Roberta Traspadini
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Volume 77, Number 03 (July-August 2025) |
E eu digo: os oprimidos nunca perguntam quem são os oprimidos porque eles sabem. Ministros de Estado, donos de minas ou fábricas nunca dizem que são oprimidos. Você acha que eles fazem parte do conceito de oprimido que utilizo em Pedagogia do Oprimido? Quem pertence ao conceito de oprimido que utilizo? Elas são as classes oprimidas.— Paulo Freire
Este artigo analisa as lutas pela terra como um elemento constituinte da história popular da América Latina e do Caribe, com foco particular no Brasil. Examina a resistência indígena, camponesa e quilombola e tenta abordar uma questão central: que lições as histórias de resistência desses grupos nos oferecem para as lutas atuais e como elas informam a construção do poder popular no século XXI?1
Nossa premissa fundamental é que a resistência indígena, camponesa e quilombola é um elemento definidor da luta de classes no Brasil. Recuperar essa história em toda a sua complexidade continua sendo um desafio, devido à forma como a violência colonial moldou a história oficial do Brasil — tanto no passado colonial quanto na construção do Estado-nação —, o que tornou essas experiências invisíveis ou as reduziu a estereótipos criminalizados. No entanto, embora essa história tenha sido suprimida, ela não foi completamente eliminada. Podemos tentar recuperá-la examinando a cultura popular e nos engajando na educação popular, que envolve processos contínuos de aprendizagem junto às comunidades para revelar como elas viveram ao longo do tempo e sobreviveram ao ataque do capital.
Nossa premissa fundamental é que a resistência indígena, camponesa e quilombola é um elemento definidor da luta de classes no Brasil. Recuperar essa história em toda a sua complexidade continua sendo um desafio, devido à forma como a violência colonial moldou a história oficial do Brasil — tanto no passado colonial quanto na construção do Estado-nação —, o que tornou essas experiências invisíveis ou as reduziu a estereótipos criminalizados. No entanto, embora essa história tenha sido suprimida, ela não foi completamente eliminada. Podemos tentar recuperá-la examinando a cultura popular e nos engajando na educação popular, que envolve processos contínuos de aprendizagem junto às comunidades para revelar como elas viveram ao longo do tempo e sobreviveram ao ataque do capital.
Ao resgatarmos experiências de resistência, observando os processos materiais no cotidiano das comunidades indígenas, quilombolas e camponesas ao longo do tempo, deparamo-nos com um mosaico repleto de conflitos e contradições. Há também lacunas significativas, pois os invasores de ontem e de hoje enterraram muitos dos relatos da resistência à opressão e à exploração que ocorreram nos últimos cinco séculos.2
O Brasil indígena, africano e camponês sobreviveu e continua existindo hoje, apesar dos processos e projetos de criminalização e genocídio que foram realizados contra suas vidas e comunidades por quinhentos anos. As lutas desses grupos pela terra e pela manutenção de suas comunidades nos ajudam a compreender uma história do Brasil que não se encontra nos livros de história oficiais. Um samba-enredo de 2019 captura nossa concepção dessa história alternativa quando se refere à “história que a história não conta, o outro lado do mesmo lugar”.3
Grande parte do bloco social popular no Brasil é composta por povos indígenas e afrodescendentes, bem como por camponeses. Como resultado do capitalismo dependente, eles tenderam a se tornar despossuídos, sem terra, superexplorados e sem liberdade.4 O capitalismo dependente, apesar da existência de liberdades formais, estabeleceu um novo tipo de escravidão de fato a partir do século XIX. Isso porque as economias dependentes tipicamente intensificavam as desigualdades econômicas e sociais internas para poder transferir valor para as metrópoles. No Brasil, o Estado assumiu a liderança nesse processo por meio de suas políticas opressivas de desenvolvimento. O resultado foi que os povos indígenas e afrodescendentes, bem como os camponeses, foram transformados nos eternos miseráveis da Terra.
Este artigo destaca como se pode aprender e extrair esperança dessas histórias de resistência. Também revela a injustiça de um sistema que produz riqueza mercantil e proteção legal para poucos, enquanto relega a vasta maioria à penúria e nega-lhes direitos sociais, políticos, econômicos e culturais. O artigo inspira-se na tradição da teoria marxista latino-americana e caribenha, que se baseia em lutas históricas e sociais, e enfatiza a necessidade de se situar ao lado do bloco social popular. Este último é um bloco de classe que é ativamente constituído como inferior, não apenas pelo capital, mas também por parte da esquerda, na tarefa de construir o poder popular.
Descoberta ou invasão? Genocídio, etnocídio e memoricídio
Em 22 de abril de 1500, um grupo de marinheiros rumo às Índias Orientais chegou a um território até então desconhecido na parte sul do que hoje é conhecido como América Latina. Eles alegaram tê-lo "descoberto". Para esses autoproclamados exploradores, a visão da terra — memorializada pelo grito de "Terra a vista" — levou ao encontro com novos sujeitos, formas de sociabilidade, concepções de vida e morte e formas de desenvolvimento. Os laços sociais no sul do continente eram tipicamente produzidos por meio de práticas coletivas e comunitárias. Isso incluía coleta, caça e pesca, juntamente com a grande variedade de métodos agrícolas empregados nas grandes florestas (as florestas Atlântica, Amazônica, Pantanal, entre outras).
