Eduardo Sodré
Paulo Passos
Folha de S.Paulo
O desembarque de 7.000 carros da BYD de um navio no porto de Itajaí, no dia 28 de maio, foi celebrado pela empresa líder em vendas de veículos eletrificados no Brasil e no mundo. Enquanto comemorava a chegada recorde de produtos num mercado em que acumula sucesso, a montadora se preparava para outro desembarque, o de concorrentes.
O segmento de veículos eletrificados é um entre tantos, como os de smartphones, eletrônicos, equipamentos médicos, e-commerce e serviço de entregas, em que empresas da China concorrem pelo consumidor brasileiro.
Ao mesmo tempo em que disputam espaço com grupos locais e outras multinacionais, as chinesas protagonizam uma concorrência entre elas, replicando aqui o cenário que vivenciam no seu país.
Segundo a economista Keyu Jin, professora da London School of Economics, essa concorrência feroz traz problemas para os competidores de outros países e para a rentabilidade das empresas chinesas. Ao mesmo tem uma importância vital no avanço do gigante asiático, avalia ela.
"Essa disputa força as empresas a inovarem constantemente, em ciclos muito rápidos. Não tem como ficar confortável após o sucesso como acontece com as companhias da Europa e dos EUA.", compara.
No setor automotivo da China, por exemplo, existem centenas de marcas, com uma produção que o mercado local já não é capaz de absorver. Estimativas indicam que, atualmente, o estoque é superior a 3 milhões de unidades.
Já existem pelo menos oito marcas chinesas oficialmente instaladas no Brasil, que deve receber outras três – Leapmotor, MG Wuling – até o final deste ano.
O segmento de veículos eletrificados é um entre tantos, como os de smartphones, eletrônicos, equipamentos médicos, e-commerce e serviço de entregas, em que empresas da China concorrem pelo consumidor brasileiro.
Ao mesmo tempo em que disputam espaço com grupos locais e outras multinacionais, as chinesas protagonizam uma concorrência entre elas, replicando aqui o cenário que vivenciam no seu país.
Até 2028, no máximo, 2030, acredito que metade do mercado de e-commerce do Brasil será das asiáticas
Ícaro Medeiros
Gerente para o mercado de empresas chinesas na DHL Supply Chain
Segundo a economista Keyu Jin, professora da London School of Economics, essa concorrência feroz traz problemas para os competidores de outros países e para a rentabilidade das empresas chinesas. Ao mesmo tem uma importância vital no avanço do gigante asiático, avalia ela.
"Essa disputa força as empresas a inovarem constantemente, em ciclos muito rápidos. Não tem como ficar confortável após o sucesso como acontece com as companhias da Europa e dos EUA.", compara.
No setor automotivo da China, por exemplo, existem centenas de marcas, com uma produção que o mercado local já não é capaz de absorver. Estimativas indicam que, atualmente, o estoque é superior a 3 milhões de unidades.
Realidade semelhante é registrada em outras indústrias de tecnologia, como a de smartphones e de eletrônicos. Elas seguem uma política do Partido Comunista Chinês que incentiva a globalização das marcas do país.
Isso acontece no momento em que é cada vez mais difícil para as multinacionais crescerem no mercado local muito concorrido, avalia In Hsieh, consultor de empresas chinesas. "Quando conseguem crescer é em taxas de um dígito por ano, o que é insuficiente. Precisam mais e, para isso, a solução é se internacionalizar", afirma.
Com as restrições impostas nos EUA e na Europa, "o Brasil virou o grande campo de batalha [das empresas]", diz Hsieh.
É o caso do mercado de smartphones. Desde 2019, as cinco marcas locais que disputam com a Apple na China desembarcaram no Brasil. Primeira a chegar, a Xiaomi viu seus concorrentes Oppo, Honor, Vivo (rebatizada de Jovi) e, por último, a Huawei, com um celular de R$ 33 mil, lançarem produtos no Brasil.
Elas repetem uma competição que acontece há quase uma década na venda de ar-condicionados. As chinesas Gree e Midea disputam entre si e com as coreanas LG e Samsung o aquecido mercado brasileiro.
"Estamos cada vez mais olhando para o Brasil", afirma o vice-presidente comercial da Gree, Nicolaus Cheng. Segundo ele, o país representa 10% das vendas globais da empresa, que anuncia ser a maior fabricante de aparelhos do mundo.
A Gree, diz Cheng, planeja investir cerca de R$ 50 milhões na fábrica do grupo em Manaus até 2026. A ideia é nacionalizar a produção de componentes que atualmente vem da China.
De janeiro a maio, o Brasil registrou aumento de 70% na importação de peças para fabricação de ar-condicionado, na comparação com o mesmo período do anos passado. As indústrias instaladas no país gastaram US$ 370 milhões (R$ 2 bilhões) nesses componentes, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
O mesmo levantamento registra que os brasileiros em geral compram cada vez mais da China. Nos primeiros cinco primeiros meses do ano foram US$ 29,5 bilhões (R$ 163 bilhões), uma alta de 26% nas importações com origem no país asiático.
A tendência acelera ainda mais o investimento das empresas de e-commerce no Brasil, seguindo caminho traçado por Shopee, Shein e Alibaba, que passaram a ter novos concorrentes como Temu, Kwai Shop e TikTok Shop.
Quase um ano após a implementação da chamada "taxa da blusinha", com a cobrança de impostos sobre os produtos importados no valor de até US$ 50, as empresas asiáticas ampliaram investimentos no país.
