Aaron Benanav
Jacobin
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Ilustração de Mark Pernice |
Wall Street estremece a cada mudança de política. O capital de risco entra e sai da inteligência artificial, da tecnologia da longevidade, da Tesla — de qualquer coisa que pareça ser a próxima grande novidade. As notícias financeiras parecem um carrossel em alta velocidade: gráficos, quedas, recuperações, tokens, bolhas. Tudo parece acontecer ao mesmo tempo.
Ainda assim, a maioria das pessoas sente que nada em suas vidas está se movendo. Os salários mal aumentaram nos últimos anos. A moradia está inacessível. A infraestrutura está se deteriorando. Os empregos oferecem menos segurança, menos benefícios, mais ansiedade. Apesar de todo o movimento no topo da economia, a vida cotidiana parece estagnada. Essa sensação de estagnação não é uma ilusão. Reflete algo real: a economia está estagnada. Apesar da agitação, o crescimento continua lento. Novas indústrias são mais difíceis de surgir, e o padrão de vida melhora em ritmo de tartaruga. A economia tem dificuldade em criar bons empregos, rendas crescentes e oportunidades significativas.
É por isso que a especulação se tornou central no sistema. Ela não é a causa da estagnação; é a forma como o sistema tenta fugir dela. Quando a economia real para de entregar resultados, o capital não fica parado. Ele busca alternativas. Com menos investimentos produtivos rentáveis, o dinheiro flui para qualquer ativo que possa valorizar: imóveis, ações, tokens, modismos.
Isso torna as finanças de hoje muito diferentes do que eram na época de nossos avós. Naquele tempo, a riqueza derivava de quanto dinheiro ela podia gerar. Se investidores ricos compravam uma empresa, era para obter lucros. Se compravam uma casa, era para receber aluguel. O que importava não era apenas o preço do ativo, mas o retorno que ele podia gerar. Isso era o que empurrava o capital para novas indústrias, melhores equipamentos, maior produtividade: a promessa de retornos mais altos. Essa lógica agora entrou em colapso.
Nas últimas décadas, as taxas de retorno sobre investimentos produtivos caíram. O crescimento econômico desacelerou. As taxas de juros, o custo de empréstimos, caíram junto. As empresas estão menos confiantes de que podem expandir com lucro. E quando expandem, muitas vezes é para fora do país.
O governo não apenas permitiu que isso acontecesse; ele ajudou a construir esse cenário. Desde os anos 1980, o Estado desregulou o setor financeiro e injetou dinheiro na economia por meio de crédito barato, cortes de impostos, aumento do déficit e afrouxamento quantitativo. Mas, em vez de gerar uma onda de investimento produtivo, a maior parte desse dinheiro foi para a especulação. Inflou os preços dos ativos, criou bolhas e recompensou os já ricos — tudo isso sem restaurar o dinamismo real da economia.
O resultado é um vasto volume de capital em busca de retorno — mas com poucos bons lugares para investi-lo.
Nesse cenário, muitos investidores passaram a buscar ganhos de capital. A estratégia não é investir em algo que gere renda, mas comprar algo cujo preço vá subir. Imóveis, ações, terrenos, empresas — qualquer coisa que pareça valer mais amanhã do que vale hoje. Isso pode parecer uma mudança sutil, mas o efeito está longe de ser sutil. Você não compra um apartamento para receber aluguel; você o revende com lucro. Você não apoia uma empresa por ser lucrativa; você aposta que sua avaliação vai explodir.
Essa mudança tem consequências profundas. Não altera apenas o que o capital faz. Altera que tipo de empresas são criadas, quais riscos os trabalhadores enfrentam e que tipo de futuro é possível planejar. No modelo antigo, uma empresa atraía investimentos porque vendia um produto lucrativo. No novo modelo, o que importa é crescimento, velocidade, escala e hype. Empresas como Uber e WeWork não foram valorizadas pelos seus lucros. Foram valorizadas por quanta fatia de mercado conseguiam conquistar antes que alguém começasse a fazer perguntas. A esperança era simples: dominar agora, lucrar depois. Cresça o máximo possível, queime dinheiro sem parar, e eventualmente você se tornará essencial demais para falhar.
