Mariátegui foi um marxista atípico para seu tempo: indobrável e flexível, intransigente em seu socialismo, mas também surpreendentemente plástico e sem preconceitos em seus múltiplos interesses. Esta dupla condição faz com que não perca a validade e é um dos seus legados mais valiosos.
Entrevista com
Martín Bergel
José Carlos Mariátegui no restaurante IL Picollo Edén em Nervi, Gênova, Itália, novembro de 1920. (Via Wikimedia Commons) |
Entrevista por
Leonardo FrieiroNão é fácil abordar a obra de José Carlos Mariátegui sem ao menos um mínimo guia de leitura que nos ajude a lidar com a estridência de um corpus diverso, fracionário, até incompleto, e tudo isso ao mesmo tempo.
Entre aqueles que se propuseram a aproximar a obra de Mariátegui de novos —e não tão novos— leitores, o historiador e pesquisador Martín Bergel tornou-se uma referência incontornável. Se com a Antologia (2021) Bergel nos propôs a reler Mariátegui a partir de uma nova perspectiva —a do socialismo cosmopolita—, agora com a publicação de Aventura y Revolución Mundial (2022) ele nos encoraja a dar um passo adiante com uma operação desafiadora: identificar a genealogia das ideias de Mariátegui através de uma faceta crucial de sua efêmera biografia: a viagem.
Assim, por meio dos textos de viagem, Bergel percorre as buscas, as inquietações —as mais profundas e também as mais mundanas—, a devoção e o enorme esforço intelectual que o autor peruano dedicou a conhecer e compreender realidades que, embora lhe sejam extremamente distantes, ele entendia essenciais na busca apaixonada por conhecer o cenário mundial que lhe era contemporâneo.
Da Revista Jacobin conversamos com Martín Bergel sobre seu itinerário intelectual, seu encontro com Mariátegui e sua proposta de leitura para se aproximar daquele que foi considerado "o primeiro marxista da América". Claro, também falamos sobre a validade do pensamento político de Mariátegui quando se trata de testar uma crítica socialista das condições atuais do capitalismo global contemporâneo.
Leonardo Frieiro
Há algum tempo você vem trabalhando na figura e no pensamento de José Carlos Mariátegui. Um desafio particular por se tratar de um autor que, apesar da radical novidade de seus escritos para o marxismo latino-americano, possui uma obra fragmentária e também inacabada. Como surgiu seu interesse em reapropriar-se do corpus mariateguiano?
Martín Bergel
Meu interesse pela obra e pela figura de Mariátegui remonta a algumas décadas, e veio em ondas (como costuma acontecer nas atrações intelectuais, no meu caso também atravessado pelos ritmos descontínuos das obrigações acadêmicas que fazem meu trabalho remunerado). Acho que, olhando para trás, consigo distinguir três momentos da minha relação com Mariátegui.
Em primeiro lugar, suponho que a referência de Mariátegui foi incontornável no ambiente do curso de história da Faculdade de Filosofia e Letras da UBA onde me formei nos anos 1990 e início dos anos 2000 (e não apenas por ser um dos melhores grupos estudantis conhecidos nesta área levavam o nome do peruano). Em todo caso, essa referência era apenas um nome e algumas imagens, já que Mariátegui quase não era lido na Faculdade da rua Puan. Ao contrário, parece-me que, antes e agora, está acontecendo algo que está na base de minhas intenções quando me envolvo na elaboração de antologias de seus textos: a Mariátegui se supõe, se imagina, mais do que se lê. Certamente existem várias razões pelas quais isso acontece, e posso dizer algo sobre isso mais tarde.
Assim, mais do que o clima geral do curso de história da UBA, foram vínculos mais concretos e decisivos que me apresentaram pela primeira vez a Mariátegui. Em 1997 estudei a apaixonante disciplina Pensamento Argentino e Latino-Americano, cujo professor titular era Oscar Terán. Terán foi um dos grandes professores de Puan por mais de duas décadas, e suas aulas, repletas de alunos, eram cativantes. Eles foram tão importantes para mim que alguns anos depois, em 2001, entrei na cadeira como afiliado, ao mesmo tempo em que comecei a frequentar seu Seminário de História das Ideias, Intelectuais e Cultura no Instituto Ravignani da UBA (o seminário que, após sua morte, leva seu nome).
Mas antes mesmo de chegar perto dessas áreas, em uma Feira do Livro consegui um exemplar perdido de Discute Mariátegui, o livro que Terán havia publicado no México em 1985, e que mesmo então, e principalmente em Buenos Aires, estava quase indisponível (muitos anos depois, em 2017, fiquei encarregado de sua reedição por meio de uma pequena editora). Como se sabe, desde seu exílio mexicano, Terán foi —junto com outras figuras como Pancho Aricó, Alberto Flores Galindo, Antonio Melis, Carlos Franco e Robert Paris— um dos nomes mais importantes da geração que redescobriu Mariátegui no final da década de 70 (denominado "geração de Sinaloa", por um congresso que os reuniu em 1980 na Universidade daquele estado mexicano). Bem, aquele livro de Terán, que li com prazer, serviu de introdução a Mariátegui, e o peruano esteve em muitas das conversas que tive com ele quando começou a orientar minha tese de doutorado.
Paralelamente, estava ligado a Horacio Tarcus, e passei a ser colaborador próximo do CeDInCI (Centro de Documentação e Pesquisa da Cultura de Esquerda) desde sua fundação, no final dos anos 1990. Entre outras atividades, fui parte do coletivo editor das revistas El Rodaballo e Políticas de la Memoria, além de —já nos anos 2000— ser um dos promotores, junto com Adriana Petra, Laura Fernández Cordero e, claro, o próprio Tarcus, do congresso de história das esquerdas organizados a cada dois anos pelo CeDInCI. Nessas áreas, também eram comuns as referências ou discussões sobre Mariátegui (por exemplo, com base em um livro que Tarcus publica em sua editora El Cielo por Asalto no qual consta a correspondência de Mariátegui com o argentino Samuel Glusberg e o norte-americano Waldo Frank).
