1 de março de 2021

A Ideologia do Imperialismo Tardio

O regresso da Geopolítica da Segunda Internacional

Zhun Xu


March 2021 (Volume 72, Number 2)

Tradução / Em 1990, quando o prestigiado economista marxista indiano Prabhat Patnaik perguntou "O que aconteceu com o Imperialismo?" ("Whatever Happened to Imperialism?"), escolas teóricas sobre o imperialismo, outrora vibrantes e influentes, estavam no seu ponto histórico mais baixo no pós-guerra [1]. Quando ele deixou o Ocidente para regressar à Índia, em 1974, o imperialismo estava no centro de todas as discussões marxistas. Mas quando voltou ao Ocidente, uns meros quinze anos mais tarde, o imperialismo já parecia fora de moda. Com efeito, o fim da União Soviética e a declaração do fim da história, pelos liberais, estavam já perto.

As investigações dos marxistas sobre a questão do imperialismo começaram no início do século XX. Durante o tempo de V. I. Lenine e Rosa Luxemburgo, os marxistas concentraram-se em duas questões relacionadas com o imperialismo: (1) a competição e guerra intercapitalistas, e (2) a hierarquia dentro do capitalismo mundial e a relação entre os países imperialistas e as suas colónias/semicolónias. Desde então, as Revoluções Russa e Chinesa, a onda anticolonial do pós-guerra e a Guerra Fria alteraram profundamente o contexto do imperialismo. Após a última guerra interimperialista no centro do sistema, nos anos 1940, e com a maioria das colónias a obter a independência, a relação político-económica entre os países imperialistas e não-imperialistas tornou-se a chave para toda a teorização sobre o imperialismo.

Desde os anos 1950, os estudiosos marxistas aprofundaram grandemente a nossa compreensão do imperialismo, explorando o subdesenvolvimento e a relação centro-periferia, ou relação de dependência, no capitalismo mundial[2]. A obra de Paul Baran The Political Economy of Growth (A Economia Política do Crescimento) é uma das primeiras e melhores análises de como os interesses feudais, imperialistas e compradores, bem como outros usos improdutivos do excedente económico, têm mantido o terceiro mundo no atraso. Escritores posteriores como Samir Amin, Andre Gunder Frank e Immanuel Wallerstein desenvolveram, cada um deles, abordagens distintas, mas relacionadas, sobre a ascensão do capitalismo. Em vez de se concentrarem apenas na Europa Ocidental e nos Estados Unidos da América, exploraram também a forma como a divisão global do trabalho e o sistema mundial mais geral, ou sistema imperialista, transferiram excedente da periferia para o centro, criando assim simultaneamente desenvolvimento e subdesenvolvimento.

Dada esta maré alta dos escritos marxistas sobre o imperialismo nos anos 1960 e 70, o desaparecimento do imperialismo da discussão política à esquerda é bastante notável. De acordo com os dados do Google Books (ver Gráfico 1), a frequência do termo imperialismo numa grande amostra de livros em língua inglesa diminuiu mais de 50 por cento entre 1974 e 1990. Mesmo antes do desaparecimento da União Soviética ou das transições neoliberais em grande parte do mundo, as análises do imperialismo já estavam a desaparecer nos Estados Unidos da América e noutros lugares.

Quadro 1. Frequência da palavra imperialismo em Google Books, 1870-2019 (Inglês)


Fonte: Google Books Ngram Viewer, books.google.com/ngrams.

Patnaik sugeriu que este declínio poderia ser devido ao próprio fortalecimento e consolidação do imperialismo após a Guerra do Vietname[3]. Isto era evidente pela tirania da divisão global do trabalho, bem como pelas funções destrutivas desempenhadas pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Para além destes fatores, houve também um desenvolvimento mais diretamente respeitante aos intelectuais liberais e de esquerda ocidentais, que visou politicamente diminuir os escritos anti-imperialistas. Desde os anos 1970, conhecidos escritores de esquerda como Bill Warren, Robert Brenner, Michael Hardt, Antonio Negri e David Harvey têm contribuído para este tipo de contrarrevolução intelectual.

Para além de uma mudança nos interesses de investigação entre os estudiosos, o recuo da questão do imperialismo facilitou sobretudo a ascensão de uma ideologia conservadora enquadrada como discurso de esquerda. Houve um regresso do que podemos chamar de Segunda Política Internacional, que rompe essencialmente com as tradições marxistas exemplificadas por Lenine e Mao Tse Tung, e limita severamente o potencial revolucionário no núcleo imperialista.

Warren e o desaparecimento das análises do imperialismo

Uma das primeiras críticas à tradição anti-imperialista marxista veio de Warren, um antigo membro do Partido Comunista Britânico que mais tarde aderiu à Organização Comunista Britânica e Irlandesa. Em 1973, Warren publicou um longo artigo intitulado "Imperialismo e Industrialização Capitalista", na New Left Review (4). No artigo, Warren procurou desafiar a visão anti-imperialista então comum que afirmava que o imperialismo, e mais geralmente a expansão das relações capitalistas a nível global, criou dependência e subdesenvolvimento no terceiro mundo. Warren estava ansioso por mostrar que a expansão do capitalismo e do imperialismo trouxe progresso (industrial e não só) para o terceiro mundo. Nas palavras de Warren, "observações empíricas sugerem que as perspetivas de desenvolvimento económico capitalista bem sucedido [implicando industrialização] de um número significativo de grandes países subdesenvolvidos são bastante boas". Embora Warren reconhecesse a existência do imperialismo e sugerisse mesmo que a sua tese era a mesma de Lenine, argumentou que "a teoria geral do imperialismo de Lenine era teoricamente mal concebida e historicamente imprecisa".

Os resultados empíricos de Warren refletiam, por um lado, a expansão do pós-guerra e os vastos projetos de industrialização nacional empreendidos por nações recentemente independentes, e, por outro lado, a ascensão de alguns protegidos do imperialismo, como Taiwan e a Coreia do Sul. Mas Warren não se contentou com a simples constatação da prosperidade do pós-guerra. Prosseguiu argumentando que o terceiro mundo estava a passar por uma industrialização independente, com um desenvolvimento cada vez mais baseado e financiado internamente, abrangendo uma vasta gama de indústrias e o enfraquecimento da superioridade tecnológica ocidental. Argumentou que, na era pós-guerra, a drenagem de mais-valia da periferia para o centro não significa grande coisa, uma vez que pode ser simplesmente o preço a pagar pelo estabelecimento de instalações produtivas. Afinal de contas, "a exploração é o reverso do avanço das forças produtivas".

As políticas anti-anti-imperialistas de Warren eram claras. Ele argumentou que os socialistas precisavam de examinar muito mais de perto o carácter da luta anti-imperialista e apelou a que se prestasse mais atenção às lutas de classe domésticas no terceiro mundo. Se a relação centro-periferia era cada vez mais uma coisa do passado, então naturalmente o anti-imperialismo tornou-se simplesmente um disfarce para disputas e barganhas entre capitalistas.

Ao contrário do falso otimismo de Warren, o desenvolvimento do capitalismo tem produzido um fosso persistente, se não mesmo crescente, entre o centro e a periferia. Pouco depois, Arghiri Emmanuel escreveu uma resposta a Warren, argumentando que este último ignorou a enorme diferença na industrialização e na mecanização agrícola entre países ricos e do terceiro mundo (5). Emmanuel argumentou que o imperialismo era autorreprodutivo e não autodestrutivo, como Warren supunha, e que só podia ser atacado e destruído pela classe trabalhadora exterior aos países de origem do imperialismo. Numa outra resposta, Philip McMichael, James Petras e Robert Rhodes não só mostraram que havia poucas provas de industrialização independente no Sul Global, mas também predisseram (corretamente) a próxima crise da balança de pagamentos no mundo subdesenvolvido (6). Em conclusão, os três autores argumentaram fortemente que o crescimento do terceiro mundo dependia de um pequeno número de países, para benefício de uma pequena fração das suas populações, o que só pode ser compreendido no contexto do imperialismo. David Slater apontou mais tarde uma série de fraquezas nas teses de Warren, incluindo o seu eurocentrismo, a aceitação como natural da exploração capitalista e leituras altamente seletivas de textos marxistas (7).