Esses "descobridores" invasores eram profundamente ignorantes sobre o território e os povos da América Latina e do Caribe. Chamavam todo colonizado de "índio" e o identificavam como seres inferiores, aplicando uma lógica beligerante que contribuía para desigualdades fundamentais. Dessa forma, "índio" tornou-se um termo padrão, classificatório e homogeneizador, que expressava seu objetivo de colonizar, escravizar e apropriar-se de todo um complexo processo de produção de vida e cultura na região. Yanomamis, guaranis, tupis, tupinambás, tupiniquins, botocudos, xavantes, aimarás e outros povos eram todos considerados índios. A invasão fez com que os modos de produção originais sucumbisse, em grande parte, não sem resistência, à lógica da escravização e dominação colonial.5
A reivindicação portuguesa sobre a região significava que o empreendimento colonial tinha que ser sinônimo de guerra. Foi uma guerra tanto por causa de suas disputas comerciais com os outros países europeus colonizadores e escravizadores quanto porque eles forçaram seus processos de desenvolvimento naquele território até então autônomo. O período de 1500 a 2000 na história da América do Sul testemunhou uma reordenação das relações sociais, dos modos de produção da vida e dos processos artísticos e culturais. Tudo o que existia foi tachado de bárbaro, segundo os critérios civilizacionais de uma Europa que vivia uma contínua crise de poder.
A Europa não teria transitado do feudalismo para o capitalismo como o fez entre os anos 1500 e 1700 sem essa invasão, chamada de "descoberta", que destruiu povos e seus modos de vida. A "chamada acumulação primitiva" sobre a qual Marx escreveu permitiu a ascensão do capital industrial e, posteriormente, do capital financeiro. Sua ascensão dependeu do genocídio, da pilhagem e da expropriação-exploração perpetrados por meio da colonização e da escravidão.
A invasão catastrófica mergulhou os povos do continente na servidão. Reconstruir a história pré-invasão da América Latina e do Caribe é extremamente difícil. Exige recomeçar repetidamente com o objetivo de descobrir o que ainda permanece desconhecido. Ou seja, devemos reler continuamente a história a partir de novas descobertas, dada a terrível destruição dos modos de produção originais do continente, a escravização de seus povos e a lógica violenta de genocídio, etnocídio e memoricídio que aqui foi aplicada.6 No Brasil, o passado de seus povos originários foi sistematicamente enterrado, roubado e apagado, tornando extremamente desafiadores os esforços atuais para reconstruir uma narrativa histórica autêntica e plural.
A cada novo achado arqueológico e etnológico, as informações que possuímos sofrem uma mudança radical. Quanto mais nos aproximamos dessa história destruída, mais nos surpreendemos com as novas descobertas que emergem de todo o continente. A invasão tentou apagar a história dos povos originários do Brasil, fazendo do primeiro ano da colonização o suposto ponto de partida da nossa história. Foi um exercício concreto de violência apresentado como salvação, tanto pelo cristianismo quanto pelos europeus. A escala da destruição é impressionante: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que de um a seis milhões de indígenas viviam no território na época da invasão colonial, mas, no século XXI, eram menos de trezentos mil.7
Observar a recepção de imagens e histórias pode nos ajudar a traçar como os modos de vida indígenas foram negados e demonizados. No século XVIII, o retratista Alexandre Rodrigues Ferreira fez desenhos que mostravam a diversidade de métodos de produção no Brasil durante esse período, quando os povos indígenas lutavam pela sobrevivência diante da escravidão colonial.8 Por exemplo, sua representação de uma família Curutú na região Norte do Brasil (ver Imagem 1) revelou uma sociabilidade que equilibrava trabalho e tempo livre. A imagem também mostrou como eles empregavam elementos naturais e conhecimento arquitetônico para construir suas casas, a natureza de suas moradias coletivas e as relações harmoniosas entre pessoas de diferentes idades e gêneros.
De modo geral, o desenho original da casa Curutú, feito por Rodrigues Ferriera, retratava tanto as relações sociais produtivas quanto o desenvolvimento técnico indígena. No entanto, a mesma imagem seria posteriormente reproduzida e consumida de forma estereotipada, quando vista através das lentes da lógica desenvolvimentista violenta do Ocidente e de sua historiografia oficial. Tal imagem foi utilizada para mostrar como os povos originários das Américas eram bárbaros, selvagens, incivilizados, atrasados e violentos — em outras palavras, eram povos "sem cultura". Esse tipo de narrativa fabricada demonstra por que devemos ler a história a contrapelo.
