Meagan Day
Veranistas em motocicletas em 1974. Boyd Norton / Arquivos Nacionais dos EUA |
Tradução / O nosso mundo é uma maravilha. Há um lugar em Alhambra, chamado Tribunal das Murtas, onde a lua reflete em um lago repleto de peixes dourados que incandesce uma incrível fachada ornamentada acima de grandes arcos. Com conhecimento, materiais e tempo, uma pessoa pode criar seu próprio armário ou modelar seus próprios vasos.
A maioria das pessoas não passa muito de seu tempo envolvendo-se com as maravilhas do mundo. Ao invés disso, a maioria das pessoas trabalha e, quando terminam de trabalhar, realizam tarefas de manutenção de vida desnecessariamente árduas e, se por acaso sobrar algum tempo, muitas vezes ficam tão cansadas que são incapazes de fazer algo além de assistir televisão ou dormir.
Isso é uma farsa. O mundo pertence aos vivos e nossas vidas são frágeis e passageiras. Mais pessoas deveriam visitar o Tribunal das Murtas ou, pelo menos, finalmente aprender a tocar banjo… Ou ainda ir pesquisar em arquivos para poder entender a sua árvore genealógica.
O socialismo tem como objetivo a liberdade máxima para humanos, sob o argumento de que a vida é curta e as pessoas deveriam ser capazes de vivê-la um pouco. O capitalismo é contra este objetivo. Sob o capitalismo, o trabalho que deve ser feito, a quantidade de trabalho que as pessoas têm que realizar e quanto esse trabalho é remunerado são decisões tomadas quase que inteiramente com base em quanto lucro privado irão gerar para um punhado de pessoas que detêm as empresas.
O socialismo visa reverter este cenário: devemos decidir juntos em que sociedade queremos viver e, daí, alocar o trabalho de acordo com isso. Todo trabalho deveria conter algum uso justificável para a sociedade, haveria menos e tudo seria compensado de forma justa – com necessidades básicas como moradia, saúde e educação garantidas e não dependentes do emprego de cada um. Isso significaria mais tempo livre e mais capacidade para aproveitar esse tempo livre. Significaria a capacidade de perguntar e responder à questão existencial do que vale a pena fazer em nossas vidas.
O capitalismo não será deposto pelo socialismo da noite para o dia, mas podemos acelerar o fim do capitalismo lutando por reformas que colocam essas idéias e os valores socialistas em movimento. Essas reformas têm o potencial de convencer as pessoas de como a vida pode ser muito melhor se nos recusarmos a seguir as regras do capitalismo. Estas reformas, se imbuídas no espírito de acabar com o capitalismo por completo, também podem libertar materialmente as pessoas para enfrentarem lutas ainda maiores pelo caminho.
Na década de 90, sindicalistas e socialistas nos Estados Unidos formaram um Partido Trabalhista. As circunstâncias políticas desta experiência foram desfavoráveis e não ganhou muito impulso, mas o programa do Partido Trabalhista estava cheio de demandas que elevavam o valor do tempo livre e do direito dos trabalhadores e trabalhadoras levarem suas vidas. Toda uma página do programa, intitulada “Mais tempo para a família e a comunidade”, foi dedicada a evitar que o precioso tempo dos trabalhadores fosse engolido pelo trabalho. Isso incluía uma semana de trabalho mais curta, vinte dias de férias obrigatórias remuneradas para todos e um ano de licença remunerada para cada seis anos de trabalho.
Sendo esta última demanda a mais emocionante de todas. Imagine: você trabalha por seis anos e tem a promessa de um ano inteiro de folga paga para fazer o que quiser, com seu emprego ainda esperando por você depois. O que as pessoas fariam com esse tempo?