Um segundo momento, mais decisivo, ocorreu a partir de 2005. Naquele ano, o Congresso CeDInCI teve como tema os exilados na história latino-americana, perspectiva que então se destacava entre os historiadores latino-americanos. Decidi então iniciar uma investigação e apresentar um trabalho sobre os exilados apristas na Argentina na década de 1920, especialmente duas figuras importantes, Manuel Seoane e Luis Heysen. Este trabalho, posteriormente publicado em Políticas de la Memoria, iniciou um longo cerco à história da APRA no período entreguerras, que fiz paralelamente à minha tese de doutorado e que resultou em numerosos ensaios, posteriormente reunidos no livro La Desmesura revolucionário que foi publicado há alguns anos em Lima pela editora La Siniestra.
Mas esse percurso não esteve dissociado de preocupações intelectuais e políticas mais imediatas. Desde o final dos anos 90 e início dos anos 2000, estive muito envolvido nas redes e atividades do movimento alterglobalização, particularmente no processo do Fórum Social Mundial nascido em Porto Alegre. Em uma edição do Fórum, em 2005, estreitei laços com jovens peruanos, vindos da militância universitária e do Movimiento Raíz. Vários deles, como Anahí Durand, Teresa Cabrera, Jorge Miyagui, Hernán Maldonado, Carlos Alberto Adrianzén e Irma Pflucker, trilharam desde então caminhos de encruzilhada entre a vida intelectual e artística e a militância política. Nesse Fórum também me relacionei com o finlandês Teivo Teivainen, que dirigia o programa "Democracia e Transformação Global" da Universidade de San Marcos.
Mas também, acho que nesse movimento de relativizar a importância de Mariátegui, parece-me que ele também jogava um certo cansaço com a deificação de sua figura, uma deificação que se fazia a partir de um roteiro estabelecido que voltava repetidamente a um conjunto de lugares comuns (a citação sobre o "calco y copia", a forma de se referir a ele como "o Amauta", etc.). Esses gestos adocicados, que também deixaram Terán nervoso sobre o fim de sua vida —quando também relia a revista Amauta— me afastaram de inspeções mais profundas.
Entre aqueles que se propuseram a aproximar a obra de Mariátegui de novos —e não tão novos— leitores, o historiador e pesquisador Martín Bergel tornou-se uma referência incontornável. Se com a Antologia (2021) Bergel nos propôs a reler Mariátegui a partir de uma nova perspectiva —a do socialismo cosmopolita—, agora com a publicação de Aventura y Revolución Mundial (2022) ele nos encoraja a dar um passo adiante com uma operação desafiadora: identificar a genealogia das ideias de Mariátegui através de uma faceta crucial de sua efêmera biografia: a viagem.
Assim, por meio dos textos de viagem, Bergel percorre as buscas, as inquietações —as mais profundas e também as mais mundanas—, a devoção e o enorme esforço intelectual que o autor peruano dedicou a conhecer e compreender realidades que, embora lhe sejam extremamente distantes, ele entendia essenciais na busca apaixonada por conhecer o cenário mundial que lhe era contemporâneo.
Da Revista Jacobin conversamos com Martín Bergel sobre seu itinerário intelectual, seu encontro com Mariátegui e sua proposta de leitura para se aproximar daquele que foi considerado "o primeiro marxista da América". Claro, também falamos sobre a validade do pensamento político de Mariátegui quando se trata de testar uma crítica socialista das condições atuais do capitalismo global contemporâneo.
Leonardo Frieiro
Há algum tempo você vem trabalhando na figura e no pensamento de José Carlos Mariátegui. Um desafio particular por se tratar de um autor que, apesar da radical novidade de seus escritos para o marxismo latino-americano, possui uma obra fragmentária e também inacabada. Como surgiu seu interesse em reapropriar-se do corpus mariateguiano?
Martín Bergel
Meu interesse pela obra e pela figura de Mariátegui remonta a algumas décadas, e veio em ondas (como costuma acontecer nas atrações intelectuais, no meu caso também atravessado pelos ritmos descontínuos das obrigações acadêmicas que fazem meu trabalho remunerado). Acho que, olhando para trás, consigo distinguir três momentos da minha relação com Mariátegui.
Em primeiro lugar, suponho que a referência de Mariátegui foi incontornável no ambiente do curso de história da Faculdade de Filosofia e Letras da UBA onde me formei nos anos 1990 e início dos anos 2000 (e não apenas por ser um dos melhores grupos estudantis conhecidos nesta área levavam o nome do peruano). Em todo caso, essa referência era apenas um nome e algumas imagens, já que Mariátegui quase não era lido na Faculdade da rua Puan. Ao contrário, parece-me que, antes e agora, está acontecendo algo que está na base de minhas intenções quando me envolvo na elaboração de antologias de seus textos: a Mariátegui se supõe, se imagina, mais do que se lê. Certamente existem várias razões pelas quais isso acontece, e posso dizer algo sobre isso mais tarde.
Assim, mais do que o clima geral do curso de história da UBA, foram vínculos mais concretos e decisivos que me apresentaram pela primeira vez a Mariátegui. Em 1997 estudei a apaixonante disciplina Pensamento Argentino e Latino-Americano, cujo professor titular era Oscar Terán. Terán foi um dos grandes professores de Puan por mais de duas décadas, e suas aulas, repletas de alunos, eram cativantes. Eles foram tão importantes para mim que alguns anos depois, em 2001, entrei na cadeira como afiliado, ao mesmo tempo em que comecei a frequentar seu Seminário de História das Ideias, Intelectuais e Cultura no Instituto Ravignani da UBA (o seminário que, após sua morte, leva seu nome).
Mas antes mesmo de chegar perto dessas áreas, em uma Feira do Livro consegui um exemplar perdido de Discute Mariátegui, o livro que Terán havia publicado no México em 1985, e que mesmo então, e principalmente em Buenos Aires, estava quase indisponível (muitos anos depois, em 2017, fiquei encarregado de sua reedição por meio de uma pequena editora). Como se sabe, desde seu exílio mexicano, Terán foi —junto com outras figuras como Pancho Aricó, Alberto Flores Galindo, Antonio Melis, Carlos Franco e Robert Paris— um dos nomes mais importantes da geração que redescobriu Mariátegui no final da década de 70 (denominado "geração de Sinaloa", por um congresso que os reuniu em 1980 na Universidade daquele estado mexicano). Bem, aquele livro de Terán, que li com prazer, serviu de introdução a Mariátegui, e o peruano esteve em muitas das conversas que tive com ele quando começou a orientar minha tese de doutorado.
