9 de fevereiro de 2022

Cuba existe?

Para parte da imprensa internacional, parcialidade é deliberada

Pedro Monzón

Folha de S.Paulo


A resposta à pergunta do título deste artigo, que deveria ser óbvia, tem caráter relativo. Refiro-me às diferenças que meios de comunicação fundamentais e certas redes sociais estabelecem entre as "realidades" virtuais e as objetivas. De acordo com o comportamento de boa parte desses meios de comunicação, Cuba, às vezes, existe; já outras, não.

Tudo depende da filiação da fonte. Para a mídia que segue os roteiros normalmente gerados nos EUA, um país que faz uso de uma infinidade de recursos para tentar justificar o bloqueio comercial, econômico e financeiro exercido contra nosso país por mais de 60 anos, Cuba só existe na medida em que é um exemplo de tudo o que é ruim, de ausência de democracia e de direitos humanos.

Devido à oposição pela imensa maioria do planeta a semelhante ataque contra Cuba, os EUA consideram imprescindíveis esses falsos argumentos na tentativa de reverter tal rechaço.

Por essa razão, chovem fake news, construídas sem nenhum pudor, que se repetem ao infinito e acusam Cuba de reprimir o povo e limitar seu direito à livre expressão. Sobre essas falsas bases, chegou-se a proferir ameaças de invasão e medidas asfixiantes que são cada vez mais impostas, incrementando as aplicadas durante o mandato do ex-presidente Donald Trump para aprofundar o bloqueio. Entretanto ataques do tipo estão completamente ausentes quando se trata de governos aliados, onde certamente estão sendo cometidas múltiplas injustiças. A parcialidade é deliberada.

Para projetar essa imagem sombria, Cuba, aí sim, existe. O mesmo não acontece, contudo, quando o objetivo é refletir êxitos reconhecidos em muitos campos. Nesses casos, Cuba não existe.

Não é novidade que Cuba tem um dos mais altos níveis de educação do planeta; nem que todas as crianças frequentam diariamente a escola, inclusive aquelas com deficiências. Também não é novidade que em Cuba os serviços médicos são gratuitos e se estendem ao mundo em solidariedade; não há moradores em favelas nem nas ruas; as drogas não são um problema; trata-se de um país muito estável e seguro; e toda discriminação legal e estrutural terminou com a revolução em 1959. Embora existam dificuldades na obtenção de alimentos, principalmente devido ao bloqueio, ninguém deixa de comer e nem um único cubano morre de fome. Segundo o Unicef, não há desnutrição infantil.

O desenvolvimento científico do país é muito elevado. Centenas de medicamentos foram produzidos, muitos deles únicos; no momento, estamos aplicando três vacinas cubanas contra a Covid-19 (as primeiras na América Latina) para quase toda a população, o que garantiu o controle da pandemia. Cuba foi o primeiro país a vacinar pessoas entre 2 e 18 anos de idade. Tudo isso permitiu o reinício de muitas atividades nacionais, incluindo as aulas presenciais, que foram suspensas por causa da pandemia, e a abertura de Cuba ao turismo.

Estes são sinais claros e tangíveis dos direitos humanos, mas, para a grande mídia, esta Cuba, surpreendentemente, não existe. Felizmente, muitos países e povos do mundo reconhecem a Cuba real e a desfrutam como visitantes e turistas. E, o mais importante, a grande maioria do povo a apoia manifestadamente.

Sobre o autor

Cônsul-geral de Cuba em São Paulo

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