24 de dezembro de 2020

Há luz no fim do túnel

Apesar dos desafios econômicos e políticos pela frente, houve grandes avanços na última década

Nelson Barbosa



É natal e resolvi escrever um texto positivo para encerrar 2020.

Tivemos e temos vários desafios econômicos e políticos pela frente, mas também houve grandes avanços na última década, fruto de investimentos e trabalho de várias pessoas, no governo e no setor privado.

Para dar um exemplo de avanços de governo, nesta semana a Folha reconheceu (do seu jeito) a inclusão social promovida pelos governos do PT em nossas universidades. Falo da matéria: “Negros estão na faculdade, e não (só) para fazer faxina”, que menciona a Lei 12.711 de 2012 (Governo Dilma).

Segundo o texto da lei: “As instituições federais de educação superior vinculadas ao Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.”

A Lei 12.711 diz, ainda, que dos 50% destinados a estudantes de escola pública, metade deve ser reservada para “estudantes oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo per capita”.

Seis anos depois, segundo outra matéria da Folha: “Pela primeira vez, há mais pretos e pardos no ensino superior público no Brasil do que brancos, (...) Os dados, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), são de 2018 e apontam 50,3% de pretos e pardos nas universidades públicas brasileiras. Apesar do aumento, ainda havia subrepresentação do primeiro grupo —na população em geral, 55,8% são negros (pretos e pardos, pelo critério do IBGE).”

Outra boa notícia da década 2011-20 veio do setor de energia, fruto de investimentos de empresas com incentivo governamental. Falo da queda do custo de fontes de energia renovável, sobretudo de energia solar e eólica nos últimos 10 anos.

Em texto no site “Our World in Data”, Max Roser relata que, de 2009 a 2019, houve queda de 89% do custo de geração de energia solar, e de 70% de energia eólica. As estatísticas consideram o valor do investimento (Capex) e despesas correntes (Opex) para construir novas usinas sem subsídio.

Para os leitores interessados, o texto de Rose detalha como foi possível reduzir o custo de geração solar e eólica tão rapidamente, mas isto não é novidade na história humana.

Novas tecnologias tendem a começar caras (lembrem dos primeiros telefones celulares) e depois se tornar baratas devido a economias de escala (aumento do volume de produção) e de aprendizado (aperfeiçoamento do processo produtivo), além de novas inovações ao longo do processo.

No caso da energia, chegamos ao final desta década com usinas solares e eólicas tendo implantação mais barata do que usinas que queimam combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás). O mercado já reagiu à mudança de custo. Segundo Roser, fontes renováveis responderam por 72% da expansão de capacidade de geração elétrica no mundo em 2019.

A queda dos preços de fontes renováveis de energia cria esperança de um desenvolvimento mais sustentável. Além disso, a reconversão da matriz energética do mundo para fontes mais renováveis também oferece oportunidades de investimento e geração de emprego aos países que souberem aproveitar seu potencial na nova tecnologia.

O Brasil tem grande potencial para avançar nas duas frentes, eólica e solar, fornecendo energia barata para a agricultura, indústria e serviços, e gerando milhões de empregos na transição entre tecnologias com, espero, com inclusão social.

Feliz natal a todos!

Sobre o autor

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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