Jonh Bellamy Foster, Hannah Holleman, e Brett Clark
Assim, a historiadora Stephanie Smallwood, autora de Saltwater Slavery [Escravidão das águas marinhas], escreveu que “faz muito tempo que descartamos o mal-entendido de Marx sobre a escravidão” como se fosse um “erro” histórico, que o levou a “manter a escravidão do Novo Mundo separada do capitalismo”.4 Igualmente, Walter Johnson, historiador da escravidão nos Estados Unidos e autor do River of Dark Dreams [Rio dos sonhos escuros], afirma em seu influente artigo “The Pedestal and the Veil: Rethinking the Capitalism / Slavery Question” [O Pedestal e o véu: repensando o capitalismo e a escravidão] que Marx “simplesmente evitou” toda a “questão da escravidão” em sua crítica do capital, aderindo ao argumento de que a “exclusão fundamental da escravidão do enquadramento da economia política” que caracterízou o trabalho na economia liberal clássica.5
Ainda assim, Marx não é facilmente deixado de lado em qualquer tentativa séria de desenvolver uma análise do capitalismo racial. Assim, depois de argumentar que Marx excluiu amplamente a questão da escravidão em O Capital, Johnson indica que ainda “temos muito a aprender com o que Marx tinha a nos dizer sobre o trabalho dos capitalistas enquanto tentamos diagramar as interconexões históricas e as práticas diárias da economia global dos séculos XVIII e XIX”.6 Mas essa admissão de sua parte levanta a questão do quão revelador seria um olhar mais abrangentemente para a obra de Marx, levando em conta todo o seu método de análise histórico-materialista e a estrutura subjacente da sua crítica à economia política. Tal método envolve ir além de destacar algumas passagens selecionadas no primeiro volume de O Capital e colocá-las em um contexto muito mais amplo e profundo. Na verdade, argumentamos a seguir que Marx ainda tem muito a contribuir para a análise da escravidão, e especialmente do “capitalismo escravagista”.7
Vale a pena notar que o tratamento de Marx da escravidão ou dos sistemas de trabalho escravo é amplo e profundo, abrangendo, em detalhes variados, elementos como a escravidão grega e romana; a questão do modo de produção escravo; escravidão por dívida; a escravidão dos americanos nativos; escravidão infantil; escravidão doméstica; escravidão na Inglaterra sob Eduardo VI; escravidão nas Índias Orientais Holandesas; o comércio transatlântico de escravos; a ascensão da escravidão como um “segundo tipo de colonialismo”; tortura sob escravidão; a escravidão como base da Revolução Industrial; rebeliões de escravos; a Revolução Haitiana; o “Slave Power” (Poder Escravista) no Sul dos EUA; a decisão Dred Scott; a guerra na fronteira Kansas-Missouri em 1854–56; John Brown; Harriet Beecher Stowe; abolicionismo; a luta revolucionária de soldados negros libertados na Guerra Civil; e as complexas relações históricas entre trabalho escravo e trabalho assalariado. A análise de Marx do capitalismo escravocrata no Sul dos EUA antes da guerra examinou a capitalização da mais-valia antecipada gerada pelo trabalho escravo como a base de um sistema distinto de acumulação, incluindo seu papel no desenvolvimento da gestão capitalista. Ele explorou a destruição ecológica e o expansionismo embutidos na própria natureza da “instituição peculiar”.8
Em sua organização política dentro do movimento trabalhista britânico, Marx desempenhou um papel fundamental, como testemunhou Henry Adams, na mobilização dos trabalhadores para evitar que o país entrasse na Guerra Civil dos Estados Unidos ao lado dos Confederados.9 Sendo a figura principal na Associação Internacional de Trabalhadores, ele se correspondeu com os presidentes Abraham Lincoln e Andrew Johnson. Em seu papel como correspondente do New York Daily Tribune e mais tarde do Die Presse em Viena, ele apoiou o movimento abolicionista revolucionário nos Estados Unidos e no Norte em sua guerra com o Sul escravagista, escrevendo mais de quarenta artigos de jornal publicados sobre escravidão e a Guerra Civil dos Estados Unidos em 1861 e 1862 (junto a vários outros que por não terem sido publicados, não sobreviveram). Nenhum outro grande pensador de sua época escreveu de forma tão variada sobre a escravidão levando em consideração todo a sua obra, e talvez nenhum, exceto Frederick Douglass, comentou tão profundamente a escravidão nos EUA. Como Roger Ransom e Richard Sutch observaram na frase de abertura de seu artigo clássico “Capitalists Without Capital” [Capitalistas sem Capital], “Karl Marx reconheceu a natureza capitalista da escravidão americana muito antes dos historiadores americanos”.10
A pesquisa de Marx sobre a escravidão foi extensa, indo além da economia política geral e incluindo as explorações no capitalismo, colonialismo e escravidão por meio de obras como: An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (1803) [Uma investigação sobre a política colonial das potências europeias], de Henry Brougham ; History of Java (1817) [História de Java], de Thomas Stamford Raffles; Traité de législation (1837) [Tratado sobre a legislação], de François-Charles-Louis Comte; Colonization and Christianity (1838) [Colonização e cristandade], de William Howitt; , The African Slave Trade and Its Remedy (1840) [O tráfico de escravos africanos e sua remediação], de Thomas Fowell Buxton; Letters on Colonization and Colonies (1841) [Cartas sobre a Colonização e as Colônias], de Herman Merivale; Notes on North America (1851) [Notas sobre a América do Norte], de J. F. W. Johnston; The Slave Trade, Domestic and Foreign (1853) [O comércio doméstico e extrangeiro de escravos], de Henry Carey; , A Journey in the Seaboard Slave States [Uma Jornada aos Estados Escravagistas nos Litorais], de Frederick Law Olmsted; With Remarks on the Economy [Com observações sobre a economia] (1856); e The Slave Power (1862) [O Poder Escravo], de J. E. Cairnes.11
Embora Marx nunca tenha escrito um tratado sobre a escravidão, a questão do trabalho escravo foi tecida em sua análise das formações sociais antigas e modernas, e estava inextricavelmente entrelaçada em sua abordagem sobre o trabalho assalariado. Os estudos de Marx da escravidão sob o capitalismo chegaram ao auge no final dos anos 1850 e início dos anos 60, quando ele estava simultaneamente considerando a escravidão, muitas vezes diariamente, engajando-se politicamente com a questão (inclusive ajudando a organizar reuniões da classe trabalhadora britânica em apoio ao Norte na Guerra Civil dos Estados Unidos), e escrevendo os manuscritos (The Economic Manuscript of 1861–1863 e The Economic Manuscript of 1864–1865) que seriam a base de O Capital. Marx começou a redação real do volume 1 de O Capital em janeiro/fevereiro de 1866, depois que o poder escravagista nos Estados Unidos já havia sido derrotado, uma vitória sobre a escravidão que é celebrada no prefácio dessa obra.12
O resultado foi a formação de uma compreensão única do capitalismo escravagista como uma variante do capitalismo e do colonialismo na obra de Marx. Na verdade, ele entendia o capitalismo escravagista como o produto de um segundo colonialismo, enraizado na economia baseada em plantations [grandes fazendas de cultivo]. Este segundo colonialismo, ele reconheceu, teve imensas implicações para o desenvolvimento capitalista. Em relação ao Sul antes da guerra, Marx escreveu, “onde prevalece a concepção capitalista, como nas plantações americanas”, a escravidão assume a forma da produção de “mais-valia… tomada como lucro” nas costas dos escravos.13
É claro que Marx estava ciente de que essas questões fundamentais não terminaram automaticamente quando o poder escravagista nos Estados Unidos fosse finalmente derrotado. Como Du Bois declarou no livro Black Reconstruction [Reconstrução Negra]: “Em setembro de 1865, outro discurso (desta vez para o povo americano como um todo) sobre a assinatura de Marx declarava corajosamente: ‘A injustiça contra uma fração de seu povo tendo sido seguida por tantas consequências terríveis, ponha um fim nisso. Declare seus concidadãos, de hoje em diante, livres e iguais, sem qualquer reserva. Se você recusar a eles os direitos dos cidadãos enquanto exige deles os deveres dos cidadãos, mais cedo ou mais tarde enfrentará uma nova luta que mais uma vez inundará seu país de sangue’.”14
O Pedestal e o Véu
Talvez a crítica mais incisiva à Marx sobre a escravidão nas últimas duas décadas seja “O Pedestal e o Véu” de Johnson, que aponta que na maioria dos relatos “a escravidão serve como um pano de fundo histórico não teorizado para a história do capitalismo, um passado não pensado (mesmo quando presente) para o inevitável surgimento do presente”.15 De acordo com Johnson, Marx foi particularmente responsável por direcionar a crítica da escravidão na direção errada a esse respeito. Em seu tratamento da escravidão em seu capítulo sobre “A Gênese do Capitalista Industrial” no primeiro volume de O Capital, Marx declarou: “Na verdade, a escravidão velada dos trabalhadores assalariados na Europa precisava da escravidão irrestrita do Novo Mundo como seu pedestal.” A maioria dos leitores da passagem de O Pedestal e o Véu, como Johnson indica, sem dúvida teriam visto isso como uma declaração da importância histórica da escravidão para o desenvolvimento do capitalismo. Virando isso de cabeça para baixo, no entanto, Johnson insiste que o significado real da metáfora de Marx era estrutural e espacial: que a escravidão nua e irrestrita em sua análise foi significativa apenas na medida em que apontou para a “escravidão velada” do trabalho assalariado, que então atingiu grande importância.16
A noção de que Marx poderia ter criado uma metáfora dialética destinada a destacar o significado histórico da escravidão direta como um elemento crucial no desenvolvimento capitalista, ao mesmo tempo que apontava, após o término da Guerra Civil dos Estados Unidos, a continuação da escravidão indireta do trabalho assalariado, simplesmente não é considerado no relato de Johnson. No entanto, o foco real de Marx na escravidão em si é bastante claro quando a passagem é lida no contexto. Assim, Marx anotou a declaração de O Pedestal e o Véu com uma citação de An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (Uma Investigação da Política Colonial das Potências Européias), de Brougham, indicando que “em 1790 havia nas Índias Ocidentais inglesas dez escravos para um homem livre, nas francesas, quatorze para um, e nas holandesas, vinte e três para um”.17 Na mesma página, Marx indicou que a dependência direta da Revolução Industrial britânica da escravidão do Novo Mundo podia ser vista no crescimento do número de navios negreiros:“ Em 1730, Liverpool empregou 15 navios no comércio de escravos; em 1751, 53; em 1760, 74; em 1770, 96; e em 1792, 132”. Nas dezenas de páginas anteriores a esta no mesmo capítulo, ele se referiu à “extirpação, escravidão e sepultamento em minas da população indígena” das Américas, “a conversão da África em uma reserva para a caça comercial de peles negras”, escravidão nas Índias Orientais Holandesas e nas Índias Ocidentais, e a comercialização da escravidão nos Estados Unidos.18
Dada a profundidade com que ele abordou a questão do comércio de escravos aqui, bem como em outras partes de sua análise, dificilmente se poderia dizer que Marx se referia à escravidão, como Johnson afirma, simplesmente para obter “efeito retórico” em uma crítica do trabalho assalariado.19 Uma afirmação que literal e figurativamente enfatizou como o capitalismo do trabalho assalariado se apoiava no capitalismo do trabalho escravo é invertida, na interpretação de Johnson, em sua cabeça coberta pelo véu. É como se o próprio pedestal fosse feito para representar, aos olhos de Marx, um mero pedestal e não as relações materiais. “O Pedestal e o Véu” de Johnson foi posteriormente citado por outros estudiosos na análise do capitalismo racial como evidência de que Marx rebaixou a realidade da escravidão do Novo Mundo.20
Dada a importância dessas questões, vale a pena considerar as origens clássicas da metáfora do pedestal e do véu. Marx, que foi um importante estudioso do pensamento grego e romano antigo, conhecia a obra de Plutarco de trás para a frente, incluindo Moralia, à qual ele se referiu em sua dissertação. Ele estava, portanto, bem familiarizado com a descrição de Plutarco da estátua de Ísis, deusa da natureza, que o antigo filósofo grego viu em Sais, Egito, com a famosa inscrição enigmática em seu pedestal: “Eu sou tudo o que foi, e é, e assim será, e meu manto [frequentemente traduzido como véu] nenhum mortal já descobriu”.21 No Iluminismo, tornou-se costume representar uma estátua de uma Ísis velada em um pedestal, com a representação do véu constituindo um símbolo da própria iluminação e a descoberta da natureza material. G. W. F. Hegel começou sua Filosofia da Natureza referindo-se ao escrito no pedestal da Ísis velada, argumentando contra a noção dos númenos inescrutáveis de que o véu poderia ser rasgado para descobrir a realidade sensorial e o verdadeiro significado da natureza necessários para o desenvolvimento da ideia absoluta.22
Ao referir-se à metáfora do pedestal e do véu, Marx estava, portanto, transformando uma metáfora conhecida por todas as pessoas educadas de seu tempo, usando-a para reafirmar a crítica materialista e enfatizar que toda “civilização” (ou a sociedade de classes), incluindo sua forma mais recente sob o capitalismo, foi construída sobre a escravidão. O trabalho assalariado sob o capitalismo, ou “escravidão velada”, simbolizada pela deusa africana Ísis, surgiu materialmente e dependia, para seus fundamentos materiais, da escravidão nua e crua formada pelo comércio transatlântico de escravos. Nada disso minimizou os horrores da escravidão ou sua importância histórica no desenvolvimento do capitalismo. Mais do que simplesmente um “efeito retórico” ou uma tentativa de diminuir o significado da escravidão propriamente dita, relegando-a a um pedestal, Marx estava enfatizando que a escravidão constituía a forma material sobre a qual o próprio proletariado industrial havia emergido, e que o legado da escravidão persistiria por uma longa era de reconstrução e luta de classes. Ela era, portanto, fundamental para a crítica do capital, que era tanto sobre o chicote quanto sobre os salários, tanto sobre as plantations quanto sobre a fábrica.23
A análise de Marx da escravidão evoluiu em estágios definidos da década de 1840 a 1860, passando de uma consideração na década de 1840 da dependência que o capitalismo tinha da escravidão, para uma noção de capitalismo escravagista na década de 1850 e para uma economia política da escravidão madura na década de 1860, nos anos da Guerra Civil dos Estados Unidos. No entanto, sua ênfase no que ele concebeu como o segundo colonialismo associado à economia dos plantations, que ele destacou ser parte integrante do desenvolvimento histórico do capitalismo, é contínua ao longo de sua análise. Como ele escreveu já em 1847 no Miséria da Filosofia: “A escravidão direta é tanto o pivô da indústria burguesa quanto a maquinaria, o sistema de crédito etc. Sem escravidão não há algodão; sem algodão você não tem indústria moderna. Foi a escravidão que deu às colônias seu valor; foram as colônias que criaram o comércio mundial, e é o comércio mundial que é a condição prévia para a indústria em grande escala. Assim, a escravidão é uma categoria econômica de maior importância”.24
Central para o tratamento de Marx da escravidão moderna era o reconhecimento da natureza absolutamente horripilante do capitalismo escravagista, que o tornava pior do que todas as outras formas de escravidão conhecidas na história. O “chicote” e a “permuta de carne humana” eram partes especialmente integrantes da exploração capitalista do Novo Mundo. 25 Marx explicou que a história da civilização assumiu suas formas mais “assustadoras” onde a escravidão foi combinada com o comercialismo (por exemplo, nas minas antigas de metais preciosos descritas por Diodorus Siculus).26 Esse era particularmente o caso onde o trabalho escravo estava inserido em “uma situação de produção capitalista; assim, por exemplo, os estados do sul da União Americana”.27
Uma preocupação crucial eram as altas taxas de mortalidade do trabalho escravo no sistema capitalista de plantations. Para Marx, a escravidão por sua própria natureza assumia a forma de violência contínua e o medo perpétuo da tortura e da morte prematura. Os escravos eram tanto os bens do capital quanto sua força trabalho. As regras de maximização do lucro na economia escravagista, quando havia um comércio de escravos ativo capaz de uma substituição muito rápida de bens móveis humanos, levaram à aplicação frequente de uma regra de sete anos, vista pelos fazendeiros como a vida média de seus escravos, em que seus cálculos de valor foram baseados. Os escravos eram tão sobrecarregados de trabalho na Jamaica e em outras colônias britânicas que suas vidas geralmente eram consumidas em sete anos. Para o capitalista escravagista, importava relativamente pouco se a rotatividade dos escravos, por causa do esgotamento prematuro de suas vidas de trabalho e de sua própria existência, ocorresse, contanto que eles fossem facilmente substituíveis. Além disso, na produção escravagista, era possível trabalhar os escravos com mais intensidade, com mais exploração, do que no caso do trabalho assalariado.28