O desenvolvimento real, até à data, não dá suporte às teses de Warren. O Quadro 2 apresenta os rendimentos nacionais per capita medidos em dólares constantes de 2010 em 1960 contra os valores de 2015. Um padrão claro sugere que a hierarquia e as classificações dentro do mundo capitalista permaneceram em grande parte intactas ao longo dos cinquenta e cinco anos do chamado desenvolvimento. Os países ricos em 1960 ainda estão no topo em 2015, enquanto que os países pobres nessa altura tendiam ainda a estar no fundo da tabela meio século mais tarde. Com base nos mesmos dados, o rendimento médio per capita dos vinte países mais ricos era 32 vezes superior ao rendimento médio dos vinte países mais pobres em 1960; em 2015, este rácio tinha subido para 123.

Gráfico 2. Hierarquia no Capitalismo Mundial

Fonte: Base de dados do Banco Mundial, databank.worldbank.org. O produto interno bruto per capita é medido em valor logarítmico, com base em dólares norte-americanos constantes de 2010.

Naturalmente, com o imperialismo supostamente "desaparecido", o desenvolvimento do centro e o subdesenvolvimento da periferia pareceriam totalmente independentes um do outro. Assim, a tese de Warren produziu duas implicações políticas principais. Primeiro, a falta de desenvolvimento ou subdesenvolvimento é um problema próprio e exclusivo de cada país. Provavelmente provém de uma recusa em se juntar à globalização promotora do avanço das forças produtivas. Ou então de certos tipos de corrupção, de más instituições ou de razões culturais, ou, por fim, mais precisamente, da própria pobreza. Em segundo lugar, embora o Sul Global ou terceiro mundo, desde o tempo de Lenine, ou mesmo antes, fosse o centro da revolução e das experiências do socialismo, para Warren, tornou-se um fardo do desenvolvimento e da ajuda, e um aprendiz das sociedades ocidentais. O tipo de visão eurocêntrica ou ocidental que persistia no mercado global capitalista ecoou entre a esquerda.

A intervenção de Brenner no debate da transição

Se a tese de Warren sinalizou a viragem conservadora da esquerda ocidental em questões mais contemporâneas e globais, então Robert Brenner, formado como historiador, enriqueceu grandemente essa mesma tendência ao reafirmar o eurocentrismo e o conservadorismo na história da transição para o capitalismo na Europa. Isto ficou claro a partir da longa peça polémica de Brenner, "As origens do desenvolvimento capitalista: uma crítica do marxismo neo-smithiano", publicada na New Left Review, em 1977 (8).

O artigo de Brenner foi, em parte, uma reavaliação do famoso debate sobre a transição do feudalismo para o capitalismo entre Maurice Dobb, Paul Sweezy e outros estudiosos marxistas, ocorrido na década de 1950 nas páginas da revista Science and Society. Entre outras coisas, Sweezy e Dobb, embora concordando que tanto as forças internas (conflitos de classes) como externas (comércio e cidades) desempenharam papéis importantes e interativos na transição para o capitalismo, discordaram sobre a sua "ênfase primária" (Dobb) ou "motor principal" (Sweezy). Sweezy argumentou que a força motriz por detrás da transição na Europa Ocidental foi externa, enquanto Dobb manteve que as forças internas determinavam a forma e a direção que tomavam os efeitos do comércio e do mercado (9). Sweezy, que desencadeou a discussão, estava à procura de respostas para questões políticas. Nas suas palavras: "Agora, eu tenho uma ideia bastante clara sobre a natureza do principal motor do capitalismo, porque é que o processo de desenvolvimento que gera conduz à crise, e porque é que o socialismo é necessariamente a forma sucessora da sociedade. Mas nada estava claro para mim, sobre nenhum destes fatores, no caso feudal, quando me sentei para ler o livro de Dobb" (10). Mas em geral, não era claro que o debate original, em si mesmo, estivesse explicitamente relacionado com a política de esquerda na era pós-guerra. Ainda assim, a inspiração e o espaço intelectual gerados pelo debate facilitaram, provavelmente, discussões posteriores sobre imperialismo, dependência e sistemas-mundo.

Para além deste debate, Sweezy, Baran e os autores da Monthly Review prestaram grande atenção às lutas e revoluções no Sul Global. Escrevendo no final dos anos 1970, Brenner considerou claramente Frank e Wallerstein como os seus alvos principais, mas o seu artigo começou com uma crítica à posição de Sweezy expressa nos anos 1950. No entanto, ao contrário de todos os que participaram no debate original, incluindo Dobb, Brenner rejeitou completamente o papel do comércio e das cidades, apenas aceitando o papel da mudança agrária na criação de relações sociais capitalistas. Argumentou que o comércio, por si só, não transformaria as relações sociais feudais ou de servidão, e que apenas uma mudança autónoma nas relações de classe nos campos empurraria o comércio para o capitalismo. Sequencialmente, Brenner argumentou que Sweezy, Frank e Wallerstein presumiam a existência do capitalismo quando falavam do papel do comércio, da divisão do trabalho, da "concorrência" e da "maximização dos excedentes". Brenner considerou mesmo a atenção colocada nas trocas (Sweezy) e na divisão do trabalho (Frank e Wallerstein) como uma atitude neo-smithiana.

Para ser justo, nem uma única vez Sweezy se referiu à maximização, um termo que Brenner lhe atribuiu erradamente, para realçar o que ele considerava o aspeto a-histórico do seu argumento. Foi de facto o historiador marxista britânico Rodney Hilton, na sua resposta a Sweezy, quem sugeriu que a maximização do excedente era o principal motor da dinâmica do feudalismo (11). Nas palavras de Hilton, "a classe dominante de uma forma ou de outra... estava a esforçar-se por maximizar a renda feudal, ou seja, o excedente forçado do produtor direto, a todo o tempo". Hilton continua a explicar que esta maximização não era para vender no mercado, mas fundamentalmente para "manter e melhorar as suas posições como governantes, contra os seus inúmeros rivais, bem como contra os seus explorados subalternos".

O artigo do Brenner é profundamente deficiente, em pelo menos três aspetos. Primeiro, Brenner acusou Sweezy e Wallerstein de pressuporem (“assuming away”) o processo de transição, mas a sua alternativa foi sugerir a inexistência da transição. Quando Brenner falou da impossibilidade de maximização do excedente na sociedade feudal, o seu método era metafísico, o que poderia refletir a influência da escola analítica da época (12). Na sua análise, Brenner postula que os senhores feudais não podem ter motivos capitalistas - porque só os capitalistas têm motivos capitalistas - mas este modelo binário grosseiro, como muitas teorias económicas burguesas de sucesso, implica que a transição para o capitalismo aconteceu instantaneamente. Isto não poderia estar mais longe da verdade. Como Sweezy enfatizou, na sua resposta a Brenner, decorreram dois séculos entre o fim da servidão e a ascensão da agricultura capitalista, algo com que Dobb também concordou (13). Ironicamente, isto significou que o próprio Brenner teve de dar por garantida (“assume away”) a longa transição. Como James Blaut comentou mais tarde, "Brenner, tal como alguns outros marxistas, mantém uma conceção muito mística do capitalismo. O capitalismo é concebido para ser uma entidade, uma coisa essencial. Quando ele chega, é já de forma completa e inteira, como se fosse um deus descendente do Olimpo para governar os assuntos humanos" (14).