Provavelmente alguns iriam sentar e comer Doritos enquanto jogam videogame – e tudo bem, porque jogar é uma parte prazerosa da experiência humana e as pessoas têm direito ao lazer. Mas a maioria das pessoas não faria isso o tempo todo, porque a maioria do tempo que mistura Doritos e jogos que ocorrem sob o capitalismo são pessoas procurando desesperadamente um momento para relaxar e descontrair em meio às constantes pressões de trabalho e da tediosa administração da vida – tais como refinanciar seus créditos estudantis e ligar para ver quais médicos estão no seu plano de saúde (se você tiver a sorte de ter um).
Algumas pessoas provavelmente começariam o ano com Doritos e jogos e depois se cansariam dessa rotina. O que eles podem sonhar a seguir? Talvez jogar sua parte favorita do jogo Assassin’s Creed: Brotherhood seja aquela em que se trava um combate nos telhados da Alhambra. Talvez eles decidam comprar uma passagem de avião para visitar pela primeira vez na vida e acabem no Tribunal das Murtas, observando o lago de peixes dourados ondular suavemente sob a lua cheia.
Não há limite para o que as pessoas decidiriam fazer com seu ano sabático, e esse é o ponto. Os humanos são capazes de tanto, e poucos realmente conseguem explorar suas próprias capacidades.
Uma pessoa pode aprender a andar de caiaque e, a partir daí, ter a opção de andar de caiaque nos fins de semana, melhorando sua qualidade de vida nas próximas décadas. Outra pessoa pode satisfazer uma curiosidade de longa data que sempre nutriu ao ler alguns livros sobre, digamos, o desenvolvimento da primeira infância – e então descobrir que estava realmente mais interessada em ser professora do que secretária, o que a leva a mudar de carreira para uma mais gratificante.
Isso é uma farsa. O mundo pertence aos vivos e nossas vidas são frágeis e passageiras. Mais pessoas deveriam visitar o Tribunal das Murtas ou, pelo menos, finalmente aprender a tocar banjo… Ou ainda ir pesquisar em arquivos para poder entender a sua árvore genealógica.
O socialismo tem como objetivo a liberdade máxima para humanos, sob o argumento de que a vida é curta e as pessoas deveriam ser capazes de vivê-la um pouco. O capitalismo é contra este objetivo. Sob o capitalismo, o trabalho que deve ser feito, a quantidade de trabalho que as pessoas têm que realizar e quanto esse trabalho é remunerado são decisões tomadas quase que inteiramente com base em quanto lucro privado irão gerar para um punhado de pessoas que detêm as empresas.
O socialismo visa reverter este cenário: devemos decidir juntos em que sociedade queremos viver e, daí, alocar o trabalho de acordo com isso. Todo trabalho deveria conter algum uso justificável para a sociedade, haveria menos e tudo seria compensado de forma justa – com necessidades básicas como moradia, saúde e educação garantidas e não dependentes do emprego de cada um. Isso significaria mais tempo livre e mais capacidade para aproveitar esse tempo livre. Significaria a capacidade de perguntar e responder à questão existencial do que vale a pena fazer em nossas vidas.
O capitalismo não será deposto pelo socialismo da noite para o dia, mas podemos acelerar o fim do capitalismo lutando por reformas que colocam essas idéias e os valores socialistas em movimento. Essas reformas têm o potencial de convencer as pessoas de como a vida pode ser muito melhor se nos recusarmos a seguir as regras do capitalismo. Estas reformas, se imbuídas no espírito de acabar com o capitalismo por completo, também podem libertar materialmente as pessoas para enfrentarem lutas ainda maiores pelo caminho.
Na década de 90, sindicalistas e socialistas nos Estados Unidos formaram um Partido Trabalhista. As circunstâncias políticas desta experiência foram desfavoráveis e não ganhou muito impulso, mas o programa do Partido Trabalhista estava cheio de demandas que elevavam o valor do tempo livre e do direito dos trabalhadores e trabalhadoras levarem suas vidas. Toda uma página do programa, intitulada “Mais tempo para a família e a comunidade”, foi dedicada a evitar que o precioso tempo dos trabalhadores fosse engolido pelo trabalho. Isso incluía uma semana de trabalho mais curta, vinte dias de férias obrigatórias remuneradas para todos e um ano de licença remunerada para cada seis anos de trabalho.