Como Marx exclamou: “Se o excesso de trabalho se estender por um longo período, o trabalhador talvez preserve a si mesmo e, portanto, sua capacidade de trabalho por apenas 7 anos, em vez dos 20 ou 30 anos pelos quais ele poderia tê-la preservado.” No caso do trabalho escravo, tais condições prevaleciam, ao contrário até mesmo das formas mais extremas de trabalho livre remunerado. “Os escravos nos estados do sul da América do Norte tiveram que se esforçar para separar o algodão de sua semente, depois de terem trabalhado nos campos por 12 horas, [o que] reduziu sua expectativa de vida média para 7 anos”.29 Ele citou um artigo do Daily Telegraph de 1860, o qual condenava os plantadores dos estados da Virgínia e da Carolina, em que se perguntava: “o que se pode pensar de uma cidade que realiza uma audiência pública para requerer que o período de trabalho dos homens [escravos] seja reduzido para 18 horas por dia?”.30
Em uma condenação semelhante ao desprezo pelas vidas humanas, Marx observou que o envio dos chamados “coolies” chineses para as ilhas Chincha, na costa do Peru, para cavar guano na década de 1850, era uma condição ainda “pior do que a escravidão”. Enquanto seus contratos geralmente especificavam oito anos de trabalho, 100% dos garimpeiros não conseguiram viver até o fim de seus contratos. Como noticiou o jornal londrino Times em 1882: “Os horrores aos quais os coolies chineses foram expostos foram piores do que os piores excessos da escravidão americana. Em 1860, acreditava-se que nenhum dos… quatro mil coolies chineses que haviam sido embarcados para aquelas ilhas desde o início do comércio, em 1844, havia sobrevivido, todos aqueles que não morreram de exaustão se submetido voluntariamente à morte”.31
Tais condições de excesso de trabalho e a expectativa de vida drasticamente reduzida prevaleciam nas Índias Ocidentais antes da eliminação do comércio de escravos e, posteriormente, nas plantations escravagistas do Sul dos Estados Unidos, quando incorporadas de forma importante à economia capitalista mundial com o desenvolvimento da indústria do algodão e a Revolução Industrial na Grã-Bretanha.32 Como disse Marx, referindo-se tanto ao Sul dos Estados Unidos quanto às Índias Ocidentais,
Considerações de economia… uma vez que se pratica o comércio de escravos, tornam-se motivos para torturar ao máximo o trabalho do escravo; pois, quando seu lugar pode ser suprido imediatamente com reservas estrangeiras, a duração de sua vida torna-se uma questão de menos importância do que a sua produtividade enquanto esta durar. É, portanto, uma máxima da gestão de escravos, em países importadores de escravos [como os Estados Unidos antes da guerra — legalmente antes de 1808, ilegalmente depois], que a economia mais eficaz é aquela que tira dos meios humanos, no mais curto espaço de tempo, o máximo esforço de que este é capaz. É na cultura tropical, onde os lucros anuais geralmente equivalem a todo o capital das plantations, que a vida do negro é sacrificada da maneira mais negligente. Foi a agricultura das Índias Ocidentais, que durante séculos foi prolífica de fabulosas riquezas, que engolfou milhões da raça africana. É em Cuba, hoje, cujas receitas são calculadas em milhões, e cujos fazendeiros são príncipes, que vemos na classe servil a comida mais grosseira, a labuta mais exaustiva e incessante, e mesmo a destruição absoluta de uma parte de seus números todos os anos.33
Nesse sentido, a escravidão sob o capitalismo era muito mais brutal, na visão de Marx, do que qualquer coisa já vista na história humana. Como “a exportação de algodão tornou-se de interesse vital para aqueles estados [do sul dos Estados Unidos], o excesso de trabalho do negro, e às vezes o consumo dessa vida em sete anos de trabalho, tornou-se um fator em um sistema calculado e calculista. Já não se tratava de obter dele uma certa quantidade de produtos úteis [como nas formas anteriores e mais patriarcais de escravidão], mas antes da produção da própria mais-valia”.34
Marx estudou O Comércio de Escravos, Doméstico e Internacional (The Slave Trade, Domestic and Foreign), de Henry Charles Carey, que, depois de fornecer estatísticas detalhadas sobre a importação de escravos nas várias colônias britânicas das Índias Ocidentais, e suas taxas de natalidade e mortalidade, declarou que “…nos vemos forçados a concluir que a escravidão aqui foi acompanhada por uma destruição da vida quase sem paralelo na história de qualquer nação civilizada”.35 Como Marx observou, a taxa de mortalidade de escravos nas Índias Ocidentais era tão alta que a população escravizada realmente diminuiu em muitas áreas, apesar da importação em massa de escravos, dos quais “dois terços do número importado anualmente pereceram.”36
Essa “destruição absoluta” dos escravos, como disse Marx, não foi apenas uma consequência da escravidão, nas Índias Ocidentais e em partes da América Latina, mas foi acompanhada pelas mais desumanas torturas em cima do “chicote dos negociantes”. Assim, ele se referiu ao uso do “spanso bocko — uma das formas mais cruéis de punição… usada pelos colonos no Suriname”, conforme retratado por John Gabriel Stedmanna em Narrativa de uma expedição de cinco anos contra os negros revoltados do Suriname (Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam) e relatado por Comte em seu Tratado da Legislação(Traité de législation).37 Nas palavras de Marx, um escravo era “amarrado na tortura spanso bocko do Suriname, incapaz de mover as mãos ou os pés, ou qualquer outro de seus membros, tendo que suportar tudo o que a ele é feito.” Aqui ele citou Comte sobre a ousadia dos escravos sob tal tortura, apontando como eles “zombam de seus torturadores” e “zombam da impotência destes até mesmo para forçá-los a se humilhar, e suprimem todo ‘gemido’ e todo suspiro, contanto que a dor física os permitisse”. 38 Em várias partes de sua obra, Marx aludiu às revoltas e revoluções de escravos no Suriname, Haiti e Estados Unidos, e à existência de fugitivos que se uniram, determinados a resistir aos “horrores bárbaros da escravidão”.39 Marx também observou as revoltas pós-escravidão e a brutalidade colonial na Jamaica.40 Comentando a discussão de Howitt das barbáries do colonialismo e os relatos de Comte da tortura sob a escravidão nas Índias Ocidentais, Marx observou em O capital: “Isso precisa ser estudado em detalhes, para ver o que o burguês faz de si mesmo e do mundo quando ele pode modelar o mundo de acordo com sua própria imagem sem interreferência” como sob o colonialismo e a escravidão.41
Foi o rápido “consumo” dos escravos — como era referido pelos economistas políticos da época — que, na visão de Marx, tornou necessária a perpetuação do comércio mundial de escravos pelo maior tempo possível, se o sistema escravagista capitalista persistisse. Através de sua leitura do O Escravo Africano e Seu Remédio (The African Slave and Its Remedy), de Thomas Fowell Buxton, e de O Poder do Escravo (The Slave Power), de Jonh Cairnes, Marx estava bem ciente de que o comércio transatlântico de escravos continuou ilegalmente, mesmo com a abolição britânica do comércio de escravos em 1807 e a proibição do comércio pelos Estados Unidos em 1808. Ele citou a fala Stephen Douglas em 1859: “Durante o ano passado, mais negros foram importados da África do que em qualquer ano anterior, mesmo na época em que o comércio de escravos ainda era legal”.42 Além disso, nos Estados Unidos, enfatizou Marx, outra solução também havia surgido: a reprodução ativa de escravos nos estados fronteiriços como Virgínia e Kentucky, proporcionando trabalho escravo para o restante do sul. Como resultado, em meados da década de 1860, a expropriação absoluta de seres humanos por meio da escravidão permanecia o pedestal do sistema, a base sobre a qual surgiu a exploração velada do trabalho assalariado.
Sobre os autores
July-August 2020 (Volume 72, Number 3) |
Tradução / A ascensão à proeminência das análises do capitalismo racial, com base particularmente no livro Black Marxism (Marxismo Negro) de Cedric Robinson, junto ao trabalho de figuras anteriores como W. E. B. Du Bois e Oliver Cromwell Cox, representa um avanço na teoria marxiana.1 Isso foi acompanhado necessariamente por uma crítica das análises marxianas anteriores, que frequentemente ignoravam ou minimizavam a relação da escravidão com o capitalismo.2 No entanto, nos últimos anos, essas críticas ao tratamento dado pelos marxistas ortodoxos à escravidão foram estendidas, de forma muito mais problemática, à obra do próprio Karl Marx, o qual, às vezes, dizem ter sistematicamente contornado e minimizado a questão da importância do trabalho escravo para o desenvolvimento capitalista, vendo a questão da escravidão como amplamente confinada à era mercantilista da “assim chamada acumulação primitiva” e ao apogeu do tráfico transatlântico de escravos. A escravidão continuou a existir, sugere-se, mas Marx a retirou de sua análise do próprio capital.3
Assim, a historiadora Stephanie Smallwood, autora de Saltwater Slavery [Escravidão das águas marinhas], escreveu que “faz muito tempo que descartamos o mal-entendido de Marx sobre a escravidão” como se fosse um “erro” histórico, que o levou a “manter a escravidão do Novo Mundo separada do capitalismo”.4 Igualmente, Walter Johnson, historiador da escravidão nos Estados Unidos e autor do River of Dark Dreams [Rio dos sonhos escuros], afirma em seu influente artigo “The Pedestal and the Veil: Rethinking the Capitalism / Slavery Question” [O Pedestal e o véu: repensando o capitalismo e a escravidão] que Marx “simplesmente evitou” toda a “questão da escravidão” em sua crítica do capital, aderindo ao argumento de que a “exclusão fundamental da escravidão do enquadramento da economia política” que caracterízou o trabalho na economia liberal clássica.5
Ainda assim, Marx não é facilmente deixado de lado em qualquer tentativa séria de desenvolver uma análise do capitalismo racial. Assim, depois de argumentar que Marx excluiu amplamente a questão da escravidão em O Capital, Johnson indica que ainda “temos muito a aprender com o que Marx tinha a nos dizer sobre o trabalho dos capitalistas enquanto tentamos diagramar as interconexões históricas e as práticas diárias da economia global dos séculos XVIII e XIX”.6 Mas essa admissão de sua parte levanta a questão do quão revelador seria um olhar mais abrangentemente para a obra de Marx, levando em conta todo o seu método de análise histórico-materialista e a estrutura subjacente da sua crítica à economia política. Tal método envolve ir além de destacar algumas passagens selecionadas no primeiro volume de O Capital e colocá-las em um contexto muito mais amplo e profundo. Na verdade, argumentamos a seguir que Marx ainda tem muito a contribuir para a análise da escravidão, e especialmente do “capitalismo escravagista”.7
Vale a pena notar que o tratamento de Marx da escravidão ou dos sistemas de trabalho escravo é amplo e profundo, abrangendo, em detalhes variados, elementos como a escravidão grega e romana; a questão do modo de produção escravo; escravidão por dívida; a escravidão dos americanos nativos; escravidão infantil; escravidão doméstica; escravidão na Inglaterra sob Eduardo VI; escravidão nas Índias Orientais Holandesas; o comércio transatlântico de escravos; a ascensão da escravidão como um “segundo tipo de colonialismo”; tortura sob escravidão; a escravidão como base da Revolução Industrial; rebeliões de escravos; a Revolução Haitiana; o “Slave Power” (Poder Escravista) no Sul dos EUA; a decisão Dred Scott; a guerra na fronteira Kansas-Missouri em 1854–56; John Brown; Harriet Beecher Stowe; abolicionismo; a luta revolucionária de soldados negros libertados na Guerra Civil; e as complexas relações históricas entre trabalho escravo e trabalho assalariado. A análise de Marx do capitalismo escravocrata no Sul dos EUA antes da guerra examinou a capitalização da mais-valia antecipada gerada pelo trabalho escravo como a base de um sistema distinto de acumulação, incluindo seu papel no desenvolvimento da gestão capitalista. Ele explorou a destruição ecológica e o expansionismo embutidos na própria natureza da “instituição peculiar”.8
Em sua organização política dentro do movimento trabalhista britânico, Marx desempenhou um papel fundamental, como testemunhou Henry Adams, na mobilização dos trabalhadores para evitar que o país entrasse na Guerra Civil dos Estados Unidos ao lado dos Confederados.9 Sendo a figura principal na Associação Internacional de Trabalhadores, ele se correspondeu com os presidentes Abraham Lincoln e Andrew Johnson. Em seu papel como correspondente do New York Daily Tribune e mais tarde do Die Presse em Viena, ele apoiou o movimento abolicionista revolucionário nos Estados Unidos e no Norte em sua guerra com o Sul escravagista, escrevendo mais de quarenta artigos de jornal publicados sobre escravidão e a Guerra Civil dos Estados Unidos em 1861 e 1862 (junto a vários outros que por não terem sido publicados, não sobreviveram). Nenhum outro grande pensador de sua época escreveu de forma tão variada sobre a escravidão levando em consideração todo a sua obra, e talvez nenhum, exceto Frederick Douglass, comentou tão profundamente a escravidão nos EUA. Como Roger Ransom e Richard Sutch observaram na frase de abertura de seu artigo clássico “Capitalists Without Capital” [Capitalistas sem Capital], “Karl Marx reconheceu a natureza capitalista da escravidão americana muito antes dos historiadores americanos”.10
A pesquisa de Marx sobre a escravidão foi extensa, indo além da economia política geral e incluindo as explorações no capitalismo, colonialismo e escravidão por meio de obras como: An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (1803) [Uma investigação sobre a política colonial das potências europeias], de Henry Brougham ; History of Java (1817) [História de Java], de Thomas Stamford Raffles; Traité de législation (1837) [Tratado sobre a legislação], de François-Charles-Louis Comte; Colonization and Christianity (1838) [Colonização e cristandade], de William Howitt; , The African Slave Trade and Its Remedy (1840) [O tráfico de escravos africanos e sua remediação], de Thomas Fowell Buxton; Letters on Colonization and Colonies (1841) [Cartas sobre a Colonização e as Colônias], de Herman Merivale; Notes on North America (1851) [Notas sobre a América do Norte], de J. F. W. Johnston; The Slave Trade, Domestic and Foreign (1853) [O comércio doméstico e extrangeiro de escravos], de Henry Carey; , A Journey in the Seaboard Slave States [Uma Jornada aos Estados Escravagistas nos Litorais], de Frederick Law Olmsted; With Remarks on the Economy [Com observações sobre a economia] (1856); e The Slave Power (1862) [O Poder Escravo], de J. E. Cairnes.11
Embora Marx nunca tenha escrito um tratado sobre a escravidão, a questão do trabalho escravo foi tecida em sua análise das formações sociais antigas e modernas, e estava inextricavelmente entrelaçada em sua abordagem sobre o trabalho assalariado. Os estudos de Marx da escravidão sob o capitalismo chegaram ao auge no final dos anos 1850 e início dos anos 60, quando ele estava simultaneamente considerando a escravidão, muitas vezes diariamente, engajando-se politicamente com a questão (inclusive ajudando a organizar reuniões da classe trabalhadora britânica em apoio ao Norte na Guerra Civil dos Estados Unidos), e escrevendo os manuscritos (The Economic Manuscript of 1861–1863 e The Economic Manuscript of 1864–1865) que seriam a base de O Capital. Marx começou a redação real do volume 1 de O Capital em janeiro/fevereiro de 1866, depois que o poder escravagista nos Estados Unidos já havia sido derrotado, uma vitória sobre a escravidão que é celebrada no prefácio dessa obra.12
O resultado foi a formação de uma compreensão única do capitalismo escravagista como uma variante do capitalismo e do colonialismo na obra de Marx. Na verdade, ele entendia o capitalismo escravagista como o produto de um segundo colonialismo, enraizado na economia baseada em plantations [grandes fazendas de cultivo]. Este segundo colonialismo, ele reconheceu, teve imensas implicações para o desenvolvimento capitalista. Em relação ao Sul antes da guerra, Marx escreveu, “onde prevalece a concepção capitalista, como nas plantações americanas”, a escravidão assume a forma da produção de “mais-valia… tomada como lucro” nas costas dos escravos.13
É claro que Marx estava ciente de que essas questões fundamentais não terminaram automaticamente quando o poder escravagista nos Estados Unidos fosse finalmente derrotado. Como Du Bois declarou no livro Black Reconstruction [Reconstrução Negra]: “Em setembro de 1865, outro discurso (desta vez para o povo americano como um todo) sobre a assinatura de Marx declarava corajosamente: ‘A injustiça contra uma fração de seu povo tendo sido seguida por tantas consequências terríveis, ponha um fim nisso. Declare seus concidadãos, de hoje em diante, livres e iguais, sem qualquer reserva. Se você recusar a eles os direitos dos cidadãos enquanto exige deles os deveres dos cidadãos, mais cedo ou mais tarde enfrentará uma nova luta que mais uma vez inundará seu país de sangue’.”14
