Ibrahim Alzeben
Embaixador da Palestina no Brasil
Folha de S.Paulo
Israel excedeu todos os limites da razão e da lógica. É verdade que guerra é guerra: morte, dor, violência, destruição e devastação. Mas o que vemos hoje é loucura, e parece caminho sem retorno. É difícil compreender o tamanho do genocídio.
Repetiram-se a posição internacional (sem adjetivos); o apoio americano aberto e ilimitado (desta vez com tropas no terreno); a duplicidade de critérios; uma rinha de galos no Conselho de Segurança da ONU. Declarações. Condenação, exigência de cessar-fogo. Repetiram-se frases também: racismo, limpeza étnica, guerra genocida, terrorismo e terrorismo de Estado.
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, durante entrevista à Folha em seu gabinete em Brasília - Pedro Ladeira - 1º.abr.19/Folhapress - Folhapress |
Aprendemos que pressão gera explosão. Israel aumentou o nível de pressão, de agressão, de insultos, descrevendo os palestinos como animais humanos. Isso somado ao confisco de terras e demolições de casas, punições coletivas em Jerusalém, nos santuários islâmicos e cristãos, assassinatos na Cisjordânia e o hediondo cerco à Faixa de Gaza, fechando todas as oportunidades para a solução de dois Estados. A explosão foi apenas questão de tempo.
O massacre atual junta-se a uma longa lista de atrocidades na Palestina. Os criminosos de guerra não comparecerão aos tribunais internacionais. As empreiteiras de guerra são as vencedoras: construtoras, empresas e laboratórios médicos, complexos industriais militares, empresários e políticos. Os civis seguirão pagando. Afinal, eles não contam.
Não devemos acusar o Hamas ou Binyamin Netanyahu e o seu gabinete de extremistas. O premiê faz tudo para escapar ao julgamento em nome da defesa da segurança e da existência de Israel.
O que deve ser responsabilizado é o sistema global como um todo, que permitiu a Israel praticar todos os tipos de opressão durante mais de sete décadas sem punição.
Bem, por que esta guerra devastadora, que ultrapassou todos os limites? Por que agora? Quem governará a Palestina?
Quem pode domá-los e impor-lhes uma solução que seja compatível com as ambições de Israel e de seus aliados e garanta a sua aquiescência?
Resposta simples: porque a presença dos palestinos incomoda os países cujos interesses se cruzam na região e coloca em perigo o controle do Mediterrâneo e a pilhagem contínua da riqueza (gás e petróleo). Já estão pensando no futuro de Gaza e dos palestinos.
O racismo e os crimes que carrega foram trazidos dos países ocidentais pelas gerações pré-israelenses no início do século 20. Na Europa, esse racismo produziu as formas mais horríveis de abuso humano da história moderna: o colonialismo, o nazismo e o fascismo, em duas guerras mundiais. Registre-se: os antepassados dos atuais israelenses foram vítimas dessa ideologia criminosa.
Por isso não sentem vergonha ou remorso no contínuo apoio à guerra de extermínio e retêm alimentos, medicamentos, água e combustível da Faixa de Gaza e de um grupo de "animais humanos". A história está se repetindo agora na Palestina.
A base ideológica colonial contra os povos que viveram no Japão (Hiroshima e Nagasaki), depois na Coreia, no Vietnã, no Camboja e no Laos, segue a mesma. Foi isso que as pessoas viveram no Afeganistão e no Iraque (1,5 milhão de crianças mortas), na Síria, Líbia e em outros países. É a mesma regra imoral no trato com outros seres humanos.
Israel continua o seu instinto de aniquilação. Não vejo perspectivas de solução enquanto esta for a base "intelectual" que orienta a ação no terreno. A questão chegou a um ponto em que um ministro do gabinete de Netanyahu ameaçou Gaza com um bombardeio nuclear.
O mundo não aprendeu com essas tragédias porque sofremos de memória curta. Israel aprendeu menos ainda. O genocídio em Gaza confirma que a humanidade sofre de esquizofrenia e de anulação da consciência.
Não há paz sem justiça e uma vida digna para o povo da Palestina, com base na segurança de todos.
O massacre atual junta-se a uma longa lista de atrocidades na Palestina. Os criminosos de guerra não comparecerão aos tribunais internacionais. As empreiteiras de guerra são as vencedoras: construtoras, empresas e laboratórios médicos, complexos industriais militares, empresários e políticos. Os civis seguirão pagando. Afinal, eles não contam.
Não devemos acusar o Hamas ou Binyamin Netanyahu e o seu gabinete de extremistas. O premiê faz tudo para escapar ao julgamento em nome da defesa da segurança e da existência de Israel.
O que deve ser responsabilizado é o sistema global como um todo, que permitiu a Israel praticar todos os tipos de opressão durante mais de sete décadas sem punição.
Bem, por que esta guerra devastadora, que ultrapassou todos os limites? Por que agora? Quem governará a Palestina?
Quem pode domá-los e impor-lhes uma solução que seja compatível com as ambições de Israel e de seus aliados e garanta a sua aquiescência?
Resposta simples: porque a presença dos palestinos incomoda os países cujos interesses se cruzam na região e coloca em perigo o controle do Mediterrâneo e a pilhagem contínua da riqueza (gás e petróleo). Já estão pensando no futuro de Gaza e dos palestinos.
O racismo e os crimes que carrega foram trazidos dos países ocidentais pelas gerações pré-israelenses no início do século 20. Na Europa, esse racismo produziu as formas mais horríveis de abuso humano da história moderna: o colonialismo, o nazismo e o fascismo, em duas guerras mundiais. Registre-se: os antepassados dos atuais israelenses foram vítimas dessa ideologia criminosa.
Por isso não sentem vergonha ou remorso no contínuo apoio à guerra de extermínio e retêm alimentos, medicamentos, água e combustível da Faixa de Gaza e de um grupo de "animais humanos". A história está se repetindo agora na Palestina.
A base ideológica colonial contra os povos que viveram no Japão (Hiroshima e Nagasaki), depois na Coreia, no Vietnã, no Camboja e no Laos, segue a mesma. Foi isso que as pessoas viveram no Afeganistão e no Iraque (1,5 milhão de crianças mortas), na Síria, Líbia e em outros países. É a mesma regra imoral no trato com outros seres humanos.
Israel continua o seu instinto de aniquilação. Não vejo perspectivas de solução enquanto esta for a base "intelectual" que orienta a ação no terreno. A questão chegou a um ponto em que um ministro do gabinete de Netanyahu ameaçou Gaza com um bombardeio nuclear.
O mundo não aprendeu com essas tragédias porque sofremos de memória curta. Israel aprendeu menos ainda. O genocídio em Gaza confirma que a humanidade sofre de esquizofrenia e de anulação da consciência.
Não há paz sem justiça e uma vida digna para o povo da Palestina, com base na segurança de todos.
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