New Left Review
Tradução / As eleições realizadas em 9 de setembro de 2018 resultaram no pior resultado obtido pelos sociais-democratas suecos desde que, em 1911, foi introduzido o sufrágio masculino quase universal. Naquela ocasião, o partido recebeu 28,5% dos votos; dessa vez, ele obteve 28,3%. Um século inteiro de avanço eleitoral se perdeu. Mesmo assim, a cúpula do partido recebeu o resultado como uma semivitória, e o líder do partido, Stefan Löfven – um respeitável homem de família de meia-idade – foi festejar (com a esposa) até tarde da noite. As ambições dos sociais-democratas suecos se tornaram bastante modestas. Historicamente, o Partido Social-Democrata dos Trabalhadores –Socialdemokratiska Arbetareparti (SAP) – foi, de longe, o mais bem-sucedido entre os partidos sociais-democratas e trabalhistas do mundo. Por mais de meio século, entre 1932 e 1988, ele obteve em todas as eleições mais de 40% dos votos, em um sistema caracterizado por representação proporcional, circunscrições de vários assentos e múltiplos partidos. Nenhum outro partido sueco ultrapassou 30% desde a Primeira Guerra Mundial. Ainda em 1994, o SAP obteve mais de 45%. Ele governou o país sem interrupções entre 1932 e 1976, exceto durante o governo das “férias de verão” em 1936 e novamente em 1982-1991, 1994-2006, 2014-2018 e até hoje.
A social-democracia chegou à Suécia por meio da Alemanha e Dinamarca, e os camaradas dinamarqueses serviram como modelo original para a primeira geração de reformistas suecos. Porém, desde meados da década de 1930, os suecos eram universalmente reconhecidos como os professores de sua turma. Entre 1932 e 1976, os sociais-democratas foram eminentemente exitosos como impulsionadores da reforma social governamental: cautelosos, graduais e bem-preparados. Podiam ambicionar o pleno emprego, uma economia próspera e aberta que fosse competitiva nos mercados mundiais, um generoso Estado de bem-estar social e uma sociedade igualitária, que apresentava em 1980 as menores taxas de desigualdade de renda e gênero do mundo. A proposta apresentada pelos sindicatos liderados pelo SAP para criar “fundos de investimento dos trabalhadores” em 1976 foi talvez a medida de maior alcance em direção a uma economia socialista já promovida por sociais-democratas convencionais. A social-democratização do país foi profunda o suficiente para manter os partidos “burgueses” – como são oficialmente conhecidos na Suécia – da coalizão de centro-direita que governou em 1976-1982 no caminho do pleno emprego e dos direitos sociais.[1]
Contrarreforma
Foram os próprios líderes do SAP que deram início à contrarreforma socioeconômica no início dos anos 1980. A virada neoliberal começou como uma espécie de gestão de crise. Por causa dos seus custos, o setor de exportação estava se tornando menos competitivo. Os demais produtores de tecidos e roupas estavam sendo varridos, os estaleiros coreanos e japoneses finalmente superavam os suecos, e os setores siderúrgico e florestal foram forçados a reduzir seu tamanho. A rentabilidade era baixa, assim como o investimento. O balanço de pagamentos ficou no vermelho entre 1978 e 1981, e a participação dos benefícios sociais no valor agregado caiu de 30% na década de 1960 e início da década de 1970 para 24% em 1978. Isso foi apresentado como uma ameaça para os postos de trabalho, embora os níveis de emprego continuassem subindo mesmo com a crise internacional. Tanto os economistas da Confederação dos Sindicatos Suecos, conhecidos como LO (Landsorganisationen i Sverige), quanto os do SAP concordaram que seria necessário conter salários e aumentar os lucros. A principal ferramenta para conseguir isso foi desvalorizar a moeda de 16% assim que o SAP retornou ao poder em 1982. Os líderes do partido retiraram da proposta de criar fundos de investimento dos trabalhadores, apresentada por Rudolf Meidner, seu verdadeiro potencial transformador, ainda que tenha sido aprovada oficialmente uma versão diluída como um gesto simbólico aos congressos do partido e do sindicato.[2]
Os anos 1980 testemunharam o avanço internacional da teoria econômica neoliberal. Dentro dessa estrutura, um grupo de economistas do SAP organizou um seminário para estudar as novas ideias de Chicago que chegaram aos ouvidos do ministro das Finanças, Kjell-Olof Feldt, e do presidente do Banco Central. A mercantilização e o controle da inflação se tornaram as novas prioridades da política social-democrata. Em 1985, esse grupo impôs a liberalização dos mercados de crédito e capital na Suécia. Feldt disse que, quando apresentou a proposta a Olof Palme, o primeiro-ministro respondeu: “Faça o que quiser. Enfim, eu não entendo nada”. Essas decisões, juntamente com a reorganização da Bolsa de Estocolmo – por um longo período adormecida – abriram as comportas do capital financeiro especulativo, nacional e estrangeiro. Por sua vez, isso gerou, em 1991, uma crise financeira de origem interna, que acabou com o pleno emprego na Suécia, reduziu o PIB em 4% e custou aos contribuintes outros 4% do PIB para resgatar os bancos.
O SAP teve a sorte de que, entre 1991 e 1994, uma coalizão “burguesa” estava no poder – liderada por Carl Bildt, do Partido Moderado, um adesista convicto da Guerra Fria – que precisou enfrentar as consequências desse estourar da bolha financeira. Foi uma tarefa na qual a coalizão teve um desempenho muito ruim, o que permitiu o retorno da social-democracia ao poder em 1994, com 45% dos votos. Os sociais-democratas conseguiram estabilizar a economia novamente e libertar o país de sua dependência dos banqueiros de Nova York. Entretanto, tratou-se de uma conquista de curto prazo, alcançada com medidas duras de austeridade e que não incluiu repensar as privatizações, a mercantilização ou a “nova gestão pública” – que utiliza as práticas de grandes empresas em serviços públicos – e, muito menos, preocupação igualitária alguma. As coalizões burguesas e as lideradas pelo SAP, que se alternam no poder desde 1991, agiram, pelo contrário, como intermediárias na promoção da desigualdade e da especulação. Juntos, elas eliminaram os impostos sobre a herança e bens imobiliários, fizeram com que os tributos sobre a renda do capital fossem menores que os sobre a renda do trabalho e restringiram a escala dos benefícios sociais, além de reduzirem o acesso a eles. Há dois anos, a revista Forbes declarou que “a Suécia está no topo da lista dos melhores países para se fazer negócios em 2017”, embora fosse um país governado por sociais-democratas.[3]
A desigualdade econômica disparou. A taxa de renda disponível aumentou 60% desde 1980 – de um coeficiente de Gini de 0,20 para 0,32 em 2013 –, o que retrocedeu a distribuição de renda do país ao nível da década de 1940 ou talvez ao final da de 1930. 2/3 desse aumento podem ser atribuídos a decisões políticas relacionadas a impostos e transferências sociais, e apenas 1/3 a uma distribuição mais desigual da renda familiar bruta. A atual distribuição de renda na Suécia tem alguma semelhança com a inglesa de 1688. O 0,1% mais rico tem uma renda média disponível, mesmo com impostos e transferências, 38 vezes superior à do assalariado médio. Na época da Revolução Gloriosa, os temporal lords da Inglaterra tinham uma renda 30 vezes maior que a dos mercadores e comerciantes urbanos de classe média.[4] A distribuição da riqueza piorou ainda mais, resultando no padrão mais desigual da Europa Ocidental, análogo aos do Brasil, África do Sul ou Estados Unidos.[5] Em 2002, o 1% mais rico da Suécia detinha 18% da riqueza familiar; em 2017, esse percentual subiu para 42%.[6] Outras desigualdades também estão se aprofundando. A Autoridade Nacional de Educação (Skolverket) concluiu que 1/4 das notas dos alunos agora pode ser relacionada à classe social dos pais, em comparação com 16% em 1998. A diferença de expectativa de vida aos 30 anos entre grupos de diferentes níveis educacionais tem, desde 2000, aumentado em dois anos para mulheres e um para homens; chega até seis anos a menos de vida para os menos instruídos se ambos os sexos forem levados em consideração, em comparação com os altamente instruídos. A desigualdade de gênero é uma exceção e não aumentou. As melhorias de 1968 e o movimento feminista não retrocederam e continuam a reverberar em um país profundamente secular sem uma direita religiosa significativo. Isso não significa que a Suécia esteja livre de dominação e machismo: pelo contrário, o movimento internacional MeToo, quando chegou à Suécia, converteu-se uma série de protestos coletivos em todo o país contra o assédio sexual, liderados por várias categorias, incluindo polícia, acadêmicas, médicas, advogadas e banqueiras.
Fatores
Como foi possível ter ocorrido esse movimento em direção a desigualdades cada vez mais profundas, que desfez mais de meio século de equalização gradual? O capitalismo pós-industrial, globalizado e financeirizado tem uma tendência intrínseca a aumentar a desigualdade econômica, enfraquecendo a posição dos sindicatos, fragmentando a classe trabalhadora e desqualificando partes dela por meio de mudanças na demanda de trabalho, para não mencionar a abertura de novas perspectivas para o capital, mediante sua realocação para países com salários mais baixos e o aumento das oportunidades para extrair renda financeira. Seria esperado, todavia, que a Suécia social-democrata estivesse entre os países mais bem-colocados para resistir a essas tendências e contê-las. Pelo contrário, a desigualdade na Suécia aumentou mais do que na maioria dos países da Europa Ocidental.