O Pedestal e o Véu
Talvez a crítica mais incisiva à Marx sobre a escravidão nas últimas duas décadas seja “O Pedestal e o Véu” de Johnson, que aponta que na maioria dos relatos “a escravidão serve como um pano de fundo histórico não teorizado para a história do capitalismo, um passado não pensado (mesmo quando presente) para o inevitável surgimento do presente”.15 De acordo com Johnson, Marx foi particularmente responsável por direcionar a crítica da escravidão na direção errada a esse respeito. Em seu tratamento da escravidão em seu capítulo sobre “A Gênese do Capitalista Industrial” no primeiro volume de O Capital, Marx declarou: “Na verdade, a escravidão velada dos trabalhadores assalariados na Europa precisava da escravidão irrestrita do Novo Mundo como seu pedestal.” A maioria dos leitores da passagem de O Pedestal e o Véu, como Johnson indica, sem dúvida teriam visto isso como uma declaração da importância histórica da escravidão para o desenvolvimento do capitalismo. Virando isso de cabeça para baixo, no entanto, Johnson insiste que o significado real da metáfora de Marx era estrutural e espacial: que a escravidão nua e irrestrita em sua análise foi significativa apenas na medida em que apontou para a “escravidão velada” do trabalho assalariado, que então atingiu grande importância.16
A noção de que Marx poderia ter criado uma metáfora dialética destinada a destacar o significado histórico da escravidão direta como um elemento crucial no desenvolvimento capitalista, ao mesmo tempo que apontava, após o término da Guerra Civil dos Estados Unidos, a continuação da escravidão indireta do trabalho assalariado, simplesmente não é considerado no relato de Johnson. No entanto, o foco real de Marx na escravidão em si é bastante claro quando a passagem é lida no contexto. Assim, Marx anotou a declaração de O Pedestal e o Véu com uma citação de An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (Uma Investigação da Política Colonial das Potências Européias), de Brougham, indicando que “em 1790 havia nas Índias Ocidentais inglesas dez escravos para um homem livre, nas francesas, quatorze para um, e nas holandesas, vinte e três para um”.17 Na mesma página, Marx indicou que a dependência direta da Revolução Industrial britânica da escravidão do Novo Mundo podia ser vista no crescimento do número de navios negreiros:“ Em 1730, Liverpool empregou 15 navios no comércio de escravos; em 1751, 53; em 1760, 74; em 1770, 96; e em 1792, 132”. Nas dezenas de páginas anteriores a esta no mesmo capítulo, ele se referiu à “extirpação, escravidão e sepultamento em minas da população indígena” das Américas, “a conversão da África em uma reserva para a caça comercial de peles negras”, escravidão nas Índias Orientais Holandesas e nas Índias Ocidentais, e a comercialização da escravidão nos Estados Unidos.18
Dada a profundidade com que ele abordou a questão do comércio de escravos aqui, bem como em outras partes de sua análise, dificilmente se poderia dizer que Marx se referia à escravidão, como Johnson afirma, simplesmente para obter “efeito retórico” em uma crítica do trabalho assalariado.19 Uma afirmação que literal e figurativamente enfatizou como o capitalismo do trabalho assalariado se apoiava no capitalismo do trabalho escravo é invertida, na interpretação de Johnson, em sua cabeça coberta pelo véu. É como se o próprio pedestal fosse feito para representar, aos olhos de Marx, um mero pedestal e não as relações materiais. “O Pedestal e o Véu” de Johnson foi posteriormente citado por outros estudiosos na análise do capitalismo racial como evidência de que Marx rebaixou a realidade da escravidão do Novo Mundo.20
Dada a importância dessas questões, vale a pena considerar as origens clássicas da metáfora do pedestal e do véu. Marx, que foi um importante estudioso do pensamento grego e romano antigo, conhecia a obra de Plutarco de trás para a frente, incluindo Moralia, à qual ele se referiu em sua dissertação. Ele estava, portanto, bem familiarizado com a descrição de Plutarco da estátua de Ísis, deusa da natureza, que o antigo filósofo grego viu em Sais, Egito, com a famosa inscrição enigmática em seu pedestal: “Eu sou tudo o que foi, e é, e assim será, e meu manto [frequentemente traduzido como véu] nenhum mortal já descobriu”.21 No Iluminismo, tornou-se costume representar uma estátua de uma Ísis velada em um pedestal, com a representação do véu constituindo um símbolo da própria iluminação e a descoberta da natureza material. G. W. F. Hegel começou sua Filosofia da Natureza referindo-se ao escrito no pedestal da Ísis velada, argumentando contra a noção dos númenos inescrutáveis de que o véu poderia ser rasgado para descobrir a realidade sensorial e o verdadeiro significado da natureza necessários para o desenvolvimento da ideia absoluta.22
Ao referir-se à metáfora do pedestal e do véu, Marx estava, portanto, transformando uma metáfora conhecida por todas as pessoas educadas de seu tempo, usando-a para reafirmar a crítica materialista e enfatizar que toda “civilização” (ou a sociedade de classes), incluindo sua forma mais recente sob o capitalismo, foi construída sobre a escravidão. O trabalho assalariado sob o capitalismo, ou “escravidão velada”, simbolizada pela deusa africana Ísis, surgiu materialmente e dependia, para seus fundamentos materiais, da escravidão nua e crua formada pelo comércio transatlântico de escravos. Nada disso minimizou os horrores da escravidão ou sua importância histórica no desenvolvimento do capitalismo. Mais do que simplesmente um “efeito retórico” ou uma tentativa de diminuir o significado da escravidão propriamente dita, relegando-a a um pedestal, Marx estava enfatizando que a escravidão constituía a forma material sobre a qual o próprio proletariado industrial havia emergido, e que o legado da escravidão persistiria por uma longa era de reconstrução e luta de classes. Ela era, portanto, fundamental para a crítica do capital, que era tanto sobre o chicote quanto sobre os salários, tanto sobre as plantations quanto sobre a fábrica.23
A análise de Marx da escravidão evoluiu em estágios definidos da década de 1840 a 1860, passando de uma consideração na década de 1840 da dependência que o capitalismo tinha da escravidão, para uma noção de capitalismo escravagista na década de 1850 e para uma economia política da escravidão madura na década de 1860, nos anos da Guerra Civil dos Estados Unidos. No entanto, sua ênfase no que ele concebeu como o segundo colonialismo associado à economia dos plantations, que ele destacou ser parte integrante do desenvolvimento histórico do capitalismo, é contínua ao longo de sua análise. Como ele escreveu já em 1847 no Miséria da Filosofia: “A escravidão direta é tanto o pivô da indústria burguesa quanto a maquinaria, o sistema de crédito etc. Sem escravidão não há algodão; sem algodão você não tem indústria moderna. Foi a escravidão que deu às colônias seu valor; foram as colônias que criaram o comércio mundial, e é o comércio mundial que é a condição prévia para a indústria em grande escala. Assim, a escravidão é uma categoria econômica de maior importância”.24
Central para o tratamento de Marx da escravidão moderna era o reconhecimento da natureza absolutamente horripilante do capitalismo escravagista, que o tornava pior do que todas as outras formas de escravidão conhecidas na história. O “chicote” e a “permuta de carne humana” eram partes especialmente integrantes da exploração capitalista do Novo Mundo. 25 Marx explicou que a história da civilização assumiu suas formas mais “assustadoras” onde a escravidão foi combinada com o comercialismo (por exemplo, nas minas antigas de metais preciosos descritas por Diodorus Siculus).26 Esse era particularmente o caso onde o trabalho escravo estava inserido em “uma situação de produção capitalista; assim, por exemplo, os estados do sul da União Americana”.27
Uma preocupação crucial eram as altas taxas de mortalidade do trabalho escravo no sistema capitalista de plantations. Para Marx, a escravidão por sua própria natureza assumia a forma de violência contínua e o medo perpétuo da tortura e da morte prematura. Os escravos eram tanto os bens do capital quanto sua força trabalho. As regras de maximização do lucro na economia escravagista, quando havia um comércio de escravos ativo capaz de uma substituição muito rápida de bens móveis humanos, levaram à aplicação frequente de uma regra de sete anos, vista pelos fazendeiros como a vida média de seus escravos, em que seus cálculos de valor foram baseados. Os escravos eram tão sobrecarregados de trabalho na Jamaica e em outras colônias britânicas que suas vidas geralmente eram consumidas em sete anos. Para o capitalista escravagista, importava relativamente pouco se a rotatividade dos escravos, por causa do esgotamento prematuro de suas vidas de trabalho e de sua própria existência, ocorresse, contanto que eles fossem facilmente substituíveis. Além disso, na produção escravagista, era possível trabalhar os escravos com mais intensidade, com mais exploração, do que no caso do trabalho assalariado.28
Como Marx exclamou: “Se o excesso de trabalho se estender por um longo período, o trabalhador talvez preserve a si mesmo e, portanto, sua capacidade de trabalho por apenas 7 anos, em vez dos 20 ou 30 anos pelos quais ele poderia tê-la preservado.” No caso do trabalho escravo, tais condições prevaleciam, ao contrário até mesmo das formas mais extremas de trabalho livre remunerado. “Os escravos nos estados do sul da América do Norte tiveram que se esforçar para separar o algodão de sua semente, depois de terem trabalhado nos campos por 12 horas, [o que] reduziu sua expectativa de vida média para 7 anos”.29 Ele citou um artigo do Daily Telegraph de 1860, o qual condenava os plantadores dos estados da Virgínia e da Carolina, em que se perguntava: “o que se pode pensar de uma cidade que realiza uma audiência pública para requerer que o período de trabalho dos homens [escravos] seja reduzido para 18 horas por dia?”.30
Em uma condenação semelhante ao desprezo pelas vidas humanas, Marx observou que o envio dos chamados “coolies” chineses para as ilhas Chincha, na costa do Peru, para cavar guano na década de 1850, era uma condição ainda “pior do que a escravidão”. Enquanto seus contratos geralmente especificavam oito anos de trabalho, 100% dos garimpeiros não conseguiram viver até o fim de seus contratos. Como noticiou o jornal londrino Times em 1882: “Os horrores aos quais os coolies chineses foram expostos foram piores do que os piores excessos da escravidão americana. Em 1860, acreditava-se que nenhum dos… quatro mil coolies chineses que haviam sido embarcados para aquelas ilhas desde o início do comércio, em 1844, havia sobrevivido, todos aqueles que não morreram de exaustão se submetido voluntariamente à morte”.31
Tais condições de excesso de trabalho e a expectativa de vida drasticamente reduzida prevaleciam nas Índias Ocidentais antes da eliminação do comércio de escravos e, posteriormente, nas plantations escravagistas do Sul dos Estados Unidos, quando incorporadas de forma importante à economia capitalista mundial com o desenvolvimento da indústria do algodão e a Revolução Industrial na Grã-Bretanha.32 Como disse Marx, referindo-se tanto ao Sul dos Estados Unidos quanto às Índias Ocidentais,
Considerações de economia… uma vez que se pratica o comércio de escravos, tornam-se motivos para torturar ao máximo o trabalho do escravo; pois, quando seu lugar pode ser suprido imediatamente com reservas estrangeiras, a duração de sua vida torna-se uma questão de menos importância do que a sua produtividade enquanto esta durar. É, portanto, uma máxima da gestão de escravos, em países importadores de escravos [como os Estados Unidos antes da guerra — legalmente antes de 1808, ilegalmente depois], que a economia mais eficaz é aquela que tira dos meios humanos, no mais curto espaço de tempo, o máximo esforço de que este é capaz. É na cultura tropical, onde os lucros anuais geralmente equivalem a todo o capital das plantations, que a vida do negro é sacrificada da maneira mais negligente. Foi a agricultura das Índias Ocidentais, que durante séculos foi prolífica de fabulosas riquezas, que engolfou milhões da raça africana. É em Cuba, hoje, cujas receitas são calculadas em milhões, e cujos fazendeiros são príncipes, que vemos na classe servil a comida mais grosseira, a labuta mais exaustiva e incessante, e mesmo a destruição absoluta de uma parte de seus números todos os anos.33
Nesse sentido, a escravidão sob o capitalismo era muito mais brutal, na visão de Marx, do que qualquer coisa já vista na história humana. Como “a exportação de algodão tornou-se de interesse vital para aqueles estados [do sul dos Estados Unidos], o excesso de trabalho do negro, e às vezes o consumo dessa vida em sete anos de trabalho, tornou-se um fator em um sistema calculado e calculista. Já não se tratava de obter dele uma certa quantidade de produtos úteis [como nas formas anteriores e mais patriarcais de escravidão], mas antes da produção da própria mais-valia”.34
Marx estudou O Comércio de Escravos, Doméstico e Internacional (The Slave Trade, Domestic and Foreign), de Henry Charles Carey, que, depois de fornecer estatísticas detalhadas sobre a importação de escravos nas várias colônias britânicas das Índias Ocidentais, e suas taxas de natalidade e mortalidade, declarou que “…nos vemos forçados a concluir que a escravidão aqui foi acompanhada por uma destruição da vida quase sem paralelo na história de qualquer nação civilizada”.35 Como Marx observou, a taxa de mortalidade de escravos nas Índias Ocidentais era tão alta que a população escravizada realmente diminuiu em muitas áreas, apesar da importação em massa de escravos, dos quais “dois terços do número importado anualmente pereceram.”36
Essa “destruição absoluta” dos escravos, como disse Marx, não foi apenas uma consequência da escravidão, nas Índias Ocidentais e em partes da América Latina, mas foi acompanhada pelas mais desumanas torturas em cima do “chicote dos negociantes”. Assim, ele se referiu ao uso do “spanso bocko — uma das formas mais cruéis de punição… usada pelos colonos no Suriname”, conforme retratado por John Gabriel Stedmanna em Narrativa de uma expedição de cinco anos contra os negros revoltados do Suriname (Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam) e relatado por Comte em seu Tratado da Legislação(Traité de législation).37 Nas palavras de Marx, um escravo era “amarrado na tortura spanso bocko do Suriname, incapaz de mover as mãos ou os pés, ou qualquer outro de seus membros, tendo que suportar tudo o que a ele é feito.” Aqui ele citou Comte sobre a ousadia dos escravos sob tal tortura, apontando como eles “zombam de seus torturadores” e “zombam da impotência destes até mesmo para forçá-los a se humilhar, e suprimem todo ‘gemido’ e todo suspiro, contanto que a dor física os permitisse”. 38 Em várias partes de sua obra, Marx aludiu às revoltas e revoluções de escravos no Suriname, Haiti e Estados Unidos, e à existência de fugitivos que se uniram, determinados a resistir aos “horrores bárbaros da escravidão”.39 Marx também observou as revoltas pós-escravidão e a brutalidade colonial na Jamaica.40 Comentando a discussão de Howitt das barbáries do colonialismo e os relatos de Comte da tortura sob a escravidão nas Índias Ocidentais, Marx observou em O capital: “Isso precisa ser estudado em detalhes, para ver o que o burguês faz de si mesmo e do mundo quando ele pode modelar o mundo de acordo com sua própria imagem sem interreferência” como sob o colonialismo e a escravidão.41
Foi o rápido “consumo” dos escravos — como era referido pelos economistas políticos da época — que, na visão de Marx, tornou necessária a perpetuação do comércio mundial de escravos pelo maior tempo possível, se o sistema escravagista capitalista persistisse. Através de sua leitura do O Escravo Africano e Seu Remédio (The African Slave and Its Remedy), de Thomas Fowell Buxton, e de O Poder do Escravo (The Slave Power), de Jonh Cairnes, Marx estava bem ciente de que o comércio transatlântico de escravos continuou ilegalmente, mesmo com a abolição britânica do comércio de escravos em 1807 e a proibição do comércio pelos Estados Unidos em 1808. Ele citou a fala Stephen Douglas em 1859: “Durante o ano passado, mais negros foram importados da África do que em qualquer ano anterior, mesmo na época em que o comércio de escravos ainda era legal”.42 Além disso, nos Estados Unidos, enfatizou Marx, outra solução também havia surgido: a reprodução ativa de escravos nos estados fronteiriços como Virgínia e Kentucky, proporcionando trabalho escravo para o restante do sul. Como resultado, em meados da década de 1860, a expropriação absoluta de seres humanos por meio da escravidão permanecia o pedestal do sistema, a base sobre a qual surgiu a exploração velada do trabalho assalariado.