Paralelamente, estava ligado a Horacio Tarcus, e passei a ser colaborador próximo do CeDInCI (Centro de Documentação e Pesquisa da Cultura de Esquerda) desde sua fundação, no final dos anos 1990. Entre outras atividades, fui parte do coletivo editor das revistas El Rodaballo e Políticas de la Memoria, além de —já nos anos 2000— ser um dos promotores, junto com Adriana Petra, Laura Fernández Cordero e, claro, o próprio Tarcus, do congresso de história das esquerdas organizados a cada dois anos pelo CeDInCI. Nessas áreas, também eram comuns as referências ou discussões sobre Mariátegui (por exemplo, com base em um livro que Tarcus publica em sua editora El Cielo por Asalto no qual consta a correspondência de Mariátegui com o argentino Samuel Glusberg e o norte-americano Waldo Frank).
Um segundo momento, mais decisivo, ocorreu a partir de 2005. Naquele ano, o Congresso CeDInCI teve como tema os exilados na história latino-americana, perspectiva que então se destacava entre os historiadores latino-americanos. Decidi então iniciar uma investigação e apresentar um trabalho sobre os exilados apristas na Argentina na década de 1920, especialmente duas figuras importantes, Manuel Seoane e Luis Heysen. Este trabalho, posteriormente publicado em Políticas de la Memoria, iniciou um longo cerco à história da APRA no período entreguerras, que fiz paralelamente à minha tese de doutorado e que resultou em numerosos ensaios, posteriormente reunidos no livro La Desmesura revolucionário que foi publicado há alguns anos em Lima pela editora La Siniestra.
Mas esse percurso não esteve dissociado de preocupações intelectuais e políticas mais imediatas. Desde o final dos anos 90 e início dos anos 2000, estive muito envolvido nas redes e atividades do movimento alterglobalização, particularmente no processo do Fórum Social Mundial nascido em Porto Alegre. Em uma edição do Fórum, em 2005, estreitei laços com jovens peruanos, vindos da militância universitária e do Movimiento Raíz. Vários deles, como Anahí Durand, Teresa Cabrera, Jorge Miyagui, Hernán Maldonado, Carlos Alberto Adrianzén e Irma Pflucker, trilharam desde então caminhos de encruzilhada entre a vida intelectual e artística e a militância política. Nesse Fórum também me relacionei com o finlandês Teivo Teivainen, que dirigia o programa "Democracia e Transformação Global" da Universidade de San Marcos.
Como resultado desses contatos, fiz minha primeira viagem ao Peru em maio de 2006, e desde então meu interesse pela história intelectual e política peruana do período entreguerras não parou de crescer e se alimentar de viagens sucessivas a Lima e outras cidades peruanas como como Cajamarca e Trujillo. Nessas viagens, sempre intensas, trabalhei em inúmeros arquivos e bibliotecas, visitei inúmeros sebos onde construí um patrimônio bibliográfico sobre a história peruana, conheci e entrevistei dezenas de ex-militantes e famílias ligadas à tradição aprista.
Embora meu interesse principal fosse a história da APRA (menos a de Haya de la Torre do que toda a geração de intelectuais e escritores que a apoiaram nas décadas de 1920 e 1930), essa viagem em 2006 também significou uma imersão em Mariátegui e seus mundos. Também adquiri vorazmente tudo o que pude colecionar sobre Mariátegui, desde os dois volumes do Mariátegui Total que Sandro Mariátegui (o filho mais velho) me deu, até muitos ensaios e trabalhos sobre sua obra. Por exemplo, nessa viagem adquiri as Obras Completas de Alberto Flores Galindo.
Na viagem seguinte a Lima, em 2008, por intermédio do sociólogo Osmar Gonzales, participei de um congresso pelos 80 anos dos Sete Ensaios. Lá preparei meu primeiro ensaio sobre Mariátegui, que foi publicado alguns anos depois sob o título "Oriente y Occidente en el pensamiento de Mariátegui". Penso agora que na escolha deste tema, que reconstrói a parábola de ambas as noções no itinerário mariateguiano da maturidade, já se fazia presente uma busca de localizar Mariátegui em coordenadas espaciais diferentes das usuais, como um intelectual que deveria ser lido no cenário global de seu tempo.
Em todo caso, naqueles anos meu principal interesse era a história da APRA, que li também em suas redes transnacionais e nas práticas intelectuais e políticas que cercaram seu excessivo compromisso com a construção de um movimento revolucionário americano em escala internacional. Nesse quadro, na medida em que os jovens apristas se assumiam também como marxistas, tendia a situar Mariátegui como uma figura que se destacava, mas fazia parte da geração emergente no Peru dos anos 1920, cujo traço geral era a busca de uma liga, em diferentes doses, entre a vanguarda estética e a vanguarda política (digamos, colocou Mariátegui ao lado de outras figuras como Magda Portal, Esteban Pavletich, Manuel Seoane e Haya de la Torre e os próprios Eudocio Ravines, entre outros).
Pareceu-me mesmo que a controvérsia entre Haya e Mariátegui havia sido mal interpretada, superideologizada, e que uma leitura a partir das ferramentas da história intelectual (por exemplo, do contextualismo de Quentin Skinner, mas também da atenção aos suportes materiais da controvérsia , começando com a especificidade da cultura epistolar) qualificaria ou especificaria as diferenças entre os dois.
Mas também, acho que nesse movimento de relativizar a importância de Mariátegui, parece-me que ele também jogava um certo cansaço com a deificação de sua figura, uma deificação que se fazia a partir de um roteiro estabelecido que voltava repetidamente a um conjunto de lugares comuns (a citação sobre o "calco y copia", a forma de se referir a ele como "o Amauta", etc.). Esses gestos adocicados, que também deixaram Terán nervoso sobre o fim de sua vida —quando também relia a revista Amauta— me afastaram de inspeções mais profundas.
