Nelson Barbosa
Folha de S.Paulo
A economia brasileira não vinha bem antes da Covid-19. O PIB cresceu, em média, 1,3% ao ano em 2017-19. Descontando o aumento da população, a renda por habitante subiu 0,5% ao ano na “recuperação” de 2017-19.
Parte da quase estagnação durante o governo Temer e o primeiro ano de Bolsonaro deve-se à grande recessão de 2014-16, pois leva tempo para a economia se recuperar de queda tão grande, sobretudo diante da ingovernabilidade do país criada pelo golpe de 2016.
Porém, outra parte da quase estagnação de 2017-19 veio da política econômica, que adiou a recuperação via lenta redução da taxa real de juro e consolidação fiscal prematura.
Porém, outra parte da quase estagnação de 2017-19 veio da política econômica, que adiou a recuperação via lenta redução da taxa real de juro e consolidação fiscal prematura.
Mesmo com o teto de gastos, a situação financeira do governo não era confortável antes da Covid-19. O endividamento público continuou a crescer em 2017-19, e o aumento só não foi maior porque o Tesouro fez grandes saques no BNDES e, mais recentemente, o BC vendeu parte das reservas internacionais.
É perfeitamente OK sacar recursos domésticos ou externos para evitar aumento explosivo da dívida enquanto o ajuste fiscal estrutural não se materializa. Essa foi a estratégia do “Time Temer” na economia e, aparentemente, ela continua sob o “Time Bolsonaro”, que, apesar de excessos retóricos, é basicamente o mesmo de Temer.
A questão crucial é saber se a estratégia de médio prazo está correta. Infelizmente a resposta é não, o que significa que estamos queimando patrimônio para nada.
É perfeitamente OK sacar recursos domésticos ou externos para evitar aumento explosivo da dívida enquanto o ajuste fiscal estrutural não se materializa. Essa foi a estratégia do “Time Temer” na economia e, aparentemente, ela continua sob o “Time Bolsonaro”, que, apesar de excessos retóricos, é basicamente o mesmo de Temer.
A questão crucial é saber se a estratégia de médio prazo está correta. Infelizmente a resposta é não, o que significa que estamos queimando patrimônio para nada.
Promover contração fiscal em uma economia semiestagnada já não teve o efeito positivo sobre o “PIB privado” que o governo esperava em 2017-19. Agora, diante do choque da Covid-19, dificilmente teremos recuperação duradoura do consumo e investimento privado a partir de 2021.
O ponto crucial é a palavra “duradoura”. Provavelmente haverá forte recuperação do nível de atividade se e quando pudermos sair do isolamento social. Esse tipo de expansão é mais um efeito estatístico do que uma mudança estrutural da economia para melhor.
Em outras palavras, é normal registrar rápida recuperação do PIB após “paradas súbitas”, pois o simples fato de a atividade econômica parar e voltar ao normal gera grande flutuação das estatísticas anuais. Explico com um exemplo.
Considere uma economia estagnada, na qual o PIB trimestral é constante igual a 100, ou seja, o PIB anual é igual a 400. Agora suponha que essa economia sofra uma queda de 20% em apenas um trimestre devido a um choque exógeno. O PIB anual cairá 5% (20/400) no ano do choque e terá uma recuperação de 5,3% (20/380) no ano posterior ao choque.
No nosso exemplo, a recuperação de 5,3% apenas compensará a queda de 5%, fazendo a economia voltar ao patamar pré-crise. Infelizmente, no Brasil, parece que não teremos nem isso.
As expectativas mais recentes do mercado apontam queda de 6,25% do PIB em 2020, seguida de recuperação de 3,5% em 2021 e 2,5% em 2022. Se esse cenário se confirmar, o PIB de 2022 ainda será 0,5% menor do que o registrado em 2019.
A recuperação do PIB pode ser mais rápida se o governo adotar uma atitude mais ativa de reconstrução econômica pós-Covid-19, com elevação do investimento público e outras medidas diretas de estímulo fiscal. Esse tipo de ação já está em planejamento nas principais economias do mundo, mas ainda não chegou aqui.
No Brasil, o “Time Temeraro” quer retornar à estratégia fiscal que deu errado em 2017-19, daí o atual pessimismo do mercado sobre o PIB. Porém, diante da crise, talvez até este governo mude de opinião em 2021, seguindo exemplos de fora ou sugestão do Congresso.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
O ponto crucial é a palavra “duradoura”. Provavelmente haverá forte recuperação do nível de atividade se e quando pudermos sair do isolamento social. Esse tipo de expansão é mais um efeito estatístico do que uma mudança estrutural da economia para melhor.
Em outras palavras, é normal registrar rápida recuperação do PIB após “paradas súbitas”, pois o simples fato de a atividade econômica parar e voltar ao normal gera grande flutuação das estatísticas anuais. Explico com um exemplo.
Considere uma economia estagnada, na qual o PIB trimestral é constante igual a 100, ou seja, o PIB anual é igual a 400. Agora suponha que essa economia sofra uma queda de 20% em apenas um trimestre devido a um choque exógeno. O PIB anual cairá 5% (20/400) no ano do choque e terá uma recuperação de 5,3% (20/380) no ano posterior ao choque.
No nosso exemplo, a recuperação de 5,3% apenas compensará a queda de 5%, fazendo a economia voltar ao patamar pré-crise. Infelizmente, no Brasil, parece que não teremos nem isso.
As expectativas mais recentes do mercado apontam queda de 6,25% do PIB em 2020, seguida de recuperação de 3,5% em 2021 e 2,5% em 2022. Se esse cenário se confirmar, o PIB de 2022 ainda será 0,5% menor do que o registrado em 2019.
A recuperação do PIB pode ser mais rápida se o governo adotar uma atitude mais ativa de reconstrução econômica pós-Covid-19, com elevação do investimento público e outras medidas diretas de estímulo fiscal. Esse tipo de ação já está em planejamento nas principais economias do mundo, mas ainda não chegou aqui.
No Brasil, o “Time Temeraro” quer retornar à estratégia fiscal que deu errado em 2017-19, daí o atual pessimismo do mercado sobre o PIB. Porém, diante da crise, talvez até este governo mude de opinião em 2021, seguindo exemplos de fora ou sugestão do Congresso.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
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