A economia política do capitalismo escravagista
Foi somente no final da década de 1850 no Grundrisse e na década de 1860 em seu Manuscrito Econômico de 1861–1863 e em O capital que Marx, como resultado de seus estudos de economia política, foi capaz de desenvolver uma crítica completa da exploração do trabalho escravo sob capitalismo moderno. Foi nesse período que ele solidificou sua visão do capitalismo escravagista como uma forma particular de capitalismo, resultante de um “segundo tipo” de colonialismo. Para Marx, e para economistas políticos clássicos em geral, o colonialismo propriamente dito, na medida em que se referia ao trabalho, era geralmente associado à ocupação violenta de terras por trabalhadores livres e proprietários camponeses engajados principalmente na produção local de subsistência.43 Mas um segundo colonialismo, que não deve ser confundido com o colonialismo propriamente dito, também emergiu, igualmente banhado em sangue, na forma da economia escravagista. Como ele colocou em Teorias da Mais-valia [Theories of Surplus Value]:
Foi somente no final da década de 1850 no Grundrisse e na década de 1860 em seu Manuscrito Econômico de 1861–1863 e em O capital que Marx, como resultado de seus estudos de economia política, foi capaz de desenvolver uma crítica completa da exploração do trabalho escravo sob capitalismo moderno. Foi nesse período que ele solidificou sua visão do capitalismo escravagista como uma forma particular de capitalismo, resultante de um “segundo tipo” de colonialismo. Para Marx, e para economistas políticos clássicos em geral, o colonialismo propriamente dito, na medida em que se referia ao trabalho, era geralmente associado à ocupação violenta de terras por trabalhadores livres e proprietários camponeses engajados principalmente na produção local de subsistência.43 Mas um segundo colonialismo, que não deve ser confundido com o colonialismo propriamente dito, também emergiu, igualmente banhado em sangue, na forma da economia escravagista. Como ele colocou em Teorias da Mais-valia [Theories of Surplus Value]:
No segundo tipo de colônias — plantations — onde as especulações comerciais aparecem desde o início e a produção é destinada ao mercado mundial, o modo de produção capitalista existe, embora apenas em um sentido formal, visto que a escravidão dos Negros impede o trabalho assalariado livre, que é a base da produção capitalista [como um todo]. Mas o negócio no qual os escravos são usados é conduzido por capitalistas. O método de produção que eles introduzem não surgiu da escravidão, mas foi enxertado nela. Nesse caso, a mesma pessoa é capitalista e proprietária de terras.44
Marx especificou que a A escravidão das plantations do Novo Mundo era capitalista na forma e executada por capitalistas ligados à economia mundial, mas não era a forma primária de capitalismo, que se baseava necessariamente na expropriação do trabalho assalariado, sobre a qual toda a estrutura de valor do capitalismo foi erguido. “A escravidão”, escreveu ele em Grundrisse, “é possível em pontos individuais dentro do sistema burguês de produção… apenas porque não existe em outros pontos; e aparece como uma anomalia oposta ao próprio sistema burguês… O fato de que agora não apenas chamamos os proprietários das plantations na América de capitalistas, mas eles são capitalistas, baseia-se em sua existência como anomalias dentro de um mercado mundial baseado no trabalho livre.”45
A posição de Marx a esse respeito era semelhante à fornecida por Orlando Patterson, que explicou: “O capitalismo, que é exclusivamente um produto do mundo moderno, tem duas variantes principais: a ‘variante livre’ caracterizada pela venda da mão-de-obra do trabalhador no mercado de trabalho; e a variante escrava encontrada nas Américas até as últimas décadas do século XIX, nas… Índias Orientais Holandesas entre o final do século XVII e meados do século XIX e nas colônias de escravos do Oceano Índico nos séculos XVIII e XIX”. O capitalismo baseado no trabalho assalariado, afirmou Patterson, era “reconhecidamente a mais avançada” dessas duas formas.46 Na verdade, na visão de Marx, a variante escravagista do capitalismo existia apenas na medida em que era parte integrante de um sistema capitalista mundial mais amplo, enraizado no trabalho assalariado. No entanto, como Patterson indicou, de acordo com Marx, “o capitalista é frequentemente (embora nem sempre) capaz de extrair um nível mais alto de mais-valia do escravo, forçando-o a produzir mais do que se fosse livre e reduzindo seu custo de reprodução’’.47
Para compreender a natureza da crítica de Marx aqui é necessário reconhecer que a lei do valor do capitalismo subjacente à economia política clássica era dependente de uma concepção de troca entre iguais e trabalho formalmente livre, e não poderia ter a escravidão como base. A análise brilhante de Aristóteles do valor proporcional subjacente à mercadoria em sua obra Ética a Nicômaco [Nicomachean Ethics] ficou aquém, argumentou Marx, porque, vivendo em uma sociedade “fundada sobre o trabalho de escravos”, ele era incapaz de compreender a base do valor de mercadoria no trabalho, que dependia de uma concepção de “trabalho humano igual e, portanto… trabalho de qualidade igual”.48 É somente com o capitalismo que o conceito de trabalho abstrato baseado em uma noção de igualdade de trabalho vem à tona. Este não é um assunto menor, porque toda a economia política burguesa, juntamente com toda a lógica da valorização capitalista, exigia o trabalho assalariado como sua base.49
Por essa razão, embora o capitalismo escravagista existisse claramente e tivesse uma importância histórica definida, na visão de Marx, ele não poderia constituir as leis do movimento do capital como um todo, mas apenas poderia se desenvolver e prosperar plenamente em termos capitalistas em um contexto em que o trabalho assalariado era a forma predominante. A expropriação de seres humanos associada à escravidão estava, portanto, ligada ao trabalho assalariado capitalista na forma de uma “luta de irmãos inimigos”.50 No caso do capitalismo escravagista, não havia pretensão de troca entre iguais. Em vez disso, baseava-se no poder absoluto ou, como Sven Beckert o chama, “capitalismo de guerra”.51
Na época de Marx, o capitalismo escravocrata representava um conflito no coração bárbaro do próprio sistema capitalista. Em janeiro de 1860, Marx escreveu a Friedrich Engels: “Na minha opinião, a coisa mais importante que está acontecendo no mundo hoje é o movimento de escravos — por um lado, na América, iniciado pela morte de [John] Brown, e na Rússia , por outro [com relação aos servos]… Acabei de ver no [New York] Tribune que houve outra revolta de escravos no Missouri, nem é preciso dizer que foi reprimida. Mas agora o sinal foi dado.”52 Marx, portanto, se engajou em um estudo intensivo da economia política da questão dos escravos no contexto de escrever artigos para o New York Tribune e mais tarde para o Die Presse, bem como em seus cadernos econômicos, que seriam a base de O Capital. Aqui, Marx se baseou em um grande número de obras, mas o tratado mais importante dos que ele utilizou para sua análise do sistema de acumulação no Sul escravagista dos Estados Unidos foi O Poder do Escravo (The Slave Power), de J.E. Cairnes, apresentado como uma série de palestras em 1861 e publicado como um livro em 1862.
A chave para toda a compreensão de Marx da acumulação baseada na escravização no sul dos Estados Unidos foi sua noção de que, sob o capitalismo escravagista em sua forma mais desenvolvida nas “plantations americanas”, toda a “mais-valia” produzida pelos escravos “é concebida como lucro… [Como] o preço que é pago pelo escravo não é mais do que a mais-valia ou o lucro antecipado e capitalizado que deve ser extraído dele” ao longo de sua vida como trabalhador.53 Diferente do“ trabalhador assalariado ”que não tem “nenhum valor” (em oposição ao valor da força de trabalho do trabalhador), o “escravo… tem valor de troca, um valor” e representa um fluxo futuro de valor, “um pedaço de capital.”54 A economia disso significava que o trabalho da força de trabalho escrava era regulamentado, como nas máquinas, em termos de consumo de capital, seu “desgaste”, sua disponibilidade e o custo de substituições. No entanto, o escravo, cujo preço inicial era baseado em uma vida de trabalho de vinte anos, era muitas vezes “sobrecarregado”, isto é, consumido como instrumento de trabalho em sete anos, ao invés de vinte, a fim de maximizar a mais-valia do trabalho escravo no menor tempo. Também era comum nesse sistema, enfatizou Marx, que proprietários de escravos pedissem dinheiro emprestado por seus escravos como bens de capital, portanto, títulos para obter e alugá-los a outros capitalistas.55 “O que Marx… entendeu”, como Ransom e Sutch apontaram,
A posição de Marx a esse respeito era semelhante à fornecida por Orlando Patterson, que explicou: “O capitalismo, que é exclusivamente um produto do mundo moderno, tem duas variantes principais: a ‘variante livre’ caracterizada pela venda da mão-de-obra do trabalhador no mercado de trabalho; e a variante escrava encontrada nas Américas até as últimas décadas do século XIX, nas… Índias Orientais Holandesas entre o final do século XVII e meados do século XIX e nas colônias de escravos do Oceano Índico nos séculos XVIII e XIX”. O capitalismo baseado no trabalho assalariado, afirmou Patterson, era “reconhecidamente a mais avançada” dessas duas formas.46 Na verdade, na visão de Marx, a variante escravagista do capitalismo existia apenas na medida em que era parte integrante de um sistema capitalista mundial mais amplo, enraizado no trabalho assalariado. No entanto, como Patterson indicou, de acordo com Marx, “o capitalista é frequentemente (embora nem sempre) capaz de extrair um nível mais alto de mais-valia do escravo, forçando-o a produzir mais do que se fosse livre e reduzindo seu custo de reprodução’’.47
Para compreender a natureza da crítica de Marx aqui é necessário reconhecer que a lei do valor do capitalismo subjacente à economia política clássica era dependente de uma concepção de troca entre iguais e trabalho formalmente livre, e não poderia ter a escravidão como base. A análise brilhante de Aristóteles do valor proporcional subjacente à mercadoria em sua obra Ética a Nicômaco [Nicomachean Ethics] ficou aquém, argumentou Marx, porque, vivendo em uma sociedade “fundada sobre o trabalho de escravos”, ele era incapaz de compreender a base do valor de mercadoria no trabalho, que dependia de uma concepção de “trabalho humano igual e, portanto… trabalho de qualidade igual”.48 É somente com o capitalismo que o conceito de trabalho abstrato baseado em uma noção de igualdade de trabalho vem à tona. Este não é um assunto menor, porque toda a economia política burguesa, juntamente com toda a lógica da valorização capitalista, exigia o trabalho assalariado como sua base.49
Por essa razão, embora o capitalismo escravagista existisse claramente e tivesse uma importância histórica definida, na visão de Marx, ele não poderia constituir as leis do movimento do capital como um todo, mas apenas poderia se desenvolver e prosperar plenamente em termos capitalistas em um contexto em que o trabalho assalariado era a forma predominante. A expropriação de seres humanos associada à escravidão estava, portanto, ligada ao trabalho assalariado capitalista na forma de uma “luta de irmãos inimigos”.50 No caso do capitalismo escravagista, não havia pretensão de troca entre iguais. Em vez disso, baseava-se no poder absoluto ou, como Sven Beckert o chama, “capitalismo de guerra”.51
Na época de Marx, o capitalismo escravocrata representava um conflito no coração bárbaro do próprio sistema capitalista. Em janeiro de 1860, Marx escreveu a Friedrich Engels: “Na minha opinião, a coisa mais importante que está acontecendo no mundo hoje é o movimento de escravos — por um lado, na América, iniciado pela morte de [John] Brown, e na Rússia , por outro [com relação aos servos]… Acabei de ver no [New York] Tribune que houve outra revolta de escravos no Missouri, nem é preciso dizer que foi reprimida. Mas agora o sinal foi dado.”52 Marx, portanto, se engajou em um estudo intensivo da economia política da questão dos escravos no contexto de escrever artigos para o New York Tribune e mais tarde para o Die Presse, bem como em seus cadernos econômicos, que seriam a base de O Capital. Aqui, Marx se baseou em um grande número de obras, mas o tratado mais importante dos que ele utilizou para sua análise do sistema de acumulação no Sul escravagista dos Estados Unidos foi O Poder do Escravo (The Slave Power), de J.E. Cairnes, apresentado como uma série de palestras em 1861 e publicado como um livro em 1862.
A chave para toda a compreensão de Marx da acumulação baseada na escravização no sul dos Estados Unidos foi sua noção de que, sob o capitalismo escravagista em sua forma mais desenvolvida nas “plantations americanas”, toda a “mais-valia” produzida pelos escravos “é concebida como lucro… [Como] o preço que é pago pelo escravo não é mais do que a mais-valia ou o lucro antecipado e capitalizado que deve ser extraído dele” ao longo de sua vida como trabalhador.53 Diferente do“ trabalhador assalariado ”que não tem “nenhum valor” (em oposição ao valor da força de trabalho do trabalhador), o “escravo… tem valor de troca, um valor” e representa um fluxo futuro de valor, “um pedaço de capital.”54 A economia disso significava que o trabalho da força de trabalho escrava era regulamentado, como nas máquinas, em termos de consumo de capital, seu “desgaste”, sua disponibilidade e o custo de substituições. No entanto, o escravo, cujo preço inicial era baseado em uma vida de trabalho de vinte anos, era muitas vezes “sobrecarregado”, isto é, consumido como instrumento de trabalho em sete anos, ao invés de vinte, a fim de maximizar a mais-valia do trabalho escravo no menor tempo. Também era comum nesse sistema, enfatizou Marx, que proprietários de escravos pedissem dinheiro emprestado por seus escravos como bens de capital, portanto, títulos para obter e alugá-los a outros capitalistas.55 “O que Marx… entendeu”, como Ransom e Sutch apontaram,
era que a posse de escravos existia para dar lucro ao proprietário. Todo o produto do trabalho do escravo e sua família, acima de qualquer provisão para alimentos e outras necessidades que o proprietário se preocupasse em fazer, era expropriado. Essa sobra era o lucro do proprietário, e a expectativa de um fluxo contínuo de tais retornos fazia da propriedade escrava um bem lucrativo. O preço pago por um escravo refletia o consenso do comprador e do vendedor sobre o valor potencial do fluxo contínuo de lucros que poderia ser extraído do escravo e, no caso de uma mulher, de seus descendentes também.56
A análise de Marx, portanto, o levou a diferir de outros economistas políticos e críticos da escravidão em sua época, como Adam Smith, que argumentou que o trabalho escravo era antieconômico e incapaz de competir com o trabalho assalariado.57 Em contraste, Marx apontou para o vasto trabalho excedente expropriado de escravos, e o fato de que os próprios escravos eram uma forma de bem capital, formando a base do capital fictício ou especulativo.58 Portanto, parecia haver pouca dúvida, em sua estimativa, de que a economia de plantation do Sul pré-guerra era, tanto quanto as preocupações econômicas eram consideradas, enormemente lucrativa, incluindo o mercado para a reprodução de escravos. Como Engels indicou em Anti-Dühring, a razão pela qual somente a força poderia remover a escravidão dos estados de reproduçãoo e consumo de escravos do Sul era que a produção com base nisso era paga e, portanto, não morreria por conta própria por motivos econômicos.59
Para ser lucrativa em uma base capitalista, a produção escrava exigia uma forma de produção adequada ao trabalho escravo.60 Marx explicou que o elemento essencial do trabalho escravo era que se baseava na força e exigia uma compulsão externa contínua, exigindo o chicote do supervisor. A escravidão foi caracterizada antes de tudo para Marx pelo que ele chamou de “uma relação de dominação”. Como Patterson comentou a esse respeito, “Marx não apenas mostra claramente que entende que a escravidão, em um nível institucional, é antes de tudo uma ‘relação de dominação’, mas identifica o elemento de força direta que a distingue”.61 Por se tratar de trabalho diretamente forçado, indicou Marx, os escravos estavam engajados em uma resistência constante, se não ativa. Suas condições de trabalho careciam de consentimento; mais ainda sob a produção capitalista, onde foram forçados a trabalhar intensamente e por horas desmedidas, ameaçando sua própria existência corpórea. “O trabalho forçado”, escreveu Marx, “nunca pode criar uma laboriosidade geral.”62 A resistência dos escravos evidente em todas as suas ações, às vezes estendendo-se às revoltas de escravos, e o medo que isso gerava em seus senhores, foram as principais razões para ser proibido educar escravos, especialmente no Sul, o que significava que eles permaneceram quase que inteiramente sendo mão de obra não qualificada.