Imagem 1. Casa Curutú, Final do Século XVIII
A Tempestade, de William Shakespeare, exemplifica o imaginário produzido pelos cronistas oficiais das metrópoles. O drama representa os indígenas americanos como bárbaros devoradores de gente, literalmente personificados na figura de Calibã (uma brincadeira com canibalismo). Enquanto isso, Próspero, o nobre europeu deslocado, é associado ao bondoso espírito Ariel e visa trazer desenvolvimento aos povos "atrasados".9 Assim, a história mitologiza a "descoberta" como portadora da civilização, tudo isso conectado ao tema da salvação. Essa ficção não é acidental: a Igreja Católica, o capital mercantil e os proprietários de terras europeus colaboraram durante séculos para produzir imagens e ideias que disfarçavam seus saques, dizimações e exploração de povos como ficções palatáveis.
Violência contra os Povos das Américas e da África: A Escravidão como Denominador Comum
Nas colônias britânicas, francesas, holandesas e espanholas, a adoção da mão de obra africana escravizada emergiu de três pressões convergentes: o colapso demográfico catastrófico das populações indígenas, a crescente demanda das metrópoles por extração de recursos durante o período colonial e a resistência indígena sustentada à exploração e opressão colonial.
Entre os séculos XVI e XIX, quase doze milhões de africanos foram escravizados e transportados para as Américas, com Portugal trazendo à força cinco milhões somente para o Brasil.10 O epicentro da escravidão foi inicialmente o Nordeste do Brasil, antes de se espalhar para o Sudeste e o interior do país. Com o tempo, a escravidão indígena e africana mudou de acordo com os ciclos econômicos do desenvolvimento colonial. A prática violenta de escravizar seres humanos com o objetivo de acumulação moldou a história de todo o continente e a história colonial específica do Brasil. Como aponta o cientista político e historiador Luís Felipe de Alencastro:
Durante esses três séculos, milhões de africanos chegaram a este lado do Atlântico e, em meio à miséria e ao sofrimento, tiveram a coragem e a esperança de formar as famílias e culturas que constituem uma parte essencial do povo brasileiro. Arrancados para sempre de suas famílias, de suas aldeias e de seu continente, foram deportados por traficantes luso-brasileiros e, em seguida, por traficantes brasileiros autênticos, que os trouxeram de volta acorrentados em navios que ostentavam a bandeira verde-dourada de nossa terra...11
A formação da nação brasileira — e, posteriormente, de sua precária república do século XIX — esteve inextricavelmente ligada à escravização de povos indígenas e africanos. Apesar de sua marginalização, esses dois grupos sociais criaram seus próprios sistemas econômicos, sociais, políticos, religiosos, culturais e artísticos por meio de processos de resistência e luta que permanecem em grande parte apagados da memória nacional. Suas lutas contra a servidão durante os quase quatro séculos de escravidão colonial foram excluídas das histórias oficiais. É por isso que devemos recorrer à história oral, à memória popular e às descobertas arqueológicas para construir uma alternativa à história oficial.
Todo o modo de produção brasileiro se baseava em uma contradição fundamental: um sistema econômico construído por populações indígenas e africanas escravizadas, sistematicamente excluídas da cidadania. Esses eram os "ninguéns" mencionados no famoso poema de Eduardo Galeano — as massas despossuídas que ainda assombram as ruas das cidades capitalistas dependentes da América Latina.12
A história da identidade racial mista também emerge, uma saga violenta de racismo estrutural e estereótipos persistentes. Nos séculos XX e XXI, o tratamento dispensado a pessoas mestiças e seus descendentes reflete o legado profundamente enraizado da escravidão — não mais nos horrores dos navios negreiros e das plantações, mas na política cotidiana, na superexploração e no imaginário cultural depreciativo.
O livro México Profundo, de Guillermo Bonfil Batalla, de 1987, afirmava que havia um "México Profundo" com raízes pré-colombianas que poderia ser contrastado com o "México Imaginário", baseado em estruturas coloniais que apagavam a história e em uma concepção restrita de civilização.13 A mesma ideia pode ser aplicada ao Brasil, onde existe um Brasil Profundo, com suas próprias histórias e seus próprios modos de produção indígenas e africanos. O subreconhecido Brasil Profundo possui uma estrutura plural e diversa e opera com uma noção de riqueza fundamentalmente diferente da acumulação capitalista.
Em contraste, o Brasil Imaginário possui uma configuração jurídica e política que mantém uma parte significativa das pessoas que construíram nossa história relegada à condição de mercadorias — ou seja, não sujeitos. A relação dialética entre esses dois mundos ressoa com a perspectiva de Clóvis Moura, importante sociólogo brasileiro que estudou a opressão racial no Brasil. Moura apontou como a escravidão plena ("escravismo pleno") se transformou em escravidão tardia ("escravismo tardio"), na qual um grupo significativo de cidadãos é relegado à condição de não sujeitos pelo próprio Estado de Direito.14
No século atual, autores negros de todos os gêneros ganharam maior destaque nos debates acadêmicos, graças às justas demandas dos movimentos sociais negros e feministas. No século XX, aqueles que investigaram a questão da opressão e da resistência racial por vezes se tornaram figuras bem reconhecidas, mas tinham baixo perfil acadêmico. Mesmo em partidos políticos de esquerda, apenas algumas figuras masculinas que estudaram a formação social do Brasil receberam destaque, enquanto outros pesquisadores foram mantidos na sombra. Felizmente, as lutas dos movimentos sociais do continente não apenas mudaram essa situação, mas também levaram a novas fontes de informação e a pesquisas renovadas sobre sujeitos, territórios e territorialidades.