Parece haver três razões principais para a surpreendente evolução das últimas três décadas. Talvez o fator mais importante tenha sido a mudança de orientação dos líderes do SAP, que abandonaram qualquer preocupação significativa com a desigualdade e a justiça social. Um exemplo ilustrativo foi o acordo sobre as pensões, negociado em segredo entre o governo do SAP e os partidos burgueses na década de 1990 e aprovado pelo Parlamento em 1998. A ideia principal era tornar os benefícios dependentes de mudanças no PIB e das tendências demográficas. A intenção era tornar o sistema mais sustentável sob pressão econômica e demográfica, um objetivo racional após o colapso financeiro sueco de 1991. Contudo, os especialistas que calcularam e negociaram a questão não levaram em conta as consequências distributivas da nova estrutura de pensão. Aconteceu que, 15 anos depois, o sistema produziu um grau de pobreza relativa superior à média da União Europeia: 17% contra 14% em média na UE. Na Dinamarca, a porcentagem de aposentados pobres é de 8% a 9%.[7] Em outro acordo tributário alcançado em 1991, o governo do SAP introduziu alíquotas de impostos mais baixas para a renda de capital do que para a (substancial) renda do trabalho. Em 2004, o governo social-democrata aboliu todos os impostos sobre herança e doação.[8] A gestão da crise e a promoção do crescimento eliminaram outras preocupações econômicas. A social-democracia sueca sempre prestou atenção importante a esses temas, mas antes os equilibrava com uma equivalente preocupação à segurança social e à igualdade.
Em segundo lugar, houve uma ofensiva comercial intensiva e bem financiada, desenvolvida como resistência (e vingança) aos avanços dos trabalhadores na década de 1970. Em 1976, pela primeira vez em sua história, a federação de empresários escolheu como seu líder um executivo de negócios: todos os seus antecessores haviam sido funcionários ou semifuncionários das câmaras de comércio. Dois anos depois, a federação criou seu próprio escritório de propaganda, o Timbro, o primeiro grande think tank da Suécia. Em outubro de 1983, organizações empresariais organizaram o que pode ter sido a maior manifestação da história da Suécia para se oporem à proposta de criação dos fundos de investimento para os trabalhadores, contrataram 60 vagões de trem, 200 ônibus e até voos charter para levar manifestantes até Estocolmo (um dos principais organizadores consultou um líder estudantil de 1968 sobre como organizar um protesto). A ofensiva foi inteligente o bastante para não assumir uma atitude explicitamente antissindical em um país explicitamente sindicalizado, com uma forte tradição de colaboração de classe. Pelo contrário, eles pretendiam enfraquecer os sindicatos com meios sutis: tornar mais cara, por exemplo, a filiação sindical ou a qualificação para obter o seguro-desemprego de um sindicato, tal como fizeram os governos burgueses. Nessa campanha, eles não encontraram resistência. Em 2010, o professor de Direito, Göran Groskopf, especialista em aconselhar os suecos mais abastados em evasão fiscal, descreveu o país como um “paraíso fiscal (skatteparadis) para os ricos”.
O terceiro motor da desigualdade – especificamente, da distribuição da riqueza – tem sido o novo dinamismo do setor de exportação de alta tecnologia. Concentrada por um longo tempo na empresa de telecomunicações Ericsson, esse setor tem gerado recentemente uma série de prósperos inventores no setor de tecnologia da informação que logo acumularam grande riqueza: o Skype, o Spotify e jogos de computador como Candy Crush e Minecraft são todos suecos. As empresas de capital de risco, a forma mais agressiva de capital financeiro, estão excepcionalmente bem representadas na Suécia: em proporção do PIB, elas são as segundas maiores da Europa, depois das do Reino Unido.
Relatos nacionais
A crescente polarização de classe que está ocorrendo na sociedade sueca não passou despercebida. Os governos municipais de Estocolmo, Gotemburgo e Malmö criaram comissões para investigar a segregação residencial e o estado da saúde e educação, bem como as desigualdades econômicas. O movimento sindical estabeleceu um grupo de pesquisa sobre igualdade, que apresentou suas conclusões no congresso de 2019.[9] Entretanto, não foi possível colocar o tema no primeiro plano do cenário político.
A narrativa dominante sustenta que a Suécia se tornou uma sociedade ameaçada pela imigração. Na Suécia, em 2018, a linguagem burguesa é um pouco mais polida que a da Alemanha nas décadas de 1920 e 1930. Segundo o líder do Partido Moderado, que dirige a Aliança para a Suécia, composta por quatro partidos, a “integração” é o fator que conecta “muitos dos problemas que temos na Suécia”. Essa questão eleitoral persistente – a “questão do destino” – é um reconhecimento tácito de que o programa neoliberal de cortes de impostos e aumento da privatização, que ainda está incluído nas propostas da Aliança, não tem mais um apelo maciço.
No inverno e na primavera de 2018, o SAP e os quatro partidos burgueses convergiram para considerar os imigrantes e sua “integração” como a principal questão política enfrentada pelo país e competiram entre si para ser o mais bem-posicionado para enfrentá-lo. Essa abordagem os levou a jogar no campo dos Democratas da Suécia, xenófobos e anti-imigrantes, que dispararam nas pesquisas de opinião. Mais tarde, o SAP entendeu seu erro e começou a argumentar que as eleições de 2018 eram principalmente sobre política social ou välfärd (bem-estar), que na Suécia ainda é uma palavra com conotações positivas. À medida que a campanha avançava, o SAP girou um pouco para a esquerda, propiciando limites à especulação de serviços públicos, atacando propostas para reduzir impostos, anunciando planos para aumentar os impostos sobre capital e prometendo alguns benefícios sociais mais avançados. No final da campanha, essa tática valeu a pena no sentido de conter o desastre universalmente previsto. Da média de 23% a 25% mostrados pelas pesquisas, os eleitores acabaram dando 28% ao SAP, o que claramente reafirmou sua posição como o partido mais votado e provavelmente salvou a cabeça de seu líder, Stefan Löfven.
Imigração e xenofobia
Como a maior parte da Europa, a Suécia era historicamente um país de emigração, cuja população fugia massivamente da pobreza, mas também da perseguição religiosa e política. As minorias étnicas – finlandesas e samis, principalmente – eram pequenas e oprimidas e submetidas a assimilação forçada. No final da década de 1930, a opinião pública burguesa e estudantil se mobilizou contra a aceitação na Suécia de uma dúzia de médicos judeus que fugiam da Alemanha nazista; e, durante a Guerra, a “neutralidade” sueca implicava relações cordiais entre o governo do SAP e Berlim. Todavia, em 1943, as autoridades e os cidadãos suecos ajudaram os judeus dinamarqueses a atravessarem o estreito de Sund para escapar da ameaça de deportação para a Alemanha.
Após a guerra, e especialmente desde os anos 1960, a Suécia estava aberta à imigração significativa de trabalhadores, a maioria da Finlândia, mas alguns também do sul da Europa. Na década de 1970, o país aceitou refugiados políticos da América Latina, que, em geral, foram muito bem recebidos. Uma nova onda de imigrantes veio com o colapso da Iugoslávia no início dos anos 1990, coincidindo com a profunda recessão que se seguiu à crise financeira de 1991. Então, a situação havia mudado. Antes mesmo disso, movimentos racistas e xenófobos começaram a se organizar, especialmente na província mais ao sul, Skåne. Em 1979, começou a atuar um pequeno grupo ativista chamado Manter a Suécia Sueca (BSS, por sua sigla em sueco); um município de Skåne organizou um referendo contra a aceitação de refugiados em 1988, e a moção foi aprovada pela maioria de 2/3 do eleitorado. Nesse mesmo ano, apoiadores do BSS e outros ativistas estabeleceram um partido de extrema-direita com elementos neonazistas, os Democratas da Suécia.
A Suécia do pós-Guerra se considerava um país internacionalista e social-democrata. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a assistência ao desenvolvimento tinham amplo apoio. Olof Palme colocou seu governo e seu partido em oposição à Guerra do Vietnã. O embaixador sueco no Chile em 1973, Harald Edelstam, tornou-se um herói nacional junto com Raoul Wallenberg por ajudar numerosos chilenos a escaparem dos esquadrões da morte da ditadura militar. No início dos anos 2000, a Suécia recebeu muitos refugiados da guerra destrutiva dos EUA no Iraque e também dos conflitos no Chifre da África e (mais recentemente) no Afeganistão.[10] O prefeito de Södertälje, uma cidade industrial satélite de Estocolmo, testemunhou – com orgulho, mas também com preocupação – perante o Congresso americano que sua cidade estava admitindo mais refugiados da Guerra do Iraque do que os EUA. Não é de surpreender que, em 2015, a Suécia tenha sido, juntamente com a Alemanha, o único destinatário voluntário da onda de refugiados da Síria e do Afeganistão, com a admissão de mais de 160 mil: em proporção à sua população, equivaleria a hospedar quase um milhão refugiados no Reino Unido. Em 2017, quase 19% dos habitantes da Suécia nasceram no exterior e deles, 11% na África ou na Ásia.
Embora uma faixa racista e xenofóbica da população sueca se opusesse à política de abertura aos refugiados, a população em geral a apoiou. O clima predominante na época foi expresso por sucessivos primeiros-ministros: em 2004, o líder moderado Fredrik Reinfeldt incentivou seus concidadãos a “abrirem o coração” aos refugiados; em 2015, Löfven declarou: “Construímos pontes, não muros”. Porém, a Suécia agora tem, no entanto, um significativo partido xenofóbico e anti-imigração – os Democratas da Suécia. O partido entrou no Parlamento em 2010 com 5,7% dos votos e subiu para 12,9% em 2014. Em setembro de 2018, obteve 17,5% dos votos.