Em segundo lugar, Brenner interpretou erroneamente algumas provas históricas cruciais. Wallerstein explicou a segunda servidão na Polónia e na Europa Oriental como resultado da sua incorporação no sistema mundial como produtores de cereais. Na sua tentativa de rejeitar o papel do comércio, Brenner sugeriu que a exportação de cereais desempenhava apenas um papel menor no agravamento das condições camponesas, uma vez que o anterior comércio de cereais polaco era relativamente pequeno. Como Robert Denemark e Kenneth Thomas examinaram cuidadosamente, embora as exportações de cereais só tivessem atingido o seu pico após a refeudalização, aumentos significativos nas exportações precederam os grandes ataques ao estatuto legal dos servos e à capacidade de recurso aos tribunais reais (15). Ao relatar a melhoria dos termos de troca da agricultura da Europa de Leste versus a indústria ocidental, Brenner sugere que o excedente fluiu efetivamente do centro para a periferia no século XVII. Denemark e Thomas argumentaram que as mudanças nos termos de troca não nos podem dizer nada sobre a transferência de excedentes, uma vez que poderiam ser devidas a diferentes taxas de crescimento da produtividade. Documentaram que as mudanças em termos de comércio podem ser facilmente compreendidas no contexto de um aumento da produtividade holandesa e da estagnação ou declínio da produtividade cerealífera polaca no século XVII.

Por último, na sua visão eurocêntrica da história, Brenner prestou pouca atenção ao colonialismo, à conquista militar e ao seu impacto na formação de classes na maior parte do mundo. Também ignorou que muitos atributos importantes da Inglaterra rural medieval tardia (campesinato desvinculado, arrendamento a dinheiro, lutas camponesas, etc.) estavam presentes, no mesmo período, em muitas partes da Europa, África e Ásia (16). Kenneth Pomeranz, um historiador económico não marxista, argumentou que a Inglaterra e o delta do Yangtze inferior partilharam muitas características chave até 1800, mas a expansão colonial e a escravatura nas Américas fizeram com que a Inglaterra finalmente avançasse mais (17). Além disso, embora o artigo de Brenner aparentemente colocasse a luta de classes em primeiro lugar entre os fatores que levaram à ascensão do capitalismo, os seus outros escritos sugerem que apenas um tipo peculiar de luta de classes (na Inglaterra) levaria ao capitalismo. Para ele, era necessário algum grau de luta para evitar uma segunda servidão, mas não tanta que os proprietários perdessem o domínio sobre a terra (18). Assim, a tese de Brenner "vira a teoria da luta de classes de cabeça para baixo" (19). A análise de Brenner argumenta basicamente que, uma vez que certos fenómenos (um tipo específico de luta de classes, por exemplo) coexistiram com a ascensão do capitalismo na Inglaterra, a ascensão do capitalismo na Inglaterra deve também ser devida a essas mesmas coisas. Trata-se de um género típico de eurocentrismo baseado numa lógica circular.

Tal como Warren, Brenner rejeitou a relevância do imperialismo e acusou outros marxistas de minimizarem "o grau em que qualquer desenvolvimento nacional significativo das forças produtivas depende, hoje em dia, de uma ligação estreita com a divisão internacional do trabalho". Não só se recusou a reconhecer a transferência de excedentes do terceiro mundo para o centro, como também acusou efetivamente os anti-imperialistas de se agarrarem à "utopia do socialismo num país", rejeitando a ênfase marxista-leninista na existência de uma aristocracia do trabalho conservadora no núcleo central do sistema e as potencialidades revolucionárias do terceiro mundo.

Globalmente, dizer que Warren e Brenner, entre outros, causaram um grande debate intelectual seria um exagero. Houve discussões, com certeza, mas não foram sequer remotamente suficientes, face à importância da questão. Como observaram Denemark e Thomas, poucos autores abordaram o grande ataque de Brenner (20). Slater argumentou que a influência da tese de Warren estava, em última análise, relacionada com o facto de, a partir de 1980, o clima político dominante ter facilitado grandemente as posições militantemente procapitalistas (21). De facto, os escritos de Warren e Brenner coincidiram com - se é que dela não faziam conscientemente parte - a grande viragem contrarrevolucionária que acabou por travar a maré revolucionária começada no início do século XX.

Desde o Manifesto do Partido Comunista até à Segunda Internacional

Por muito dramáticas que parecessem ser as mudanças intelectuais ocorridas por volta de 1980, elas foram apenas um regresso à longa tradição eurocentrista entre os socialistas ocidentais, exemplificada pela Segunda Internacional. O período que começou com Lenine e Rosa Luxemburgo e terminou com Mao e a Revolução Cultural foi apenas uma curta interrupção. Warren e Brenner, por exemplo, estavam ambos interessados em romper com as "ideias marxistas mais recentes" e regressar ao marxismo que supostamente tinha uma visão mais positiva da propagação do capitalismo.

De que marxismo estavam eles a falar? As famosas passagens do Manifesto do Partido Comunista, que Brenner citou, exprimiram um elevado otimismo sobre o papel revolucionário do capitalismo:

"A burguesia, pelo rápido aperfeiçoamento de todos os instrumentos de produção, pelos meios de comunicação imensamente facilitados, atrai todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. Os preços baratos das mercadorias são a artilharia pesada com que derruba todas as muralhas chinesas, com os quais força à capitulação o ódio intensamente obstinado dos bárbaros aos estrangeiros. Obriga todas as nações, sob pena de extinção, a adotar o modo de produção burguês; obriga-as a introduzir no seu seio aquilo a que chama civilização, ou seja, a tornarem-se elas próprias burguesas. Numa palavra, cria um mundo à sua própria imagem" (22).

Como é frequentemente citado, Karl Marx acreditava que o controlo colonial britânico causou imensos danos ao povo indiano: "A Inglaterra quebrou todo o quadro da sociedade indiana, sem que quaisquer sintomas de reconstituição aparecessem ainda. Esta perda do seu velho mundo, sem ganho de um novo, transmite um tipo particular de melancolia à atual miséria do hindu, separando o Indostão, governado pela Grã-Bretanha, de todas as suas antigas tradições, e de toda a sua história passada" (23). Mas Marx, no início da década de 1850, ainda tinha alguma esperança de que as ações da Grã-Bretanha pudessem conduzir, indireta e inadvertidamente, ao avanço da Índia, na medida em que "quaisquer que tenham sido os crimes da Inglaterra, ela foi o instrumento inconsciente da história para a realização dessa revolução".

Esse otimismo, possivelmente inflacionado numa declaração política, poderia ter sido apropriado para o seu tempo. O papel progressista do capitalismo ainda estava em ação antes da Comuna de Paris. Como Lenine mais tarde resumiu sucintamente, "o período entre 1789 e 1871 foi um período de capitalismo progressista, quando o derrube do feudalismo e do absolutismo e a libertação do jugo estrangeiro estavam na agenda da história", mas a era capitalista imperialista após 1871 foi "uma era de capitalismo maduro e maduro-podre” (24). Como numerosos pensadores têm salientado desde o final da década de 1960, muito especialmente Kevin Anderson no seu livro Marx at the Margins (Marx nas Margens), o pensamento de Marx em relação ao colonialismo evoluiu a partir do final da década de 1850, particularmente após a Revolta Indiana de 1857. A ascensão de movimentos de resistência significativos em grande parte do mundo colonizado levou-o a concentrar-se mais no potencial revolucionário existente fora da Europa Ocidental e América do Norte (25). Na sua famosa carta de 1881 a Vera Zasulich, Marx expressou a sua convicção de que a comuna rural russa não capitalista poderia ser "o fulcro da regeneração social na Rússia" (26). Aqui, Marx discordaria claramente dos euromarxistas como Brenner e Warren. Frederick Engels, numa carta a Karl Kautsky de 1882, também fez a seguinte afirmação: "quanto às fases sociais e políticas que estes países terão então de atravessar antes de chegarem igualmente a uma organização socialista, penso que hoje em dia só podemos avançar hipóteses bastante ociosas. Só uma coisa é certa: o proletariado vitorioso não pode forçar qualquer tipo de bênção sobre qualquer nação estrangeira sem minar a sua própria vitória ao fazê-lo. O que, evidentemente, de modo algum exclui guerras defensivas de vários tipos" (27).