Sendo esta última demanda a mais emocionante de todas. Imagine: você trabalha por seis anos e tem a promessa de um ano inteiro de folga paga para fazer o que quiser, com seu emprego ainda esperando por você depois. O que as pessoas fariam com esse tempo?
Provavelmente alguns iriam sentar e comer Doritos enquanto jogam videogame – e tudo bem, porque jogar é uma parte prazerosa da experiência humana e as pessoas têm direito ao lazer. Mas a maioria das pessoas não faria isso o tempo todo, porque a maioria do tempo que mistura Doritos e jogos que ocorrem sob o capitalismo são pessoas procurando desesperadamente um momento para relaxar e descontrair em meio às constantes pressões de trabalho e da tediosa administração da vida – tais como refinanciar seus créditos estudantis e ligar para ver quais médicos estão no seu plano de saúde (se você tiver a sorte de ter um).
Algumas pessoas provavelmente começariam o ano com Doritos e jogos e depois se cansariam dessa rotina. O que eles podem sonhar a seguir? Talvez jogar sua parte favorita do jogo Assassin’s Creed: Brotherhood seja aquela em que se trava um combate nos telhados da Alhambra. Talvez eles decidam comprar uma passagem de avião para visitar pela primeira vez na vida e acabem no Tribunal das Murtas, observando o lago de peixes dourados ondular suavemente sob a lua cheia.
Não há limite para o que as pessoas decidiriam fazer com seu ano sabático, e esse é o ponto. Os humanos são capazes de tanto, e poucos realmente conseguem explorar suas próprias capacidades.
Uma pessoa pode aprender a andar de caiaque e, a partir daí, ter a opção de andar de caiaque nos fins de semana, melhorando sua qualidade de vida nas próximas décadas. Outra pessoa pode satisfazer uma curiosidade de longa data que sempre nutriu ao ler alguns livros sobre, digamos, o desenvolvimento da primeira infância – e então descobrir que estava realmente mais interessada em ser professora do que secretária, o que a leva a mudar de carreira para uma mais gratificante.
Uma pessoa que nunca fez faculdade, muito menos estudou no exterior, pode passar um ano inteiro em Nagasaki aprendendo japonês. Enquanto estiver lá, também pode aprender sobre o legado da bomba atômica, aprofundando sua compreensão dos riscos da proliferação nuclear. Quando retornar à sua cidade de origem, pode voltar à vida como de costume – exceto que agora eles podem assistir animes sem legendas, e talvez se recusem a votar em políticos que apóiam armas nucleares. Talvez esta pessoa até se torne ativista do desarmamento nuclear!
Uma sociedade capaz de promover com sucesso uma demanda como essa precisaria ter um movimento socialista mais forte, ou pelo menos social-democrata, do que a nossa sociedade hoje. Quando chegarmos a hora de tornar o ano sabático uma realidade, idealmente também teríamos uma garantia de emprego em vigor, o que significa que todas as pessoas que podem trabalhar podem fazê-lo e, portanto, se qualificam para um ano de folga remunerado a cada seis anos de trabalho. Um ano sabático regularmente pago não seria apenas para os sortudos o suficiente para evitar o desemprego – seria para todos que trabalhem.
Essa sociedade também já seria capaz de garantir licença parental remunerada, o que diminuiria a probabilidade de as pessoas tentarem alinhar a constituição de uma família com o seu ano sabático. Não queremos que as pessoas usem o ano sabático para fazer coisas que já deveriam ter o direito de fazer, como passar um tempo com seus filhos recém-nascidos. O mesmo vale para o treinamento para o trabalho – as pessoas devem ser capazes de deixar o trabalho para obter um treinamento melhor sempre que quiserem, sem nenhum custo para eles, e então reingressar na força de trabalho em uma capacidade mais especializada assim que o treinamento for concluído. Isso é benéfico para a sociedade, uma vez que trabalhadores mais qualificados significam uma sociedade mais funcional e mais prosperidade para todos.