Um importante foco de pesquisa para aqueles que buscam resgatar os sujeitos políticos envolvidos em resistências, levantes e revoluções é o Quilombo dos Palmares, fundado em 1580 no estado de Pernambuco, no nordeste do país. Há também pesquisas sobre os movimentos sociais que lutaram pela terra e sobre as diversas formas de resistência indígena que ocorreram em todo o Brasil. Muitas informações novas certamente surgirão nos próximos séculos, com base na história oral e na análise das lacunas no registro histórico.
No entanto, mesmo relendo relatos existentes, como os de Bernardo de Sahágun, Bartolomé de las Casas e José de Anchieta — juntamente com fontes saqueadas na Europa e nos Estados Unidos —, podemos descobrir histórias que desafiam a história oficial. Nessas fontes (incluindo relatórios, desenhos e coletâneas de canções), encontramos informações que, embora não mensurem com precisão a escala das revoltas, ainda revelam um continente marcado por constantes rebeliões.
O Brasil teve quase quatrocentos anos de escravidão formal e tem uma história ainda mais longa de latifúndios altamente concentrados. Ao longo dessa história, emergem narrativas de resistência — não apenas histórias de deslocamento e exploração, mas também histórias daqueles que lutaram por autonomia, subsistência e modos de vida para além do ciclo implacável de empobrecimento do capital. Mesmo em um contexto marcado por racismo, eugenia e políticas de "branqueamento" patrocinadas pelo Estado, essas lutas persistiram, desafiando os próprios fundamentos da ordem capitalista.15
Durante o período da escravidão formal, a fuga dos escravizados era uma luta por liberdade e sempre esteve ligada à organização coletiva da terra. Não se tratava apenas de fugir da servidão, mas de sobrevivência e de criar novas formas de produção comunitária e não mercantis. A luta para sobreviver e produzir dessa forma gerou projetos de resistência em todo o continente que, em sua oposição aos proprietários privados coloniais e neocoloniais, constituem uma história de vida para além do capital. Envolveu autogestão, autodefesa territorial e organização produtiva e política guiada por princípios e valores ancorados na agricultura de sustentação da vida.
A luta pela terra no Brasil sempre foi, em sua essência, uma luta por modos de vida alternativos. Da resistência ao colonialismo ao desafio ao modo de produção capitalista, essas lutas buscaram não apenas a liberdade do regime salarial, mas também uma libertação substantiva enraizada na autonomia, na sobrevivência coletiva e no desafio à exploração. Os camponeses sem terra e os pobres rurais de hoje herdam esse legado de resistência indígena e afro-brasileira. Sua luta contínua para sustentar a produção comunal e resistir à expansão implacável do agronegócio a serviço da acumulação capitalista continua uma batalha de séculos.
Apesar da transição do modo de produção mercantil-escravista para o capitalismo industrial-financeiro, há continuidades duradouras na luta popular. Os camponeses sem terra e os trabalhadores proletarizados de hoje herdam esse legado, formando o bloco social contemporâneo de resistência. Os quilombos exemplificam essa luta secular por autodeterminação em toda a América Latina e no Caribe, que também foi incorporada na revolta revolucionária haitiana do século XVIII. Esse momento decisivo, liderado por revolucionários negros, não só alcançou a independência nacional, mas também inspirou movimentos populares em todo o continente.16
Resistência à ofensiva violenta do capitalismo e seus Estados-nação
A história do Quilombo de Palmares no século XVII ressoa com as lutas do nosso tempo. O samba-enredo de 2016 “Palmares, Um Modelo de República Popular”, do grupo de samba paulista Pega o Lenço vai-Mauá, captura essa ideia:
Viemos prestar homenagem aUm marco importante na história do BrasilPalmares foi o ventre da nossa liberdadeEu digo a verdade e não a ignoroPor mais de sessenta anos, resistiuSeus quilombos vieram mostrarUm modelo de república popularEm solo pernambucanoA grande revolução aconteceuSeus guerreiros escreveram as páginas da aboliçãoPalmares, terra da liberdadeMora em nossos corações.17
Ainda hoje, existem 8.441 territórios quilombolas reconhecidos no Brasil, com uma população autodeclarada quilombola de 1,3 milhão de pessoas. A questão agrária permanece central em sua luta, já que apenas 4,33% dessa população vive em territórios oficialmente regularizados. Enquanto a esmagadora maioria (85,62%) permanece em um limbo jurídico, com sua luta pela terra invisibilizada pelo Estado. São, em grande medida, sujeitos sem direitos sob a perspectiva do Estado brasileiro.18
A luta pela terra — fundamental a todo modo de produção — moldou as lutas populares do Brasil ao longo de sucessivos ciclos econômicos. Mas como podemos resgatar uma história que foi sistematicamente apagada, distorcida e descartada como marginal? Como desafiamos as narrativas acadêmicas dominantes que ignoram cinco séculos de resistência de povos indígenas, comunidades afro-latinas e camponeses, grupos que resistiram à desapropriação e à acumulação capitalista?