Mais importante ainda, tanto Marx como Engels, desde os dias das revoluções de 1848, estavam a desenvolver conscientemente uma visão dialética da história e a explorar a ligação entre o potencial revolucionário, a aristocracia laboral e os elos fracos na Europa. Isto é evidenciado pelo seu trabalho com a Liga Comunista, para a qual foi escrito o Manifesto do Partido Comunista.

Como Engels recordou, a Liga era maioritariamente composta por trabalhadores e artesãos imigrantes alemães, em particular alfaiates masculinos (28). Estes trabalhadores imigrantes estavam em todo o lado e Engels documentou que o alemão era "a língua predominante neste comércio" em Paris. Apesar da tradição das guildas e da perspetiva influente em se tornar um dia mestre, as ideias comunistas desenvolveram-se gradualmente entre estes trabalhadores. Foi a organização destes trabalhadores e de outros que deu início ao primeiro movimento de trabalhadores comunistas alemães, bem como "o primeiro movimento internacional de trabalhadores de todos os tempos".

A história da Liga Comunista registada por Engels é particularmente útil. Apesar das suas atividades em Londres, a Liga não se baseava em trabalhadores ou sindicatos ingleses. Não foi a Inglaterra, o primeiro e mais desenvolvido país capitalista industrial, que produziu o movimento de trabalhadores comunistas. Pelo contrário, o epicentro da revolução comunista mundial foi uma Alemanha ainda não unificada, "um país de artesanato e de indústria doméstica baseada no trabalho manual" (29). No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels declararam que "os comunistas voltam a sua atenção principalmente para a Alemanha, porque esse país está em vésperas de uma revolução burguesa... a revolução burguesa na Alemanha será apenas o prelúdio para uma revolução proletária imediatamente a seguir".

A classe operária inglesa, apesar das suas condições materiais avançadas e de uma longa história de luta, não emergiu como uma força dirigente no movimento operário internacional posterior. Na sua carta de 1870, Marx observou que o potencial revolucionário dos trabalhadores ingleses era severamente limitado pela existência de periferias britânicas como a Irlanda e pela aliança colonial entre trabalhadores e capitalistas ingleses. Nas palavras de Marx: "O trabalhador inglês comum odeia o trabalhador irlandês como um concorrente que faz baixar o seu nível de vida. Em relação ao trabalhador irlandês, considera-se membro da nação governante... Este antagonismo é o segredo da impotência da classe trabalhadora inglesa, apesar da sua organização. É o segredo por meio do qual a classe capitalista mantém o seu poder. E esta última está bem ciente disto" (30).

Se a identificação com a nação dominante foi, no início, mais um preconceito, mais tarde adquiriu uma base material muito mais sólida, à medida que uma aristocracia laboral começou a emergir com o imperialismo. A longa prosperidade, a aceitação dos sindicatos, a melhoria dos salários reais e das condições de trabalho e a expansão do sufrágio, reforçaram a aliança política entre capitalistas e os principais sindicatos e activistas. Cada vez mais, os trabalhadores das nações imperialistas partilharam parte dos frutos dos superlucros imperialistas como resultado da transferência de excedentes do terceiro mundo.

Quando Engels escreveu o prefácio para a edição de 1892 de A condição da classe trabalhadora na Inglaterra, reconheceu as mudanças ocorridas em duas secções da classe trabalhadora - trabalhadores de fábricas e membros de sindicatos - desde a primeira publicação do livro, em 1845 (31). Explicou assim a sua política conservadora: "formam uma aristocracia entre a classe operária; conseguiram alcançar para si próprios uma posição relativamente confortável, e aceitam-na como definitiva". Foi precisamente por isso que, na sua carta a August Bebel, em 1883, Engels descartou fortemente as potencialidades do movimento revolucionário na Grã-Bretanha. "Não te deixes iludir, de modo algum, pensando que existe aqui um verdadeiro movimento proletário", advertiu ele a Bebel. "Um verdadeiramente movimento operário geralizado só existirá aqui quando os trabalhadores forem levados a sentir o facto de o monopólio mundial da Inglaterra ser quebrado" (32). Embora os benefícios recebidos pelos trabalhadores ingleses fossem, provavelmente, pateticamente pequenos, "a participação no domínio do mercado mundial foi e é a base da nulidade política dos trabalhadores ingleses". Assim, a classe trabalhadora inglesa começou a seguir o Partido Liberal, reconhecendo sindicatos e greves, bem como defendendo condições de trabalho mais humanas e direitos de voto para a classe trabalhadora (33).

Estes importantes vislumbres já estavam a preparar o terreno para as teorias de Lenine sobre o imperialismo e o elo mais fraco. Ao longo das suas vidas, Marx e Engels olharam para a Alemanha menos desenvolvida. Durante muito tempo, o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), como Lenine comentou uma vez, "manteve o ponto de vista revolucionário no marxismo" (34). No entanto, quando a Alemanha emergiu como uma grande potência imperialista, o socialismo alemão também mudou consideravelmente.

Isto já era evidente na ascensão de Eduard Bernstein e no revisionismo do partido e da Segunda Internacional. Equipado com um tipo de fatalismo que equiparava a revolução ao colapso do capitalismo que se aproximava, a corrente dominante do SPD, liderada por Bebel e Kautsky, contentou-se em competir por lugares no Reichstag antes do grande dia da revolução socialista (35). Com base na prosperidade do imperialismo alemão, os sindicalistas do partido tornaram-se importantes forças reformistas e a sua neutralidade política gradualmente prevaleceu (36). Havia também falta de educação marxista no SPD e, embora mais pessoas votassem a favor do socialismo, a maioria dos membros do partido tinha uma ideia diferente do que o socialismo poderia ser (37). Os membros do SPD, por alturas da viragem do século, estavam a passar por melhorias nas suas condições e estavam a ler sobretudo notícias e documentários de viagem capitalistas, histórias de guerra e exotismo etnográfico da expansão colonial alemã (38).

Sendo ele deputado de longa data do SPD no Reichstag, a opinião de Bernstein representava, pelo menos, a ala direita do partido. Bernstein via o imperialismo como algo novo, paralelo ao capitalismo e progressista em 1900. Em 1912, a sua posição permaneceu em grande medida a mesma: o imperialismo era basicamente progressista apesar de estar relacionado com alguns interesses capitalistas (39). Na opinião de Bernstein, o imperialismo britânico era democrático, pelo que merecia aprovação e emulação, enquanto que o antidemocrático imperialismo alemão guilhermista era reacionário e perigoso (40). Foi Bernstein quem defendeu a infame política colonial socialista, que se tornou uma questão muito debatida durante o segundo congresso Internacional em Estugarda, em 1907.

O congresso de Estugarda foi um acontecimento importante na história do movimento operário internacional. Lenine elogiou a ampla representação do congresso: 884 delegados de vinte e cinco nações e cinco continentes (41). Embora o congresso "tenha marcado a consolidação final da Segunda Internacional... que exerce[u] uma influência muito considerável na natureza e direção das atividades socialistas em todo o mundo", Lenine comentou a sua "faceta notável e triste" de a social-democracia alemã aí ter evidenciado uma clara viragem conservadora e oportunista (42).

