6 de dezembro de 2018

Recuperação é ainda mais lenta do que o previsto

Não será surpresa se as estimativas para 2019 se revelarem demasiado otimistas

Laura Carvalho

Folha de S.Paulo


Após a divulgação dos números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes ao terceiro trimestre do ano, as instituições financeiras que compõem o Boletim Focus reduziram mais uma vez suas expectativas de crescimento da economia brasileira em 2018: agora, a mediana das projeções caiu de 1,39% para 1,32%.

Tais projeções giravam em torno de 2,6% no fim do ano passado e chegaram a 2,9% em março deste ano, antes da paralisação dos caminhoneiros.

Os dados da produção industrial divulgados na terça-feira (4) também decepcionaram: a alta foi de apenas 0,2% em outubro, ante projeções que giravam em torno de 1,2%.

Há exatamente um ano, em 7/12/2017, em coluna nesta Folha, alertava para o que poderia ser a mais lenta recuperação da história das crises brasileiras. Utilizando projeções —pessimistas à época— de 2% ao ano de crescimento a partir de 2018, estimei que o PIB pré-crise só seria atingido em 2021, somando 20 trimestres de recuperação.

O que os mais recentes números sugerem é que a mais lenta recuperação da história das crises pode ser ainda mais lenta. Se a atividade econômica está 5% abaixo do pico de 2014, o Brasil terá de crescer um pouco mais de 2,5% ao ano para que sua economia comece o ano de 2021 no patamar que tinha antes do início da crise —um ritmo maior do que o observado entre 2011 e 2014 ou entre 1999 e 2002, por exemplo.

Mas o que está limitando nossa capacidade de recuperação? Primeiro, não há muitas razões para otimismo no mercado interno. Diante de uma capacidade ociosa ainda elevada, empresários endividados não veem razão para a realização de novos investimentos.

Consumidores, por sua vez, ainda estão lidando com o desemprego elevado, o baixo crescimento dos salários e as dívidas contraídas no passado. O efeito de medidas que funcionaram em 2017, como o saque de contas inativas do FGTS e do PIS-Pasep, infelizmente, é temporário.

Em cenários como esse, é necessário que a injeção de ânimo venha de outro lugar. Mas, se, de um lado, o resto do mundo está em plena desaceleração e corre um risco cada vez maior de entrar em uma nova crise, de outro, o Estado brasileiro está com as mãos atadas.

Mesmo se a reforma da Previdência for aprovada, as economias geradas não serão rápidas e nem grandes o suficiente para impedir que o teto de gastos comprima cada vez mais os investimentos públicos e outras despesas com efeito multiplicador elevado sobre a renda e o emprego.

Os investimentos realizados atualmente pelo governo já não são suficientes nem para repor a depreciação do capital (manutenção de estradas, viadutos e pontes, por exemplo), o que tende a piorar nos próximos anos.

Não à toa, o setor de construção civil registrou o 18º trimestre com desempenho negativo na comparação com igual trimestre do ano anterior, sendo o maior prejudicado pela crise.

Por fim, nem mesmo a venda de empresas e ativos públicos prometida pelo governo eleito —independentemente de seu mérito— tem a capacidade de aliviar esse cenário, pois o teto de gastos não é alterado pela geração de novas receitas. Ou seja, mesmo se os recursos obtidos forem utilizados para reduzir o patamar de dívida pública, a regra atual não abre espaço para a realização de mais investimentos pelo governo federal.

Diante desse quadro, não seria surpresa se as expectativas de crescimento para a economia brasileira em 2019 —que hoje giram em torno de 2,53% de acordo com o Boletim Focus— revelem-se, mais uma vez, demasiado otimistas.

Sobre a autora
Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, autora de "Valsa Brasileira: do Boom ao Caos Econômico".

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