A história do Quilombo de Palmares se destaca como uma das narrativas mais importantes da resistência negra no Brasil, não apenas por sua impressionante longevidade, mas por resistir a repetidos ataques às suas bases econômicas, sociais e políticas. O objetivo não era apenas derrotar Palmares militarmente, mas eliminá-lo como símbolo. As potências coloniais entendiam que, se o quilombo fosse vitorioso, esse processo de confronto, resistência, e a luta vitoriosa teria se espalhado por todo o país.
Moura conceitua quilombos como espaços de produção de vida que operam para além da lógica espaço-temporal da escravidão colonial.19 Ele enquadra a quilombagem como uma prática política secular de resistência afro-latina — uma luta contra o apagamento da história e da cultura negras, enraizada no direito fundamental à autodeterminação. Para Moura, o quilombo representava a unidade básica da resistência dos povos escravizados.20 Além desse tipo de resistência, surgiram outras formas de luta, incluindo a guerra direta, o suicídio coletivo e a organização militar.
O Quilombo de Palmares representa para o Brasil o que a luta dos jacobinos negros foi para o Haiti: Estados negros autônomos que redefiniram a própria liberdade por meio de sua luta por terra e autodeterminação. Ambos os movimentos representavam uma alternativa radical à "liberdade" vazia oferecida pelo republicanismo, que apenas transformava africanos escravizados em proletários superexplorados dentro do capitalismo global. Como enfatiza o historiador Edison Nascimento: "O Quilombo era um chamado perpétuo — uma união Grito, uma bandeira de esperança para os negros escravizados nas áreas circunvizinhas. Era um chamado permanente à rebelião: fugir para o mato, lutar pela liberdade.”21
O censo do IBGE de 2024 no Brasil foi o primeiro a coletar dados sobre indivíduos autodeclarados quilombolas. Esses dados oferecem pistas úteis para reconstruir a história e a memória dessas comunidades, examinando o cotidiano daqueles que habitam os territórios quilombolas. Essas comunidades mantiveram seus próprios processos econômicos, sociais, culturais e políticos, apesar do retrocesso das lutas sociais no continente.
Como revelam os Mapas 1 e 2, o Nordeste do Brasil abriga o maior número de quilombos, com 68,14%, seguido pelas regiões Sudeste (14,75%), Norte (14,55%), Sul (3,60%) e Centro-Oeste (3,29%).22 Quando organizadas por estado, como no Gráfico 1, as informações se tornam ainda mais interessantes.
Mapa 1. Localidades Quilombolas, 2022
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Source: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, "Localidades quilombolas-2022", Panorama do Censo 2022. |
Map 2. Populações Quilombolas, 2022
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Source: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, "Pessoas quilombolas-2022", Panorama do Censo 2022. |
Gráfico 1. Estimativa de Localidades Quilombolas por Unidade da Federação, 2019
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Fonte: Alexandre Barros, "Contra a Covid-19, IBGE antecipa dados sobre povos indígenas e quilombolas", Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, April 24, 2020. |
Há uma vasta gama de histórias que podem ser contadas sobre a vida concreta dessas comunidades e indivíduos: sua distribuição espacial, suas batalhas legais pelo reconhecimento de terras e suas práticas territoriais autodeterminadas. Em geral, os quilombos expressam como os Estados-nação latino-americanos e caribenhos — passados e presentes — foram constituídos por meio da exclusão de certos grupos sociais. Eles são estruturados de maneiras que relegam esses grupos a uma luta contínua por reconhecimento como cidadãos. Nos termos de Moura, para essa população, a história é o processo de transição de "bons escravos" para "maus cidadãos".
De acordo com dados do IBGE de 2024, as populações negra (20,5 milhões) e parda (92,1 milhões) do Brasil, juntamente com seus 1,7 milhão de indígenas, constituem 114,3 milhões dos 211 milhões de habitantes do país — mais da metade da população nacional. No entanto, suas histórias permanecem sistematicamente apagadas dos relatos oficiais da formação social do Brasil. Em vez de suas histórias autênticas, somos alimentados por um fluxo constante de caricaturas racistas que enquadram essas comunidades como "bárbaros" do passado ou "criminosos" do presente. Essa deturpação violenta ressalta o quanto da verdadeira história do Brasil permanece desconhecida.
As políticas públicas continuam a moldar a vida dos negros hoje, assim como no passado. O sistema prisional brasileiro é um exemplo disso, impondo exclusão, fome e encarceramento em massa. Dos mais de 850.000 presos no Brasil, 70% são negros, 96% são homens e 30% estão presos preventivamente — às vezes por até uma década.23 O Estado efetivamente aplica sentenças de morte, encarcerando aqueles a quem nega direitos. Cada preso se torna uma estatística enquanto suas famílias sofrem dor, abandono e violência estatal. O sistema prisional perpetua a longa história de violência contra os pobres no Brasil, modernizando o chicote, a mordaça e o tronco para o século XXI.