O ano sabático deve ser para lazer, prazer e curiosidade. Deveria ser para viagens, aulas de cerâmica e adaptações de histórias em quadrinhos de sagas islandesas do século XI que ninguém conhece direito. Deve ser um momento em que, após seis anos dedicando horas para fazer nosso mundo funcionar sem problemas, cada pessoa poderia explorar e desfrutar desse mundo para si mesma.
Os capitalistas não vão gostar, mas também não gostaram quando criamos o fim de semana. O fim de semana foi ganho por um poderoso movimento de trabalhadores afirmando que o tempo de suas vidas deveria pertencer a eles, não aqueles que os trucidariam para obter lucro.
A demanda por um ano sabático teria que ser conquistada da mesma forma. E no processo de lutar e vencer essa demanda, muitos trabalhadores perceberiam que há algo fundamentalmente errado com a forma como atribuímos valor e alocamos nosso tempo para o trabalho. Se guiados e influenciados por aqueles que já compreenderam que o capitalismo não conduz ao florescimento e a elevação humana, mais do que apenas uns poucos militantes focariam seus horizontes no socialismo.
Uma sociedade capaz de promover com sucesso uma demanda como essa precisaria ter um movimento socialista mais forte, ou pelo menos social-democrata, do que a nossa sociedade hoje. Quando chegarmos a hora de tornar o ano sabático uma realidade, idealmente também teríamos uma garantia de emprego em vigor, o que significa que todas as pessoas que podem trabalhar podem fazê-lo e, portanto, se qualificam para um ano de folga remunerado a cada seis anos de trabalho. Um ano sabático regularmente pago não seria apenas para os sortudos o suficiente para evitar o desemprego – seria para todos que trabalhem.
Essa sociedade também já seria capaz de garantir licença parental remunerada, o que diminuiria a probabilidade de as pessoas tentarem alinhar a constituição de uma família com o seu ano sabático. Não queremos que as pessoas usem o ano sabático para fazer coisas que já deveriam ter o direito de fazer, como passar um tempo com seus filhos recém-nascidos. O mesmo vale para o treinamento para o trabalho – as pessoas devem ser capazes de deixar o trabalho para obter um treinamento melhor sempre que quiserem, sem nenhum custo para eles, e então reingressar na força de trabalho em uma capacidade mais especializada assim que o treinamento for concluído. Isso é benéfico para a sociedade, uma vez que trabalhadores mais qualificados significam uma sociedade mais funcional e mais prosperidade para todos.
O ano sabático deve ser para lazer, prazer e curiosidade. Deveria ser para viagens, aulas de cerâmica e adaptações de histórias em quadrinhos de sagas islandesas do século XI que ninguém conhece direito. Deve ser um momento em que, após seis anos dedicando horas para fazer nosso mundo funcionar sem problemas, cada pessoa poderia explorar e desfrutar desse mundo para si mesma.
Os capitalistas não vão gostar, mas também não gostaram quando criamos o fim de semana. O fim de semana foi ganho por um poderoso movimento de trabalhadores afirmando que o tempo de suas vidas deveria pertencer a eles, não aqueles que os trucidariam para obter lucro.
A demanda por um ano sabático teria que ser conquistada da mesma forma. E no processo de lutar e vencer essa demanda, muitos trabalhadores perceberiam que há algo fundamentalmente errado com a forma como atribuímos valor e alocamos nosso tempo para o trabalho. Se guiados e influenciados por aqueles que já compreenderam que o capitalismo não conduz ao florescimento e a elevação humana, mais do que apenas uns poucos militantes focariam seus horizontes no socialismo.
Sobre o autor
Meagan Day faz parte da equipe de articulistas da Jacobin.
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