O florescente Partido Popular Dinamarquês forneceu um modelo tático, embora os Democratas da Suécia sejam mais conservadores e apresentem raízes neonazistas mais diretamente, ao contrário do partido dinamarquês. Como uma província fronteiriça com o continente através do Mar Báltico, a região de Skåne – onde a extrema-direita está crescendo – é o local de entrada para muitos imigrantes (embora o Condado de Estocolmo tenha uma maior proporção de residentes estrangeiros). É também uma região muito desigual, com vários municípios pós-industriais em declínio perto de áreas de riqueza e prosperidade. O nível mais baixo de apoio aos Democratas da Suécia em cidades e povoados similares situados mais ao norte reflete o funcionamento gradual de um processo de difusão, parecido com a expansão da social-democracia pelo país no final do século XIX. Mesmo aqui, no entanto, o partido tem um caráter claramente rural: os municípios de Skåne que escapam ao controle contam com as duas cidades maiores, Malmö e Helsingborg, a cidade universitária de Lund e as ricas e conservadoras áreas residenciais.
Apesar de terem avançado para o norte este ano, os Democratas da Suécia continuam sendo um partido predominantemente sulista e provincial. Em escala nacional, foi relativamente fraco em 2018 nas principais cidades – 10% dos votos em Estocolmo e 14% em Gotemburgo, embora tenha alcançado 17% em Malmö – e nas cidades universitárias, com 12% em Lund e Uppsala e 9% em Umeå. Os eleitores do partido vêm principalmente da direita tradicional.[11]
A atual liderança dos Democratas da Suécia assumiu o controle do partido em 2005 e o limpou de qualquer sinal de neonazismo explícito. Contudo, ainda é possível encontrar essas conexões entre seus políticos locais, que tendem a expressar fantasias assassinas nas redes sociais: colocando uma metralhadora na ponte de Öresund, desejando a um político do SAP um acidente fatal, desejando que uma balsa de refugiados afunde etc. A ascensão do partido ocorreu em duas fases. Até as eleições de 2014, o ressentimento entre os “perdedores” socioeconômicos era seu principal combustível. A região de Skåne foi especialmente atingida pela crise do início dos anos 1990. Aqueles que dependiam da assistência social sofreram novamente durante a crise financeira e a recessão de 2008, devido à política aplicada pela coalizão burguesa para favorecer seus funcionários e reduzir os benefícios sociais. A renda do terço mais pobre da população diminuiu entre 2008 e 2013. Naqueles anos, os Democratas da Suécia obtiveram um número desproporcional de apoiadores e, acima de tudo, ativistas e políticos locais entre desempregados, aposentados precoces e autônomos em situações precárias.[12]
Na segunda fase, das eleições de 2014 até o presente, os Democratas da Suécia se aproveitaram das preocupações sociais mais amplas sobre a imigração e penetraram substancialmente na classe trabalhadora – 1/4 dos trabalhadores votou no partido em 2018. Nas pesquisas de opinião, o apoio ao partido chegou quase a 20% das preferências em 2015, imediatamente após o afluxo de refugiados, depois caiu para 15% em 2017 e cresceu novamente em novembro de 2018. Essa última mudança parece ser devido a dois fatores. Um foi o retorno dos moderados, que transformaram a “integração” dos imigrantes na principal pauta política das eleições e de toda a Aliança burguesa. O segundo foi um pânico moral alimentado por informações divulgadas pela imprensa sobre a existência, em pequena escala, de guerras de facções criminosas, com uma série de tiroteios. Porém, os trabalhadores tinham outro motivo para se preocuparem. Em setores como transporte e construção, as empresas estrangeiras da União Europeia tentam cada vez mais flexibilizar o mercado de trabalho, trazendo trabalhadores estrangeiros mal remunerados (inclusive de países não pertencentes à UE, como no caso dos operários da construção civil tailandeses).
Além disso, entre 40% e 50% dos eleitores dos Democratas da Suécia – ou seja, cerca de 8% da população sueca total – parecem simplesmente racistas ou xenófobos: pessoas que não querem vizinhos imigrantes ou que um membro da família se case com um imigrante.[13] Os Democratas da Suécia não se encaixam bem no rótulo convencional de “populismo de direita”. Ele não está crescendo na onda da oratória demagógica, com ataques ferozes ao establishment e promessas desenfreadas à população. Seu líder não é um orador demagogo, mas um manipulador engenhoso e frio com inteligência estratégica. O partido se define como um “conservador social” com uma “base nacionalista”. Apesar de atrair votos de protesto da classe trabalhadora, a maioria de seus apoiadores se define como de direita.
A cultura universalista da Suécia do pós-Guerra continuou a se manifestar na atitude adotada em relação aos Democratas da Suécia pelos partidos burgueses tradicionais, que ainda hesitam em formar um governo de direita com o apoio dos xenófobos. Desde 2014, o Parlamento sueco contém três blocos políticos. O verde-vermelho é composto pelo SAP, o Partido do Meio Ambiente e o Partido de Esquerda, de tendência pós-comunista. Os dois primeiros formaram uma coalizão governante entre 2014 e 2018, com o apoio parlamentar externo deste último, necessário para alcançar a maioria. O segundo bloco é o da Aliança, composto por quatro partidos burgueses (Moderado, de Centro, Democrata Cristão e Liberal Popular), enquanto os Democratas da Suécia, por si só, constituem o terceiro bloco. Os Democratas da Suécia estão cortejando a Aliança, especialmente seus elementos culturalmente mais à direita, o Partido Moderado e os Democratas Cristãos – por enquanto, sem sucesso a nível nacional.
A queda da centro-esquerda
As rupturas socioeconômicas, as novas tecnologias de comunicação e as novas formas de mobilidade enfraqueceram – em alguns casos, praticamente se dissolveram – as comunidades populares, suas organizações (partidos e sindicatos) e sua cultura. As cidades e vilas industriais da Suécia experimentaram o esvaziamento de sua cultura de trabalho, outrora rica e densa. Entretanto, 61% dos trabalhadores manuais e 73% dos trabalhadores não manuais continuam filiados a algum sindicato. A Liga da Educação dos Trabalhadores (ABF, por sua sigla em sueco) está presente em todo o país, embora agora ofereça, principalmente, cursos relacionados a hobbies e ensino de línguas estrangeiras. Em 1982, 60% dos eleitores suecos se consideravam “identificados” com algum partido político. Em 2014, esse número havia caído para 27%. Em 1956, 11% dos eleitores haviam mudando sua preferência partidária em relação às eleições anteriores; em 1968, esse número era de 19%; em 1982, 30%; e em 2018 a proporção subiu para 40%.[14]
A erosão do apoio da classe trabalhadora ao SAP começou mais claramente após a virada à direita do partido na década de 1980. Entre 1982 e 1991, seu percentual de votos entre a classe trabalhadora caiu de 70% para 57% Na época, o principal beneficiário era a Nova Democracia, um partido neoliberal e populista com um corte claramente xenofóbico. Após uma breve recuperação em 1994, ocorreu outra queda nas eleições de 2006: nessa ocasião, os eleitores votaram predominantemente nos moderados, que se concentraram nas questões de emprego e na crescente diferença entre empregados e desempregados, fazendo com que, entre 2006 e 2010, duplicassem seu apoio eleitoral entre a classe trabalhadora. Esses trabalhadores que votaram no Partido Moderado em 2014 proporcionaram aos Democratas da Suécia a maior parte de seu crescimento eleitoral.[15]
Políticas migratórias
A nova onda de migração internacional (e intercontinental) criou um conjunto particular de problemas na Europa, que foi, durante meio milênio, o centro mundial de emigração, expansão e conquista, enviando seu clero cristão para converter seguidores de outras religiões. Quando a Europa dominou os mares, não se falava em “integração de imigrantes”. Os poucos europeus que se “passavam por nativos” foram desprezados, não idolatrados, na Europa. Agora, os descendentes empobrecidos dos antigos conquistados viajam para os países habitados pelos descendentes de seus conquistadores. Essa nova virada migratória – acelerada por uma série de guerras lideradas pelos EUA em sua zona de influência ao sul da Europa, do Afeganistão à Líbia – está criando um problema real para a social-democracia europeia, cujos eleitores tradicionais são muito afetados pelo influxo de pessoas pobres e para quem os direitos sociais e a justiça social sempre foram de alcance nacional.
Na época em que o racismo era abundante em todos os lugares, os movimentos trabalhistas dos países colonizadores europeus orgulhosamente levantaram slogans como “Trabalhadores do mundo se unem e lutam por uma África do Sul branca” (na greve militante realizadas pelos mineiros da África do Sul em 1922) ou “Manter a Austrália branca” (um ponto do programa do Partido Trabalhista Australiano). Em uma era de “pós-racismo” oficial, como os movimentos da Europa lidam com as massas de imigrantes pobres batendo nas portas de suas fronteiras? Os sindicatos suecos apoiaram uma imigração regulamentada de trabalhadores nas décadas de 1960 e 1970. Agora apoiam que ela deveria ser permitida apenas excepcionalmente. Eles também apoiam a política mais restritiva de refugiados adotada após 2015, embora continuem aceitando o direito de asilo. O que mais os preocupa são as empresas da UE que trazem seus próprios trabalhadores mal remunerados. Os líderes sindicais têm sido muito ativos na campanha contra os Democratas da Suécia – embora com efeitos limitados fora dos grandes espaços industriais – e alguns sindicatos proibiram seus membros de ocuparem posições sindicais. As massas de imigrantes pobres representam um sério desafio para os partidos populares e progressistas, mas a oscilação do apoio político à xenofobia demonstra que, em larga medida, tal desafio é politicamente contingente.
