como em outros países, sobretudo na Europa.
As novas projeções do FGV Ibre, que tem bom histórico de acerto, indicam que o PIB crescerá 4,9% em 2021. Parece bom, mas, traduzindo do economês, esse número significa que a economia vai andar de lado até o fim do ano. Após a recuperação do primeiro trimestre, o PIB tende a ficar estável no restante de 2021, mas, quando compararmos a média de 2021 com a média de 2020, haverá crescimento de 4,9%.
A má notícia do resultado do PIB é que, após a “parada súbita” da pandemia, nossa economia parece estar retornando ao ritmo de crescimento pré-Covid, de 1,5% ao ano, o que, por sua vez, é insuficiente para reduzir desemprego, diminuir desigualdade e reequilibrar as contas públicas rapidamente.
Se a economia crescer mesmo 1,5% em 2022, voltaremos à semiestagnação do governo Temer e primeiro ano de Bolsonaro, o que chamo de governo “Temeraro”, pois a política econômica foi a mesma no triênio 2017-19: arrocho no orçamento do povo, expansão no orçamento de poucos e destruição da capacidade de planejamento e atuação do Estado para o desenvolvimento econômico e social.
Teoricamente ainda é possível mudar, pois o choque da Covid mostrou como o governo pode atenuar a crise e promover a recuperação mais rápida da economia. Vários países do mundo aprenderam a lição e estão adotando políticas de reconstrução econômica e social pós-pandemia, com substituição de medidas anticrise por iniciativas estruturais de investimento em infraestrutura, ambiente e inclusão social, a serem pagas com crescimento e aumento gradual e progressivo da tributação.
Por aqui, ainda estamos presos na lógica pré-Covid, de apostar na “contração fiscal expansionista”, aquela hipótese possível, mas improvável, de que arrocho fiscal acelera crescimento. Hoje acho que até Bolsonaro já perdeu a fé nos prognósticos de sua equipe econômica, mas, como seu governo relutou em adequar nossas regras fiscais à realidade pós-pandemia, provavelmente teremos uma política fiscal desorganizada em 2022.
Teremos um keynesianismo caótico e fisiológico de reeleição, que tende a gerar mais incerteza do que crescimento.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
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