Essas condições combinadas limitaram as formas em que os escravos poderiam ser empregados com lucro, em comparação com o trabalho assalariado. O trabalho assalariado, argumentou Marx, se distinguia do trabalho escravo pela sua flexibilidade e versatilidade. O trabalho escravo, ao contrário, porque a força contínua era necessária, só podia ser efetivamente empregado em certas formas de produção.63 O limite-chave aqui, como Marx argumentou, seguindo Cairnes, tinha a ver com os custos da superintendência. “Quanto maior esse antagonismo [de classe]” e quanto maior o grau em que o trabalho precise ser forçado, escreveu Marx, “maior é o papel que este trabalho de supervisão desempenha. Ele atinge seu ápice no sistema escravista sob o capitalismo. Na verdade, “o feitor com seu chicote era necessário para a produção… com base na escravidão”.64 O trabalho escravo não era econômico se dispersado de alguma forma, devido ao nível de resistência escrava, uma vez que seria removido da coerção direta e do chicote do feitor. Não obstante, o trabalho escravo era especialmente adequado para a produção centralizada em grande escala em grupos nas plantations de monocultura, onde os custos do trabalho da superintendência podiam ser mantidos baixos e onde apenas o trabalho forçado poderia ser empregado nessa escala e com tal intensidade física.
Marx, portanto, considerou a supervisão do trabalho nas plantation sob o capitalismo escravagista como a representação de uma forma mais desenvolvida de gestão capitalista, antecipando práticas que surgiriam dentro da indústria de grande escala. Consequentemente, ele marcou as passagens em sua cópia de O Poder do Escravo (Slave Power) de Cairnes que abordavam esse assunto e frequentemente se referia a elas. Como escreveu Cairnes, “as vantagens econômicas da escravidão estão facilmente colocadas: estão todas compreendidas no fato de que o empregador de escravos tem poder absoluto sobre seus trabalhadores e desfruta da disposição de todos os frutos de seu trabalho. O trabalho escravo, portanto, admite a mais completa organização, ou seja, pode ser combinado em larga escala e dirigido por uma mente controladora para um único fim, e seu custo nunca ultrapassa o necessário para manter o escravo com saúde e força.” Na agricultura, o sistema escravagista organizado com base na agricultura de plantation capitalista era economicamente superior à propriedade camponesa voltada principalmente para a produção de subsistência: “A propriedade camponesa… não admite combinação e classificação do trabalho no mesmo grau da escravidão”, embora superior em relação à indústria individual.65 De muitas maneiras, como Cairnes e Marx reconheceram, a escravidão nas plantations era, portanto, altamente competitiva com outras formas de produção sob o capitalismo, na medida em que assumia a forma de produção combinada em grande escala nas plantations, incluindo a extrema intensidade que poderia ser imposta ao trabalho escravo nessas circunstâncias.
Se para Marx havia pouca dúvida de que a acumulação baseada em escravos no capitalismo de plantation era economicamente eficaz, ela permanecia claramente uma forma de indústria de trabalho intensivo, e era menos propícia à industrialização, porque o capital era investido em escravos e não em capital físico, enquanto a produção escrava não era propícia para o trabalho fabril. Ela também teve o efeito, como em todas as sociedades escravagistas, de difamar o trabalho manual. A economia escravagista nos Estados Unidos por volta de 1860 consistia, como Cairnes e Marx indicaram, em trezentos mil proprietários de escravos, quatro milhões de escravos e outros cinco milhões de trabalhadores brancos livres, a maioria engajados na produção de subsistência. O crescimento industrial no Sul foi muito menor do que no Norte, como pode ser visto na ascensão do capital ferroviário principalmente neste último.66
Mais importante para minar a escravidão do Sul, entretanto, foi a rápida degradação ecológica que sua agricultura baseada na plantation de monocultura representou. Na obra de pensadores como Merivale, Cairnes, Olmsted, Carey, Johnston e o próprio Marx, uma crítica importante da economia política da escravidão no Sul era ecológica: o sistema escravagista de plantation rapidamente exauriu o solo, como consequência da ruptura metabólica no ciclo de nutrientes do solo, exigindo novas terras para manter a produção e os lucros.67 Isso levou a um movimento violento rumo ao oeste e (e ao sul) impulsionado principalmente pela necessidade do poder escravista de expandir o capitalismo escravocrata, abrangendo a Trilha das Lágrimas, três Guerras Seminoles, a tomada do Texas e a Guerra Mexicano-americana.68
O principal pensador a apresentar essa análise ecológica foi o químico agrícola Johnston, membro da Royal Society. Johnston, em suas Notas sobre a América do Norte [Notes on North America], que Marx estudou profundamente, enfatizou que o estado da Virgínia havia exaurido seu solo com a agricultura de plantation escravista e se tornado dependente da criação de escravos para os estados consumidores de escravos do sul. A tendência geral no Sul (diferentemente do Norte) era [as plantations irem] de solos mais férteis que haviam sido exauridos para solos mais pobres para o oeste, criando uma necessidade quase desesperada de novos solos e uma tentativa de obter novas terras para a escravidão no extremo oeste da Califórnia.69 Cairnes apontou para o caráter destrutivo da monocultura praticada nas plantations escravagistas, onde não havia, portanto, “rotação de culturas”:
Para ser lucrativa em uma base capitalista, a produção escrava exigia uma forma de produção adequada ao trabalho escravo.60 Marx explicou que o elemento essencial do trabalho escravo era que se baseava na força e exigia uma compulsão externa contínua, exigindo o chicote do supervisor. A escravidão foi caracterizada antes de tudo para Marx pelo que ele chamou de “uma relação de dominação”. Como Patterson comentou a esse respeito, “Marx não apenas mostra claramente que entende que a escravidão, em um nível institucional, é antes de tudo uma ‘relação de dominação’, mas identifica o elemento de força direta que a distingue”.61 Por se tratar de trabalho diretamente forçado, indicou Marx, os escravos estavam engajados em uma resistência constante, se não ativa. Suas condições de trabalho careciam de consentimento; mais ainda sob a produção capitalista, onde foram forçados a trabalhar intensamente e por horas desmedidas, ameaçando sua própria existência corpórea. “O trabalho forçado”, escreveu Marx, “nunca pode criar uma laboriosidade geral.”62 A resistência dos escravos evidente em todas as suas ações, às vezes estendendo-se às revoltas de escravos, e o medo que isso gerava em seus senhores, foram as principais razões para ser proibido educar escravos, especialmente no Sul, o que significava que eles permaneceram quase que inteiramente sendo mão de obra não qualificada.
Essas condições combinadas limitaram as formas em que os escravos poderiam ser empregados com lucro, em comparação com o trabalho assalariado. O trabalho assalariado, argumentou Marx, se distinguia do trabalho escravo pela sua flexibilidade e versatilidade. O trabalho escravo, ao contrário, porque a força contínua era necessária, só podia ser efetivamente empregado em certas formas de produção.63 O limite-chave aqui, como Marx argumentou, seguindo Cairnes, tinha a ver com os custos da superintendência. “Quanto maior esse antagonismo [de classe]” e quanto maior o grau em que o trabalho precise ser forçado, escreveu Marx, “maior é o papel que este trabalho de supervisão desempenha. Ele atinge seu ápice no sistema escravista sob o capitalismo. Na verdade, “o feitor com seu chicote era necessário para a produção… com base na escravidão”.64 O trabalho escravo não era econômico se dispersado de alguma forma, devido ao nível de resistência escrava, uma vez que seria removido da coerção direta e do chicote do feitor. Não obstante, o trabalho escravo era especialmente adequado para a produção centralizada em grande escala em grupos nas plantations de monocultura, onde os custos do trabalho da superintendência podiam ser mantidos baixos e onde apenas o trabalho forçado poderia ser empregado nessa escala e com tal intensidade física.
Marx, portanto, considerou a supervisão do trabalho nas plantation sob o capitalismo escravagista como a representação de uma forma mais desenvolvida de gestão capitalista, antecipando práticas que surgiriam dentro da indústria de grande escala. Consequentemente, ele marcou as passagens em sua cópia de O Poder do Escravo (Slave Power) de Cairnes que abordavam esse assunto e frequentemente se referia a elas. Como escreveu Cairnes, “as vantagens econômicas da escravidão estão facilmente colocadas: estão todas compreendidas no fato de que o empregador de escravos tem poder absoluto sobre seus trabalhadores e desfruta da disposição de todos os frutos de seu trabalho. O trabalho escravo, portanto, admite a mais completa organização, ou seja, pode ser combinado em larga escala e dirigido por uma mente controladora para um único fim, e seu custo nunca ultrapassa o necessário para manter o escravo com saúde e força.” Na agricultura, o sistema escravagista organizado com base na agricultura de plantation capitalista era economicamente superior à propriedade camponesa voltada principalmente para a produção de subsistência: “A propriedade camponesa… não admite combinação e classificação do trabalho no mesmo grau da escravidão”, embora superior em relação à indústria individual.65 De muitas maneiras, como Cairnes e Marx reconheceram, a escravidão nas plantations era, portanto, altamente competitiva com outras formas de produção sob o capitalismo, na medida em que assumia a forma de produção combinada em grande escala nas plantations, incluindo a extrema intensidade que poderia ser imposta ao trabalho escravo nessas circunstâncias.
Se para Marx havia pouca dúvida de que a acumulação baseada em escravos no capitalismo de plantation era economicamente eficaz, ela permanecia claramente uma forma de indústria de trabalho intensivo, e era menos propícia à industrialização, porque o capital era investido em escravos e não em capital físico, enquanto a produção escrava não era propícia para o trabalho fabril. Ela também teve o efeito, como em todas as sociedades escravagistas, de difamar o trabalho manual. A economia escravagista nos Estados Unidos por volta de 1860 consistia, como Cairnes e Marx indicaram, em trezentos mil proprietários de escravos, quatro milhões de escravos e outros cinco milhões de trabalhadores brancos livres, a maioria engajados na produção de subsistência. O crescimento industrial no Sul foi muito menor do que no Norte, como pode ser visto na ascensão do capital ferroviário principalmente neste último.66
Mais importante para minar a escravidão do Sul, entretanto, foi a rápida degradação ecológica que sua agricultura baseada na plantation de monocultura representou. Na obra de pensadores como Merivale, Cairnes, Olmsted, Carey, Johnston e o próprio Marx, uma crítica importante da economia política da escravidão no Sul era ecológica: o sistema escravagista de plantation rapidamente exauriu o solo, como consequência da ruptura metabólica no ciclo de nutrientes do solo, exigindo novas terras para manter a produção e os lucros.67 Isso levou a um movimento violento rumo ao oeste e (e ao sul) impulsionado principalmente pela necessidade do poder escravista de expandir o capitalismo escravocrata, abrangendo a Trilha das Lágrimas, três Guerras Seminoles, a tomada do Texas e a Guerra Mexicano-americana.68
O principal pensador a apresentar essa análise ecológica foi o químico agrícola Johnston, membro da Royal Society. Johnston, em suas Notas sobre a América do Norte [Notes on North America], que Marx estudou profundamente, enfatizou que o estado da Virgínia havia exaurido seu solo com a agricultura de plantation escravista e se tornado dependente da criação de escravos para os estados consumidores de escravos do sul. A tendência geral no Sul (diferentemente do Norte) era [as plantations irem] de solos mais férteis que haviam sido exauridos para solos mais pobres para o oeste, criando uma necessidade quase desesperada de novos solos e uma tentativa de obter novas terras para a escravidão no extremo oeste da Califórnia.69 Cairnes apontou para o caráter destrutivo da monocultura praticada nas plantations escravagistas, onde não havia, portanto, “rotação de culturas”:
O solo era empregado repetidamente para gerar o mesmo produto, e o resultado inevitável era o seguinte: depois de uma curta série de anos, sua fertilidade é completamente exaurida, o fazendeiro abandona o terreno que tornou inútil e passa a buscar em novos solos aquela fertilidade sob a qual os agentes à sua disposição podem ser lucrativamente empregados... Mesmo no Texas, antes ainda dos dez anos sob o domínio deste sistema [escravagista] devastador, o Sr. Olmsted nos diz que o espetáculo, tão familiar e tão melancólico em todos os estados escravagistas mais antigos, já era visto com frequência por um viajante — ”uma plantation abandonada de campos ‘desgastados’, com sua pequena vila de moradias, agora um lar apenas para lobos e abutres.”