Os delegados alemães a este congresso da Segunda Internacional foram marcados pelo seu conservadorismo e revisionismo. Globalmente, a ala oportunista foi forte entre os delegados da Europa Ocidental. O grupo pró-colonial, incluindo Van Kol da Holanda, Bernstein e Eduard David da Alemanha, dominaram o comité sobre o colonialismo (43). Eles introduziram a "resolução maioritária" que afirmava que os benefícios das colónias para a classe trabalhadora tinham sido exagerados e que o congresso não rejeitava o colonialismo por princípio, uma vez que podia funcionar como uma força civilizadora (44). Este grande recuo em relação aos princípios socialistas foi "monstruoso", nas palavras de Lenine, e podemos ver partes destas declarações ressurgir, de uma forma ligeiramente diferente, nas teses desenvolvidas por Warren e Brenner. Lenine comentou que o conceito de política colonial socialista (de Bernstein e outros) era "uma confusão sem esperança", e explicou que "o socialismo nunca recusou defender reformas também nas colónias; mas isto não pode ter nada em comum com o enfraquecimento da nossa posição de princípio contra as conquistas, a subjugação de outras nações, a violência e a pilhagem, que constituem a «política colonial»" (45).

Não surpreendentemente, a posição no sistema capitalista mundial do país a que pertenciam os delegados influenciou fortemente os seus votos durante o congresso. Os franceses, britânicos e italianos dividiram-se na votação, enquanto os alemães, regidos pela regra da unanimidade, votaram todos a favor da resolução pró-colonial (46). Foram os votos dos países não coloniais que fizeram com que a "resolução minoritária" vingasse no congresso, mas foi uma votação mesmo muito renhida: 127 a 108 (47).

A viragem à direita do SPD e de outros partidos socialistas europeus continuou após o congresso de 1907 da Segunda Internacional. Foram necessários apenas mais alguns anos para os principais partidos, como o SPD, traírem abertamente a revolução e decidirem apoiar a Primeira Guerra Mundial. A Segunda Internacional e a sua política entraram então em colapso em termos de facto.

Os trabalhadores ingleses no tempo de Marx e os trabalhadores alemães no tempo de Lenine revelaram-se incapazes de desempenhar um papel de liderança na luta pelo socialismo. A política pró-colonial e pró-imperialista tinha claramente um controlo firme sobre os principais partidos e sindicatos dos trabalhadores nos países imperialistas. De Marx e Engels a Lenine, os socialistas estiveram sempre a tentar explorar todo o potencial revolucionário contra o capitalismo. As longas e brutais lutas contra o oportunismo desenvolveram-se gradualmente até à visão leninista de que a revolução e uma nova sociedade socialista não virão primeiro do centro do capitalismo, onde a aristocracia laboral é forte e os trabalhadores e a pequena burguesia tendem a ser mais conservadores devido ao imperialismo. As revoluções socialistas efetivas do século XX partiram da parte subdesenvolvida da Europa (Rússia) e, mais genericamente, da parte subdesenvolvida do mundo (China e outros países do terceiro mundo). Em termos de forças de produção, os países da Europa Ocidental eram os mais avançados, mas em termos de política revolucionária, como brilhantemente resumiu Lenine em 1913, a Europa estava atrasada e a Ásia avançada. A independência do terceiro mundo e as revoluções socialistas, e consequentemente o enfraquecimento do imperialismo, serviriam naturalmente como uma condição prévia para a ocorrência de revoluções socialistas no núcleo imperialista. A esquerda internacional, desde os anos da Internacional Comunista até à era Mao Zedong, aderiu em grande parte a esta linha, até que uma política semelhante à da Segunda Internacional começou a recuperar o seu antigo prestígio no final dos anos 1970.

Não é esse país também imperialista? Contradições na narrativa do "Novo Imperialismo"

As discussões sobre o imperialismo praticamente desapareceram a partir do final dos anos 1970, mas reemergiram desde o início do século XXI, em especial devido à atual crise económica global. Importantes investigações sobre o imperialismo tardio, ou imperialismo da traficância laboral global sob o capital monopolista financeiro generalizado, foram recentemente publicadas por Samir Amin, John Smith, Utsa Patnaik, Prabhat Patnaik e Intan Suwandi (48). Muitos autores de esquerda influentes, no entanto, como Hardt, Negri e Harvey, continuam a reproduzir a velha geopolítica conservadora em novas roupagens, nas suas discussões sobre o "novo imperialismo".

Como exemplo, no seu livro Empire, Hardt e Negri argumentaram que o imperialismo, na realidade, cria uma camisa de forças para o capital e que o capital deve eventualmente ultrapassá-lo (49). Este argumento é essencialmente uma versão atualizada da tese de Bernstein/Warren/Brenner, que sugere que o capitalismo ultrapassou a fase do imperialismo. O que substituiu o imperialismo foi o Império, um capitalismo mundial horizontal, descentralizado e desterritorializante (50). Como afirmou John Bellamy Foster, o livro de Hardt e Negri não passa de uma versão de esquerda da narrativa do "fim da história", que embrulha a política externa dos E.U.A. com laçarotes marxistas e pós-modernos (51).

Hardt e Negri, ao contrário de Warren, não basearam as suas conclusões em provas empíricas. Numa parte do livro rejeitaram a teoria do imperialismo, reinterpretando o debate entre Lenine e Kautsky dos anos 1910, argumentando enganosamente que a tese do ultra-imperialismo de Kautsky estaria mais de acordo com a obra de Marx. Também afirmaram que, analiticamente, Lenine concordava basicamente com Kautsky sobre a tendência ao ultra-imperialismo, embora chegasse a uma conclusão diferente quanto ao que deveria ser a resposta revolucionária. Para Hardt e Negri, a verdadeira escolha implícita no trabalho de Lenine era entre revolução comunista global ou Império (um novo nome para o ultra-imperialismo) (52).

Se Lenine realmente concordou que o futuro nos traria um capitalismo mundial estável, então as revoluções subsequentes pareceriam ações desesperadas para impedir a realização do ultra-imperialismo. Quando Lenine escreveu o prefácio de 1915 a O Imperialismo e a Economia Mundial de Nikolai Bukharin, ele ainda não tinha terminado os seus próprios escritos mais decisivos sobre o imperialismo. Assim, Lenine criticou principalmente as implicações oportunistas do ultra-imperialismo de Kautsky (53). Embora não refutasse aí explicitamente a teorização de uma nova fase do capitalismo subsequente ao imperialismo, Lenine salientou, contudo, que uma tal visão, na prática, significava afastar-se dos problemas contemporâneos. Em 1916, quando escreveu O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, Lenine negou claramente a possibilidade de um futuro ultra-imperialista, uma vez que o desequilíbrio do desenvolvimento capitalista e as alterações na força relativa entre as suas potências proíbe qualquer coligação estável, aliança ou império (54).

Harvey e outros produziram uma versão mais fraca da tese de Bernstein/Warren/Brenner. Nomeadamente, que pode ainda haver imperialismo e transferência de excedentes da periferia para o núcleo central do sistema, mas ou o núcleo está constantemente a recrutar novos membros, ou a relação entre núcleo e periferia pode ser invertida graças ao desenvolvimento capitalista. Por exemplo, Harvey acredita que a drenagem da riqueza líquida do Oriente para o Ocidente tem sido largamente revertida nas últimas décadas (55). Com base no seu próprio trabalho àcerca de sobre-exploração e imperialismo, Smith fez uma crítica poderosa à negação do imperialismo por parte de Harvey (56). Na sua resposta, Harvey alegou que a teoria marxista tradicional (fixa e rígida) do imperialismo era inadequada para compreender a complexidade do capitalismo (57). Contudo, o método proposto por Harvey trata basicamente o excedente comercial ou o crescimento mais rápido do produto interno bruto como prova de imperialismo. Isto é bastante superficial e redutor, pois o imperialismo não se refere ao crescimento rápido ou aos ganhos de exportação, mas sim à relação entre o núcleo do sistema e o resto do mundo. Como é bem sabido, as colónias ou periferias podem ter, por vezes, enormes excedentes de comércio, como sucedeu com a Jamaica, devido à escravatura. Em termos de crescimento do rendimento, entre 1850 e 1900, países como a Polónia e o Chile mantiveram uma taxa de crescimento do produto interno bruto per capita de cerca de 2%, quase duas vezes superior à taxa de crescimento britânica ou francesa durante esta primeira fase imperialista (58).

