Nelson Barbosa
O ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) durante evento do PT em maio - Nelson Almeida - 23.mai.2022/AFP |
Os partidos da pré-candidatura Lula e Alckmin lançaram as diretrizes de seu programa de governo. Alguns acharam a proposta muito de esquerda, outros acharam muito de centro, mas o importante é que a chapa "Lulalckmin" também criou uma página na internet para receber sugestões.
A iniciativa é um sinal de apreço pela democracia e diálogo, sobretudo em comparação ao pessoal da terceira via, que sempre tem o mesmo programa, nunca faz autocrítica, mas sempre cobra autocrítica dos outros.
A abertura de Lula e Alckmin para sugestões também é uma luz nestes tempos de desgoverno Bolsonaro, pois uma das funções da Presidência da República é dar exemplo.
Estamos vivendo as consequências negativas dos exemplos de intolerância política e estímulo à violência dados por Bolsonaro e sua turma. O exemplo de Lula e Alckmin é diferente, de respeitar os direitos de todos e de incorporar sugestões, mesmo de quem foi contra os governos do PT no passado.
Sobre as sugestões em si, já fiz algumas no âmbito do PT, mas aproveito este espaço para reforçar três ideias de conhecidos meus. Confesso que as propostas são utópicas, mas campanha eleitoral também é o momento de discutir utopias.
Primeiro, meu amigo Robert Owen sugere que um eventual novo governo do Partido dos Trabalhadores reduza a jornada de trabalho, de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salário por trabalhador, pois a experiência internacional mostra que o aumento da produtividade mais do que compensa o aumento de remuneração por hora trabalhada.
Sei, quero dizer, o meu amigo Owen sabe que há outras prioridades a curto prazo, como reduzir a inflação, recuperar o crescimento e aumentar o emprego, mas, na realidade social e tecnológica do século 21, também seria bom prever uma redução gradual da jornada de trabalho para 40 horas, como já é o caso em vários países avançados.
A transição pode levar de quatro a oito anos, começando, digamos, a partir de 2025, mas é importante sinalizar já mudanças estruturais pró-trabalhador, pois é isso que se espera de um governo do Partido dos Trabalhadores.
Em segundo lugar, outro conhecido meu, Aneurin Bevan, sugere que o PT invista mais em saúde pública, reproduzindo no SUS o que os governos Lula e Dilma fizeram nas universidades federais: dobraram a capacidade de atendimento (de 513 mil alunos, em 2002, para 1,068 milhão, em 2015, segundo dados do site Poder360).
Sei, ops, meu amigo Bevan sabe que dobrar vagas no SUS leva tempo, mas o processo tem que começar já no primeiro ano do eventual governo Lulalckmin, mesmo que seja com emissão de dívida para direcionar mais recursos à saúde pública.
Além da melhora imediata na vida dos mais pobres, Bevan diz que ter bom sistema de saúde pública é o que mais legitima politicamente o Estado do bem-estar social, vide a defesa enfática que britânicos e canadenses fazem de seus sistemas gratuitos e a popularidade do Mais Médicos de Dilma.
A terceira sugestão vem da minha amiga Frances Perkins e vai na mesma linha do Bevan, só que aplicada a creches: aumentar rapidamente a capacidade de atendimento gratuito e de qualidade, em articulação com prefeitos e governadores, com emendas públicas (em vez de secretas) no Orçamento.
Além de melhorar a vida das crianças, lembro, quero dizer, Perkins lembra que investir em creches possibilita às mães que assim quiserem possam trabalhar, aumentando a participação feminina na força de trabalho, o PIB e a arrecadação do governo.
E você? Já fez sua sugestão a Lula e Alckmin?
A iniciativa é um sinal de apreço pela democracia e diálogo, sobretudo em comparação ao pessoal da terceira via, que sempre tem o mesmo programa, nunca faz autocrítica, mas sempre cobra autocrítica dos outros.
A abertura de Lula e Alckmin para sugestões também é uma luz nestes tempos de desgoverno Bolsonaro, pois uma das funções da Presidência da República é dar exemplo.
Estamos vivendo as consequências negativas dos exemplos de intolerância política e estímulo à violência dados por Bolsonaro e sua turma. O exemplo de Lula e Alckmin é diferente, de respeitar os direitos de todos e de incorporar sugestões, mesmo de quem foi contra os governos do PT no passado.
Sobre as sugestões em si, já fiz algumas no âmbito do PT, mas aproveito este espaço para reforçar três ideias de conhecidos meus. Confesso que as propostas são utópicas, mas campanha eleitoral também é o momento de discutir utopias.
Primeiro, meu amigo Robert Owen sugere que um eventual novo governo do Partido dos Trabalhadores reduza a jornada de trabalho, de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salário por trabalhador, pois a experiência internacional mostra que o aumento da produtividade mais do que compensa o aumento de remuneração por hora trabalhada.
Sei, quero dizer, o meu amigo Owen sabe que há outras prioridades a curto prazo, como reduzir a inflação, recuperar o crescimento e aumentar o emprego, mas, na realidade social e tecnológica do século 21, também seria bom prever uma redução gradual da jornada de trabalho para 40 horas, como já é o caso em vários países avançados.
A transição pode levar de quatro a oito anos, começando, digamos, a partir de 2025, mas é importante sinalizar já mudanças estruturais pró-trabalhador, pois é isso que se espera de um governo do Partido dos Trabalhadores.
Em segundo lugar, outro conhecido meu, Aneurin Bevan, sugere que o PT invista mais em saúde pública, reproduzindo no SUS o que os governos Lula e Dilma fizeram nas universidades federais: dobraram a capacidade de atendimento (de 513 mil alunos, em 2002, para 1,068 milhão, em 2015, segundo dados do site Poder360).
Sei, ops, meu amigo Bevan sabe que dobrar vagas no SUS leva tempo, mas o processo tem que começar já no primeiro ano do eventual governo Lulalckmin, mesmo que seja com emissão de dívida para direcionar mais recursos à saúde pública.
Além da melhora imediata na vida dos mais pobres, Bevan diz que ter bom sistema de saúde pública é o que mais legitima politicamente o Estado do bem-estar social, vide a defesa enfática que britânicos e canadenses fazem de seus sistemas gratuitos e a popularidade do Mais Médicos de Dilma.
A terceira sugestão vem da minha amiga Frances Perkins e vai na mesma linha do Bevan, só que aplicada a creches: aumentar rapidamente a capacidade de atendimento gratuito e de qualidade, em articulação com prefeitos e governadores, com emendas públicas (em vez de secretas) no Orçamento.
Além de melhorar a vida das crianças, lembro, quero dizer, Perkins lembra que investir em creches possibilita às mães que assim quiserem possam trabalhar, aumentando a participação feminina na força de trabalho, o PIB e a arrecadação do governo.
E você? Já fez sua sugestão a Lula e Alckmin?
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
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