O sistema prisional brasileiro reproduz fielmente a lógica dos navios negreiros dos séculos XVII e XVIII. Rebeliões dentro e fora dos muros das prisões abrem uma janela para uma longa história de revoltas que inclui a Revolta dos Malês (1835), a Balaiada (1838-1841), a Cabanagem no Grão-Pará (1835-1840) e O Contestado no sul do Brasil (1912-1916). Essas revoltas devem nos alertar para a existência de outras histórias de rebelião que certamente permanecem não contadas, cujo legado poderia ser explorado tanto na batalha de ideias quanto na luta pela sobrevivência real.
O século XX testemunhou um recrudescimento da resistência brasileira com o surgimento de um novo e importante movimento social, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cujas raízes remontam ao legado dos quilombos — entendidos como territórios de resistência e autogestão coletiva —, bem como às experiências de resistência indígena.24
Há uma luta constante no Brasil entre dois modelos: um enraizado na alimentação sustentável e na soberania popular, e o outro no agronegócio dependente de produtos químicos e na superexploração do trabalho. Essas duas formas de produção coexistiram continuamente ao longo da história do Brasil, e a persistência da primeira tem sido a base da resistência. No entanto, o campo progressista, para não mencionar a sociedade brasileira em geral, tem tido dificuldade em disseminar essa história de resistência. Por isso, precisamos reconstruir um quadro claro dessa luta de quinhentos anos contra o genocídio das comunidades indígenas, afro-latinas e camponesas.
Para compreender a atual luta pela terra, os números falam claramente: as pequenas propriedades rurais representam 76,6% das propriedades rurais, mas ocupam apenas 23% das terras aráveis, produzindo 23% da produção agrícola bruta e empregando dez milhões de pessoas. Enquanto isso, os latifúndios, vastas propriedades dedicadas à monocultura para exportação, utilizam mais da metade das terras agrícolas do país, representando apenas 1% dos estabelecimentos.25
Considerações finais
Que lições emergem dessa longa história de resistência que se estende desde a invasão colonial, abrangendo os quilombos, a resistência indígena e as lutas pela terra atuais?
Por mais de quinhentos anos, a resistência indígena, afro-latina e camponesa desafiou persistentemente a escravidão colonial e o modo de produção capitalista. Suas estratégias de sobrevivência e luta envolveram a construção de sistemas sociais alternativos capazes de resolver a questão da soberania alimentar, empregando formas de governo autônomo.
O Estado brasileiro foi e é coparticipante na produção de um modelo de desenvolvimento essencialmente hostil às classes populares. Por que a quilombagem e outras formas de resistência persistem? Porque o projeto republicano do século XIX — em consonância com a lógica do capitalismo dependente — excluiu essas comunidades do mercado de trabalho formal. Na melhor das hipóteses, elas foram relegadas aos salários mais baixos, levando a uma racialização da pobreza. Com o tempo, essas populações ficaram não apenas sem terra, mas também sem voz e sem direitos. O Estado serviu aos latifúndios, ao mesmo tempo em que desenvolveu um sistema prisional para os sem-terra, os sem-teto e os sem-vida.
Para contar a história da resistência, precisamos investigar os próprios territórios onde as pessoas vivem seu cotidiano. Comunidades indígenas, quilombos e acampamentos de sem-terra são territórios ricos em história oral. Ao interagir com eles, podemos descobrir modos de vida alternativos e explorar as possibilidades de superar o modelo de desenvolvimento capitalista. Essas comunidades, forjadas por meio de lutas seculares pela sobrevivência, são ricas fontes de conhecimento. A educação popular e a cultura popular devem ser entendidas como os fundamentos da história oral em nossa região.
Tentei destacar o profundo legado do poder popular na América Latina e no Caribe. Esse legado nos convoca a ouvir e construir coletivamente com aqueles que resistem. Refundar a esquerda implica corrigir um descuido histórico: a esquerda, mesmo compreendendo como o inimigo atua, tem sido lenta em reconhecer como sujeitos populares diversos e plurais, incluindo os movimentos indígena, quilombola e camponês, contribuíram para os processos revolucionários. Na nossa região, a revolução foi e continua sendo camponesa, indígena e quilombola. A questão fundamental é esta: estamos preparados para corrigir o caminho que tomamos e refazer o rumo em busca do poder popular?
Notas
1. Neste artigo, o termo popular refere-se à ampla classe trabalhadora. Para mais discussão sobre o termo e as condições dos segmentos mais superexplorados, oprimidos e segregados da classe trabalhadora, ver Roberta Traspadini, "América Latina e o popular: Reflexões impertinentes", Revista Emancipa no. 6 (junho de 2021): 96–119; Jesús Martíns-Barbero, Dos meios às profundidades: Comunicação, cultura e hegemonia (Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1987); e Paulo Freire, "Pablo Freire em Bolívia", Fe y Pueblo Revista Ecumenica de Reflexión Teológica IV, no. 16–17 (1987).
2. See Alberto Hijar, La práxis estética: dimensión estética libertária (México D.F.: Instituto Nacional de Bellas Artes y Literatura, 2013).
3. Born in favelas and Afro-Brazilian communities, samba is a powerful vehicle for popular memory and resistance. These lyrics are from Estação Primeira de Mangueira’s winning samba theme in 2019.