Nas últimas eleições, os sociais-democratas conseguiram mudar as prioridades dos eleitores, afastando-os da questão migratória, e isso retardou a marcha em direção à xenofobia. Contudo, o Estado de bem-estar não era simplesmente um tema vitorioso para o SAP. Há muitas reclamações sobre listas de espera em hospitais e sobre as grandes distâncias que devem ser percorridas para alcançar clínicas na vasta região norte. Ainda que a Suécia não tenha sido submetida a um regime de austeridade comparável ao do governo conservador britânico, os recursos disponíveis são insuficientes para as crescentes demandas do envelhecimento da população. Os habitantes do norte acusam os políticos regionais do SAP de surdez ou insensibilidade às necessidades de saúde da população. No distrito eleitoral mais ao norte do país, historicamente um bastião do SAP e dos comunistas, um partido regional em defesa da saúde (Partido da Assistência Médica) se tornou a força mais votada. Os Democratas da Suécia também tentaram tirar proveito das injustiças relacionadas ao bem-estar, afirmando que os recursos eram inadequados porque o dinheiro foi gasto com refugiados. Os sociais-democratas não têm perdido apoio porque sua missão de realizar reformas sociais foi concluída; pelo contrário, estão sendo punidos por abandonarem a tarefa urgentemente necessária de melhora e intensificação dessas reformas.[16]
A análise da crise da social-democracia também deve prestar atenção à sua resiliência e ao espaço existente para o surgimento de uma nova esquerda. Essa resiliência tem dimensões econômicas, socioculturais e políticas. O aspecto econômico se refere, em especial, ao lugar que o país ocupa no sistema mundial: especificamente, na medida em que é vulnerável às flutuações do mercado mundial e às pressões dos credores, ou onde é prejudicado pelo subdesenvolvimento. Nesse aspecto, a Suécia se encontra em uma posição forte, como o noroeste da Europa em geral, mas anteriormente tinha a vantagem particular, agora reduzida, de ter sido uma economia igualitária, de tributação elevada e fortemente sindicalizada que competia com sucesso nos mercados mundiais.
Do ponto de vista social, a Suécia conserva, apesar de tudo, um legado duradouro de reformas. Não há cidades ou regiões inteiras arruinadas pelo deslocamento econômico. O princípio dos direitos sociais dos cidadãos permanece firmemente estabelecido. Do ponto de vista cultural, a orientação de solidariedade universalista e internacional observada no período pós-Guerra ainda persiste na Suécia, e isso torna mais difícil para que os partidos burgueses tradicionais formem um governo com o apoio da direita xenofóbica, como já fizeram suas contrapartes nos outros três países nórdicos.
A posição da social-democracia sueca no sistema partidário é muito mais favorável do que a de seus partidos irmãos em outras partes da Europa, especialmente fora da região nórdica. Não é preciso enfrentar um ou até dois grandes partidos burgueses, mas enfrenta uma infinidade dividida de formações menores de direita. O SAP continua sendo a maior força política em 25 dos 29 distritos eleitorais com múltiplas cadeiras na Suécia, embora haja somente um em que ainda receba mais de 40% dos votos, no extremo norte. Continua sendo o partido predominante da classe trabalhadora e mantém laços estreitos com um forte movimento sindical. Embora atualmente dominada por políticos profissionais, o SAP ainda pode se conectar com pessoas comuns, em grande parte graças ao atual chefe, Löfven, ex-líder do sindicato dos metalúrgicos, sem educação acadêmica, que exala decência popular, apesar de manter a mesma arrogância e preconceito que qualquer político europeu convencional. Às vezes, Löfven mostra seu instinto de classe, mas ele também é um representante típico dos quadros sindicais do setor de exportação, comprometidos com a colaboração de classe em benefício das empresas do setor.
Realinhamentos à esquerda?
A social-democracia sueca está realmente submersa em um pântano profundo, com um apoio eleitoral inferior ao alcançado em 1911. Porém, não está morrendo nem perdendo todo o seu peso político. A posição central do SAP no sistema político sueco foi reafirmada nas manobras pós-eleitorais, e o partido voltou lentamente a ter 30% nas pesquisas pós-eleitorais. Seus resultados recentes e suas perspectivas futuras questionam as reflexões simplistas sobre a crise terminal da social-democracia. Mesmo assim, a falta de regeneração da social-democracia tradicional está à vista, o que levanta outra questão quando enfrentamos as tendências direitistas atuais: há espaço para o surgimento de novas alternativas de esquerda?
Como vimos em vários países, a crise da social-democracia pode ser compensada pelo surgimento de novas forças de esquerda. O Partido da Esquerda Sueca deu um passo modesto nas eleições de 2018, aumentando seu voto para 8%. Atualmente, é um partido de tamanho intermediário nas três maiores cidades da Suécia, com entre 12% e 14% e alguns bastiões municipais em todo o país. É uma força social-democrata de esquerda razoável, apoiada por conselheiros diligentes e um líder popular, Jonas Sjöstedt, ainda que sem muita aptidão ideológica ou capacidade de inovação política. De origem comunista e, posteriormente, com posições eurocomunistas, o Partido de Esquerda mantém o legado político de 1968 na Suécia e sofreu um influxo considerável de novos afiliados nos últimos anos. Com o declínio do SAP, ele agora organiza as maiores manifestações em 1º de maio.
Tal qual na Alemanha, não há lugar para outro partido de centro-esquerda na Suécia, e os partidos existentes são fortemente institucionalizados, o que não deixa espaço real para algo semelhante à França Insubmissa se formar sobre suas ruínas. Pela mesma razão, não há porta aberta para os ativistas de esquerda entrarem em uma organização moribunda que, todavia, ainda mantém um peso parlamentar real, como o Partido Trabalhista britânico. E não há apoio algum para surgir um movimento popular como o Podemos – ao menos, até a próxima crise econômica. O que é necessário – é possível que seja alcançado – é que um amplo movimento não sectário venha a sacudir o SAP, o Partido de Esquerda e os Verdes, injetando nova energia, novas ideias e uma nova dose de radicalismo em suas veias e infundindo esperança e inspiração nas pessoas de tendência progressistas desiludidas com os partidos existentes. Poderíamos acrescentar que há mais potencial na classe média progressista da Suécia do que em muitos outros países, já que as camadas intermediárias suecas são compostas principalmente por funcionários sindicalizados. Vislumbra-se uma grande batalha social que incidirá sobre a dignidade do trabalho profissional – sua ética, vocação, autonomia e responsabilidade – sujeita aos ataques cada vez mais agressivos da “nova gestão pública”, os bucaneiros da privatização e seus sicários de consultoria empresariais. No entanto, essas alterações não são visíveis no momento. Assim, mesmo que um governo social-democrata tenha sido alcançado em janeiro de 2018 graças a uma aliança com liberais, verdes e centristas, é provável que a contrarreforma socioeconômica continue na Suécia, atingindo sem cessar o experimento de reforma social democrática e igualitária mais bem-sucedido do século passado.
Notas:
[1] A direita deveu sua vitória naquela ocasião à rejeição da energia nuclear pelo Partido de Centro e foi responsável por administrar a questão da energia em uma coalizão dividida.
[2] Ver a análise detalhada de Jonas Pontusson: “Radicalização e recuo na social-democracia sueca” na New Left Left Review 165, 9-10/1987.
[3] “Sweden Heads the Best Countries for Business for 2017” na Forbes, 21/12/2016.
[4] Angus Maddison: Contours of the World Economy, 1-2030 AD, Oxford UP, Oxford, 2007.
[5] Credit Suisse: Global Wealth Databook 2017, quadro 6.5.
[6] As distribuições comparativas de riqueza são mais difíceis de calcular do que as de renda, mas os dados sobre a extraordinária concentração da Suécia parecem muito sólidos. V., por exemplo, o trabalho do principal especialista sueco nesse campo, Daniel Waldenström, juntamente com Jacob Lundberg: “Desigualdade patrimonial na Suécia: o que podemos aprender com os dados de imposto de renda capitalizados?”, documento de trabalho, Departamento de Teoria Econômica Universidade de Uppsala, 22/04/2016. Segundo dados do Serviço de Estatística da Suécia, os 30% mais pobres do país não têm riqueza líquida, apenas dívidas líquidas (de fato, no conjunto, os 60% mais pobres não têm riqueza líquida). Mais documentação sobre os resultados da contrarreforma sueca pode ser encontrada em G. Therborn: “The ‘People’s Home’ is Falling Down, Time to Update Your View of Sweden” em Sociologisk Forskning vol. 54 n. 4, 2017, e Kapitalet, överheten och allá vi andra: Klassamhället i Sverige –det rådande och det kommande, Arkiv / a-z, Stockholm, 2018.
[7] Pobreza relativa é definida quando a renda é inferior a 60% da renda média nacional. V. Serviço de Estatística da Suécia: “Högre andel äldre med låg inkomst e Sverige jämfört med Norden”, 25/10/2017.
[8] Segundo Leif Pagrotsky, então ministro do SAP, a abolição do imposto sobre herança foi um presente feito por Göran Persson à classe empresarial sueca como uma expiação por não ter sido capaz de introduzir a Suécia no euro no referendo realizado em 2003. Erik Sandberg: Jakten på den försvunna skatten, Ordfront, Estocolmo, 2017.
[9] No último ano, tive a honra de dirigir um projeto de análise política, “A classe na Suécia”, juntamente com Katalys, o think tank sindical, que, até agora, publicou cerca de 20 relatórios e o livro Kapitalet, överheten e ali vi andra: Klassamhället e Sverige – det rådande och det kommande, cit.
[10] Desde o início do século, a Suécia também faz parte da “fábrica de refugiados”, com sua participação nas guerras dos EUA e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nos países de origem dos requerentes de asilo, embora mais como uma promessa de lealdade ao poder imperial do que como uma grande força de destruição. O exército sueco se somou à ocupação do Afeganistão em 2002 e à guerra travada pela OTAN na Líbia em 2011. Apesar da guerra dos sauditas e dos EUA no Iêmen, a Suécia continua vendendo armas aos invasores.
[11] Kirsti Jylhä, Jens Rydgren e Pontus Strimling: Sverigedemokraternas väljare, Institutet för Framtidsstudier, Stockholm, 2018. Esses dados proveem de uma grande pesquisa realizada em fevereiro e abril de 2018.
[12] Olle Folke e outros: “Arbetslinjen och finanskris förklarar sd: s framgångar” em DN Debatt, 05/09/2018.
[13] K. Jylhä, J. Rydgren e P. Strimling: Sverigedemokraternas väljare, cit.
