25 de outubro de 2019

Idade e empregabilidade

Novas regras levam à pergunta: haverá empregos suficientes para os mais velhos?

Nelson Barbosa


O técnico de segurança do trabalho Luiz Henrique dos Santos, 58, desempregado há dois anos, e o filho Abderraman, 18 Danilo Verpa/Folhapress

A reforma da Previdência foi aprovada. Agora começa o "terceiro turno": a contestação de parte das mudanças junto ao Supremo Tribunal Federal.

Todos podem pleitear o que acharem adequado perante a lei, mas como já coloquei diversas vezes neste espaço e no blog da FGV-IBRE, a reforma da Previdência era necessária e inevitável.

As medidas aprovadas são um avanço, sobretudo na determinação de aposentadoria somente por idade mínima e no alinhamento das regras entre setor público e setor privado.

Como acontece em toda mudança importante, algumas questões ficaram mal resolvidas e provavelmente serão objetos de novas reformas no futuro próximo, mas hoje quero abordar uma questão menosprezada durante a discussão previdenciária: a empregabilidade de trabalhadores mais velhos.

As novas regras de aposentadoria farão com que as pessoas trabalhem por mais tempo, o que por sua vez leva à pergunta: haverá empregos suficientes para trabalhadores mais velhos?

Uma visão superficial do mercado de trabalho diria que sim, pois a taxa de desemprego é menor entre os mais velhos (mais de 55 anos) do que entre os mais jovens (até 25 anos). Com base nesse fato, um economista mais descuidado poderia achar que não há motivo para preocupação com os mais velhos,
mas a realidade é diferente.

Segundo estudo do Urban Institute (Washington DC, EUA), trabalhadores na faixa de 50 a 61 anos têm, de fato, probabilidade 25% menor de perder o emprego do que trabalhadores na faixa de 25 a 34 anos. Porém, uma vez desempregados, os trabalhadores mais velhos têm probabilidade 39% menor de achar novo emprego do que os trabalhadores mais jovens.

Traduzindo do economês, quanto maior a idade da pessoa, menor a chance dessa pessoa arrumar outro emprego caso seja demitida. Esse simples fato explica, em parte, por que o desemprego é mais baixo entre os mais velhos: quem tem mais de 50 simplesmente se agarra mais ao emprego que tem.

Os dados dos EUA e de outros países avançados também indicam que, quando arrumam novo emprego, os trabalhadores mais velhos têm grande perda salarial, se concentrando no que o economista Matthew Rutledge (Boston College, EUA), apelidou de “trabalhos de gente velha”: vendas, supervisão, contabilidade, transporte (motoristas), enfermagem e administração predial.

A combinação de elevação da idade de aposentadoria e baixa probabilidade de reemprego de trabalhadores mais velhos já levou vários países avançados a pensar políticas de emprego para esse grupo etário.

Em um estudo de 2006 (“Trabalhando Melhor com a Idade”), a OCDE fez um levantamento das práticas adotadas em nove países avançados. Em linhas gerais as recomendações do estudo se concentram em três eixos.

Primeiro, incentivos para que trabalhadores mais velhos adiem suas aposentadorias (como bônus por ano adicional trabalhado além do necessário para se aposentar).

Segundo, políticas de treinamento e recolocação específicas para trabalhadores mais velhos, sobretudo em atividades interpessoais com menor jornada de trabalho.

Terceiro, incentivo tributário e regras mais flexíveis para que as empresas contratem pessoas mais velhas, geralmente acima de 55 ou 60 anos.

Apesar de já termos milhões de pessoas mais velhas batalhando dia a dia no mercado de trabalho, por aqui nós ainda não demos a importância devida à empregabilidade de trabalhadores mais experientes. De qualquer modo, a rápida mudança da estrutura etária de nossa população tornará este tema inevitável para a política econômica dos próximos anos.

Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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