Nelson Barbosa
O presidente da República, Jair Bolsonaro, em pronunciamento sobre medidas para conter a alta dos combustíveis - Gabriela Biló/Folhapress |
A eleição para síndico se aproxima, e tudo indica que o síndico vagabundo perderá. Também se espera que o novo síndico abra a caixa-preta da administração predial, que evoluiu de temerária a bizarra.
Em desespero, o síndico em vias de ser dispensado e investigado tem uma ideia: "Votem em mim, pois eu vou zerar o condomínio por seis meses!".
Empolgado, o fanfarrão vai mais longe: "Votem em mim pois vocês também não precisarão pagar o IPTU, mas fiquem tranquilos que a prefeitura receberá o dinheiro, pois eu compensarei os cofres municipais pelos boletos não pagos".
Ao lhe ser perguntado como pagará pelas bondades, o mito da administração predial diz: "Gastando o fundo de reserva do prédio ou endividando todos os moradores com o banco, a uma taxa de juro elevada".
E como o capitão do condomínio planeja reequilibrar o orçamento depois de eleito? Anunciando que voltará a cobrar condomínio e que quebrará o piso da vida de todos os moradores, cortando serviços básicos e vendendo o patrimônio do prédio para quem não mora no local.
Parece maluquice? É maluquice. Mas é também mais ou menos o que o governo Bolsonaro anunciou nesta semana.
Desesperado com o risco de desabastecimento ou novo grande reajuste do preço de combustível, o governo federal anunciou que zerará seus tributos por seis meses.
Como a maior parte dos impostos federais já foi cortada no início do ano (as alíquotas federais sobre diesel e gás de cozinha já foram zeradas), a nova desoneração federal terá pequeno impacto sobre o preço final.
Para piorar o quadro, como a defasagem dos preços internos em relação às cotações externas é grande, uma nova desoneração não compensará um novo mega-ajuste interno à paridade internacional, se e quando a Petrobras resolver fazer isso.
Diante da limitação acima, para aumentar a desoneração, o governo federal prometeu compensar os estados que zerarem o ICMS, com mais emissão de dívida pela União, a ser paga via superarrocho fiscal, mas só a partir de janeiro, de modo a não prejudicar a campanha eleitoral de Bolsonaro.
Os detalhes da operação ainda não estão claros, mas não é difícil apontar os problemas. Estimativa preliminares indicam que o governo gastará R$ 50 bilhões em seis meses para baratear gasolina e diesel.
Que o governo tem que fazer algo, é meio óbvio para todos os que não participam das sessões de coaching do movimento "somos livres e sem noção", aquele pessoal que acha quem tem a política econômica certa, mas que o povo não reconhece.
Do lado realista, a questão é quanto e como o governo deve atuar, isto é, tamanho do subsídio e quem pagará. Torrar R$ 50 bilhões para segurar preço de gasolina é exagero em um país onde faltam várias coisas. O ideal é um valor menor, só para o diesel, como já foi feito no passado.
Mais importante, o financiamento deve vir de quem ganhou mais com o aumento dos preços, as empresas que produzem combustível, via aumento temporário da tributação sobre os lucros do petróleo. É isso que alguns países europeus acabaram de fazer.
E é preciso reconhecer que, seja geral ou focalizado, subsídio temporário não resolve problema estrutural: o governo deve preparar a economia brasileira para lidar com volatilidade de preços de combustível, como já foi feito com o câmbio, pelo governo do PT, Lula e Dilma, mas acabou o espaço. Volto ao tema na próxima semana.
Em desespero, o síndico em vias de ser dispensado e investigado tem uma ideia: "Votem em mim, pois eu vou zerar o condomínio por seis meses!".
Empolgado, o fanfarrão vai mais longe: "Votem em mim pois vocês também não precisarão pagar o IPTU, mas fiquem tranquilos que a prefeitura receberá o dinheiro, pois eu compensarei os cofres municipais pelos boletos não pagos".
Ao lhe ser perguntado como pagará pelas bondades, o mito da administração predial diz: "Gastando o fundo de reserva do prédio ou endividando todos os moradores com o banco, a uma taxa de juro elevada".
E como o capitão do condomínio planeja reequilibrar o orçamento depois de eleito? Anunciando que voltará a cobrar condomínio e que quebrará o piso da vida de todos os moradores, cortando serviços básicos e vendendo o patrimônio do prédio para quem não mora no local.
Parece maluquice? É maluquice. Mas é também mais ou menos o que o governo Bolsonaro anunciou nesta semana.
Desesperado com o risco de desabastecimento ou novo grande reajuste do preço de combustível, o governo federal anunciou que zerará seus tributos por seis meses.
Como a maior parte dos impostos federais já foi cortada no início do ano (as alíquotas federais sobre diesel e gás de cozinha já foram zeradas), a nova desoneração federal terá pequeno impacto sobre o preço final.
Para piorar o quadro, como a defasagem dos preços internos em relação às cotações externas é grande, uma nova desoneração não compensará um novo mega-ajuste interno à paridade internacional, se e quando a Petrobras resolver fazer isso.
Diante da limitação acima, para aumentar a desoneração, o governo federal prometeu compensar os estados que zerarem o ICMS, com mais emissão de dívida pela União, a ser paga via superarrocho fiscal, mas só a partir de janeiro, de modo a não prejudicar a campanha eleitoral de Bolsonaro.
Os detalhes da operação ainda não estão claros, mas não é difícil apontar os problemas. Estimativa preliminares indicam que o governo gastará R$ 50 bilhões em seis meses para baratear gasolina e diesel.
Que o governo tem que fazer algo, é meio óbvio para todos os que não participam das sessões de coaching do movimento "somos livres e sem noção", aquele pessoal que acha quem tem a política econômica certa, mas que o povo não reconhece.
Do lado realista, a questão é quanto e como o governo deve atuar, isto é, tamanho do subsídio e quem pagará. Torrar R$ 50 bilhões para segurar preço de gasolina é exagero em um país onde faltam várias coisas. O ideal é um valor menor, só para o diesel, como já foi feito no passado.
Mais importante, o financiamento deve vir de quem ganhou mais com o aumento dos preços, as empresas que produzem combustível, via aumento temporário da tributação sobre os lucros do petróleo. É isso que alguns países europeus acabaram de fazer.
E é preciso reconhecer que, seja geral ou focalizado, subsídio temporário não resolve problema estrutural: o governo deve preparar a economia brasileira para lidar com volatilidade de preços de combustível, como já foi feito com o câmbio, pelo governo do PT, Lula e Dilma, mas acabou o espaço. Volto ao tema na próxima semana.
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