O cultivo pelo trabalho escravo, portanto, ao impedir as condições de rotação de culturas ou um manejo mais habilidoso [do solo], inevitavelmente tende a exaurir a terra de um país e, consequentemente, requer para seu sucesso permanente, não apenas um solo fértil, mas sua extensão praticamente ilimitada.70
Para o próprio Marx, que vinha desenvolvendo sua teoria da ruptura metabólica nessa época junto à sua crítica da escravidão, não havia absolutamente nenhuma dúvida sobre a falha material que gerou a crise da escravidão nos Estados Unidos, levando à Guerra Civil. Como ele escreveu em “The North American Civil War” [A Guerra Civil Norte Americana] em outubro de 1861:
Para o próprio Marx, que vinha desenvolvendo sua teoria da ruptura metabólica nessa época junto à sua crítica da escravidão, não havia absolutamente nenhuma dúvida sobre a falha material que gerou a crise da escravidão nos Estados Unidos, levando à Guerra Civil. Como ele escreveu em “The North American Civil War” [A Guerra Civil Norte Americana] em outubro de 1861:
“O cultivo dos artigos de exportação pelo Sul, como algodão, tabaco, açúcar, etc., realizado por escravos, só é lucrativo enquanto for conduzido com grandes grupos de escravos, em escala massiva e em grandes extensões de solo naturalmente fértil, que requerem apenas trabalho simples. O cultivo intensivo, que depende menos da fertilidade do solo do que do investimento de capital, inteligência e energia do trabalho, é contrário à natureza da escravidão. Daí a rápida transformação de estados como Maryland e Virgínia, que anteriormente empregavam escravos na produção de artigos de exportação, em estados que criam escravos para exportar esses mesmos escravos para o sul profundo. Até mesmo na Carolina do Sul, onde os escravos constituem quatro sétimos da população, o cultivo do algodão tem estado quase totalmente estacionário durante anos devido ao esgotamento do solo. De fato, pela força das circunstâncias, a Carolina do Sul já foi parcialmente transformada em um estado de criação de escravos, uma vez que já vende em escravos um montante de quatro milhões de dólares anuais para os estados do extremo Sul e Sudoeste. Tão logo este ponto seja alcançado, a aquisição de novos territórios torna-se necessária, para que uma parte dos senhores de escravos ocupe novas terras férteis e um novo mercado de criação de escravos, e consequentemente de venda desses escravos, possa ser criado para a outra parte dos senhores.”71
A realidade era que “um confinamento estrito da escravidão a seu antigo terreno… estava fadado, confome às leis econômicas, a levar à sua extinção gradual”, seja por exaustão de terras, diminuição do poder no governo dos EUA, instabilidade entre a própria população “pobre e branca” e não menos por todas as revoltas dos escravos.72 Como Johnson escreveu com perspicácia em Rivers of Dark Dreams [Rios de sonhos escuros], “A hegemonia desta única planta sobre a paisagem do Reino do Algodão produziu uma simplificação radical da natureza e uma simplificação radical do ser humano… A monocultura do algodão despojou a terra de vegetação [e] drenou sua fertilidade.”73 Conforme Marx sugeriu, a crise ecológica da produção escrava de algodão em plantations explicava a agressão desesperada performada pelo Sul na guerra de fronteira Kansas-Missouri (também conhecido como conflito Bloody Kansas) e as tentativas de enviar bandos de texanos ao Novo México para conquistar aquele território para o Sul.74 Para Eugene Genovese, na obra The Political Economy of Slavery [A economia política da escravidão], a ruína do sistema escravagista não foi tanto o seu fracasso econômico, mas sim o “esgotamento do solo”, levando ao que Marx, seguindo William Henry Seward, chamou de um “conflito irreprimível”.75
Marx, a Guerra Civil dos Estados Unidos e a Reconstrução Negra
Como Robin Blackburn observou na obra Uma revolução inacabada: Karl Marx e Abraham Lincoln [An Unfinished Revolution: Karl Marx and Abraham Lincoln], Marx, na época da Guerra Civil dos Estados Unidos, “estava focado em destruir a verdadeira escravidão, que ele sabia ser um componente crítico da ordem capitalista reinante”. Ele via o conflito entre o Norte e o Sul na época da Guerra Civil dos Estados Unidos como uma competição entre “duas espécies de capitalismo — uma permitindo a escravidão e a outra não.”76 Marx desempenhou um papel fundamental na organização do movimento da classe trabalhadora inglesa contra a movimentação do governo britânico para intervir pelos Confederados na Guerra Civil dos Estados Unidos. Sua participação na luta contra a escravidão foi, portanto, totalmente integrada à sua crítica geral da economia política. Os extensos manuscritos econômicos que formariam a base de O Capital foram escritos durante os anos da Guerra Civil dos Estados Unidos. Marx iniciou a redação do manuscrito do volume um de O Capital assim que a escravidão foi derrotada.77
As numerosas análises de Marx sobre a escravidão e a Guerra Civil dos Estados Unidos foram únicas ao ver essa guerra como uma luta revolucionária que só poderia ser vencida por meios revolucionários, incluindo a libertação dos escravos e o início de uma “guerra popular” contra o poder escravagista. De acordo com Tom Jeannot em “Marx, Capitalism, and Race”,
Antecipando o “conflito irreprimível” (com William Seward), a trilha que Marx abriu leva da “guerra do Kansas” (1854–1856) ao ataque em Harper’s Ferry (outubro de 1859), à revolta Negra em Bolívar, Missouri (Dezembro de 1859)... Contra a tentação permanente de banalizar ou ignorar a atividade dos próprios escravos negros, ou então apresentá-los como espectadores passivos no processo de sua própria emancipação, Marx previu, em um evento obscuro e pouco notado no Missouri antes do início da guerra, a chave para o curso futuro dos eventos mundiais. Assim que a guerra começou, ele escreveu a Engels: “Um único regimento negro teria um efeito notável nos nervos do sul” (agosto de 1862)... Na mesma carta a Engels citada acima [7 de agosto de 1862], Marx retorna a um ponto relacionado que governa seu pensamento sobre o progresso e o resultado da Guerra Civil como um todo: “O resumo da história me parece ser que uma guerra desse tipo deve ser conduzida de em termos revolucionários.”78
Marx não apenas escreveu sobre a guerra contra a escravidão, mas também se envolveu diretamente na luta política. Embora a Guerra Civil dos Estados Unidos tenha coincidido com o intenso período em que ele escreveu o esboço do Manuscrito Econômico de 1861–1863 e o Manuscrito Econômico de 1864–1865, antes de redigir O Capital, volume um, como Du Bois enfatizou em “Karl Marx e o Negro” [Karl Marx and the Negro], Marx desempenhou um papel na organização das “reuniões de massa monstruosas” do final de 1862 e 1863 com o objetivo de impedir a intervenção da Grã-Bretanha em nome do sul escravagista. Em 26 de março de 1863, a maior e mais influente reunião de trabalhadores britânicos foi realizada em apoio às forças da União na Guerra Civil dos Estados Unidos. A reunião lotou a sala de concertos James Hall em Londres com até três mil trabalhadores presentes. Henry Adams, que compareceu à reunião no lugar de seu pai Charles Francis Adams, o embaixador dos EUA, deu crédito a Marx e a Edward Beesly, um importante positivista, professor de história e mais tarde simpatizante da Associação Internacional dos Trabalhadores, pela organização da reunião. O orador principal foi John Bright, um quacre, livre-negociante e proprietário de um moinho, que era um fervoroso oponente da escravidão e tinha considerável admiração pelos artigos de Marx no New York Tribune, e por quem Marx tinha algum respeito como orador e pensador. Este e outros protestos massivos da classe trabalhadora foram creditados por Marx, Charles Francis Adams e a muitos outros por terem colocado um fim aos planos do governo britânico de ir à guerra.79
A organização política dos trabalhadores britânicos na luta contra a escravidão levou ao desenvolvimento da Associação Internacional dos Trabalhadores, sob a liderança de Marx. Em seu “Discurso de posse” na Primeira Internacional em setembro de 1864, Marx anunciou a solidariedade internacional da classe trabalhadora na Inglaterra aos trabalhadores escravos no Sul dos EUA e ao Norte na Guerra Civil. Ele apontou que, apesar da crise do algodão proveniente da guerra, os trabalhadores haviam se aliado, contra seus próprios interesses diretos, à luta antiescravagista e, assim, “salvaram o oeste da Europa de mergulhar de cabeça em uma cruzada infame para a perpetuação e propagação de escravidão no outro lado do Atlântico.”80 Em novembro de 1864, Marx redigiu a famosa carta da Primeira Internacional a Abraham Lincoln, parabenizando-o por sua reeleição e pela “luta incomparável pelo resgate de uma raça acorrentada e pela reconstrução de um mundo social”, colocando um ponto final à tentativa cínica da Confederação de manter “a escravidão como ‘uma instituição beneficente’, na verdade, a única solução para o grande problema da ‘relação do trabalho com o capital’”. Lincoln respondeu favoravelmente, através de Charles Francis Adams, em uma carta que causou polêmica na imprensa britânica.81
Em maio de 1865, após o assassinato de Lincoln e a chegada de Andrew Johnson à presidência, Marx redigiu uma carta da International a Johnson, referindo-se à derrota do “demônio da ‘instituição peculiar’”, à “árdua tarefa de reconstrução política”, e à “emancipação do trabalho”.82 Em outubro de 1865, isso foi seguido por uma carta da Primeira Internacional assinada por Marx e outros e dirigida ao povo dos Estados Unidos, que, na opinião de Du Bois, representava a profunda preocupação de Marx com a Reconstrução, e lançou um grave aviso: “Declare seus concidadãos [ex-escravos] de hoje em diante livres e iguais, sem reservas” ou “uma nova luta… mais uma vez encharcará seu país de sangue.”83 Marx, entretanto, logo percebeu os perigos reacionários que Johnson representava à Reconstrução. Como explica Du Bois, Marx “apoiou a democracia abolicionista liderada por [Charles] Sumner e [Thaddeus] Stevens”. Marx, seguindo o radical republicano Benjamin Franklin Wade, declarou que “a abolição da escravidão” exigia “uma mudança radical na relação entre capital e a propriedade da terra” nos antigos estados escravagistas. No entanto, “a reação”, escreveu ele a Engels em 1865, “já começou na América”.84
Diante dessas tendências reacionárias, Marx buscou continuamente forças objetivas que unissem os trabalhadores negros e brancos. Em uma declaração merecidamente famosa em O Capital em 1867, Marx evocou a necessidade de uma ampla aliança trabalhista transcendendo a raça, agora possível com a emancipação dos escravos: “o trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro… Uma nova vida surgiu imediatamente com a morte da escravidão.” Ele ainda ansiava por “uma transformação radical nas relações existentes entre capital e propriedade da terra” no Sul durante a Reconstrução.85 Uma década depois, perturbado pelo fim da Reconstrução, junto ao poder do capital ferroviário, Marx ainda assim escreveu a Engels em 1877 sobre a possibilidade de uma ampla aliança pretos/brancos, camponeses/trabalhadores industriais: “A política do novo presidente [Rutherford B. Hayes] usará os negros, assim como as grandes expropriações de terras (PRECISAMENTE DAS TERRAS FÉRTEIS) para o benefício das FERROVIAS, MINERAÇÃO, etc. empresas transformarão os camponeses do oeste — cujos resmungos já são claramente audíveis — em aliados militantes dos trabalhadores [industriais]. Portanto, há uma bela tempestade se formando ali.”86
No entanto, Marx não conseguiu mais abordar os novos desenvolvimentos com respeito ao capitalismo racial nos Estados Unidos associados ao Jim Crow. Assim, Du Bois escreveu:
Foi uma grande perda para os negros americanos que a grande mente de Marx e sua extraordinária visão das condições industriais não puderam ser aplicadas em primeira mão à história do negro americano entre 1876 e a Primeira Guerra Mundial. Tudo o que ele disse e fez a respeito da elevação da classe trabalhadora deve, portanto, ser modificado no que diz respeito aos negros, pelo fato de ele não ter estudado em primeira mão o seu problema racial peculiar aqui na América. No entanto, ele conhecia a situação da classe trabalhadora na Inglaterra, França e Alemanha, e os negros americanos devem entender qual a panacéia que ele pensou para essas pessoas, se quiserem enxergar claramente seu caminho rumo ao futuro.87
A “panaceia” era, claro, o socialismo, que Du Bois, junto com Marx, acreditava ser uma parte necessária da resposta às opressões de raça e classe.
O rosto velado
Tanto Marx quanto Du Bois eram fascinados pela Ísis e pelas imagens do pedestal e do véu. Marx via a Ísis velada claramente como uma deusa africana, com a realidade histórica do comércio de escravos e a luta interminável pela liberdade humana revelada no levantamento do seu véu. Para Du Bois, em “The Damnation of Women” [A condenação das mulheres], na obra Darkwater, “Ísis, a mãe, ainda é a deusa titular, em pensamento, se não no nome, do continente escuro”, cujo rosto velado está bem acima de seu pedestal.88 Em seu poema “Filhos da Lua” [“Children of the Moon], que acompanha o capítulo sobre “A Condenação das Mulheres”, a Ísis africana velada representava “o caminho construído pelo sangue”, a luta pela liberdade negra em meio aos horrores da escravidão:
Pra cima! Pra cima! O caminho feito de sangue;(A sombra fica mais vasta!O terror se aproxima mais rapidamente!)Pra cima! Pra cima! para a escuridão escaldanteDe um rosto sob o véu…Eu subi na montanha da luaEu senti a glória resplandecente do Sol;Eu ouvi a Canção das Crianças gritando: “Livre!”Eu vi o Rosto da Liberdade -E morri.89
Tanto para Du Bois como para Marx, o segredo da Ísis era a luta pela liberdade para além da escravidão, para além da “condenação das mulheres”, para além do trabalho assalariado, para além do capitalismo racial — uma luta tão grande que exigia uma revolução permanente.
Notas
1. Cedric J. Robinson, Black Marxism (Londres: Zed, 1983); W. E. B. Du Bois, Black Reconstruction in America, 1860–1880 (Nova Iorque: Atheneum, 1992); Oliver Cromwell Cox, Capitalism as a System (Nova Iorque: Monthly Review Press, 1964).
2. A associação do marxismo com a visão de que a escravidão e o capitalismo no Novo Mundo representavam “dois sistemas [econômicos]” e a visão de que essa era a posição marxiana ortodóxica foi quase inteiramente devido a Eugene Genoveso, influente historiador marxista do escravagismo do Sul. Ver Eugene Genovese, The Political Economy of Slavery (Nova Iorque: Vintage, 1965), 17; Eugene D. Genovese e Elizabeth Fox Genovese, “The Slave Economies in Political Perspective,” Journal of American History 66, no. 1 (Junho 1979): 22. Essa mesma ênfase nos dois sistemas econômicos ou modos de produção nos Estados Unidos do século XIX, “escravidão nas plantations e capitalismo”, ainda pode ser encontrada em algumas análises. Por exemplo, Nick Nesbitt, “The Slave Machine,” Six Archipelagos, 9 de julho de 2019, 11–12. No entanto, como observa John Clegg, “antes de Genovese, a maioria dos escritores marxistas, e dos de influência marxista, seguiram Marx ao ver as plantations escravagistas como capitalistas”. John Clegg, “A Theory of Capitalist Slavery”, Journal of Historical Sociology 33, no. 1 (2020): 76.
3. Karl Marx, O Capital, vol. 1 (Londres: Penguin, 1976), 871.
4. Stephanie Smallwood, “What Slavery Tells Us About Marx”, Boston Review, Fevereiro 21, 2018; Stephanie Smallwood, Saltwater Slavery (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2008).
5. Walter Johnson, “The Pedestal and the Veil,” Journal of the Early Republic 24 (2004): 299–308; Walter Johnson, River of Dark Dreams (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2013).
6. Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 307.
7. Sven Beckert e Seth Rothman, eds., Slavery’s Capitalism (Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2016).
8. On “the second type of colonialism”, see Karl Marx, Theories of Surplus Value, part 2 (Moscow: Progress Publishers, 1971), 302–30. Sobre Harriet Beecher Stowe, “O Poder do Escravo”, a decisão de Dred Scott, a Guerra do Kansas, John Brown, a “instituição peculiar”, o abolicionismo e as lutas revolucionárias de trabalhadores negros libertos, ver Karl Marx e Friedrich Engels, The Civil War in the United States, ed. Andrew Zimmerman (Nova Iorque: International Publisher, 2016), 17, 19, 28, 30–31, 33, 43, 120, 124–27, 153–54, 165. Sobre tortura sob escravidão e a revolução haitiana, ver Karl Marx e Frederich Engels, Collected Works, vol. 5 (Nova Iorque: International Publishers, 1975), 302, 308, 388, 599. Sobre a escravidão inglesa sob o reinado de Eduardo VI e a escravidão dos nativos americanos, ver O Capital, vol. 1, 897, 915.
Philip Foner, British Labor and the American Civil War (Nova Iorque: Holmes e Meier, 1981), 56–58.
Roger Ransom e Richard Sutch, “Capitalists without Capital: The Burden of Slavery and the Impact of Emancipation”, Agricultural History 62, no. 3 (1988): 133.
Henry Brougham, An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (Edimburgo: E. Balfour, Manners e Miller, e Archibald Constable, 1803); Thomas Stamford Raffles, History of Java (Londres: John Murray, 1817); Thomas Powell Buxton, The African Slave Trade and Its Remedy (Londres: John Murray, 1840); Herman Merivale, Lectures on Colonization and Colonies (Londres: Muston Co., 1841); Henry C. Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign (Filadélfia: A. Hart, 1853); J. E. Cairnes, The Slave Power (Nova Iorque: Follett Foster and Co., 1862); François-Charles-Louis Comte, Traité de législation, ou exposition des lois générales suivant lesquelles les peuples prospèrent, dépérissent ou restent stationnaire, 3rd ed. (1827; repr. Bruxelas: Hauman, Cattoir et Comp, 1837). Há também indicações de que Marx tinha alguma familiaridade com o best-seller de John Gabriel Stedman, no século XVIII, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam (1796, gravada por William Blake), ao qual Comte se referiu. Ver também David Mercer Hart, Class, Slavery, and the Industrialist Theory of History in French Liberal Thought, 1814–1830: The Contribution of Charles Comte and Charles Dunoyer (dissertação de doutorado, King’s College, Cambridge, junho de 1993).
↩ Marx, O Capital, vol. 1, 93; Hal Draper, The Marx-Engels Chronicle (Nova Iorque: Schocken, 1985), 130–31, 295; Karl Marx, Marx’s Economic Manuscript of 1864–1865 (Boston: Brill, 2015). Em março de 1865, quando ele começava a escrever o volume um de O capital, Marx escreveu a Engels, “parece que está tudo certo com a Confederação”. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 158.
Marx, O Capital, vol. 3 (Londres: Penguin, 1981), 940.
W. E. B. Du Bois, Black Reconstruction in America, 1860–1880 (Nova Iorque: Atheneum, 1992), 354. Observe que esta foi a tradução do próprio Du Bois, que difere ligeiramente da tradução padrão. Ver também W. E. B. Du Bois, “Karl Marx and the Negro”, em Marx e Fredrich Engels, The Civil War in the United States, 218 (reimpresso de Crisis 40, no 3 [março de 1933]: 55–56).
Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 300, 302–5.
Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 306. See the similar argument in Dale Tomich, Veja um argumento parecido em Dale Tominch Through the Prism of Slavery (Nova Iorque: Rowman and Littlefield, 2004), 23–24.
Marx, O Capital, vol. 1, 925.
Marx, O Capital, vol. 1, 915–24
Johnson, “The Pedestal and the Veil.”
See Smallwood, “What Slavery Tells Us About Marx”; J. Lorand Matory, The Fetish Revisited (Durham, NC: Duke University Press, 2018), 61; Sara-Maria Sorentino, “The Abstract Slave: Anti-Blackness and Marx’s Method”, International Labor and Working Class History 96 (2019): 17. Johnson procurou apoiar seu argumento no fato de que a metáfora do pedestal e do véu era toda sobre a evasão da realidade do capitalismo e da escravidão ao apontar que Marx utilizou a metáfora do linho como valor de uso, comparando-o ao valor de uso de um casaco. Ele afirmou que este foi outro exemplo da evasão de Marx sobre a escravidão, visto que o algodão foi, assim, deslocado do argumento. No entanto, as sobrecasacas masculinas eram muitas vezes feitas de linho na época, e o objetivo de Marx aqui era comparar o valor de uso do casaco final com o valor de uso do tecido com o qual foi feito. Ele pode estar pensando em seu próprio casaco de linho quando escreveu a passagem. Dificilmente se pode dizer que Marx ignorou o algodão no primeiro volume de O Capital, visto que ele aparece ao longo dessa obra. Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 301–2; Marx, O Capital, vol. 1, 132–33.
Plutarco, “Isis and Osiris,” Moralia.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel, The Philosophy of Nature (Oxford: Oxford University Press, 2004), 10; Guenter B. Risse, “The Veil of Isis Allegory: Historical Visions of the Natural World,” Research Gate, August 1, 2017.
Compare com Johnson, que escreve que a escravidão é “uma história de salários assim como de chicotes, de fábricas assim como de plantations”. Walter Johnson, “To Remake the World”, Boston Review, 20 de fevereiro de 2018. Marx claramente acreditava que a indústria no norte dos EUA estava integrada à economia das plantations no sul, e que o capitalismo escravagista e “os estados do sul na união” foram integrados ao “mercado mundial” por meio do comércio de algodão. Marx, O Capital, vol. 3, 809. Ver também Edward Gibbon Wakefield, England and America, vol. 2 (Londres: Richard Bentley, 1833), 26–27. Como escreveu Cox, no início do século XIX, “a economia americana baseava-se em seu comércio exterior, do qual a escravidão se tornou um pivô”. Cox, Capitalism as a System, 124.