Harvey define o imperialismo como a fusão contraditória entre um projeto político baseado num território e a expansão do capitalismo através do espaço e do tempo. A primeira parte refere-se a uma lógica territorial abstrata e a-histórica, enquanto a segunda implica uma visão difusionista do capitalismo. Sem qualquer menção à relação centro-periferia ou à transferência de excedentes, o capitalismo fluídico de mundo plano, na compreensão de Harvey, aquilo a que ele chama O Novo Imperialismo, é praticamente o mesmo que viram Warren, Brenner e o dos teóricos da Segunda Internacional (59). Precisamente devido a este ponto de partida, é fácil para Harvey tratar qualquer mudança geográfica nas atividades industriais como sendo uma mudança de centro do imperialismo. Por exemplo, Harvey fala agora da Ásia Oriental como uma força imperialista em ascensão, mas, como Smith salienta, em escritos anteriores ele já falava da mudança de poder para os chamados países recentemente industrializados, como a Índia, o Egipto e a Hungria (60).

Muitas destas discussões (incluindo as de Harvey) referem-se explícita ou implicitamente à China como a uma potência imperialista em ascensão, chegando mesmo a rivalizar com os Estados Unidos em alguns relatos. Tornou-se um pouco moda bipartidária, entre conservadores e liberais, posicionar-se contra a chamada China imperialista. Curiosamente, o Departamento de Estado norte-americano também enfatiza o imperialismo chinês nas suas declarações oficiais (61). Este mesmo consenso peculiar é, ele próprio, resultado da confusão e distorção operada na questão do imperialismo desde os anos 1970.

Vamos examinar mais de perto o caso da China. O imperialismo envolve, em última análise, uma transferência de excedentes da periferia para o centro imperialista. Apesar do seu rápido crescimento, a China não tem estado em posição de extrair tais lucros. Num estudo muito abrangente, Minqi Li salienta que, embora a China tenha desenvolvido uma relação de exploração com alguns exportadores de matérias-primas, no seu conjunto, o país continua a transferir uma maior quantidade de excedente de valor para os países centrais do sistema mundial capitalista do que a que recebe da periferia (62). A China é melhor descrita como sendo um país semiperiférico no sistema mundial capitalista.

Como país semiperiférico, a China tem desempenhado, sobretudo, um papel complementar, em vez de competidor, em relação ao centro imperialista. Em termos de exportações, a China está sobretudo a competir com os países de menor rendimento. Os trabalhadores na China ganham muito menos do que os seus homólogos norte-americanos com competências semelhantes, embora a diferença tenha diminuído. Recorrendo à Base de Dados de Input-Output Mundial, Suwandi, R. Jamil Jonna, e Foster mostraram que os custos laborais unitários chineses permaneceram cerca de 40% dos custos laborais unitários dos E.U.A. entre 1995 e 2014, apesar de algum aumento moderado nos anos mais recentes (63). Esta diferença serviu de base para a traficância laboral global e para o intercâmbio desigual.

Podemos também analisar a exportação de capital da China para o exterior. A saída da China de investimento direto estrangeiro, como percentagem da formação bruta de capital, foi de 1,9% em 2019, enquanto que a média mundial foi de 6% (64). A maioria deste investimento foi para Hong Kong e alguns paraísos fiscais, quer como fuga de capitais, quer reempacotado como capital estrangeiro para entrar novamente na China continental. Embora a China tenha acumulado enormes ativos estrangeiros ao longo dos anos, perto de metade, em 2018, são reservas em moeda externa, o que, no essencial, constitui o tributo informal da China ao imperialismo norte-americano, um pagamento pelo seu "privilégio de senhoriagem" (65).

Alguns poderão argumentar que, embora a China não seja imperialista agora, poderá crescer para o vir a ser. Esta visão pode estar demasiado confiante na capacidade do imperialismo para absorver uma população tão grande para o seu centro. Como observa Minqi Li, um hipotético imperialismo chinês significaria um aumento dramático na transferência de excedentes da periferia, o que é improvável que seja possível, tanto económica como ecologicamente (66).

Na sua maioria, as elites chinesas estão conscientes de que beneficiaram imensamente da atual divisão do trabalho na economia global e têm um forte desejo de manter o status quo (67). Este consenso entre as elites chinesas torna-as, frequentemente, mais ávidas do que muitas outras na defesa da ordem mundial liderada pelos Estados Unidos da América.

Em suma, duas das versões recentes da tese Bernstein/Warren/Brenner - popularizadas por Hardt/Negri e Harvey, respetivamente - são incapazes de proporcionar uma melhor compreensão do capitalismo mundial. Com estas teorias, as lutas anti-imperialistas dissolvem-se em rivalidades inter-imperialistas. Mais importante ainda, elas assinalam um renascimento da política da Segunda Internacional, que tem estado na raiz do pensamento de esquerda e social-democrata desde o século XIX.

A Segunda Internacional volta a atacar

Argumentar que alguns países não são imperialistas não é necessariamente uma defesa do status quo ou das relações sociais desses países. É argumentar que a transferência de excedentes e a exploração imperialista aprofundam as contradições nesses países não-imperialistas. Mesmo a satisfação das necessidades básicas de saúde e educação das pessoas trabalhadoras exigiria um avanço socialista. Certos países do terceiro mundo - especialmente aqueles com classes dirigentes mais fracas e incompetentes, bem como aqueles com fortes legados revolucionários - poderiam constituir o potencial elo fraco do sistema imperialista contemporâneo. Nesses lugares, as lutas dos povos contra o imperialismo dos E.U.A. são reais e potencialmente revolucionárias.

Quando alguns autores de esquerda negam ou desistem da teoria marxista do imperialismo, o capitalismo torna-se para eles um sistema vibrante em evolução sem fim, em vez de um sistema de decadência e parasitismo. Assim, tornam-se muitas vezes incapazes de ver o potencial revolucionário em grande parte do mundo. Uma vez que o capitalismo parece invencível e o socialismo e o comunismo parecem completamente fora de alcance, não é surpreendente que as políticas da Segunda Internacional estejam a permear esta atmosfera geral de desilusão.

As políticas contemporâneas de Segunda Internacional implicam duas linhas complementares de pensamento. Em primeiro lugar, dada a longevidade do capitalismo, argumenta-se que o melhor cenário para o mundo é ter um capitalismo melhor. Aqui, este melhor refere-se frequentemente a medidas como a liberdade de reunião, liberdade de imprensa, sistemas eleitorais multipartidários, propriedade privada segura e outras características da sociedade burguesa normalmente observadas no centro imperialista. Quando o progresso é (novamente) definido como a difusão e imitação do capitalismo dos Estados Unidos da América ou da Europa Ocidental, os "progressistas" unem muito rapidamente forças com os governos imperialistas nos seus ataques contra os países da periferia ou da semiperiferia. Enquanto os teóricos da Segunda Internacional não se opuseram em princípio ao colonialismo e ao imperialismo, os liberais de hoje não se opõem em princípio às sanções e às operações de mudança de regime no terceiro mundo. Para muitos destes escritores, que frequentemente afirmam ser marxistas, a principal preocupação não é derrubar o capitalismo, mas livrar-se do chamado capitalismo autoritário, um termo recente para a sociedade "não civilizada".

A segunda linha da política contemporânea da Segunda Internacional centra-se na questão do imperialismo. Se alguns autores facilmente contam a China entre os membros do centro imperialista, o imperialismo como uma fase do capitalismo parece certamente um pesadelo sem fim. Uma vez que não há alternativa real, faz sentido escolher uma versão melhor do pesadelo. Tal como Bernstein, que defendeu a distinção entre bom e mau imperialismo, escritores contemporâneos como Harvey também defendem um imperialismo reformado e melhor.