No entanto, em uma terceira etapa que se abre por volta de 2015, finalmente mergulhei em uma leitura atenta de todo o Mariátegui e uma nova avaliação de sua estatura e excepcionalidade intelectual. Esse momento se abre de forma um tanto curiosa, com o convite de um professor uruguaio que lecionava em uma universidade de Xangai para preparar uma antologia dos textos de Mariátegui em chinês. Por razões insondáveis para mim, esse projeto acabou não se concretizando, mas me fez pensar em como organizar efetivamente uma antologia de seus textos que fosse representativa de toda a sua obra e, ao mesmo tempo, propor uma leitura renovada dela. Interessava-me justamente discutir e desestabilizar alguns dos lugares-comuns que pesavam sobre as imagens atuais de Mariátegui. É nesta instância, então, que proponho à editora Siglo XXI a produção de uma antologia desta tonalidade, que após vários anos de trabalho é publicada no início da pandemia, em maio de 2020.
Paralelamente, nesses anos desenvolvi alguns trabalhos correlatos, como a já citada reedição de Discutir Mariátegui, de Terán, pequeno trabalho em que coloquei Mariátegui e seu ensaio "El proceso de la literatura" em relação aos debates contemporâneos sobre a chamada literatura mundial, e, a convite de Michael Hardt e Sandro Mezzadra, um ensaio sobre o lugar da Revolução Russa em Mariátegui, para uma edição especial da revista South Atlantic Quarterly pelos cem anos do triunfo bolchevique.
É neste quadro de elaboração destas obras e, sobretudo, da Antologia para a Século XXI, quadro que foi estimulado pelo estreitamento de laços com um grupo de investigadores... A começar, com Ricardo Portocarrero, com com quem mantenho desde então uma conversa constante, mas também com José Carlos Mariátegui Ezeta, neto de Mariátegui e criador do Archivo Digital José Carlos Mariátegui, projeto relativamente recente que tem sido fundamental para o desdobramento de um conjunto de novas leituras do autor do Sete Ensaios, e depois com uma série de pessoas que também revisam diferentes aspectos da trajetória mariateguiana (e rapidamente menciono aqui Álvaro Campuzano, Natalia Majluf, Mónica Bernabé, Paulo Drinot, Claudio Lomnitz e Víctor Vich, entre outros).
É nesse quadro, dizia, que frutificam as operações que fundamentam minha releitura geral de Mariátegui como intérprete da modernidade global e como socialista cosmopolita. A nova antologia que acabei de publicar no final do ano passado, Aventura y revolución mundial. Escritos alrededor del viaje, para a "Série Viajeros/Viajeras" dirigida por Alejandra Laera no Fondo de Cultura Económica, é um subproduto de todo esse processo.
Martín Bergel
Você observou que Mariátegui é mais imaginado do que lido. Na introdução à Antologia, você até escreveu que diferentes gerações que redescobriram Mariátegui acabaram cometendo os mesmos — vamos chamá-los — "erros" que tendem a superestimar o peso da questão da nação e dos nacionalismos na América Latina para moldar uma leitura da Mariátegui que busca registrá-lo na corrente nacional-popular da esquerda latino-americana.
Por que você acha que isso aconteceu (e de alguma forma ainda acontece), já que a própria obra de Mariátegui parece ter algumas virtudes —textos curtos sobre temas específicos e uma forma de escrita que combina o ensaio com o gênero jornalístico— que tornaria difícil, ou peloo menos com profundos problemas profundos de consistência, chegar a esse tipo de conclusões?
Martín Bergel
Yo no sé si usaría la palabra errores, pero sí sesgos muy notables. Algunos lectores de mis antologías sugirieron que yo escogí textos marginales de Mariátegui para ilustrar su avidez cosmopolita. ¡Pero no! Son los textos que publicaba semana a semana en las revistas limeñas Variedades, Mundial (y esto es bien interesante: incluso en su sección «Peruanicemos el Perú», que había heredado del periodista Gastón Rogger) o mensualmente en Amauta, son los textos que luego agrupa en libros como La escena contemporánea o Defensa del marxismo y El alma matinal y otras estaciones del mundo de hoy (estos últimos dos, listos para ser publicados cuando lo sorprende la muerte en 1930).
Incluso parece que, según muestra un artículo que Martín Cortés dedicó a reconstruir las alternativas y debates del Congreso de Sinaloa de 1980 (que se publicó en la revista mexicana Cuadernos Americanos hace unos años), Aricó, Terán y otros asistentes reconocían que en esos debates había quedado sin considerar una parte sustantiva de los textos de Mariátegui. En los recuerdos de otro asistente a ese encuentro, Mario Goloboff —al parecer el único que presentó en Sinaloa una ponencia sobre sobre los ensayos literarios del peruano, que son abundantes—, las orientaciones políticas sobredeterminaron las discusiones que tuvieron lugar en el Congreso.
De modo que es bastante curioso que una masa muy importante de textos de Mariátegui no sea considerada incluso por muchos de sus estudiosos (por eso decía al comienzo que uno de mis propósitos al preparar estas antologías era incitar a la lectura directa de los propios escritos de Mariátegui).
Para tratar de ensayar alguna respuesta que explique esas «desatenciones» se me ocurren algunas razones. Señalo dos. En primer lugar, contra lo que se pueda creer, esos ensayos breves de Mariátegui no son siempre de lectura sencilla. Algunos resultan de difícil colocación, otros arrancan hacia un argumento o tema y luego siguen hacia otro, otros parecen interrumpirse más que terminar, etc. Hay que considerar que son textos que se escribían en un rato, a modo de ráfagas producidas en pocas horas para ser publicadas semanalmente en Mundial o Variedades.