Karl Marx, The Poverty of Philosophy (Nova Iorque: International Publishers, 1963), 111. Claro, a escravidão era mais do que simplesmente uma categoria econômica para Marx — era também uma categoria social. Ainda assim, no contexto do comércio transatlântico de escravos, Marx não cometeu o erro de confundir a escravidão com um sistema de trabalho forçado com características raciais essencialistas que muitas vezes eram usadas ideologicamente para justificá-lo. Ele estaria totalmente de acordo com a declaração de Eric Williams de que “um toque racial foi … dado ao que é basicamente um fenômeno econômico. A escravidão não nasceu do racismo: o racismo foi consequência da escravidão. O trabalho não-livre no Novo Mundo era marrom, branco, preto e amarelo, católico, protestante e pagão ”. Criticando a visão dos economistas burgueses que dizem que um “escravo negro … [é] um homem da raça negra”, Marx respondeu: “Um negro é um negro. Somente sob certas condições ele se torna um escravo. ” Eric Williams, Capitalism and Slavery (Nova Iorque: Capricórnio, 1966), 7; Karl Marx, “Wage-Labor and Capital” em Wage Labor and Capital / Value, Price and Profit (Nova Iorque: International Publishers, 1976), 28.
“The Lace Trade in Nottingham,” Daily Telegraph, 17 de janeiro de 1860, citado em Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 217.
Marx, O Capital, vol. 1, 345.
Karl Marx e Fredrich Engels, Collected Works, vol. 30 (Nova Iorque: International Publishers, 1975), 197.
Robin Blackburn, The Making of New World Slavery (Londres: Verso, 1997), 339–40.
Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 183–85; Marx, O Capital, vol. 1, 344–45; Casey Cep, “The Long War Against Slavery,” New Yorker, January 27, 2020.
Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 215.
Karl Marx e Frederich Engels, On Colonialism (Nova Iorque: International Publishers, 1972), 115; editorial em Times of London, March 10, 1882, 9. Ver também Y. J. Murrow, “The Coolie Trade in China and Peru,” Anti-Slavery Reporter 16, no. 12 (December 1869): 273–79.
Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 8–15.
Marx, O Capital, vol. 1, 377.
Marx, O Capital, vol. 1, 345.
Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 12.
Karl Marx e Frederich Engels, Selected Correspondence (Moscou: Progress Publishers, 1975), 78–79.
Comte, Traité de législation, 392; Stedman, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam, 320.
Marx e Engels, Collected Works, vol. 5, 308, 599; Comte, Traité de législation, 392; Stedman, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam, 320–21.
Marx, O Capital, vol. 1, 345; Marx e Engels, Collected Works, vol. 5, 308–09; Marx, Miséria da Filosofia, 111.
Karl Marx, On the First International (Nova Iorque: McGraw Hill, 1973), 99.
Marx, Capital, vol. 1, 916.
Marx e Engels, The Civil War in the United States, 30, 44; Buxton, The African Slave Trade and Its Remedy, 202; Cairnes, The Slave Power, 124.
43. Sobre Marx e colonialismo, ver Marx, O Capital, vol. 1, 934–35; John Bellamy Foster, Brett Clark, e Hannah Holleman, “Marx and the Indigenous,” Monthly Review 71, no. 9 (Fevereiro 2020): 1–19. Sobre trabalho colonial e economia política clássica, ver Donald Winch, Classical Political Economy and Colonies (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1965), 93–100.
44. Karl Marx, Theories of Surplus Value, part 2 (Moscou: Progress Publishers, 1968), 302–3.
45. Karl Marx, Grundrisse (Londres: Penguin, 1973), 464, 513.
46. Orlando Patterson, “On Slavery and Slave Formations,” New Left Review, series 1, no. 117 (1979): 53.
47. Patterson, “On Slavery and Slave Formations,” 55.
48. Marx, O Capital, vol. 1, 151–52. O comentário de Marx aqui sobre o conceito de igualdade, troca e o conceito de trabalho/valor abstrato insiste que tais noções eram inconcebíveis em uma sociedade que depende predominantemente do trabalho escravo, como em Atenas na época de Aristóteles. Essa noção se aplica bem à parte do uso específico na ocasião por Marx e Engels, particularmente em seus primeiros escritos, da noção de um modo de produção escravo. Como Eric Hobsbawm apontou, o conceito de modo de produção escravo foi utilizado como um guia amplo e nunca totalmente desenvolvido por Marx. Ele frequentemente se referia ao antigo modo de produção comunal (que, no entanto, não excluía a escravidão, principalmente por meio da guerra). Ver Eric J. Hobsbawm, introdução a Karl Marx, Pre-Capitalist Economic Formations (Nova Iorque: International Publishers, 1964). 18–22. Para obras clássicas baseadas diretamente nas noções de Marx sobre a escravidão antiga, consulte G. M. E. de Ste Croix, The Class Struggle in the Ancient Greek World (Londres: Duckworth, 1981) e Perry Anderson, Passages from Antiquity to Feudalism (Londres: Verso, 1975).
Esse espaço não nos permite realizar aqui uma extensa exploração da rica análise de Marx da escravidão antiga ou da análise comparativa da escravidão em diferentes relações produtivas. No entanto, é importante reconhecer que para Marx a escravidão era definida de forma muito ampla, como no caso de Patterson, como um sistema de relações de classe baseado na força e na expropriação direta do corpo de outrem. Ocorreu muitas vezes e em muitos contextos da história. A escravidão do chattel também ocorreu nos tempos antigos, mas foi desenvolvida mais plenamente sob o capitalismo. A escravidão antiga e a moderna, portanto, tinham semelhanças, mas devem ser consideradas historicamente distintas. É nesse sentido que Patterson defende o tipo de “comparativismo ousado mundial” no estudo da escravidão que Marx defendia. Patterson, “On Slavery and Slave Formations”, 67.
49. Marx e Engels, Collected Works, vol. 33, 336.
50. Marx, Capital, vol. 3, 362.
51. Sven Beckert, The Empire of Cotton (Nova Iorque: Vintage, 2014), xv–xvi.
52. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 17.
53. Karl Marx, Capital, vol. 3 (Londres: Penguin, 1981), 940, 945.
The contention of Nesbitt that Marx himself viewed slaves in the U.S. South as mere “constant capital” unable “to produce the essential and defining element of capitalism — incremental increases in surplus value,” or surplus product, is here contradicted by Marx’s analysis in Capital, vol. 3, which points to the surplus value produced by slave labor. What was different in the case of slave labor, as Marx also stated, was that “the price that is paid here for the slave is…capitalized surplus-value or profit that is to be extracted from him.” See Nesbitt, “The Slave Machine,” 13; Marx, Capital, vol. 3, 945. A alegação de Nesbitt de que o próprio Marx via os escravos no sul dos Estados Unidos como mero “capital constante”, incapaz de “produzir o elemento essencial e definidor do capitalismo — aumentos incrementais na mais-valia” ou produto excedente, é aqui confrontada pela análise de Marx em O capital , vol. 3, que aponta para a mais-valia produzida pelo trabalho escravo. O que era diferente no caso do trabalho escravo, como Marx também afirmou, era que “o preço que se paga aqui pelo escravo é … mais-valia capitalizada ou lucro que se extrai dele”. Ver Nesbitt, “The Slave Machine,” 13; Marx, O Capital, vol. 3, 945.
54. Marx, Grundrisse, 288–89; Karl Marx, O Capital, vol. 2 (Londres: Penguin, 1978), 555; Marx, O Capital, vol. 1, 377; O Capital, vol. 3, 762.
55. Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 184–85; Marx e Engels, Collected Works, vol. 33, 10–11.
56. Ransom e Sutch, “Capitalists without Capital,” 133–34.
57. Adam Smith, A Riqueza das Nações (Nova Iorque: Modern Library, 1937), 80–81.
58. Marx, O Capital, vol. 1, 377; Marx, Theories of Surplus Value, part 3, 243; Marx, Capital, vol. 2, 555; Marx e Engels, Collected Works, vol. 34, 98.
59. Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, 149.
60 . Karl Marx, A Contribution to a Critique of Political Economy (Moscou: Progress Publishers, 1970), 203.
61. Patterson, “On Slavery and Slave Formations,” 32–33; Marx, Grundrisse, 326.
62. Marx, Grundrisse, 326; Marx e Engels, Collected Works, vol. 34, 98; John Bellamy Foster e Brett Clark, The Robbery of Nature (Nova Iorque: Monthly Review Press, 2020), 23–32.
63. Marx, O Capital, vol. 1, 1014, 1016, 1033–34.
64. Marx, O Capital, vol. 3, 507–8; Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 262–63; Cairnes, The Slave Power, 40.
65. Cairnes, The Slave Power, 39, 41–42; Marx, O Capital, vol. 3, 507–8; Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 262–63; Marx, O Capital, vol. 1, 452.
66. Cairnes, The Slave Power, 63–67; Marx e Engels, The Civil War in the United States, 44.
67. Merivale, Lectures on Colonization and Colonies, James F. W. Johnston, Notes on North America, vol. 2 (Londres: William Blackwood, 1851), 319, 351–53; Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 100–108; Olmsted, Journey in the Seaboard Slave States, 42–44, 56–57, 237–38; Cairnes, The Slave Power, 45, 75, 94; Williams, Capitalism and Slavery, 7; John Bellamy Foster, Marx’s Ecology (Nova Iorque: Monthly Review, 2000).
68. Cairnes, The Slave Power, 111–13.
69. Marx e Engels, Collected Works, vol. 43, 384; Marx, O Capital, vol. 3, 808; Johnston, Notes on North America, vol. 2, 351–53; Olmsted, Journey in the Seaboard Slave States, 57; Foster, Marx’s Ecology, 152.
70. Cairnes, The Slave Power, 45–46; ver também Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 95–105.
71. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 45–46. Ver também Marx e Engels, Selected Correspondence, 213–14. Ver também Karl Marx e Friedrich Engels, Selected Correspondence (Moscou: Progress Publishers, 1975), 213; Marx e Engels, Collected Works, vol. 43, 384.
72. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 47.
73. Johnson, River of Dark Dreams, 8.
74. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 17, 44–47, 55–58; Robin Blackburn, An Unfinished Revolution: Karl Marx and Abraham Lincoln (Londres: Verso, 2011), 9; Cairnes, The Slave Power, 11–21.
75. Genovese, The Political Economy of Slavery, 85–99, 281–82; Marx e Engels, The U.S. Civil War, 166; William Henry Seward, “On the Irrepressible Conflict” (discurso, Rochester, Nova Iorque, 25 de outubro, 1858). Seward aqui introduziu a visão dos “dois sistemas políticos”.
A visão de Marx sobre por que a Guerra Civil foi um “conflito irreprimível” era, obviamente, um pouco diferente, vendo-a como dois regimes de trabalho dentro de um único sistema, promovendo diferentes estruturas políticas (ver Marx e Engels, The Civil War in the United States, 55). Genovese apresentou uma visão marxista tradicional e uma visão marxista revisada de por que o conflito pela escravidão era irreprimível, e não repressível. Ainda assim, na visão revisada, que ele apoiou, foi a destruição ecológica, e não o fracasso econômico como tal, que foi a principal razão para o impulso expansionista do sul. Como Eugene Baptist argumentou, em The Half Has Never Been Told, uma vez que o capitalismo dos proprietários de escravos teve tanto sucesso, ele não poderia ter terminado exceto pela guerra. Portanto, o Sul cometeu um “erro tremendo”, pode-se argumentar — como Marx e tantos outros fizeram naquela época — que por trás de seu sucesso material havia uma falha, um impulso expansionista exigindo cada vez mais terras para evitar crises futuras, terras que o Norte não permitiria — nem mais um pé quadrado, Lincoln indicou. Eugene Baptist, The Half Has Never Been Told, 413–414; Marx e Engels, The Civil War in the United States, 133.
3. Karl Marx, O Capital, vol. 1 (Londres: Penguin, 1976), 871.
4. Stephanie Smallwood, “What Slavery Tells Us About Marx”, Boston Review, Fevereiro 21, 2018; Stephanie Smallwood, Saltwater Slavery (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2008).
5. Walter Johnson, “The Pedestal and the Veil,” Journal of the Early Republic 24 (2004): 299–308; Walter Johnson, River of Dark Dreams (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2013).
6. Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 307.
7. Sven Beckert e Seth Rothman, eds., Slavery’s Capitalism (Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2016).
8. On “the second type of colonialism”, see Karl Marx, Theories of Surplus Value, part 2 (Moscow: Progress Publishers, 1971), 302–30. Sobre Harriet Beecher Stowe, “O Poder do Escravo”, a decisão de Dred Scott, a Guerra do Kansas, John Brown, a “instituição peculiar”, o abolicionismo e as lutas revolucionárias de trabalhadores negros libertos, ver Karl Marx e Friedrich Engels, The Civil War in the United States, ed. Andrew Zimmerman (Nova Iorque: International Publisher, 2016), 17, 19, 28, 30–31, 33, 43, 120, 124–27, 153–54, 165. Sobre tortura sob escravidão e a revolução haitiana, ver Karl Marx e Frederich Engels, Collected Works, vol. 5 (Nova Iorque: International Publishers, 1975), 302, 308, 388, 599. Sobre a escravidão inglesa sob o reinado de Eduardo VI e a escravidão dos nativos americanos, ver O Capital, vol. 1, 897, 915.
Philip Foner, British Labor and the American Civil War (Nova Iorque: Holmes e Meier, 1981), 56–58.
Roger Ransom e Richard Sutch, “Capitalists without Capital: The Burden of Slavery and the Impact of Emancipation”, Agricultural History 62, no. 3 (1988): 133.
Henry Brougham, An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (Edimburgo: E. Balfour, Manners e Miller, e Archibald Constable, 1803); Thomas Stamford Raffles, History of Java (Londres: John Murray, 1817); Thomas Powell Buxton, The African Slave Trade and Its Remedy (Londres: John Murray, 1840); Herman Merivale, Lectures on Colonization and Colonies (Londres: Muston Co., 1841); Henry C. Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign (Filadélfia: A. Hart, 1853); J. E. Cairnes, The Slave Power (Nova Iorque: Follett Foster and Co., 1862); François-Charles-Louis Comte, Traité de législation, ou exposition des lois générales suivant lesquelles les peuples prospèrent, dépérissent ou restent stationnaire, 3rd ed. (1827; repr. Bruxelas: Hauman, Cattoir et Comp, 1837). Há também indicações de que Marx tinha alguma familiaridade com o best-seller de John Gabriel Stedman, no século XVIII, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam (1796, gravada por William Blake), ao qual Comte se referiu. Ver também David Mercer Hart, Class, Slavery, and the Industrialist Theory of History in French Liberal Thought, 1814–1830: The Contribution of Charles Comte and Charles Dunoyer (dissertação de doutorado, King’s College, Cambridge, junho de 1993).
↩ Marx, O Capital, vol. 1, 93; Hal Draper, The Marx-Engels Chronicle (Nova Iorque: Schocken, 1985), 130–31, 295; Karl Marx, Marx’s Economic Manuscript of 1864–1865 (Boston: Brill, 2015). Em março de 1865, quando ele começava a escrever o volume um de O capital, Marx escreveu a Engels, “parece que está tudo certo com a Confederação”. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 158.
Marx, O Capital, vol. 3 (Londres: Penguin, 1981), 940.
W. E. B. Du Bois, Black Reconstruction in America, 1860–1880 (Nova Iorque: Atheneum, 1992), 354. Observe que esta foi a tradução do próprio Du Bois, que difere ligeiramente da tradução padrão. Ver também W. E. B. Du Bois, “Karl Marx and the Negro”, em Marx e Fredrich Engels, The Civil War in the United States, 218 (reimpresso de Crisis 40, no 3 [março de 1933]: 55–56).
Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 300, 302–5.
Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 306. See the similar argument in Dale Tomich, Veja um argumento parecido em Dale Tominch Through the Prism of Slavery (Nova Iorque: Rowman and Littlefield, 2004), 23–24.
Marx, O Capital, vol. 1, 925.
Marx, O Capital, vol. 1, 915–24
Johnson, “The Pedestal and the Veil.”