[14] Henrik Oscarsson e Sören Holmberg: “Swedish Behavior Behavior 1956-2014”, Departamento de Ciência Política, Universidade de Gotemburgo, 21/10/2015.
[15] Per Hedberg: “Väljarnas partier 2014”, Departamento de Ciência Política, Universidade de Gotemburgo, 2015.
[16] Os habitantes de Estocolmo viram isso de perto no escândalo sobre a construção de um novo hospital, o Nya Karolinska, por meio de uma aliança público-privada ao estilo Tony Blair, que se tornou um pântano de corrupção e compadrio, imposto, apesar da oposição de todas as organizações profissionais, por políticos burgueses e uma horda de conselheiros guiados por questões ideológicas e liderados pelo Boston Consulting Group.
A social-democracia chegou à Suécia por meio da Alemanha e Dinamarca, e os camaradas dinamarqueses serviram como modelo original para a primeira geração de reformistas suecos. Porém, desde meados da década de 1930, os suecos eram universalmente reconhecidos como os professores de sua turma. Entre 1932 e 1976, os sociais-democratas foram eminentemente exitosos como impulsionadores da reforma social governamental: cautelosos, graduais e bem-preparados. Podiam ambicionar o pleno emprego, uma economia próspera e aberta que fosse competitiva nos mercados mundiais, um generoso Estado de bem-estar social e uma sociedade igualitária, que apresentava em 1980 as menores taxas de desigualdade de renda e gênero do mundo. A proposta apresentada pelos sindicatos liderados pelo SAP para criar “fundos de investimento dos trabalhadores” em 1976 foi talvez a medida de maior alcance em direção a uma economia socialista já promovida por sociais-democratas convencionais. A social-democratização do país foi profunda o suficiente para manter os partidos “burgueses” – como são oficialmente conhecidos na Suécia – da coalizão de centro-direita que governou em 1976-1982 no caminho do pleno emprego e dos direitos sociais.[1]
Contrarreforma
Foram os próprios líderes do SAP que deram início à contrarreforma socioeconômica no início dos anos 1980. A virada neoliberal começou como uma espécie de gestão de crise. Por causa dos seus custos, o setor de exportação estava se tornando menos competitivo. Os demais produtores de tecidos e roupas estavam sendo varridos, os estaleiros coreanos e japoneses finalmente superavam os suecos, e os setores siderúrgico e florestal foram forçados a reduzir seu tamanho. A rentabilidade era baixa, assim como o investimento. O balanço de pagamentos ficou no vermelho entre 1978 e 1981, e a participação dos benefícios sociais no valor agregado caiu de 30% na década de 1960 e início da década de 1970 para 24% em 1978. Isso foi apresentado como uma ameaça para os postos de trabalho, embora os níveis de emprego continuassem subindo mesmo com a crise internacional. Tanto os economistas da Confederação dos Sindicatos Suecos, conhecidos como LO (Landsorganisationen i Sverige), quanto os do SAP concordaram que seria necessário conter salários e aumentar os lucros. A principal ferramenta para conseguir isso foi desvalorizar a moeda de 16% assim que o SAP retornou ao poder em 1982. Os líderes do partido retiraram da proposta de criar fundos de investimento dos trabalhadores, apresentada por Rudolf Meidner, seu verdadeiro potencial transformador, ainda que tenha sido aprovada oficialmente uma versão diluída como um gesto simbólico aos congressos do partido e do sindicato.[2]
Os anos 1980 testemunharam o avanço internacional da teoria econômica neoliberal. Dentro dessa estrutura, um grupo de economistas do SAP organizou um seminário para estudar as novas ideias de Chicago que chegaram aos ouvidos do ministro das Finanças, Kjell-Olof Feldt, e do presidente do Banco Central. A mercantilização e o controle da inflação se tornaram as novas prioridades da política social-democrata. Em 1985, esse grupo impôs a liberalização dos mercados de crédito e capital na Suécia. Feldt disse que, quando apresentou a proposta a Olof Palme, o primeiro-ministro respondeu: “Faça o que quiser. Enfim, eu não entendo nada”. Essas decisões, juntamente com a reorganização da Bolsa de Estocolmo – por um longo período adormecida – abriram as comportas do capital financeiro especulativo, nacional e estrangeiro. Por sua vez, isso gerou, em 1991, uma crise financeira de origem interna, que acabou com o pleno emprego na Suécia, reduziu o PIB em 4% e custou aos contribuintes outros 4% do PIB para resgatar os bancos.
O SAP teve a sorte de que, entre 1991 e 1994, uma coalizão “burguesa” estava no poder – liderada por Carl Bildt, do Partido Moderado, um adesista convicto da Guerra Fria – que precisou enfrentar as consequências desse estourar da bolha financeira. Foi uma tarefa na qual a coalizão teve um desempenho muito ruim, o que permitiu o retorno da social-democracia ao poder em 1994, com 45% dos votos. Os sociais-democratas conseguiram estabilizar a economia novamente e libertar o país de sua dependência dos banqueiros de Nova York. Entretanto, tratou-se de uma conquista de curto prazo, alcançada com medidas duras de austeridade e que não incluiu repensar as privatizações, a mercantilização ou a “nova gestão pública” – que utiliza as práticas de grandes empresas em serviços públicos – e, muito menos, preocupação igualitária alguma. As coalizões burguesas e as lideradas pelo SAP, que se alternam no poder desde 1991, agiram, pelo contrário, como intermediárias na promoção da desigualdade e da especulação. Juntos, elas eliminaram os impostos sobre a herança e bens imobiliários, fizeram com que os tributos sobre a renda do capital fossem menores que os sobre a renda do trabalho e restringiram a escala dos benefícios sociais, além de reduzirem o acesso a eles. Há dois anos, a revista Forbes declarou que “a Suécia está no topo da lista dos melhores países para se fazer negócios em 2017”, embora fosse um país governado por sociais-democratas.[3]
A desigualdade econômica disparou. A taxa de renda disponível aumentou 60% desde 1980 – de um coeficiente de Gini de 0,20 para 0,32 em 2013 –, o que retrocedeu a distribuição de renda do país ao nível da década de 1940 ou talvez ao final da de 1930. 2/3 desse aumento podem ser atribuídos a decisões políticas relacionadas a impostos e transferências sociais, e apenas 1/3 a uma distribuição mais desigual da renda familiar bruta. A atual distribuição de renda na Suécia tem alguma semelhança com a inglesa de 1688. O 0,1% mais rico tem uma renda média disponível, mesmo com impostos e transferências, 38 vezes superior à do assalariado médio. Na época da Revolução Gloriosa, os temporal lords da Inglaterra tinham uma renda 30 vezes maior que a dos mercadores e comerciantes urbanos de classe média.[4] A distribuição da riqueza piorou ainda mais, resultando no padrão mais desigual da Europa Ocidental, análogo aos do Brasil, África do Sul ou Estados Unidos.[5] Em 2002, o 1% mais rico da Suécia detinha 18% da riqueza familiar; em 2017, esse percentual subiu para 42%.[6] Outras desigualdades também estão se aprofundando. A Autoridade Nacional de Educação (Skolverket) concluiu que 1/4 das notas dos alunos agora pode ser relacionada à classe social dos pais, em comparação com 16% em 1998. A diferença de expectativa de vida aos 30 anos entre grupos de diferentes níveis educacionais tem, desde 2000, aumentado em dois anos para mulheres e um para homens; chega até seis anos a menos de vida para os menos instruídos se ambos os sexos forem levados em consideração, em comparação com os altamente instruídos. A desigualdade de gênero é uma exceção e não aumentou. As melhorias de 1968 e o movimento feminista não retrocederam e continuam a reverberar em um país profundamente secular sem uma direita religiosa significativo. Isso não significa que a Suécia esteja livre de dominação e machismo: pelo contrário, o movimento internacional MeToo, quando chegou à Suécia, converteu-se uma série de protestos coletivos em todo o país contra o assédio sexual, liderados por várias categorias, incluindo polícia, acadêmicas, médicas, advogadas e banqueiras.
Fatores
Como foi possível ter ocorrido esse movimento em direção a desigualdades cada vez mais profundas, que desfez mais de meio século de equalização gradual? O capitalismo pós-industrial, globalizado e financeirizado tem uma tendência intrínseca a aumentar a desigualdade econômica, enfraquecendo a posição dos sindicatos, fragmentando a classe trabalhadora e desqualificando partes dela por meio de mudanças na demanda de trabalho, para não mencionar a abertura de novas perspectivas para o capital, mediante sua realocação para países com salários mais baixos e o aumento das oportunidades para extrair renda financeira. Seria esperado, todavia, que a Suécia social-democrata estivesse entre os países mais bem-colocados para resistir a essas tendências e contê-las. Pelo contrário, a desigualdade na Suécia aumentou mais do que na maioria dos países da Europa Ocidental.
Parece haver três razões principais para a surpreendente evolução das últimas três décadas. Talvez o fator mais importante tenha sido a mudança de orientação dos líderes do SAP, que abandonaram qualquer preocupação significativa com a desigualdade e a justiça social. Um exemplo ilustrativo foi o acordo sobre as pensões, negociado em segredo entre o governo do SAP e os partidos burgueses na década de 1990 e aprovado pelo Parlamento em 1998. A ideia principal era tornar os benefícios dependentes de mudanças no PIB e das tendências demográficas. A intenção era tornar o sistema mais sustentável sob pressão econômica e demográfica, um objetivo racional após o colapso financeiro sueco de 1991. Contudo, os especialistas que calcularam e negociaram a questão não levaram em conta as consequências distributivas da nova estrutura de pensão. Aconteceu que, 15 anos depois, o sistema produziu um grau de pobreza relativa superior à média da União Europeia: 17% contra 14% em média na UE. Na Dinamarca, a porcentagem de aposentados pobres é de 8% a 9%.[7] Em outro acordo tributário alcançado em 1991, o governo do SAP introduziu alíquotas de impostos mais baixas para a renda de capital do que para a (substancial) renda do trabalho. Em 2004, o governo social-democrata aboliu todos os impostos sobre herança e doação.[8] A gestão da crise e a promoção do crescimento eliminaram outras preocupações econômicas. A social-democracia sueca sempre prestou atenção importante a esses temas, mas antes os equilibrava com uma equivalente preocupação à segurança social e à igualdade.
