27 de outubro de 2022

Luiz Inácio Lula da Silva: "O Brasil deve voltar a estar presente nos grandes debates internacionais"

O ex-presidente brasileiro, candidato a um novo mandato, defende sua política, que pretende responder à emergência climática e trabalhar por um mundo multipolar.

Luiz Inácio Lula da Silva

Le Monde


No domingo, 30 de outubro, os brasileiros decidirão seu futuro, após quatro anos de ódio, mentiras, negação da ciência e a morte de um número insuportável de nossos cidadãos durante a pandemia de Covid-19. Os brasileiros devem agora escolher um governo que defenda nossa democracia, a paz, uma sociedade unida e o respeito aos direitos de todos, ou prolongar a experiência de um poder que não deixou de nos isolar e envergonhar no mundo.

Após esta longa campanha presidencial em que tive o privilégio de conhecer milhões de brasileiros e brasileiras, e após obter quase 57 milhões de votos no primeiro turno, estou convencido de que, a partir de 1º de janeiro de 2023, o Brasil voltará a ser o país de todo o povo brasileiro, e aparecerá no cenário internacional para contribuir na construção de um mundo melhor.

Hoje, a emergência climática, a desigualdade crescente e as tensões geopolíticas revelam a gravidade da crise que afeta nosso planeta. Infelizmente, Jair Bolsonaro tem continuado a piorar esta situação, praticando o revisionismo climático, minando as instituições de nossa democracia e promovendo a intolerância. Estas características de seu governo fizeram do Brasil um novo pária no cenário internacional. Isto não pode continuar.

O Brasil, sob minha presidência, voltará a se beneficiar de políticas públicas que visem melhorar a vida de nosso povo e inspirar fortes iniciativas em prol da proteção do meio ambiente, em particular da Amazônia, e do combate à pobreza no mundo.

Meu governo também vai reposicionar nosso país no coração dos investidores internacionais para que possamos criar empregos e assim fazer a economia voltar a funcionar em benefício de todos os brasileiros, não apenas de alguns.

"Credibilidade, previsibilidade, estabilidade" será o lema do meu governo. Sei que a situação do Brasil em 2022 é pior do que em 2002, mas tenho a experiência de quem governou em situação de crise: em 2003, assumi o cargo com 10% de inflação e 12% de desemprego. O Brasil devia US$ 30 bilhões ao FMI (mais de € 28 bilhões na época). No final do meu mandato, tínhamos reservas estimadas em mais de US$ 200 bilhões e emprestamos US$ 15 bilhões ao FMI. No final do meu mandato, tínhamos reservas estimadas em mais de 200 bilhões de dólares e emprestamos 15 bilhões de dólares ao FMI.

Meu objetivo agora é fazer mais e melhor. Para isso, é necessário que o Brasil esteja presente de novo nos grandes debates internacionais. Vamos desenvolver uma política externa soberana e ativa. Trabalharemos em prol da paz, do diálogo e da cooperação internacional. Acreditamos em um mundo multipolar e, ao contrário de alguns membros do governo Bolsonaro, não acreditamos que a Terra seja plana e que a mudança climática não exista. Meu governo trabalhará, junto com outros países, para reconstruir o Fundo Amazônia e assim cuidar da floresta amazônica e da biodiversidade.

Na América Latina, vamos reforçar o Mercosul e reativar a integração regional. Não queremos mais que a América Latina se limite à exportação de matérias-primas. Neste sentido, trabalharemos para garantir que nossos países possam mais uma vez se industrializar e fazer progressos tecnológicos. Diante das rivalidades crescentes entre a China e os Estados Unidos, queremos dialogar com todos, e construir uma parceria estratégica com a União Europeia. A melhoria dos termos do acordo Mercosul-UE nos permitirá aumentar nossos fluxos comerciais, aprofundar nossas ligações de confiança e reforçar a defesa de nossos valores comuns.

Por outro lado, a prioridade de meu governo será restabelecer a relação com o continente africano. O Brasil estará presente para ajudar e ampliar a cooperação política, econômica e social com seus países. Acreditamos - e, ao vencer, trabalharemos por - um mundo multipolar unido em torno de valores como a solidariedade, a cooperação, o humanismo e a justiça social. O brasil será presente.

Diante dos desafios de civilizações que vivemos, acreditamos em uma nova governança mundial que deve começar com o alargamento do Conselho de Segurança da ONU e a implementação de novas formas de cooperação entre países.

Acreditamos que um outro Brasil é possível e que outro mundo é possível porque num passado não muito distante começamos a construi-lo.

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Lula é ex-presidente do Brasil (2003-2011) e candidato nas eleições presidencias (Partido dos Trabalhadores)

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