Harvey argumentou que, embora existam soluções mais radicais, a construção de um novo New Deal liderado pelos Estados Unidos da América e pela Europa, tanto a nível interno como internacional, é certamente uma causa suficiente por que lutar, por agora. A este respeito, ele chegou ao ponto de justificar um imperialismo "mais benevolente, de 'New Deal', de preferência alcançado através do tipo de coligação de potências capitalistas que Kautsky há muito tempo atrás previa" (68). Para Harvey, este imperialismo de New Deal seria supostamente mais benigno do que o mau imperialismo oferecido pelos neoconservadores.

O conservadorismo de Harvey continuou a crescer desde então, e não foi por acaso que ele expressou uma opinião particularmente reacionária numa entrevista no final de 2019. Nessa entrevista, ele argumenta que o capital é demasiado grande para falhar, explicando que:

“não podemos imaginar uma situação em que fecharíamos o fluxo de capital, porque se fechássemos o fluxo de capital, 80 por cento da população mundial morreria imediatamente de fome, ficaria imobilizada, não seria capaz de se reproduzir de forma efetiva. Portanto, não nos podemos permitir qualquer tipo de ataque sustentado à acumulação de capital. Desta forma, o tipo de fantasias que se poderiam ter tido - socialistas, ou comunistas, e assim por diante, poderiam ter imaginado em 1850 que, bom, está bem, podemos destruir este sistema capitalista e podemos construir algo totalmente diferente - são uma impossibilidade neste momento” (69).

Com este tipo de pensamento dominante entre os liberais e muitos autores de esquerda, a possível resistência interna ao Estado imperialista norte-americano é reduzida. Isto ilumina particularmente bem os conflitos em curso entre os Estados Unidos da América e a China. A imagem de uma China em ascensão, uma China imperialista (mas ainda não completamente civilizada), serve de forma interessante a diferentes grupos, tanto na China como nos Estados Unidos da América. Durante anos, os meios de comunicação nacionalistas na China gabaram-se de uma China poderosa num esforço para reduzir a militância entre os trabalhadores. A gente de esquerda chinesa é, na sua maioria, altamente crítica de tais reivindicações nacionalistas. Ao mesmo tempo, o pensamento dominante norte-americano e a sua ala direita têm vindo a defender, com sucesso, a sua causa, com base na propaganda de uma China imperialista. Mobilizando um racismo profundamente enraizado e um anticomunismo histórico, este chavão serve o objetivo de fazer da China bode expiatório e de corromper a classe trabalhadora dos E.U.A.. Mesmo alguns observadores de esquerda têm argumentado, de forma acrítica, que a China se tornou agora o inimigo número um da classe trabalhadora global. Estamos a assistir à formação de uma santa aliança nos imperialistas Estados Unidos da América, dominados pela política reacionária da Segunda Internacional.

Prabhat Patnaik advertiu que o recuo das análises do imperialismo significaria apenas um reforço da direita, tanto nos países centrais como no Sul Global, ajudando a gerar movimentos racistas, fundamentalistas e xenófobos. Estas perceções profundas são cada vez mais relevantes à medida que avançamos para a década de 2020.

A esquerda (ocidental) no centro imperialista encontra-se num momento histórico (70). Sem se reconectar com a tradição anti-imperialista, e sem uma análise cuidadosa do imperialismo desenvolvido na era neoliberal, é provável que essa esquerda se afaste cada vez mais do seu passado revolucionário, na próxima década ou duas. Se devemos seguir a Segunda Internacional, ou as tradições do Marx mais tardio, de Lenine e de Mao, é uma questão vital para todos nós.

Notas

1. Prabhat Patnaik, "Whatever Happened to Imperialism?" Monthly Review 42, n.º 6 (November 1990): 1-7.

2. Paul Baran, The Political Economy of Growth (New York: Monthly Review Press, 1957); Andre Gunder Frank, The Development of Underdevelopment (New York: Monthly Review Press, 1966); Harry Magdoff, The Age of Imperialism (New York: Monthly Review Press, 1969); Arghiri Emmanuel, Unequal Exchange (New York: Monthly Review Press, 1972); Samir Amin, Accumulation on a World Scale (New York: Monthly Review Press, 1974); Immanuel Wallerstein, The Capitalist World Economy (New York: Cambridge University Press, 1979); Walter Rodney, How Europe Underdeveloped Africa (Washington DC: Howard University Press, 1981).

3. Patnaik, "Whatever Happened to Imperialism?"

(4) Bill Warren, “Imperialism and Capitalist Industrialization”, New Left Review 81 (1973).

(5) Arghiri Emmanuel, “Myths of Development Versus Myths of Underdevelopment”, New Left Review 85 (1974): 61–82.

(6) Philip McMichael, James Petras e Robert Rhodes, “Imperialism and the Contradictions of Development”, New Left Review 85 (1974): 83–104.

(7) David Slater, “On Development Theory and the Warren Thesis: Arguments Against the Predominance of Economism”, Environment and Planning D: Society and Space 5, n.º 3 (1987): 263–82.

(8) Robert Brenner, “The Origins of Capitalist Development: A Critique of Neo-Smithian Marxism”, New Left Review 104 (1977).

(9) Paul Sweezy e Maurice Dobb, “The Transition from Feudalism to Capitalism”, Science and Society 14, n.º 2 (1950): 134–67.

(10) Paul Sweezy, “Comments on Professor HK Takahashi’s ‘Transition from Feudalism to Capitalism’”, Science and Society 17, n.º 2 (1953): 158–64.

(11) Rodney Hilton, “The Transition from Feudalism to Capitalism”, Science and Society 17, n.º 4 (1953): 340–48.

(12) Louis Proyect argumenta que Brenner estava vagamente relacionado com o marxismo analítico. Veja-se a discussão muito útil sobre a tese de Brenner e seu contexto político na sua página, The Unrepentant Marxist.

(13) Paul Sweezy, “Comment on Brenner”, New Left Review 108 (1978): 94–95.

(14) James Blaut, “Robert Brenner in the Tunnel of Time”, Antipode 26, n.º 4 (1994): 351–74.

(15) Robert Denemark e Kenneth Thomas, “The Brenner-Wallerstein Debate”, International Studies Quarterly 32, n.º 1 (1988): 47–65.

(16) Blaut, “Robert Brenner in the Tunnel of Time”.

(17) Kenneth Pomeranz, The Great Divergence: China, Europe, and the Making of the Modern World Economy (Princeton: Princeton University Press, 2000).

(18) Por exemplo, leia-se Robert Brenner, “Agrarian Class Structure and Economic Development in Pre-Industrial Europe”, Past and Present 70, n.º 1 (1976): 30–75. Esse tipo de argumento não é único entre os escritos racistas e eurocêntricos. Leia-se, por exemplo, Quamrul Ashraf e Oded Galor, “The ‘Out of Africa’ Hypothesis, Human Genetic Diversity, and Comparative Economic Development”, American Economic Review 103, n.º 1 (2013): 1–46. Aí se aplica a mesma fórmula exata, apenas substituindo a luta de classes pela diversidade genética. Muita diversidade (africanos) significa menos confiança, mas muito pouca diversidade (nativos americanos) significa menos inovação. Apenas os eurasianos, com o grau certo de diversidade genética, assim diz o argumento, conseguiram atingir a liderança do mundo.

(19) Blaut, “Robert Brenner in the Tunnel of Time”.

(20) Denemark e Thomas, “The Brenner-Wallerstein Debate”.

(21) Slater, “On Development Theory and the Warren Thesis”.

(22) Karl Marx e Frederick Engels, The Communist Manifesto (New York: Monthly Review Press, 1964), 9.