Em segundo lugar, houve uma ofensiva comercial intensiva e bem financiada, desenvolvida como resistência (e vingança) aos avanços dos trabalhadores na década de 1970. Em 1976, pela primeira vez em sua história, a federação de empresários escolheu como seu líder um executivo de negócios: todos os seus antecessores haviam sido funcionários ou semifuncionários das câmaras de comércio. Dois anos depois, a federação criou seu próprio escritório de propaganda, o Timbro, o primeiro grande think tank da Suécia. Em outubro de 1983, organizações empresariais organizaram o que pode ter sido a maior manifestação da história da Suécia para se oporem à proposta de criação dos fundos de investimento para os trabalhadores, contrataram 60 vagões de trem, 200 ônibus e até voos charter para levar manifestantes até Estocolmo (um dos principais organizadores consultou um líder estudantil de 1968 sobre como organizar um protesto). A ofensiva foi inteligente o bastante para não assumir uma atitude explicitamente antissindical em um país explicitamente sindicalizado, com uma forte tradição de colaboração de classe. Pelo contrário, eles pretendiam enfraquecer os sindicatos com meios sutis: tornar mais cara, por exemplo, a filiação sindical ou a qualificação para obter o seguro-desemprego de um sindicato, tal como fizeram os governos burgueses. Nessa campanha, eles não encontraram resistência. Em 2010, o professor de Direito, Göran Groskopf, especialista em aconselhar os suecos mais abastados em evasão fiscal, descreveu o país como um “paraíso fiscal (skatteparadis) para os ricos”.
O terceiro motor da desigualdade – especificamente, da distribuição da riqueza – tem sido o novo dinamismo do setor de exportação de alta tecnologia. Concentrada por um longo tempo na empresa de telecomunicações Ericsson, esse setor tem gerado recentemente uma série de prósperos inventores no setor de tecnologia da informação que logo acumularam grande riqueza: o Skype, o Spotify e jogos de computador como Candy Crush e Minecraft são todos suecos. As empresas de capital de risco, a forma mais agressiva de capital financeiro, estão excepcionalmente bem representadas na Suécia: em proporção do PIB, elas são as segundas maiores da Europa, depois das do Reino Unido.
Relatos nacionais
A crescente polarização de classe que está ocorrendo na sociedade sueca não passou despercebida. Os governos municipais de Estocolmo, Gotemburgo e Malmö criaram comissões para investigar a segregação residencial e o estado da saúde e educação, bem como as desigualdades econômicas. O movimento sindical estabeleceu um grupo de pesquisa sobre igualdade, que apresentou suas conclusões no congresso de 2019.[9] Entretanto, não foi possível colocar o tema no primeiro plano do cenário político.
A narrativa dominante sustenta que a Suécia se tornou uma sociedade ameaçada pela imigração. Na Suécia, em 2018, a linguagem burguesa é um pouco mais polida que a da Alemanha nas décadas de 1920 e 1930. Segundo o líder do Partido Moderado, que dirige a Aliança para a Suécia, composta por quatro partidos, a “integração” é o fator que conecta “muitos dos problemas que temos na Suécia”. Essa questão eleitoral persistente – a “questão do destino” – é um reconhecimento tácito de que o programa neoliberal de cortes de impostos e aumento da privatização, que ainda está incluído nas propostas da Aliança, não tem mais um apelo maciço.
No inverno e na primavera de 2018, o SAP e os quatro partidos burgueses convergiram para considerar os imigrantes e sua “integração” como a principal questão política enfrentada pelo país e competiram entre si para ser o mais bem-posicionado para enfrentá-lo. Essa abordagem os levou a jogar no campo dos Democratas da Suécia, xenófobos e anti-imigrantes, que dispararam nas pesquisas de opinião. Mais tarde, o SAP entendeu seu erro e começou a argumentar que as eleições de 2018 eram principalmente sobre política social ou välfärd (bem-estar), que na Suécia ainda é uma palavra com conotações positivas. À medida que a campanha avançava, o SAP girou um pouco para a esquerda, propiciando limites à especulação de serviços públicos, atacando propostas para reduzir impostos, anunciando planos para aumentar os impostos sobre capital e prometendo alguns benefícios sociais mais avançados. No final da campanha, essa tática valeu a pena no sentido de conter o desastre universalmente previsto. Da média de 23% a 25% mostrados pelas pesquisas, os eleitores acabaram dando 28% ao SAP, o que claramente reafirmou sua posição como o partido mais votado e provavelmente salvou a cabeça de seu líder, Stefan Löfven.
Imigração e xenofobia
Como a maior parte da Europa, a Suécia era historicamente um país de emigração, cuja população fugia massivamente da pobreza, mas também da perseguição religiosa e política. As minorias étnicas – finlandesas e samis, principalmente – eram pequenas e oprimidas e submetidas a assimilação forçada. No final da década de 1930, a opinião pública burguesa e estudantil se mobilizou contra a aceitação na Suécia de uma dúzia de médicos judeus que fugiam da Alemanha nazista; e, durante a Guerra, a “neutralidade” sueca implicava relações cordiais entre o governo do SAP e Berlim. Todavia, em 1943, as autoridades e os cidadãos suecos ajudaram os judeus dinamarqueses a atravessarem o estreito de Sund para escapar da ameaça de deportação para a Alemanha.
Após a guerra, e especialmente desde os anos 1960, a Suécia estava aberta à imigração significativa de trabalhadores, a maioria da Finlândia, mas alguns também do sul da Europa. Na década de 1970, o país aceitou refugiados políticos da América Latina, que, em geral, foram muito bem recebidos. Uma nova onda de imigrantes veio com o colapso da Iugoslávia no início dos anos 1990, coincidindo com a profunda recessão que se seguiu à crise financeira de 1991. Então, a situação havia mudado. Antes mesmo disso, movimentos racistas e xenófobos começaram a se organizar, especialmente na província mais ao sul, Skåne. Em 1979, começou a atuar um pequeno grupo ativista chamado Manter a Suécia Sueca (BSS, por sua sigla em sueco); um município de Skåne organizou um referendo contra a aceitação de refugiados em 1988, e a moção foi aprovada pela maioria de 2/3 do eleitorado. Nesse mesmo ano, apoiadores do BSS e outros ativistas estabeleceram um partido de extrema-direita com elementos neonazistas, os Democratas da Suécia.
A Suécia do pós-Guerra se considerava um país internacionalista e social-democrata. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a assistência ao desenvolvimento tinham amplo apoio. Olof Palme colocou seu governo e seu partido em oposição à Guerra do Vietnã. O embaixador sueco no Chile em 1973, Harald Edelstam, tornou-se um herói nacional junto com Raoul Wallenberg por ajudar numerosos chilenos a escaparem dos esquadrões da morte da ditadura militar. No início dos anos 2000, a Suécia recebeu muitos refugiados da guerra destrutiva dos EUA no Iraque e também dos conflitos no Chifre da África e (mais recentemente) no Afeganistão.[10] O prefeito de Södertälje, uma cidade industrial satélite de Estocolmo, testemunhou – com orgulho, mas também com preocupação – perante o Congresso americano que sua cidade estava admitindo mais refugiados da Guerra do Iraque do que os EUA. Não é de surpreender que, em 2015, a Suécia tenha sido, juntamente com a Alemanha, o único destinatário voluntário da onda de refugiados da Síria e do Afeganistão, com a admissão de mais de 160 mil: em proporção à sua população, equivaleria a hospedar quase um milhão refugiados no Reino Unido. Em 2017, quase 19% dos habitantes da Suécia nasceram no exterior e deles, 11% na África ou na Ásia.
Embora uma faixa racista e xenofóbica da população sueca se opusesse à política de abertura aos refugiados, a população em geral a apoiou. O clima predominante na época foi expresso por sucessivos primeiros-ministros: em 2004, o líder moderado Fredrik Reinfeldt incentivou seus concidadãos a “abrirem o coração” aos refugiados; em 2015, Löfven declarou: “Construímos pontes, não muros”. Porém, a Suécia agora tem, no entanto, um significativo partido xenofóbico e anti-imigração – os Democratas da Suécia. O partido entrou no Parlamento em 2010 com 5,7% dos votos e subiu para 12,9% em 2014. Em setembro de 2018, obteve 17,5% dos votos.
O florescente Partido Popular Dinamarquês forneceu um modelo tático, embora os Democratas da Suécia sejam mais conservadores e apresentem raízes neonazistas mais diretamente, ao contrário do partido dinamarquês. Como uma província fronteiriça com o continente através do Mar Báltico, a região de Skåne – onde a extrema-direita está crescendo – é o local de entrada para muitos imigrantes (embora o Condado de Estocolmo tenha uma maior proporção de residentes estrangeiros). É também uma região muito desigual, com vários municípios pós-industriais em declínio perto de áreas de riqueza e prosperidade. O nível mais baixo de apoio aos Democratas da Suécia em cidades e povoados similares situados mais ao norte reflete o funcionamento gradual de um processo de difusão, parecido com a expansão da social-democracia pelo país no final do século XIX. Mesmo aqui, no entanto, o partido tem um caráter claramente rural: os municípios de Skåne que escapam ao controle contam com as duas cidades maiores, Malmö e Helsingborg, a cidade universitária de Lund e as ricas e conservadoras áreas residenciais.