Pero además, al releerlos hoy comprobamos que Mariátegui era un autor exigente para con sus lectores: aludía a una multitud de referencias, hechos y nombres sin acompañarlos de explicaciones o contextualizaciones. En ese sentido, creo que la metáfora habitual de Mariátegui como «traductor» pasa por alto el hecho de que más que ser un autor que traduce, es un autor que no-traduce, que supone o exige un lector muy curioso por las novedades contemporáneas. Tanto, que para entender cabalmente algunas de esas referencias a veces hoy es conveniente leerlo con Wikipedia (para saber mejor quién era el fascista Farinacci, quiénes los escritores rusos Fiodor Gladkov o Larissa Reissner, o qué cosa la efímera pero ruidosa corriente que en 1930 irrumpe en Francia bajo el nombre de «populismo literario»: uno de los últimos ensayos de Mariátegui en Amauta está dedicado a esa corriente).
La segunda razón tiene que ver con la ansiedad con que Mariátegui es leído sobre todo desde fines de los años 70 como el nexo que las izquierdas intelectuales y políticas habían estado buscando entre marxismo y nación. Eso se observa en los textos de Terán sobre Mariátegui cercanos al Congreso de Sinaloa (publica varios, algunos de ellos en la revista Controversia del exilio intelectual mexicano).
Es decir: sabemos muy bien —entre otras cosas gracias al magistral libro posterior de Terán, Nuestros años sesentas— que las izquierdas intelectuales se «nacionalizan» desde los años 60, si no antes (al menos, en Argentina, desde el grupo Contorno); que Abelardo Ramos y Rodolfo Puiggrós publican ensayos que tienen gran éxito de público y que promueven abierta y repetidamente esa fusión entre marxismo y nacionalismo; que otro tanto está ocurriendo en muchos países del continente, por ejemplo, con algunos intelectuales del ISEB brasilero, o con algunos de los muchos colaboradores de la revista Marcha en Uruguay, etc., etc.
Pues bien, sobre el cierre de ese ciclo, a fines de los años 70, Aricó y otros detectan en Mariátegui al intelectual que venía a mostrar que esa anhelada fusión tenía este antecedente tan ilustre y tan inspirador, que mostraba que había una tradición digamos «orgánica» de pensamiento marxista sobre la nación en América Latina. Bueno, esa operación, que de diversos modos llega hasta hoy, con investigadores que básicamente repiten el libreto de Aricó, inhibió más o menos directamente la lectura de la masa (y de verdad que es una masa) de textos de Mariátegui que no abonan esa lectura.
Leonardo Frieiro
Sobre esto último que señalás, me resulta interesante notar que la ruptura de las lecturas de Mariátegui desde el nacionalismo-popular también se relacionan con una época —por usar una noción del propio Mariátegui— en la que la globalización ha erosionado a los proyectos, los relatos y las identidades nacionales. En uno de tus textos anteriores remarcaste la importancia de la noción de crisis, globalmente entendida, como una preocupación central, constante, en el itinerario intelectual de Mariátegui.
En base a tu propuesta de lectura, ¿creés que podemos hacer una crítica cosmopolita a la globalización y a sus efectos? ¿Pensás que el socialismo cosmopolita de Mariátegui puede ser llevado a las discusiones actuales de las izquierdas?
Yo no sé si usaría la palabra errores, pero sí sesgos muy notables. Algunos lectores de mis antologías sugirieron que yo escogí textos marginales de Mariátegui para ilustrar su avidez cosmopolita. ¡Pero no! Son los textos que publicaba semana a semana en las revistas limeñas Variedades, Mundial (y esto es bien interesante: incluso en su sección «Peruanicemos el Perú», que había heredado del periodista Gastón Rogger) o mensualmente en Amauta, son los textos que luego agrupa en libros como La escena contemporánea o Defensa del marxismo y El alma matinal y otras estaciones del mundo de hoy (estos últimos dos, listos para ser publicados cuando lo sorprende la muerte en 1930).
Incluso parece que, según muestra un artículo que Martín Cortés dedicó a reconstruir las alternativas y debates del Congreso de Sinaloa de 1980 (que se publicó en la revista mexicana Cuadernos Americanos hace unos años), Aricó, Terán y otros asistentes reconocían que en esos debates había quedado sin considerar una parte sustantiva de los textos de Mariátegui. En los recuerdos de otro asistente a ese encuentro, Mario Goloboff —al parecer el único que presentó en Sinaloa una ponencia sobre sobre los ensayos literarios del peruano, que son abundantes—, las orientaciones políticas sobredeterminaron las discusiones que tuvieron lugar en el Congreso.
De modo que es bastante curioso que una masa muy importante de textos de Mariátegui no sea considerada incluso por muchos de sus estudiosos (por eso decía al comienzo que uno de mis propósitos al preparar estas antologías era incitar a la lectura directa de los propios escritos de Mariátegui).
Para tratar de ensayar alguna respuesta que explique esas «desatenciones» se me ocurren algunas razones. Señalo dos. En primer lugar, contra lo que se pueda creer, esos ensayos breves de Mariátegui no son siempre de lectura sencilla. Algunos resultan de difícil colocación, otros arrancan hacia un argumento o tema y luego siguen hacia otro, otros parecen interrumpirse más que terminar, etc. Hay que considerar que son textos que se escribían en un rato, a modo de ráfagas producidas en pocas horas para ser publicadas semanalmente en Mundial o Variedades.
Pero además, al releerlos hoy comprobamos que Mariátegui era un autor exigente para con sus lectores: aludía a una multitud de referencias, hechos y nombres sin acompañarlos de explicaciones o contextualizaciones. En ese sentido, creo que la metáfora habitual de Mariátegui como «traductor» pasa por alto el hecho de que más que ser un autor que traduce, es un autor que no-traduce, que supone o exige un lector muy curioso por las novedades contemporáneas. Tanto, que para entender cabalmente algunas de esas referencias a veces hoy es conveniente leerlo con Wikipedia (para saber mejor quién era el fascista Farinacci, quiénes los escritores rusos Fiodor Gladkov o Larissa Reissner, o qué cosa la efímera pero ruidosa corriente que en 1930 irrumpe en Francia bajo el nombre de «populismo literario»: uno de los últimos ensayos de Mariátegui en Amauta está dedicado a esa corriente).