(23) Karl Marx, “The British Rule in India”, in Marx-Engels Collected Works, vol. 12 (1853; repr. New York: International Publishers, 1979), 125–33.

(24) V. I. Lenin, “Opportunism and the Collapse of the Second International,” in Lenin Collected Works, vol. 22 (1916; repr. Moscow: Progress Publishers, 1964), 108–20.

(25) Kevin Anderson, Marx at the Margins: On Nationalism, Ethnicity, and Non-Western Societies (Chicago: University of Chicago Press, 2010). Entre os pensadores que apresentaram a mesma tese de Anderson, leia-se: Horace B. Davis, Nationalism and Socialism (New York: Monthly Review Press, 1967), 59-73; Earl Ofari, “Marxism, Nationalism, and Black Liberation”, Monthly Review 22, n.º 10 (March 1971): 18–34; Kenzo Mohri, “Marx and ‘Underdevelopment’”, Monthly Review 30, n.º 11 (April 1979): 32–42; Suniti Kumar Ghosh, “Marx on India”, Monthly Review 35, n.º 8 (January 1984): 39–53; John Bellamy Foster, “Marx and Internationalism”, Monthly Review 52, n.º 3 (July–August 2000): 11-22.

(26) Karl Marx, “Marx to Vera Zasulich”, in Marx-Engels Collected Works, vol. 46 (New York: International Publishers, 1992), 71.

(27) Frederick Engels, “Engels to Karl Kautsky”, in Marx-Engels Collected Works, vol. 46, 320–23.

(28) Frederick Engels, “On the History of the Communist League”, in Marx-Engels Collected Works, vol. 26 (New York: International Publishers, 1990), 312–30.

(29) Engels, “On the History of the Communist League”.

(30) Karl Marx, “K. Marx to Sigfrid Meyer and August Vogt”, in Marx-Engels Collected Works, vol. 43 (New York: International Publishers, 1988), 471–76.

(31) Frederick Engels, prefácio a The Condition of the Working-Class in England, 1892 edição em língua inglesa, in Marx-Engels Collected Works, vol. 27 (New York: International Publishers, 1990), 257–69.

(32) Frederick Engels, “Engels to August Bebel”, in Marx-Engels Collected Works, vol. 47 (New York: International Publishers, 1995), 52–55.

(33) Engels, “Engels to August Bebel”.

(34) V. I. Lenin, “The International Socialist Congress in Stuttgart”, in Lenin Collected Works, vol. 13 (Moscow: Progress Publishers, 1972), 82–93.

(35) Roger Fletcher, Revisionism and Empire: Socialist Imperialism in Germany 1897–1914 (London: George Allen & Unwin, 1984), 14.

(36) Carl Schorske, German Social Democracy, 1905–1917: The Development of the Great Schism (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1983), 15, 26–27.

(37) Fletcher, Revisionism and Empire, 28.

(38) Fletcher, Revisionism and Empire, 30–34; John Short, “Everyman’s Colonial Library: Imperialism and Working-Class Readers in Leipzig, 1890–1914,” German History 21, n.º 4 (2003): 445–75.

(39) Fletcher, Revisionism and Empire, 155.

(40) Fletcher, Revisionism and Empire, 157.

(41) Lenin, “The International Socialist Congress in Stuttgart”.

(42) Lenin, “The International Socialist Congress in Stuttgart”.

(43) Lenin, “The International Socialist Congress in Stuttgart”; Schorske, German Social Democracy, 84.

(44) Schorske, German Social Democracy, 84.

(45) Lenin, “The International Socialist Congress in Stuttgart”.

(46) Schorske, German Social Democracy, 85.

(47) Schorske, German Social Democracy, 84–85.

(48) Samir Amin, Modern Imperialism, Monopoly Finance Capital, and Marx’s Law of Value (New York: Monthly Review Press, 2018); Utsa Patnaik e Prabhat Patnaik, A Theory of Imperialism (New York: Columbia University Press, 2016); John Smith, Imperialism in the Twenty-First Century (New York: Monthly Review Press, 2016); Intan Suwandi, Value Chains: The New Economic Imperialism (New York: Monthly Review Press, 2019).

(49) Antonio Negri e Michael Hardt, Empire (Cambridge: Harvard University Press, 2000), 243.

(50) Hardt and Negri, Empire, xii.

(51) John Bellamy Foster, “Late Imperialism: Fifty Years After Harry Magdoff’s The Age of Imperialism”, Monthly Review 71, n.º 3 (July–August 2019): 1–19.

(52) Hardt and Negri, Empire, 230, 461.

(53) V. I. Lenin, Preface to Nikolai Bukharin’s Imperialism and World Economy, in Lenin Collected Works, vol. 22, 103–7.

(54) V. I. Lenin, Imperialism, the Highest Stage of Capitalism, in Lenin Collected Works, vol. 22, 185–304.

(55) David Harvey, “Realities on the Ground: David Harvey Replies to John Smith”, Review of African Political Economy, February 5, 2018.

(56) Smith, Imperialism in the Twenty-First Century; John Smith, “David Harvey Denies Imperialism”, Review of African Political Economy, January 10, 2018.

(57) Harvey, “Realities on the Ground”.

(58) Calculado com base na base de dados do Maddison Project. Leia-se Jutta Bolt, Robert Inklaar, Herman de Jong e Jan Luiten van Zanden, “Rebasing ‘Maddison’: New Income Comparisons and the Shape of Long-Run Economic Development” (Groningen Growth and Development Centre Research Memorandum 174, University of Groningen, January 2018).

(59) David Harvey, The New Imperialism (New York: Oxford University Press, 2003), 26.

(60) Smith, “David Harvey Denies Imperialism”.

(61) Por examplo, leia-se “Secretary Michael R. Pompeo at a Press Availability”, U.S. Department of State, July 15, 2020.

(62) Minqi Li, “China: Imperialism or Semi-Periphery?” (working paper, Department of Economics, University of Utah, 2020).

(63) Intan Suwandi, R. Jamil Jonna e John Bellamy Foster. “Global Commodity Chains and the New Imperialism”, Monthly Review 70, n.º 10 (2019): 1–24.

(64) Com base no “World Investment Report 2020”, da United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD).

(65) Li, “China”.

(66) Li, “China”.

(67) Assim, a China tornou-se um dos principais defensores da globalização nos últimos anos. O Estado chinês às vezes até prega os benefícios do atual mundo liderado pelos E.U.A. aos próprios Estados Unidos. Por exemplo, veja 乐玉成,人民日报人民要论:牢牢把握中美关系发展的正确方向, People’s Daily, September 7, 2020.

(68) Harvey, The New Imperialism, 209–11.

(69) David Harvey, “Anti-Capitalist Chronicles: Global Unrest”, Democracy at Work, December 19, 2019.

(70) Os socialistas na periferia e semiperiferia também enfrentam sérios desafios, que merecem uma discussão separada.

Zhun Xu é um jovem professor associado de economia no John Jay College, da City University of New York, e na Howard University. Os seus principais interesses de pesquisa incluem economia política, desenvolvimento social e economia chinesa. Tem conduzido uma forte crítica às pesquisas convencionais sobre descoletivização na China. É autor do livro From Commune to Capitalism: How China’s Peasants Lost Collective Farming and Gained Urban Poverty, Monthly Review Press, New York, 2018. O autor gostaria de agradecer a Minqi Li, Yaozu Zhang, Ying Chen, Zhongjin Li, Barbara Foley, Corinna Mullin, Anthony O'Brien, Immanuel Ness, Dan Wang, Stuart Davis, Hairong Yan, Han Cheng, e Salvatore Engel-Di Mauro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Guia essencial para a Jacobin

A Jacobin tem divulgado conteúdo socialista em ritmo acelerado desde 2010. Eis aqui um guia prático para algumas das obras mais importantes ...