4. Roberta Traspadini, Questão agrária, imperialismo e dependência na América Latina (São Paulo: Editora Lutas Anticapital, 2022); Ruy Mauro Marini, The Dialectics of Dependency (New York: Monthly Review Press, 2022).
5. On the European invasion, see Adolfo Gilly, Historia a contrapelo: una constelación (México D.F.: Editora Era, 2006); Miguel Leon-Portilla, Visión de los vencidos (México D.F.: UNAM, 2003); Edmundo O’Gorman, La invención de América: investigación acerca de la estructura histórica del Nuevo Mundo y del sentido de su devenir (México D.F.: Fundo de Cultura Economica, 2003); Todorov Tzvetan, A Conquista da América: a questão do outro (São Paulo: Martins Fontes, 1982). An important critique of the invasion from an Indigenous perspective can be found in Aylton Krenak, Ideias para adiar o fim do mundo (São Paulo: Companhia das letras, 2019).
6. For a discussion of memoricide, see Fernando Báez, A história da destruição cultural da América Latina: da conquisa à globalização (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010).
7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic (IBGE), Brasil 500 anos de povoamento (Rio de Jainero: IBGE, 2007).
8. IBGE, Brasil 500 anos de povoamento, 46.
9. Roberto Fernández Retamar, Todo Caliban (México D.F.: Viandante, 2019).
10. João José Reis, "A presença negra: encontros e conflitos", in Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Brasil: 500 anos de povoamento, 81-99.
11. Luís Felipe de Alencastro, “Cotas: Parecer de Luís Felipe de Alencastro,” Fundação Perseu Abramo, March 24, 2010, fpabramo.org.br. Alencastro’s reference to “the green-gold banner of our land” comes from abolitionist poet Antonio de Castro Alves’s 1868 poem “O navio negreiro” (“The Slaveship”).
12. Eduardo Galeano’s poem “Los Nadies” refers to “The nobodies…./Who don’t speak languages, but dialects/Who don’t have religions, but superstitions./Who don’t create art, but handicrafts./Who don’t have culture, but folklore./Who are not human beings, but human resources./Who do not have faces, but arms./Who do not have names, but numbers./Who do not appear in the history of the world, but in the police blotter of the local paper./The nobodies, who are not worth the bullet that kills them.”
13. Guilllermo Bonfil Batalla, México Profundo: Una civilización negada (Mexico D.F.: Grijaldo, 1987).
14. Clóvis Moura, Negro, de bom escravo a mau cidadão (Rio de Janeiro: Tavares & Tristão, 1977). See also Clóvis Moura, Dialética radical do Brasil negro (São Paulo: Fundação Maurício Grabois/Anita Garibaldi, 2014); and Jacob Gorender, O escravismo colonial (São Paulo: Expressão Popular e Perseu Abramo, 2016).
15. See Weber Lopes Góes, Racismo e Eugenia no Pensamento Conservador Brasileiro: a proposta de povo em Renato Kehl (São Paulo: Liber Ars, 2018).
16. Some of the classic works on this subject are C. L. R. James, Toussaint L’Ouverture and the San Domingo Revolution (New York: Vintage, 1989); and Eric Williams, Capitalism and Slavery (University of North Carolina Press, 1994). See also Cristiane Luiza Sabino de Souza, Racismo e luta de classes na América Latina: as veias abertas do capitalismo dependente (São Paulo: Editora Hucitec, 2020); and Marcio Faria, Clóvis Moura e o Brasil: um ensaio crítico (São Paulo: Editora Dandara, 2024).
17. A recording of this samba theme can be found at SoundCloud: Edinho Carvalho, “Palmares, Um Modelo De República Popular,” soundcloud.com/edinho-carvalho-2/palmares-um-modelo-de-republica-popular-danilo-edinho-lo-re-marcio-tb.
18. IBGE, “Censo 2022: Brasil possui 8.441 localidades quilombolas, 24% delas no Maranhão,” July 19, 2024.
19. Moura demonstrates how, across Latin America and the Caribbean, Afro-Latinx resistance manifested in distinct forms—such as quilombos, palenques, cumbes, and so on—each shaped by the specificities of their colonial contexts. Moura, Negro, de bom escravo a mau cidadão, chapters 2 and 3.
20 Clóvis Moura, Quilombos resistência ao escravismo (Piauí: EdUESPI, 2021).
21. Edson Carbeuri, Quilombo dos Palmares (São Paulo: São Paulo Editora SA, 1957), 34.
22. IGBE, "Censo demográfico 2022", acessado em 15 de fevereiro de 2025.
23 Dados de "Infopen-levantamento de informações penitenciárias".
24. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), "Nossa História".
3. Born in favelas and Afro-Brazilian communities, samba is a powerful vehicle for popular memory and resistance. These lyrics are from Estação Primeira de Mangueira’s winning samba theme in 2019.
4. Roberta Traspadini, Questão agrária, imperialismo e dependência na América Latina (São Paulo: Editora Lutas Anticapital, 2022); Ruy Mauro Marini, The Dialectics of Dependency (New York: Monthly Review Press, 2022).