La segunda razón tiene que ver con la ansiedad con que Mariátegui es leído sobre todo desde fines de los años 70 como el nexo que las izquierdas intelectuales y políticas habían estado buscando entre marxismo y nación. Eso se observa en los textos de Terán sobre Mariátegui cercanos al Congreso de Sinaloa (publica varios, algunos de ellos en la revista Controversia del exilio intelectual mexicano).
Es decir: sabemos muy bien —entre otras cosas gracias al magistral libro posterior de Terán, Nuestros años sesentas— que las izquierdas intelectuales se «nacionalizan» desde los años 60, si no antes (al menos, en Argentina, desde el grupo Contorno); que Abelardo Ramos y Rodolfo Puiggrós publican ensayos que tienen gran éxito de público y que promueven abierta y repetidamente esa fusión entre marxismo y nacionalismo; que otro tanto está ocurriendo en muchos países del continente, por ejemplo, con algunos intelectuales del ISEB brasilero, o con algunos de los muchos colaboradores de la revista Marcha en Uruguay, etc., etc.
Pues bien, sobre el cierre de ese ciclo, a fines de los años 70, Aricó y otros detectan en Mariátegui al intelectual que venía a mostrar que esa anhelada fusión tenía este antecedente tan ilustre y tan inspirador, que mostraba que había una tradición digamos «orgánica» de pensamiento marxista sobre la nación en América Latina. Bueno, esa operación, que de diversos modos llega hasta hoy, con investigadores que básicamente repiten el libreto de Aricó, inhibió más o menos directamente la lectura de la masa (y de verdad que es una masa) de textos de Mariátegui que no abonan esa lectura.
Leonardo Frieiro
Sobre esto último que señalás, me resulta interesante notar que la ruptura de las lecturas de Mariátegui desde el nacionalismo-popular también se relacionan con una época —por usar una noción del propio Mariátegui— en la que la globalización ha erosionado a los proyectos, los relatos y las identidades nacionales. En uno de tus textos anteriores remarcaste la importancia de la noción de crisis, globalmente entendida, como una preocupación central, constante, en el itinerario intelectual de Mariátegui.
En base a tu propuesta de lectura, ¿creés que podemos hacer una crítica cosmopolita a la globalización y a sus efectos? ¿Pensás que el socialismo cosmopolita de Mariátegui puede ser llevado a las discusiones actuales de las izquierdas?
Martín Bergel
Es una pregunta muy interesante, sobre la que no puedo más que aventurar respuestas tentativas. Es interesante y compleja, porque además implica adentrarse en los debates contemporáneos sobre cosmopolitismos que se vienen desarrollando desde las humanidades —desde la filosofía y los estudios literarios, pero también desde vertientes de la sociología o la historia—, y que han dejado muy atrás la tradicional desconfianza de las izquierdas hacia la propia noción de cosmopolitismo, asociada en esas miradas a un atributo superficial de las élites burguesas o pequeñoburguesas.
En el propio Mariátegui la referencia al cosmopolitismo aparece innumerables veces, y con sentidos cambiantes. Para él no había duda —y ese era un rasgo compartido en general con las vanguardias estéticas— que se asistía a una era cosmopolita.
Mariátegui seguía el lema de Terencio, aludido en el editorial del primer número de su revista Amauta: nada de lo humano le era ajeno. Sus textos pulsan todos y cada uno de los fragmentos de su época, esa época que lo englobaba todo y que él llama «la escena contemporánea». Por eso escribe sobre Japón, la India de Gandhi y Tagore, la Revolución Mexicana, Colombia, la tradición filosófica y literaria idealista norteamericana, los mundos intelectuales, políticos y artísticos de Italia y Francia, los países de Europa del Este (dedica ensayos breves a «la escena yugoslava», «la escena polaca», «la escena búlgara»), la «nueva literatura rusa», etcétera.
Es un internacionalista también en el sentido técnico de la palabra, alguien con vocación de análisis en política internacional (por eso cuando cumple un cuarto de siglo, en 1929, la revista Variedades de Lima le pide un ensayo de síntesis sobre el acontecer del mundo que aparece bajo el título de «25 años de sucesos extranjeros»).
Pero la noción de socialismo cosmopolita desde la que pienso la praxis intelectual de Mariátegui no es tanto una categoría nativa, proveniente de su tiempo, como un concepto que surge en diálogo con las reformulaciones y debates actuales en las humanidades que recién mencionaba. Allí mi referencia mayor es el libro de Mariano Siskind Deseos cosmopolitas. Modernidad global y literatura mundial en América Latina, que utilizo un poco libremente para caracterizar a Mariátegui al menos en dos sentidos. Por un lado, la noción de deseos cosmopolitas atrapa bien la verdadera avidez, la pulsión vital irrefrenable que tiene Mariátegui por conocer y aquilatar un juicio propio sobre cada episodio que conmueve al mundo, y por los personajes que los protagonizan (y allí se entreveran su formación inicial de periodista con su vocación por el ensayo breve y eléctrico). Es un deseo radical de modernidad que lo acompaña hasta el final de sus días.
Por otro lado, tomo también de Mariano Siskind una idea que me parece sumamente fértil para repensar las relaciones entre centros y periferias, y que se adecúa muy bien al caso de Mariátegui. El peruano no desconoce por supuesto la estructura de inequidades globales que jerarquizan la espacialidad del mundo. Pero esa constatación no lo lleva a adoptar la posición tan habitual de denuncia de los nudos en los que se concentra el capital cultural, y por esa vía a un repliegue identitario. Por el contrario: su cosmopolitismo lo lleva —para debatir con André Breton— a pretender ser más parisino que cualquier intelectual parisino, aún viviendo en Lima, a escudriñar la nueva realidad rusa sin haber pisado el país de los soviets, o incluso a escribir sobre el socialismo en el Japón, teniendo pocas referencias sobre ese país.