Essa estratégia faz sentido num mundo onde o crescimento se tornou escasso. Em uma economia de baixo crescimento, as únicas empresas que ganham dinheiro de verdade são aquelas com escala massiva: empresas que conseguem dominar mercados, prender usuários e extrair retornos constantes por pura força de monopólio. Pense em Amazon, Apple, Google e Microsoft, ou gigantes mais antigos como Comcast, Verizon e UnitedHealth. Não são startups explorando novas fronteiras. São gigantes consolidados, sentados sobre infraestrutura essencial — assinaturas, plataformas, logística, dados — e cobrando por isso. Sem um crescimento forte da demanda, a concorrência não gera oportunidades. Ela espreme as margens.
Por isso, o verdadeiro prêmio não é construir algo melhor. É se tornar grande demais para perder. Essa lógica está por trás do atual boom da inteligência artificial. Empresas como OpenAI e Anthropic estão perdendo bilhões de dólares por ano, mas são financiadas por bilhões a mais vindos de gigantes como Microsoft e Amazon, que apostam na próxima grande revolução.
Durante anos, essa estratégia moldou a forma como uma geração viveu a economia. Os serviços pareciam baratos. Você podia chamar um carro, assistir TV sem fim, pedir comida em casa — tudo por menos do que realmente custava oferecer esses serviços. Parecia inovação. Mas, na verdade, era só um subsídio temporário, um presente dos investidores dispostos a perder dinheiro na esperança de um retorno distante.
Esse retorno ainda não chegou. A maioria dessas empresas continua sem lucro. Mas com tanto capital em busca de tão poucos retornos reais, o dinheiro continua fluindo. Não porque os fundamentos sejam sólidos, mas porque não há lugar melhor para colocá-lo.
E não são apenas as empresas que estão se comportando assim. As pessoas também. Num mundo onde o trabalho não compensa e a estabilidade parece inatingível, cada vez mais pessoas buscam outras formas de avançar. Se não dá para conquistar uma vida melhor com trabalho, talvez seja possível apostar nela. O day trading, as criptomoedas e as apostas esportivas explodiram. Durante a pandemia da COVID-19, milhões abriram contas em corretoras — não para poupar para a aposentadoria, mas para apostar em ações meme como AMC e GameStop. Não importava o ativo em si, desde que alguém estivesse disposto a pagar mais por ele no dia seguinte.
Isso não foi apenas uma corrida por dinheiro fácil. Foi uma resposta a uma verdade mais profunda sobre a economia: os caminhos antigos para a estabilidade não funcionam mais. Muitos não se sentem apenas deixados para trás — sentem-se excluídos. A velha promessa — trabalhar duro, economizar, construir aos poucos — não faz mais muito sentido quando o preço da casa dos seus sonhos sobe mais rápido do que o seu salário. Nesse mundo, como argumenta o sociólogo Aris Komporozos-Athanasiou, especular não é imprudência; é sobrevivência. O sistema ensinou às pessoas que o risco é o único caminho para a recompensa. Para alguns poucos sortudos, isso dá certo. Alguém transforma um post no Reddit em uma fortuna com ações meme e vira milionário da noite para o dia. Mas a maioria perde dinheiro e fica ainda mais para trás.
Ainda assim, a especulação não é apenas uma escolha pessoal ou uma tendência cultural. É uma resposta racional a uma falha econômica mais profunda — uma longa desaceleração nas taxas de crescimento que redefiniu o que é possível tanto para empresas quanto para famílias. O investimento em novas indústrias enfraqueceu, os salários ficaram para trás e os tipos de inovação que costumavam impulsionar o crescimento de longo prazo tornaram-se mais difíceis de encontrar.
Uma grande parte dessa história é estrutural. Os países ricos deixaram de produzir bens manufaturados para se concentrar em serviços. Os empregos industriais, que antes elevavam os salários e impulsionavam a produtividade, foram substituídos por trabalhos na educação, saúde, varejo e alimentação — setores onde os ganhos de eficiência são mais lentos. Você pode dobrar a produção de uma fábrica de automóveis, mas não pode dobrar o número de pacientes que uma enfermeira atende sem comprometer a qualidade do atendimento. Isso é importante porque o crescimento da produtividade é o que impulsiona a elevação do padrão de vida. Ele permite que os salários aumentem e os preços se mantenham estáveis. Nos serviços, esse motor engasga. Os ganhos são lentos e os preços sobem mais rápido. Com a produtividade em queda, os serviços essenciais ficaram mais caros, e os orçamentos familiares passaram a se concentrar em saúde, creche, aluguel e mensalidades escolares. As pessoas não pararam de comprar bens, mas passaram a ter menos renda disponível para fazê-lo. Os ganhos que antes iam para uma geladeira ou um carro agora são consumidos por boletos de faculdade e prêmios de seguro.