A resposta delas à tributação "foi menos recuar e muito mais se adaptar e crescer", avalia Ícaro Medeiros, gerente para o mercado de empresas chinesas na DHL Supply Chain.
Para isso, apostaram no investimento em logística e na relação com vendedores locais, afirma o executivo. Ele cita como exemplo a Shein que ampliou a sua atuação como marketplace, com cerca de 30 mil vendedores no país. O grupo chinês que tem sede em Singapura montou um centro de distribuição em Guarulhos com mais de mil robôs.
Medeiros prevê uma disputa acirrada no setor vendas online nos próximos ano, com crescimento da participação das asiáticas. Hoje, a dona da maior fatia do mercado brasileiros é a argentina Mercado Livre, com cerca de 35% de participação, à frente da Shopee e da Amazon.
"Até 2028, no máximo, 2030, acredito que metade do mercado será das asiáticas", afirma o executivo da DHL.
Antes disso, outro segmento que deverá ser impactado pela concorrência com empresas da China é o de delivery. Dois gigantes, Didi e Meituan, prometem uma disputa acirrada com iFood e Rappi.
A 99, marca da Didi no Brasil, retomou o serviço de entrega em junho. Um mês antes, em maio, a Meituan, líder na Ásia, anunciou a chegada ao Brasil, durante a viagem de Lula a Pequim. A estreia está prevista para este ano, com a marca Keeta.
O grupo tem mais de 770 milhões de usuários ativos na China, 14,5 milhões de restaurantes parceiros e média 98 milhões de entregas diárias por meio de pedidos online só em 2024.
Isso acontece no momento em que é cada vez mais difícil para as multinacionais crescerem no mercado local muito concorrido, avalia In Hsieh, consultor de empresas chinesas. "Quando conseguem crescer é em taxas de um dígito por ano, o que é insuficiente. Precisam mais e, para isso, a solução é se internacionalizar", afirma.
Com as restrições impostas nos EUA e na Europa, "o Brasil virou o grande campo de batalha [das empresas]", diz Hsieh.
É o caso do mercado de smartphones. Desde 2019, as cinco marcas locais que disputam com a Apple na China desembarcaram no Brasil. Primeira a chegar, a Xiaomi viu seus concorrentes Oppo, Honor, Vivo (rebatizada de Jovi) e, por último, a Huawei, com um celular de R$ 33 mil, lançarem produtos no Brasil.
Elas repetem uma competição que acontece há quase uma década na venda de ar-condicionados. As chinesas Gree e Midea disputam entre si e com as coreanas LG e Samsung o aquecido mercado brasileiro.
"Estamos cada vez mais olhando para o Brasil", afirma o vice-presidente comercial da Gree, Nicolaus Cheng. Segundo ele, o país representa 10% das vendas globais da empresa, que anuncia ser a maior fabricante de aparelhos do mundo.
A Gree, diz Cheng, planeja investir cerca de R$ 50 milhões na fábrica do grupo em Manaus até 2026. A ideia é nacionalizar a produção de componentes que atualmente vem da China.
De janeiro a maio, o Brasil registrou aumento de 70% na importação de peças para fabricação de ar-condicionado, na comparação com o mesmo período do anos passado. As indústrias instaladas no país gastaram US$ 370 milhões (R$ 2 bilhões) nesses componentes, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
O mesmo levantamento registra que os brasileiros em geral compram cada vez mais da China. Nos primeiros cinco primeiros meses do ano foram US$ 29,5 bilhões (R$ 163 bilhões), uma alta de 26% nas importações com origem no país asiático.
A tendência acelera ainda mais o investimento das empresas de e-commerce no Brasil, seguindo caminho traçado por Shopee, Shein e Alibaba, que passaram a ter novos concorrentes como Temu, Kwai Shop e TikTok Shop.
Quase um ano após a implementação da chamada "taxa da blusinha", com a cobrança de impostos sobre os produtos importados no valor de até US$ 50, as empresas asiáticas ampliaram investimentos no país.
A resposta delas à tributação "foi menos recuar e muito mais se adaptar e crescer", avalia Ícaro Medeiros, gerente para o mercado de empresas chinesas na DHL Supply Chain.
Para isso, apostaram no investimento em logística e na relação com vendedores locais, afirma o executivo. Ele cita como exemplo a Shein que ampliou a sua atuação como marketplace, com cerca de 30 mil vendedores no país. O grupo chinês que tem sede em Singapura montou um centro de distribuição em Guarulhos com mais de mil robôs.
Medeiros prevê uma disputa acirrada no setor vendas online nos próximos ano, com crescimento da participação das asiáticas. Hoje, a dona da maior fatia do mercado brasileiros é a argentina Mercado Livre, com cerca de 35% de participação, à frente da Shopee e da Amazon.
"Até 2028, no máximo, 2030, acredito que metade do mercado será das asiáticas", afirma o executivo da DHL.
Antes disso, outro segmento que deverá ser impactado pela concorrência com empresas da China é o de delivery. Dois gigantes, Didi e Meituan, prometem uma disputa acirrada com iFood e Rappi.
A 99, marca da Didi no Brasil, retomou o serviço de entrega em junho. Um mês antes, em maio, a Meituan, líder na Ásia, anunciou a chegada ao Brasil, durante a viagem de Lula a Pequim. A estreia está prevista para este ano, com a marca Keeta.
O grupo tem mais de 770 milhões de usuários ativos na China, 14,5 milhões de restaurantes parceiros e média 98 milhões de entregas diárias por meio de pedidos online só em 2024.
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