O discurso abrasador de Alexandria Ocasio-Cortez conectou poderosamente sua experiência com o sexismo com os problemas mais amplos do patriarcado e do assédio em local de trabalho. Foi prova, mais uma vez, de que é muito bom ter socialistas democráticas no cargo.
Hadas Thier
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Créditos da foto: A deputada Alexandria Ocasio-Cortez fala no plenário da Câmara sobre seu confronto com o deputado Ted Yoho (Still from C-SPAN coverage) |
Tradução / Em dez minutos muito satisfatórios, a deputada de Nova Iorque Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) escancarou a sujeira deixada pelo Republicano Ted Yoho no chão da Câmara. A resposta de AOC aos recentes comentários misóginos do deputado da Flórida (e ao seu subsequente não-pedido de desculpas) foi muito mais do que uma “lição liberal sobre decência”. Foi uma acusação abrasadora e eloquente do chauvinismo societário e do assédio no local de trabalho nos EUA – e prova, mais uma vez, os benefícios de ter socialistas democráticas no cargo.
Na semana passada, Yoho – que recentemente votou contra a decisão de estabelecer o linchamento como crime de ódio – disse à AOC que ela era “nojenta”, “louca” e “perigosa” nos degraus do Capitólio por causa de seus comentários ligando taxas de crime à pobreza. E ele então a chamou “vadia da porra” na frente da imprensa. Na manhã de quarta-feira na Câmara, Yoho recitou um não-pedido de desculpas pelo “jeito grosseiro” com o qual falou com AOC, enquanto explicava que “não pode se desculpar pela sua paixão ou pelo seu amor a Deus, a sua família e ao seu país”.
Na quinta-feira de manhã, AOC dilacerou Yoho. Sendo mais objetivo, ela falou sobre as normas da sociedade que aceitam a misoginia. “Isso não é novo”, ela disse, na Câmara. “E esse é o problema.” AOC relembrou os assédios que sofria quando era garçonete e bartender. Ela ainda explicou: “Essa questão não é sobre um incidente. É algo cultural. É uma cultura da....impunidade, da aceitação da violência e da linguagem violenta contra mulheres e de uma estrutura inteira de poder que suporta isso.”
AOC lamentou como Yoho usa sua esposa e filhas como escudos para desviar das críticas pelo seu comportamento sexista, apontando que ela, também, é a filha de alguém. “Esse mal que o Sr. Yoho tentou impor a mim não foi direcionado somente a mim. Quando você faz isso com qualquer mulher, o que o Sr. Yoho fez foi conceder permissão para outros homens fazerem isso com suas filhas ... e estou aqui para dizer que isso não é aceitável.”
Compare a resposta de AOC aos anos de feminismo liberal que prometeu manter o aborto seguro, legal e raro. Ou à proclamação absurda de Biden de que Donald Trump é o primeiro presidente racista do país. A abordagem tradicional do Partido Democrata ao fanatismo da extrema direita é ficar na defensiva, ou personalizar a questão como se os problemas do mundo pudessem ser resumidos à psicose de Trump, à interferência russa, ou aos Republicanos traiçoeiros.
Políticos socialistas democráticos como AOC, no entanto, focam sua atenção nas estruturas mais profundas da desigualdade e da opressão, que forneceram poder e plataformas para pessoas como Ted Yoho. Ocasio-Cortez notou que ela não tem um atrito pessoal com Yoho – o problema real é que sua explosão é algo comum. Ao invés de simplesmente se defender do ataque, ela foi para a ofensiva – amplificando a experiência de milhões de mulheres, e enquadrando o ataque dentro de uma análise do sexismo e da misoginia.
Assim como Bernie Sanders integrou demandas previamente marginalizadas como o Medicare for All, e Ilhan Omar levou o anti-imperialismo aos salões do Congresso, AOC está ajudando a popularizar o feminismo de esquerda – e ainda está dando confiança para mais e mais pessoas agirem.
Sobre a autora
Hadas Thier is an activist and socialist in New York, and the author of the forthcoming book A People's Guide to Capitalism: An Introduction to Marxist Economics.
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