5. On the European invasion, see Adolfo Gilly, Historia a contrapelo: una constelación (México D.F.: Editora Era, 2006); Miguel Leon-Portilla, Visión de los vencidos (México D.F.: UNAM, 2003); Edmundo O’Gorman, La invención de América: investigación acerca de la estructura histórica del Nuevo Mundo y del sentido de su devenir (México D.F.: Fundo de Cultura Economica, 2003); Todorov Tzvetan, A Conquista da América: a questão do outro (São Paulo: Martins Fontes, 1982). An important critique of the invasion from an Indigenous perspective can be found in Aylton Krenak, Ideias para adiar o fim do mundo (São Paulo: Companhia das letras, 2019).
6. For a discussion of memoricide, see Fernando Báez, A história da destruição cultural da América Latina: da conquisa à globalização (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010).
7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic (IBGE), Brasil 500 anos de povoamento (Rio de Jainero: IBGE, 2007).
8. IBGE, Brasil 500 anos de povoamento, 46.
9. Roberto Fernández Retamar, Todo Caliban (México D.F.: Viandante, 2019).
10. João José Reis, "A presença negra: encontros e conflitos", in Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Brasil: 500 anos de povoamento, 81-99.
11. Luís Felipe de Alencastro, “Cotas: Parecer de Luís Felipe de Alencastro,” Fundação Perseu Abramo, March 24, 2010, fpabramo.org.br. Alencastro’s reference to “the green-gold banner of our land” comes from abolitionist poet Antonio de Castro Alves’s 1868 poem “O navio negreiro” (“The Slaveship”).
12. Eduardo Galeano’s poem “Los Nadies” refers to “The nobodies…./Who don’t speak languages, but dialects/Who don’t have religions, but superstitions./Who don’t create art, but handicrafts./Who don’t have culture, but folklore./Who are not human beings, but human resources./Who do not have faces, but arms./Who do not have names, but numbers./Who do not appear in the history of the world, but in the police blotter of the local paper./The nobodies, who are not worth the bullet that kills them.”
13. Guilllermo Bonfil Batalla, México Profundo: Una civilización negada (Mexico D.F.: Grijaldo, 1987).
14. Clóvis Moura, Negro, de bom escravo a mau cidadão (Rio de Janeiro: Tavares & Tristão, 1977). See also Clóvis Moura, Dialética radical do Brasil negro (São Paulo: Fundação Maurício Grabois/Anita Garibaldi, 2014); and Jacob Gorender, O escravismo colonial (São Paulo: Expressão Popular e Perseu Abramo, 2016).
15. See Weber Lopes Góes, Racismo e Eugenia no Pensamento Conservador Brasileiro: a proposta de povo em Renato Kehl (São Paulo: Liber Ars, 2018).
16. Some of the classic works on this subject are C. L. R. James, Toussaint L’Ouverture and the San Domingo Revolution (New York: Vintage, 1989); and Eric Williams, Capitalism and Slavery (University of North Carolina Press, 1994). See also Cristiane Luiza Sabino de Souza, Racismo e luta de classes na América Latina: as veias abertas do capitalismo dependente (São Paulo: Editora Hucitec, 2020); and Marcio Faria, Clóvis Moura e o Brasil: um ensaio crítico (São Paulo: Editora Dandara, 2024).
17. A recording of this samba theme can be found at SoundCloud: Edinho Carvalho, “Palmares, Um Modelo De República Popular,” soundcloud.com/edinho-carvalho-2/palmares-um-modelo-de-republica-popular-danilo-edinho-lo-re-marcio-tb.
18. IBGE, “Censo 2022: Brasil possui 8.441 localidades quilombolas, 24% delas no Maranhão,” July 19, 2024.
19. Moura demonstrates how, across Latin America and the Caribbean, Afro-Latinx resistance manifested in distinct forms—such as quilombos, palenques, cumbes, and so on—each shaped by the specificities of their colonial contexts. Moura, Negro, de bom escravo a mau cidadão, chapters 2 and 3.
20 Clóvis Moura, Quilombos resistência ao escravismo (Piauí: EdUESPI, 2021).
21. Edson Carbeuri, Quilombo dos Palmares (São Paulo: São Paulo Editora SA, 1957), 34.
22. IGBE, "Censo demográfico 2022", acessado em 15 de fevereiro de 2025.
23 Dados de "Infopen-levantamento de informações penitenciárias".
24. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), "Nossa História".
25. Fetaesc, Anuário estatístico da agricultura familiar 2024 (São José: Fetaesc, 2024).
Roberta Traspadini é educadora popular na Escola Nacional Florestan Fernandes (MST) no Brasil e professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, onde leciona relações internacionais e integração regional. Suas publicações recentes incluem Ruy Mauro Marini: Dialética da Dependência e outros escritos (com João Pedro Stedile, Expressão Popular, 2022) e Questão agrária, imperialismo e dependência na América Latina (Lutas Anticapital, 2022).
A Monthly Review gostaria de agradecer à Jus Sempre Global Alliance pela ajuda na tradução deste artigo do original em português.
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