Apesar de terem avançado para o norte este ano, os Democratas da Suécia continuam sendo um partido predominantemente sulista e provincial. Em escala nacional, foi relativamente fraco em 2018 nas principais cidades – 10% dos votos em Estocolmo e 14% em Gotemburgo, embora tenha alcançado 17% em Malmö – e nas cidades universitárias, com 12% em Lund e Uppsala e 9% em Umeå. Os eleitores do partido vêm principalmente da direita tradicional.[11]
A atual liderança dos Democratas da Suécia assumiu o controle do partido em 2005 e o limpou de qualquer sinal de neonazismo explícito. Contudo, ainda é possível encontrar essas conexões entre seus políticos locais, que tendem a expressar fantasias assassinas nas redes sociais: colocando uma metralhadora na ponte de Öresund, desejando a um político do SAP um acidente fatal, desejando que uma balsa de refugiados afunde etc. A ascensão do partido ocorreu em duas fases. Até as eleições de 2014, o ressentimento entre os “perdedores” socioeconômicos era seu principal combustível. A região de Skåne foi especialmente atingida pela crise do início dos anos 1990. Aqueles que dependiam da assistência social sofreram novamente durante a crise financeira e a recessão de 2008, devido à política aplicada pela coalizão burguesa para favorecer seus funcionários e reduzir os benefícios sociais. A renda do terço mais pobre da população diminuiu entre 2008 e 2013. Naqueles anos, os Democratas da Suécia obtiveram um número desproporcional de apoiadores e, acima de tudo, ativistas e políticos locais entre desempregados, aposentados precoces e autônomos em situações precárias.[12]
Na segunda fase, das eleições de 2014 até o presente, os Democratas da Suécia se aproveitaram das preocupações sociais mais amplas sobre a imigração e penetraram substancialmente na classe trabalhadora – 1/4 dos trabalhadores votou no partido em 2018. Nas pesquisas de opinião, o apoio ao partido chegou quase a 20% das preferências em 2015, imediatamente após o afluxo de refugiados, depois caiu para 15% em 2017 e cresceu novamente em novembro de 2018. Essa última mudança parece ser devido a dois fatores. Um foi o retorno dos moderados, que transformaram a “integração” dos imigrantes na principal pauta política das eleições e de toda a Aliança burguesa. O segundo foi um pânico moral alimentado por informações divulgadas pela imprensa sobre a existência, em pequena escala, de guerras de facções criminosas, com uma série de tiroteios. Porém, os trabalhadores tinham outro motivo para se preocuparem. Em setores como transporte e construção, as empresas estrangeiras da União Europeia tentam cada vez mais flexibilizar o mercado de trabalho, trazendo trabalhadores estrangeiros mal remunerados (inclusive de países não pertencentes à UE, como no caso dos operários da construção civil tailandeses).
Além disso, entre 40% e 50% dos eleitores dos Democratas da Suécia – ou seja, cerca de 8% da população sueca total – parecem simplesmente racistas ou xenófobos: pessoas que não querem vizinhos imigrantes ou que um membro da família se case com um imigrante.[13] Os Democratas da Suécia não se encaixam bem no rótulo convencional de “populismo de direita”. Ele não está crescendo na onda da oratória demagógica, com ataques ferozes ao establishment e promessas desenfreadas à população. Seu líder não é um orador demagogo, mas um manipulador engenhoso e frio com inteligência estratégica. O partido se define como um “conservador social” com uma “base nacionalista”. Apesar de atrair votos de protesto da classe trabalhadora, a maioria de seus apoiadores se define como de direita.
A cultura universalista da Suécia do pós-Guerra continuou a se manifestar na atitude adotada em relação aos Democratas da Suécia pelos partidos burgueses tradicionais, que ainda hesitam em formar um governo de direita com o apoio dos xenófobos. Desde 2014, o Parlamento sueco contém três blocos políticos. O verde-vermelho é composto pelo SAP, o Partido do Meio Ambiente e o Partido de Esquerda, de tendência pós-comunista. Os dois primeiros formaram uma coalizão governante entre 2014 e 2018, com o apoio parlamentar externo deste último, necessário para alcançar a maioria. O segundo bloco é o da Aliança, composto por quatro partidos burgueses (Moderado, de Centro, Democrata Cristão e Liberal Popular), enquanto os Democratas da Suécia, por si só, constituem o terceiro bloco. Os Democratas da Suécia estão cortejando a Aliança, especialmente seus elementos culturalmente mais à direita, o Partido Moderado e os Democratas Cristãos – por enquanto, sem sucesso a nível nacional.
A queda da centro-esquerda
As rupturas socioeconômicas, as novas tecnologias de comunicação e as novas formas de mobilidade enfraqueceram – em alguns casos, praticamente se dissolveram – as comunidades populares, suas organizações (partidos e sindicatos) e sua cultura. As cidades e vilas industriais da Suécia experimentaram o esvaziamento de sua cultura de trabalho, outrora rica e densa. Entretanto, 61% dos trabalhadores manuais e 73% dos trabalhadores não manuais continuam filiados a algum sindicato. A Liga da Educação dos Trabalhadores (ABF, por sua sigla em sueco) está presente em todo o país, embora agora ofereça, principalmente, cursos relacionados a hobbies e ensino de línguas estrangeiras. Em 1982, 60% dos eleitores suecos se consideravam “identificados” com algum partido político. Em 2014, esse número havia caído para 27%. Em 1956, 11% dos eleitores haviam mudando sua preferência partidária em relação às eleições anteriores; em 1968, esse número era de 19%; em 1982, 30%; e em 2018 a proporção subiu para 40%.[14]
A erosão do apoio da classe trabalhadora ao SAP começou mais claramente após a virada à direita do partido na década de 1980. Entre 1982 e 1991, seu percentual de votos entre a classe trabalhadora caiu de 70% para 57% Na época, o principal beneficiário era a Nova Democracia, um partido neoliberal e populista com um corte claramente xenofóbico. Após uma breve recuperação em 1994, ocorreu outra queda nas eleições de 2006: nessa ocasião, os eleitores votaram predominantemente nos moderados, que se concentraram nas questões de emprego e na crescente diferença entre empregados e desempregados, fazendo com que, entre 2006 e 2010, duplicassem seu apoio eleitoral entre a classe trabalhadora. Esses trabalhadores que votaram no Partido Moderado em 2014 proporcionaram aos Democratas da Suécia a maior parte de seu crescimento eleitoral.[15]
Políticas migratórias
A nova onda de migração internacional (e intercontinental) criou um conjunto particular de problemas na Europa, que foi, durante meio milênio, o centro mundial de emigração, expansão e conquista, enviando seu clero cristão para converter seguidores de outras religiões. Quando a Europa dominou os mares, não se falava em “integração de imigrantes”. Os poucos europeus que se “passavam por nativos” foram desprezados, não idolatrados, na Europa. Agora, os descendentes empobrecidos dos antigos conquistados viajam para os países habitados pelos descendentes de seus conquistadores. Essa nova virada migratória – acelerada por uma série de guerras lideradas pelos EUA em sua zona de influência ao sul da Europa, do Afeganistão à Líbia – está criando um problema real para a social-democracia europeia, cujos eleitores tradicionais são muito afetados pelo influxo de pessoas pobres e para quem os direitos sociais e a justiça social sempre foram de alcance nacional.
Na época em que o racismo era abundante em todos os lugares, os movimentos trabalhistas dos países colonizadores europeus orgulhosamente levantaram slogans como “Trabalhadores do mundo se unem e lutam por uma África do Sul branca” (na greve militante realizadas pelos mineiros da África do Sul em 1922) ou “Manter a Austrália branca” (um ponto do programa do Partido Trabalhista Australiano). Em uma era de “pós-racismo” oficial, como os movimentos da Europa lidam com as massas de imigrantes pobres batendo nas portas de suas fronteiras? Os sindicatos suecos apoiaram uma imigração regulamentada de trabalhadores nas décadas de 1960 e 1970. Agora apoiam que ela deveria ser permitida apenas excepcionalmente. Eles também apoiam a política mais restritiva de refugiados adotada após 2015, embora continuem aceitando o direito de asilo. O que mais os preocupa são as empresas da UE que trazem seus próprios trabalhadores mal remunerados. Os líderes sindicais têm sido muito ativos na campanha contra os Democratas da Suécia – embora com efeitos limitados fora dos grandes espaços industriais – e alguns sindicatos proibiram seus membros de ocuparem posições sindicais. As massas de imigrantes pobres representam um sério desafio para os partidos populares e progressistas, mas a oscilação do apoio político à xenofobia demonstra que, em larga medida, tal desafio é politicamente contingente.
Nas últimas eleições, os sociais-democratas conseguiram mudar as prioridades dos eleitores, afastando-os da questão migratória, e isso retardou a marcha em direção à xenofobia. Contudo, o Estado de bem-estar não era simplesmente um tema vitorioso para o SAP. Há muitas reclamações sobre listas de espera em hospitais e sobre as grandes distâncias que devem ser percorridas para alcançar clínicas na vasta região norte. Ainda que a Suécia não tenha sido submetida a um regime de austeridade comparável ao do governo conservador britânico, os recursos disponíveis são insuficientes para as crescentes demandas do envelhecimento da população. Os habitantes do norte acusam os políticos regionais do SAP de surdez ou insensibilidade às necessidades de saúde da população. No distrito eleitoral mais ao norte do país, historicamente um bastião do SAP e dos comunistas, um partido regional em defesa da saúde (Partido da Assistência Médica) se tornou a força mais votada. Os Democratas da Suécia também tentaram tirar proveito das injustiças relacionadas ao bem-estar, afirmando que os recursos eram inadequados porque o dinheiro foi gasto com refugiados. Os sociais-democratas não têm perdido apoio porque sua missão de realizar reformas sociais foi concluída; pelo contrário, estão sendo punidos por abandonarem a tarefa urgentemente necessária de melhora e intensificação dessas reformas.[16]
A análise da crise da social-democracia também deve prestar atenção à sua resiliência e ao espaço existente para o surgimento de uma nova esquerda. Essa resiliência tem dimensões econômicas, socioculturais e políticas. O aspecto econômico se refere, em especial, ao lugar que o país ocupa no sistema mundial: especificamente, na medida em que é vulnerável às flutuações do mercado mundial e às pressões dos credores, ou onde é prejudicado pelo subdesenvolvimento. Nesse aspecto, a Suécia se encontra em uma posição forte, como o noroeste da Europa em geral, mas anteriormente tinha a vantagem particular, agora reduzida, de ter sido uma economia igualitária, de tributação elevada e fortemente sindicalizada que competia com sucesso nos mercados mundiais.