See Smallwood, “What Slavery Tells Us About Marx”; J. Lorand Matory, The Fetish Revisited (Durham, NC: Duke University Press, 2018), 61; Sara-Maria Sorentino, “The Abstract Slave: Anti-Blackness and Marx’s Method”, International Labor and Working Class History 96 (2019): 17. Johnson procurou apoiar seu argumento no fato de que a metáfora do pedestal e do véu era toda sobre a evasão da realidade do capitalismo e da escravidão ao apontar que Marx utilizou a metáfora do linho como valor de uso, comparando-o ao valor de uso de um casaco. Ele afirmou que este foi outro exemplo da evasão de Marx sobre a escravidão, visto que o algodão foi, assim, deslocado do argumento. No entanto, as sobrecasacas masculinas eram muitas vezes feitas de linho na época, e o objetivo de Marx aqui era comparar o valor de uso do casaco final com o valor de uso do tecido com o qual foi feito. Ele pode estar pensando em seu próprio casaco de linho quando escreveu a passagem. Dificilmente se pode dizer que Marx ignorou o algodão no primeiro volume de O Capital, visto que ele aparece ao longo dessa obra. Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 301–2; Marx, O Capital, vol. 1, 132–33.
Plutarco, “Isis and Osiris,” Moralia.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel, The Philosophy of Nature (Oxford: Oxford University Press, 2004), 10; Guenter B. Risse, “The Veil of Isis Allegory: Historical Visions of the Natural World,” Research Gate, August 1, 2017.
Compare com Johnson, que escreve que a escravidão é “uma história de salários assim como de chicotes, de fábricas assim como de plantations”. Walter Johnson, “To Remake the World”, Boston Review, 20 de fevereiro de 2018. Marx claramente acreditava que a indústria no norte dos EUA estava integrada à economia das plantations no sul, e que o capitalismo escravagista e “os estados do sul na união” foram integrados ao “mercado mundial” por meio do comércio de algodão. Marx, O Capital, vol. 3, 809. Ver também Edward Gibbon Wakefield, England and America, vol. 2 (Londres: Richard Bentley, 1833), 26–27. Como escreveu Cox, no início do século XIX, “a economia americana baseava-se em seu comércio exterior, do qual a escravidão se tornou um pivô”. Cox, Capitalism as a System, 124.
Karl Marx, The Poverty of Philosophy (Nova Iorque: International Publishers, 1963), 111. Claro, a escravidão era mais do que simplesmente uma categoria econômica para Marx — era também uma categoria social. Ainda assim, no contexto do comércio transatlântico de escravos, Marx não cometeu o erro de confundir a escravidão com um sistema de trabalho forçado com características raciais essencialistas que muitas vezes eram usadas ideologicamente para justificá-lo. Ele estaria totalmente de acordo com a declaração de Eric Williams de que “um toque racial foi … dado ao que é basicamente um fenômeno econômico. A escravidão não nasceu do racismo: o racismo foi consequência da escravidão. O trabalho não-livre no Novo Mundo era marrom, branco, preto e amarelo, católico, protestante e pagão ”. Criticando a visão dos economistas burgueses que dizem que um “escravo negro … [é] um homem da raça negra”, Marx respondeu: “Um negro é um negro. Somente sob certas condições ele se torna um escravo. ” Eric Williams, Capitalism and Slavery (Nova Iorque: Capricórnio, 1966), 7; Karl Marx, “Wage-Labor and Capital” em Wage Labor and Capital / Value, Price and Profit (Nova Iorque: International Publishers, 1976), 28.
“The Lace Trade in Nottingham,” Daily Telegraph, 17 de janeiro de 1860, citado em Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 217.
Marx, O Capital, vol. 1, 345.
Karl Marx e Fredrich Engels, Collected Works, vol. 30 (Nova Iorque: International Publishers, 1975), 197.
Robin Blackburn, The Making of New World Slavery (Londres: Verso, 1997), 339–40.
Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 183–85; Marx, O Capital, vol. 1, 344–45; Casey Cep, “The Long War Against Slavery,” New Yorker, January 27, 2020.
Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 215.
Karl Marx e Frederich Engels, On Colonialism (Nova Iorque: International Publishers, 1972), 115; editorial em Times of London, March 10, 1882, 9. Ver também Y. J. Murrow, “The Coolie Trade in China and Peru,” Anti-Slavery Reporter 16, no. 12 (December 1869): 273–79.
Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 8–15.
Marx, O Capital, vol. 1, 377.
Marx, O Capital, vol. 1, 345.
Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 12.
Karl Marx e Frederich Engels, Selected Correspondence (Moscou: Progress Publishers, 1975), 78–79.
Comte, Traité de législation, 392; Stedman, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam, 320.
Marx e Engels, Collected Works, vol. 5, 308, 599; Comte, Traité de législation, 392; Stedman, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam, 320–21.
Marx, O Capital, vol. 1, 345; Marx e Engels, Collected Works, vol. 5, 308–09; Marx, Miséria da Filosofia, 111.
Karl Marx, On the First International (Nova Iorque: McGraw Hill, 1973), 99.
Marx, Capital, vol. 1, 916.
Marx e Engels, The Civil War in the United States, 30, 44; Buxton, The African Slave Trade and Its Remedy, 202; Cairnes, The Slave Power, 124.
43. Sobre Marx e colonialismo, ver Marx, O Capital, vol. 1, 934–35; John Bellamy Foster, Brett Clark, e Hannah Holleman, “Marx and the Indigenous,” Monthly Review 71, no. 9 (Fevereiro 2020): 1–19. Sobre trabalho colonial e economia política clássica, ver Donald Winch, Classical Political Economy and Colonies (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1965), 93–100.
44. Karl Marx, Theories of Surplus Value, part 2 (Moscou: Progress Publishers, 1968), 302–3.
45. Karl Marx, Grundrisse (Londres: Penguin, 1973), 464, 513.
46. Orlando Patterson, “On Slavery and Slave Formations,” New Left Review, series 1, no. 117 (1979): 53.
47. Patterson, “On Slavery and Slave Formations,” 55.
48. Marx, O Capital, vol. 1, 151–52. O comentário de Marx aqui sobre o conceito de igualdade, troca e o conceito de trabalho/valor abstrato insiste que tais noções eram inconcebíveis em uma sociedade que depende predominantemente do trabalho escravo, como em Atenas na época de Aristóteles. Essa noção se aplica bem à parte do uso específico na ocasião por Marx e Engels, particularmente em seus primeiros escritos, da noção de um modo de produção escravo. Como Eric Hobsbawm apontou, o conceito de modo de produção escravo foi utilizado como um guia amplo e nunca totalmente desenvolvido por Marx. Ele frequentemente se referia ao antigo modo de produção comunal (que, no entanto, não excluía a escravidão, principalmente por meio da guerra). Ver Eric J. Hobsbawm, introdução a Karl Marx, Pre-Capitalist Economic Formations (Nova Iorque: International Publishers, 1964). 18–22. Para obras clássicas baseadas diretamente nas noções de Marx sobre a escravidão antiga, consulte G. M. E. de Ste Croix, The Class Struggle in the Ancient Greek World (Londres: Duckworth, 1981) e Perry Anderson, Passages from Antiquity to Feudalism (Londres: Verso, 1975).
Esse espaço não nos permite realizar aqui uma extensa exploração da rica análise de Marx da escravidão antiga ou da análise comparativa da escravidão em diferentes relações produtivas. No entanto, é importante reconhecer que para Marx a escravidão era definida de forma muito ampla, como no caso de Patterson, como um sistema de relações de classe baseado na força e na expropriação direta do corpo de outrem. Ocorreu muitas vezes e em muitos contextos da história. A escravidão do chattel também ocorreu nos tempos antigos, mas foi desenvolvida mais plenamente sob o capitalismo. A escravidão antiga e a moderna, portanto, tinham semelhanças, mas devem ser consideradas historicamente distintas. É nesse sentido que Patterson defende o tipo de “comparativismo ousado mundial” no estudo da escravidão que Marx defendia. Patterson, “On Slavery and Slave Formations”, 67.
49. Marx e Engels, Collected Works, vol. 33, 336.
50. Marx, Capital, vol. 3, 362.
51. Sven Beckert, The Empire of Cotton (Nova Iorque: Vintage, 2014), xv–xvi.
52. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 17.
53. Karl Marx, Capital, vol. 3 (Londres: Penguin, 1981), 940, 945.
The contention of Nesbitt that Marx himself viewed slaves in the U.S. South as mere “constant capital” unable “to produce the essential and defining element of capitalism — incremental increases in surplus value,” or surplus product, is here contradicted by Marx’s analysis in Capital, vol. 3, which points to the surplus value produced by slave labor. What was different in the case of slave labor, as Marx also stated, was that “the price that is paid here for the slave is…capitalized surplus-value or profit that is to be extracted from him.” See Nesbitt, “The Slave Machine,” 13; Marx, Capital, vol. 3, 945. A alegação de Nesbitt de que o próprio Marx via os escravos no sul dos Estados Unidos como mero “capital constante”, incapaz de “produzir o elemento essencial e definidor do capitalismo — aumentos incrementais na mais-valia” ou produto excedente, é aqui confrontada pela análise de Marx em O capital , vol. 3, que aponta para a mais-valia produzida pelo trabalho escravo. O que era diferente no caso do trabalho escravo, como Marx também afirmou, era que “o preço que se paga aqui pelo escravo é … mais-valia capitalizada ou lucro que se extrai dele”. Ver Nesbitt, “The Slave Machine,” 13; Marx, O Capital, vol. 3, 945.
54. Marx, Grundrisse, 288–89; Karl Marx, O Capital, vol. 2 (Londres: Penguin, 1978), 555; Marx, O Capital, vol. 1, 377; O Capital, vol. 3, 762.
55. Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 184–85; Marx e Engels, Collected Works, vol. 33, 10–11.
56. Ransom e Sutch, “Capitalists without Capital,” 133–34.
57. Adam Smith, A Riqueza das Nações (Nova Iorque: Modern Library, 1937), 80–81.
58. Marx, O Capital, vol. 1, 377; Marx, Theories of Surplus Value, part 3, 243; Marx, Capital, vol. 2, 555; Marx e Engels, Collected Works, vol. 34, 98.
59. Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, 149.
60 . Karl Marx, A Contribution to a Critique of Political Economy (Moscou: Progress Publishers, 1970), 203.
61. Patterson, “On Slavery and Slave Formations,” 32–33; Marx, Grundrisse, 326.
62. Marx, Grundrisse, 326; Marx e Engels, Collected Works, vol. 34, 98; John Bellamy Foster e Brett Clark, The Robbery of Nature (Nova Iorque: Monthly Review Press, 2020), 23–32.
63. Marx, O Capital, vol. 1, 1014, 1016, 1033–34.
64. Marx, O Capital, vol. 3, 507–8; Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 262–63; Cairnes, The Slave Power, 40.
65. Cairnes, The Slave Power, 39, 41–42; Marx, O Capital, vol. 3, 507–8; Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 262–63; Marx, O Capital, vol. 1, 452.
66. Cairnes, The Slave Power, 63–67; Marx e Engels, The Civil War in the United States, 44.
67. Merivale, Lectures on Colonization and Colonies, James F. W. Johnston, Notes on North America, vol. 2 (Londres: William Blackwood, 1851), 319, 351–53; Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 100–108; Olmsted, Journey in the Seaboard Slave States, 42–44, 56–57, 237–38; Cairnes, The Slave Power, 45, 75, 94; Williams, Capitalism and Slavery, 7; John Bellamy Foster, Marx’s Ecology (Nova Iorque: Monthly Review, 2000).
68. Cairnes, The Slave Power, 111–13.
69. Marx e Engels, Collected Works, vol. 43, 384; Marx, O Capital, vol. 3, 808; Johnston, Notes on North America, vol. 2, 351–53; Olmsted, Journey in the Seaboard Slave States, 57; Foster, Marx’s Ecology, 152.
70. Cairnes, The Slave Power, 45–46; ver também Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 95–105.
71. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 45–46. Ver também Marx e Engels, Selected Correspondence, 213–14. Ver também Karl Marx e Friedrich Engels, Selected Correspondence (Moscou: Progress Publishers, 1975), 213; Marx e Engels, Collected Works, vol. 43, 384.
72. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 47.
73. Johnson, River of Dark Dreams, 8.
74. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 17, 44–47, 55–58; Robin Blackburn, An Unfinished Revolution: Karl Marx and Abraham Lincoln (Londres: Verso, 2011), 9; Cairnes, The Slave Power, 11–21.
75. Genovese, The Political Economy of Slavery, 85–99, 281–82; Marx e Engels, The U.S. Civil War, 166; William Henry Seward, “On the Irrepressible Conflict” (discurso, Rochester, Nova Iorque, 25 de outubro, 1858). Seward aqui introduziu a visão dos “dois sistemas políticos”.
A visão de Marx sobre por que a Guerra Civil foi um “conflito irreprimível” era, obviamente, um pouco diferente, vendo-a como dois regimes de trabalho dentro de um único sistema, promovendo diferentes estruturas políticas (ver Marx e Engels, The Civil War in the United States, 55). Genovese apresentou uma visão marxista tradicional e uma visão marxista revisada de por que o conflito pela escravidão era irreprimível, e não repressível. Ainda assim, na visão revisada, que ele apoiou, foi a destruição ecológica, e não o fracasso econômico como tal, que foi a principal razão para o impulso expansionista do sul. Como Eugene Baptist argumentou, em The Half Has Never Been Told, uma vez que o capitalismo dos proprietários de escravos teve tanto sucesso, ele não poderia ter terminado exceto pela guerra. Portanto, o Sul cometeu um “erro tremendo”, pode-se argumentar — como Marx e tantos outros fizeram naquela época — que por trás de seu sucesso material havia uma falha, um impulso expansionista exigindo cada vez mais terras para evitar crises futuras, terras que o Norte não permitiria — nem mais um pé quadrado, Lincoln indicou. Eugene Baptist, The Half Has Never Been Told, 413–414; Marx e Engels, The Civil War in the United States, 133.
76. Blackburn, An Unfinished Revolution, 11–12; Patterson, “On Slavery and Slave Formations,” 53–54.
77. É por esta razão que as análises mais profundas de Marx da economia da escravidão ocorrem nos Grundrisse, no Manuscrito Econômico de 1861–1863 e nas partes do Manuscrito Econômico de 1863–1865 que constituíram os rascunhos para o segundo e terceiro volumes de Capital. Quando Marx começou a redigir O Capital, vol. 1, o sistema escravista dos EUA estava no passado, embora tenha sido sucedido por novas formas de capitalismo racial. A questão em 1867, como Marx deixou claro no prefácio de O Capital, vol. 1, foi a Reconstrução. Ver Marx, Capital, vol. 1, 93.
78. Tom Jeannot, “Marx, Capitalism, and Race,” Radical Philosophy Today 5 (2007): 72; Marx e Engels, The U.S. Civil War, 17, 22–23, 121. Translation here follows Du Bois, Black Reconstruction, 354.
79. Foner, British Labor and the American Civil War, 11–13, 39–40, 57–62, 84–85; John Spargo, Karl Marx: His Life and Work (Nova Iorque: B. W. Huebsch, 1912), 224–25; Ephraim Douglass Adams, Great Britain and the American Civil War, vol. 2 (Nova Iorque: Longmans, Green and Co., 1925), 291–92; John Nichols, The “S” Word (Londres: Verso, 2011), 61–99; Kevin B. Anderson, Marx at the Margins (Chicago: University of Chicago Press, 2016), 106–114. Ver também John Bright, Speeches on the American Question (Boston: Little Brown and Co., 1865), 170–93. Embora Marx se opusesse fortemente a muitos aspectos das visões de Bright, ele o via como um corte acima dos pensadores burgueses usuais e examinou seu trabalho de perto, pegando trechos em seus cadernos Karl Marx e Friedrich Engels, Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA), IV / 18 (Berlim: Walter de Gruyter, 2019), 6–7.
80. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 179–82
81. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 153–57.
82. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 165–66.
83. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 186–87; Du Bois, “Karl Marx and the Negro,” 218; Du Bois, Black Reconstruction, 354.
84. Marx, O Capital, vol. 1, 93; Du Bois, “Karl Marx and the Negro,” 219; Marx e Engels, The Civil War in the United States, 167.
85. Marx, O Capital, vol. 1, 93, 414.
86. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 189; Du Bois, “Karl Marx and the Negro,” 219.
87. Du Bois, “Karl Marx and the Negro,” 219.
88. E. B. Du Bois, Darkwater: Voices from within the Veil (1920; repr. Mineola: Dover, 1999), 97; ver também, Wilson J. Moses, “The Poetics of Ethiopianism: W. E. B. Du Bois and Literary Black Nationalism,” American Literature 47, no. 3 (1975): 418–23.
89. Du Bois, Darkwater, 113.
Sobre os autores
John Bellamy Foster is editor of Monthly Review and a professor of sociology at the University of Oregon.
Hannah Holleman is a director of the Monthly Review Foundation and an associate professor of sociology at Amherst College.
Brett Clark is associate editor of Monthly Review and a professor of sociology at the University of Utah.
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