Essa foi a principal causa da desindustrialização. A produção industrial continuou crescendo, mas a demanda por bens não acompanhou os ganhos de produtividade. Menos trabalhadores foram necessários para produzir mais coisas. Os empregos desapareceram não porque a produção entrou em colapso, mas porque a eficiência aumentou mais rápido do que a demanda. O mesmo aconteceu com a agricultura. Um século atrás, 40% dos trabalhadores americanos viviam da lavoura. Hoje, são menos de 2% — não por causa do comércio, mas porque a produtividade agrícola disparou enquanto a demanda por alimentos se estabilizou.
Mas esse não foi o único freio ao crescimento. Ao mesmo tempo, o crescimento populacional desacelerou. As taxas de natalidade caíram abaixo do nível de reposição. As forças de trabalho começaram a encolher. O crescimento populacional mais lento significava mercados futuros menores. As empresas viam menos motivo para se expandir. Para que construir uma fábrica se não haverá compradores suficientes? O resultado foi um descompasso crescente: mais capital, menos destinos lucrativos. Foi exatamente nesse momento que surgiu a financeirização. Ela foi vendida como uma solução — uma forma de liberar o capital preso em atividades de baixo retorno e canalizá-lo para usos mais produtivos. Desregulamentar, cortar impostos e deixar o mercado agir. Em teoria, o capital liberado iria em busca de oportunidades. Na prática, ele continuou girando em torno do mesmo pequeno círculo de apostas especulativas: imóveis, plataformas de tecnologia, bolhas de ativos.
O problema não eram apenas apostas ruins. À medida que a economia passou da manufatura para os serviços, os caminhos mais óbvios para o crescimento da produtividade se estreitaram. Isso tornou mais difícil encontrar investimentos que oferecessem retornos altos e rápidos. Havia capital de sobra, mas não lugares lucrativos o suficiente para aplicá-lo. Então, em vez disso, a habitação virou ativo financeiro. As bolsas de valores dispararam, mesmo enquanto a vida da maioria das pessoas ficava mais difícil. Quase todos os benefícios dessa atividade financeira foram para o topo. A desigualdade explodiu — e isso agravou a estagnação. À medida que mais renda se concentrava no topo, o poder de compra sumia da economia como um todo, enfraquecendo a demanda e reforçando ainda mais a desaceleração.
Nesse cenário, pessoas talentosas deixaram de construir coisas para passar a gerenciar carteiras. Engenheiros promissores viraram consultores. Cientistas migraram para fundos de investimento ou advocacia corporativa. E, ao longo de tudo isso, a justificativa permanecia a mesma: os mercados sabem o que fazem. O próximo boom está logo ali. Mas ele não veio.
A economia especulativa não é apenas desigual; ela é instável. E deixa para trás necessidades enormes e não atendidas: em moradia, em trabalho de cuidado, em resiliência climática, em infraestrutura pública. Essas não são fontes de lucro rápido — mas são a base de uma vida boa. Na economia atual, não faltam recursos, nem talento humano. O que falta é um sistema que coloque isso em uso. Sim, a economia está crescendo mais devagar. É mais difícil aumentar a produtividade. Os serviços são difíceis de automatizar. As populações estão envelhecendo. Mas isso não significa que não temos mais o que fazer. Significa que os investimentos de que precisamos — aqueles que realmente melhorariam nossas vidas — não são lucrativos do ponto de vista financeiro. Eles geram benefício público, não retorno privado. As finanças nunca vão financiar essas coisas. Mas nós poderíamos.
Poderíamos investir diretamente no que as pessoas realmente precisam: moradias, transporte, escolas, hospitais, energia limpa, espaços coletivos. Não para buscar retorno, mas para melhorar a vida. Nem todo projeto daria certo. Nem toda ideia funcionaria. Mas estaríamos escolhendo que tipo de futuro queremos — e usando nossos recursos coletivos para construí-lo. Não precisamos continuar organizando a sociedade em torno de fundos de investimento e valorizações de ações. Podemos desmontar esses sistemas e substituí-los por instituições desenhadas para direcionar os investimentos para onde eles mais importam.
Isso não é especulação. É planejamento — um processo democrático de fazer avançar visões concorrentes sobre o que é uma vida boa, em todas as áreas da sociedade — da saúde e da educação à energia e à indústria —, escolhendo entre elas e construindo o mundo que queremos, peça por peça.
Colaborador
Aaron Benanav é professor assistente de sociologia na Universidade de Syracuse. Ele é autor de Automation and the Future of Work.
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