Do ponto de vista social, a Suécia conserva, apesar de tudo, um legado duradouro de reformas. Não há cidades ou regiões inteiras arruinadas pelo deslocamento econômico. O princípio dos direitos sociais dos cidadãos permanece firmemente estabelecido. Do ponto de vista cultural, a orientação de solidariedade universalista e internacional observada no período pós-Guerra ainda persiste na Suécia, e isso torna mais difícil para que os partidos burgueses tradicionais formem um governo com o apoio da direita xenofóbica, como já fizeram suas contrapartes nos outros três países nórdicos.
A posição da social-democracia sueca no sistema partidário é muito mais favorável do que a de seus partidos irmãos em outras partes da Europa, especialmente fora da região nórdica. Não é preciso enfrentar um ou até dois grandes partidos burgueses, mas enfrenta uma infinidade dividida de formações menores de direita. O SAP continua sendo a maior força política em 25 dos 29 distritos eleitorais com múltiplas cadeiras na Suécia, embora haja somente um em que ainda receba mais de 40% dos votos, no extremo norte. Continua sendo o partido predominante da classe trabalhadora e mantém laços estreitos com um forte movimento sindical. Embora atualmente dominada por políticos profissionais, o SAP ainda pode se conectar com pessoas comuns, em grande parte graças ao atual chefe, Löfven, ex-líder do sindicato dos metalúrgicos, sem educação acadêmica, que exala decência popular, apesar de manter a mesma arrogância e preconceito que qualquer político europeu convencional. Às vezes, Löfven mostra seu instinto de classe, mas ele também é um representante típico dos quadros sindicais do setor de exportação, comprometidos com a colaboração de classe em benefício das empresas do setor.
Realinhamentos à esquerda?
A social-democracia sueca está realmente submersa em um pântano profundo, com um apoio eleitoral inferior ao alcançado em 1911. Porém, não está morrendo nem perdendo todo o seu peso político. A posição central do SAP no sistema político sueco foi reafirmada nas manobras pós-eleitorais, e o partido voltou lentamente a ter 30% nas pesquisas pós-eleitorais. Seus resultados recentes e suas perspectivas futuras questionam as reflexões simplistas sobre a crise terminal da social-democracia. Mesmo assim, a falta de regeneração da social-democracia tradicional está à vista, o que levanta outra questão quando enfrentamos as tendências direitistas atuais: há espaço para o surgimento de novas alternativas de esquerda?
Como vimos em vários países, a crise da social-democracia pode ser compensada pelo surgimento de novas forças de esquerda. O Partido da Esquerda Sueca deu um passo modesto nas eleições de 2018, aumentando seu voto para 8%. Atualmente, é um partido de tamanho intermediário nas três maiores cidades da Suécia, com entre 12% e 14% e alguns bastiões municipais em todo o país. É uma força social-democrata de esquerda razoável, apoiada por conselheiros diligentes e um líder popular, Jonas Sjöstedt, ainda que sem muita aptidão ideológica ou capacidade de inovação política. De origem comunista e, posteriormente, com posições eurocomunistas, o Partido de Esquerda mantém o legado político de 1968 na Suécia e sofreu um influxo considerável de novos afiliados nos últimos anos. Com o declínio do SAP, ele agora organiza as maiores manifestações em 1º de maio.
Tal qual na Alemanha, não há lugar para outro partido de centro-esquerda na Suécia, e os partidos existentes são fortemente institucionalizados, o que não deixa espaço real para algo semelhante à França Insubmissa se formar sobre suas ruínas. Pela mesma razão, não há porta aberta para os ativistas de esquerda entrarem em uma organização moribunda que, todavia, ainda mantém um peso parlamentar real, como o Partido Trabalhista britânico. E não há apoio algum para surgir um movimento popular como o Podemos – ao menos, até a próxima crise econômica. O que é necessário – é possível que seja alcançado – é que um amplo movimento não sectário venha a sacudir o SAP, o Partido de Esquerda e os Verdes, injetando nova energia, novas ideias e uma nova dose de radicalismo em suas veias e infundindo esperança e inspiração nas pessoas de tendência progressistas desiludidas com os partidos existentes. Poderíamos acrescentar que há mais potencial na classe média progressista da Suécia do que em muitos outros países, já que as camadas intermediárias suecas são compostas principalmente por funcionários sindicalizados. Vislumbra-se uma grande batalha social que incidirá sobre a dignidade do trabalho profissional – sua ética, vocação, autonomia e responsabilidade – sujeita aos ataques cada vez mais agressivos da “nova gestão pública”, os bucaneiros da privatização e seus sicários de consultoria empresariais. No entanto, essas alterações não são visíveis no momento. Assim, mesmo que um governo social-democrata tenha sido alcançado em janeiro de 2018 graças a uma aliança com liberais, verdes e centristas, é provável que a contrarreforma socioeconômica continue na Suécia, atingindo sem cessar o experimento de reforma social democrática e igualitária mais bem-sucedido do século passado.
Notas:
[1] A direita deveu sua vitória naquela ocasião à rejeição da energia nuclear pelo Partido de Centro e foi responsável por administrar a questão da energia em uma coalizão dividida.
[2] Ver a análise detalhada de Jonas Pontusson: “Radicalização e recuo na social-democracia sueca” na New Left Left Review 165, 9-10/1987.
[3] “Sweden Heads the Best Countries for Business for 2017” na Forbes, 21/12/2016.
[4] Angus Maddison: Contours of the World Economy, 1-2030 AD, Oxford UP, Oxford, 2007.
[5] Credit Suisse: Global Wealth Databook 2017, quadro 6.5.
[6] As distribuições comparativas de riqueza são mais difíceis de calcular do que as de renda, mas os dados sobre a extraordinária concentração da Suécia parecem muito sólidos. V., por exemplo, o trabalho do principal especialista sueco nesse campo, Daniel Waldenström, juntamente com Jacob Lundberg: “Desigualdade patrimonial na Suécia: o que podemos aprender com os dados de imposto de renda capitalizados?”, documento de trabalho, Departamento de Teoria Econômica Universidade de Uppsala, 22/04/2016. Segundo dados do Serviço de Estatística da Suécia, os 30% mais pobres do país não têm riqueza líquida, apenas dívidas líquidas (de fato, no conjunto, os 60% mais pobres não têm riqueza líquida). Mais documentação sobre os resultados da contrarreforma sueca pode ser encontrada em G. Therborn: “The ‘People’s Home’ is Falling Down, Time to Update Your View of Sweden” em Sociologisk Forskning vol. 54 n. 4, 2017, e Kapitalet, överheten och allá vi andra: Klassamhället i Sverige –det rådande och det kommande, Arkiv / a-z, Stockholm, 2018.
[7] Pobreza relativa é definida quando a renda é inferior a 60% da renda média nacional. V. Serviço de Estatística da Suécia: “Högre andel äldre med låg inkomst e Sverige jämfört med Norden”, 25/10/2017.
[8] Segundo Leif Pagrotsky, então ministro do SAP, a abolição do imposto sobre herança foi um presente feito por Göran Persson à classe empresarial sueca como uma expiação por não ter sido capaz de introduzir a Suécia no euro no referendo realizado em 2003. Erik Sandberg: Jakten på den försvunna skatten, Ordfront, Estocolmo, 2017.
[9] No último ano, tive a honra de dirigir um projeto de análise política, “A classe na Suécia”, juntamente com Katalys, o think tank sindical, que, até agora, publicou cerca de 20 relatórios e o livro Kapitalet, överheten e ali vi andra: Klassamhället e Sverige – det rådande och det kommande, cit.
[10] Desde o início do século, a Suécia também faz parte da “fábrica de refugiados”, com sua participação nas guerras dos EUA e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nos países de origem dos requerentes de asilo, embora mais como uma promessa de lealdade ao poder imperial do que como uma grande força de destruição. O exército sueco se somou à ocupação do Afeganistão em 2002 e à guerra travada pela OTAN na Líbia em 2011. Apesar da guerra dos sauditas e dos EUA no Iêmen, a Suécia continua vendendo armas aos invasores.
[11] Kirsti Jylhä, Jens Rydgren e Pontus Strimling: Sverigedemokraternas väljare, Institutet för Framtidsstudier, Stockholm, 2018. Esses dados proveem de uma grande pesquisa realizada em fevereiro e abril de 2018.
[12] Olle Folke e outros: “Arbetslinjen och finanskris förklarar sd: s framgångar” em DN Debatt, 05/09/2018.
[13] K. Jylhä, J. Rydgren e P. Strimling: Sverigedemokraternas väljare, cit.
[14] Henrik Oscarsson e Sören Holmberg: “Swedish Behavior Behavior 1956-2014”, Departamento de Ciência Política, Universidade de Gotemburgo, 21/10/2015.
[15] Per Hedberg: “Väljarnas partier 2014”, Departamento de Ciência Política, Universidade de Gotemburgo, 2015.
[16] Os habitantes de Estocolmo viram isso de perto no escândalo sobre a construção de um novo hospital, o Nya Karolinska, por meio de uma aliança público-privada ao estilo Tony Blair, que se tornou um pântano de corrupção e compadrio, imposto, apesar da oposição de todas as organizações profissionais, por políticos burgueses e uma horda de conselheiros guiados por questões ideológicas e liderados pelo Boston Consulting Group.
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