Y esa posición de enunciación, me parece a mi, es muy productiva. Es la que le permite, por ejemplo, ofrecer una de las primeras radiografías del fascismo elaboradas no solamente en América Latina, sino en todo el mundo; la que lo lleva a componer la respuesta seguramente más sofisticada al ensayo liquidacionista del marxismo del socialdemócrata belga Henri de Man, en su saga de ensayos titulada «Defensa del marxismo» (que, en rigor, es una recreación del marxismo); la que, por esa vía, lo conduce a pergeñar uno de los primeros esbozos sobre las afinidades de marxismo y psicoanálisis freudiano. En virtud de esa avidez cosmopolita es que, como ya han señalado otros autores, podemos considerar a Mariátegui no meramente como un marxista latinoamericano, sino como un marxista tout court, alguien que en paralelo a Gramsci o a Benjamin busca intervenir en el campo global del marxismo de su tiempo.
Dicho esto, no quisiera rehuir al núcleo de tu pregunta. ¿Qué ofrece hoy una crítica a la globalización capitalista encarada desde el punto de vista de un socialismo cosmopolita como el de Mariátegui? Se me ocurren tres cosas. Por un lado, y pensando en cómo formulás la pregunta (la globalización y sus efectos), sabemos que un efecto muy notable de la globalización han sido las respuestas nacionalistas que están detrás del auge de las nuevas derechas de nuestro tiempo. En una línea análoga a la que por ejemplo han venido trabajando en las dos últimas décadas tanto Étienne Balibar como Sandro Mezzadra, la crítica cosmopolita tiene un papel por jugar en la producción de mundos que resistan a esas tendencias.
En segundo lugar, un socialismo cosmopolita supone por supuesto la asunción de una posición internacionalista. En nuestro contexto de crisis sistémica —crisis capitalista, crisis ecológica, etc.— el internacionalismo pareciera ser aún más necesario que en tiempos de Marx o de Mariátegui. Ahora es casi un recurso de salvación planetaria, más que de emancipación social (pienso en la fórmula de Noam Chomski, «internacionalismo o extinción»). Y en ese sentido, siendo muy notable, al internacionalismo de Mariátegui en general se le ha prestado poca atención relativa entre sus estudiosos (como ocurre con el internacionalismo de otras figuras de países periféricos, un internacionalismo periférico sobre el cual vienen trabajando historiadores como Manu Goswami, Michele Louro o el propio Dipesh Chakrabarty, que a distancia del pensamiento decolonial recupera un Fanon universalista). En ese sentido, en América Latina se observa un reverdecer del internacionalismo desde algunas franjas del movimiento feminista o del ambientalismo, una postura que puede filiarse en Mariátegui.
Pero, en tercer lugar, si hablamos de cosmopolitismo es porque el internacionalismo, mientras alude a una tradición de luchas de clases, no parece suficiente para considerar el lugar que Mariátegui otorga a la cultura (a la literatura, a las artes plásticas, al cine, a las vanguardias, a la comunicación de masas) en sus ensayos. La noción de socialismo cosmopolita, que lleva implícito un punto de vista internacionalista y de clase, me parece que, en ese sentido, le hace más justicia al conjunto de su producción ensayística. Y, de paso, se conecta con el lugar que las luchas culturales tienen en la producción de perspectivas críticas sobre nuestro mundo actual.
Leonardo Frieiro
Acabas de publicar una nueva compilación de escritos de Mariátegui, Aventura y Revolución Mundial. Escritos alrededor del viaje. El prólogo que escribiste comienza con una mención a una entrevista en la que Mariátegui responde que su afición predilecta es viajar, y donde se describe como un «hombre orgánicamente nómada, curioso e inquieto». ¿Qué relación encontraste entre las cuestiones del viaje y la aventura en el itinerario intelectual de Mariátegui, es decir, con su «socialismo cosmopolita»?
Es una pregunta muy interesante, sobre la que no puedo más que aventurar respuestas tentativas. Es interesante y compleja, porque además implica adentrarse en los debates contemporáneos sobre cosmopolitismos que se vienen desarrollando desde las humanidades —desde la filosofía y los estudios literarios, pero también desde vertientes de la sociología o la historia—, y que han dejado muy atrás la tradicional desconfianza de las izquierdas hacia la propia noción de cosmopolitismo, asociada en esas miradas a un atributo superficial de las élites burguesas o pequeñoburguesas.
En el propio Mariátegui la referencia al cosmopolitismo aparece innumerables veces, y con sentidos cambiantes. Para él no había duda —y ese era un rasgo compartido en general con las vanguardias estéticas— que se asistía a una era cosmopolita.
Mariátegui seguía el lema de Terencio, aludido en el editorial del primer número de su revista Amauta: nada de lo humano le era ajeno. Sus textos pulsan todos y cada uno de los fragmentos de su época, esa época que lo englobaba todo y que él llama «la escena contemporánea». Por eso escribe sobre Japón, la India de Gandhi y Tagore, la Revolución Mexicana, Colombia, la tradición filosófica y literaria idealista norteamericana, los mundos intelectuales, políticos y artísticos de Italia y Francia, los países de Europa del Este (dedica ensayos breves a «la escena yugoslava», «la escena polaca», «la escena búlgara»), la «nueva literatura rusa», etcétera.
Es un internacionalista también en el sentido técnico de la palabra, alguien con vocación de análisis en política internacional (por eso cuando cumple un cuarto de siglo, en 1929, la revista Variedades de Lima le pide un ensayo de síntesis sobre el acontecer del mundo que aparece bajo el título de «25 años de sucesos extranjeros»).
Pero la noción de socialismo cosmopolita desde la que pienso la praxis intelectual de Mariátegui no es tanto una categoría nativa, proveniente de su tiempo, como un concepto que surge en diálogo con las reformulaciones y debates actuales en las humanidades que recién mencionaba. Allí mi referencia mayor es el libro de Mariano Siskind Deseos cosmopolitas. Modernidad global y literatura mundial en América Latina, que utilizo un poco libremente para caracterizar a Mariátegui al menos en dos sentidos. Por un lado, la noción de deseos cosmopolitas atrapa bien la verdadera avidez, la pulsión vital irrefrenable que tiene Mariátegui por conocer y aquilatar un juicio propio sobre cada episodio que conmueve al mundo, y por los personajes que los protagonizan (y allí se entreveran su formación inicial de periodista con su vocación por el ensayo breve y eléctrico). Es un deseo radical de modernidad que lo acompaña hasta el final de sus días.
Por otro lado, tomo también de Mariano Siskind una idea que me parece sumamente fértil para repensar las relaciones entre centros y periferias, y que se adecúa muy bien al caso de Mariátegui. El peruano no desconoce por supuesto la estructura de inequidades globales que jerarquizan la espacialidad del mundo. Pero esa constatación no lo lleva a adoptar la posición tan habitual de denuncia de los nudos en los que se concentra el capital cultural, y por esa vía a un repliegue identitario. Por el contrario: su cosmopolitismo lo lleva —para debatir con André Breton— a pretender ser más parisino que cualquier intelectual parisino, aún viviendo en Lima, a escudriñar la nueva realidad rusa sin haber pisado el país de los soviets, o incluso a escribir sobre el socialismo en el Japón, teniendo pocas referencias sobre ese país.
Y esa posición de enunciación, me parece a mi, es muy productiva. Es la que le permite, por ejemplo, ofrecer una de las primeras radiografías del fascismo elaboradas no solamente en América Latina, sino en todo el mundo; la que lo lleva a componer la respuesta seguramente más sofisticada al ensayo liquidacionista del marxismo del socialdemócrata belga Henri de Man, en su saga de ensayos titulada «Defensa del marxismo» (que, en rigor, es una recreación del marxismo); la que, por esa vía, lo conduce a pergeñar uno de los primeros esbozos sobre las afinidades de marxismo y psicoanálisis freudiano. En virtud de esa avidez cosmopolita es que, como ya han señalado otros autores, podemos considerar a Mariátegui no meramente como un marxista latinoamericano, sino como un marxista tout court, alguien que en paralelo a Gramsci o a Benjamin busca intervenir en el campo global del marxismo de su tiempo.
Dicho esto, no quisiera rehuir al núcleo de tu pregunta. ¿Qué ofrece hoy una crítica a la globalización capitalista encarada desde el punto de vista de un socialismo cosmopolita como el de Mariátegui? Se me ocurren tres cosas. Por un lado, y pensando en cómo formulás la pregunta (la globalización y sus efectos), sabemos que un efecto muy notable de la globalización han sido las respuestas nacionalistas que están detrás del auge de las nuevas derechas de nuestro tiempo. En una línea análoga a la que por ejemplo han venido trabajando en las dos últimas décadas tanto Étienne Balibar como Sandro Mezzadra, la crítica cosmopolita tiene un papel por jugar en la producción de mundos que resistan a esas tendencias.
En segundo lugar, un socialismo cosmopolita supone por supuesto la asunción de una posición internacionalista. En nuestro contexto de crisis sistémica —crisis capitalista, crisis ecológica, etc.— el internacionalismo pareciera ser aún más necesario que en tiempos de Marx o de Mariátegui. Ahora es casi un recurso de salvación planetaria, más que de emancipación social (pienso en la fórmula de Noam Chomski, «internacionalismo o extinción»). Y en ese sentido, siendo muy notable, al internacionalismo de Mariátegui en general se le ha prestado poca atención relativa entre sus estudiosos (como ocurre con el internacionalismo de otras figuras de países periféricos, un internacionalismo periférico sobre el cual vienen trabajando historiadores como Manu Goswami, Michele Louro o el propio Dipesh Chakrabarty, que a distancia del pensamiento decolonial recupera un Fanon universalista). En ese sentido, en América Latina se observa un reverdecer del internacionalismo desde algunas franjas del movimiento feminista o del ambientalismo, una postura que puede filiarse en Mariátegui.
Pero, en tercer lugar, si hablamos de cosmopolitismo es porque el internacionalismo, mientras alude a una tradición de luchas de clases, no parece suficiente para considerar el lugar que Mariátegui otorga a la cultura (a la literatura, a las artes plásticas, al cine, a las vanguardias, a la comunicación de masas) en sus ensayos. La noción de socialismo cosmopolita, que lleva implícito un punto de vista internacionalista y de clase, me parece que, en ese sentido, le hace más justicia al conjunto de su producción ensayística. Y, de paso, se conecta con el lugar que las luchas culturales tienen en la producción de perspectivas críticas sobre nuestro mundo actual.
Leonardo Frieiro
Acabas de publicar una nueva compilación de escritos de Mariátegui, Aventura y Revolución Mundial. Escritos alrededor del viaje. El prólogo que escribiste comienza con una mención a una entrevista en la que Mariátegui responde que su afición predilecta es viajar, y donde se describe como un «hombre orgánicamente nómada, curioso e inquieto». ¿Qué relación encontraste entre las cuestiones del viaje y la aventura en el itinerario intelectual de Mariátegui, es decir, con su «socialismo cosmopolita»?
Martín Bergel
Efectivamente, cuando Alejandra Laera me invitó a preparar un volumen para la colección «Viajeros/Viajeras» sobre Mariátegui y la temática del viaje, de inmediato pensé en esa respuesta poco conocida en la que señala que su mayor afición es viajar. Y no solo eso: como bien mencionás, se describe allí como «orgánicamente nómada», una imagen que está en las antípodas de una idea que circula de él y que lo ubica como alguien muy circunscripto a un espacio de fronteras muy nítidamente delimitadas, sea el de su país, el Perú, o el de América Latina.
La conexión con la cuestión del viaje en este libro de todos modos no es lineal. No se trata de un volumen que se limita a reunir los escritos de viaje de Mariátegui, los de sus años de su viaje a Europa entre 1919 y 1923. Los textos de ese periodo conforman solamente una de las cinco secciones del volumen. Luego, hay textos que provienen de momentos muy distintos de su itinerario intelectual, desde su temprana juventud a sus últimos años. Por eso se trata de escritos «alrededor del viaje», informados o afectados por la cuestión del viaje, ya sea como deseo o anhelo, como experiencia directa o como huella.
Hay entonces en el libro dos entradas principales al asunto del viaje. Por un lado, el viaje como una experiencia crucial para Mariátegui, una experiencia que le dejará marcas indelebles y que continuará alimentando su reflexión hasta el final de su vida. Allí hay un nexo con la perspectiva del socialismo cosmopolita que yo había desarrollado en la Antología de Siglo XXI publicada en 2020, porque es durante el viaje que no solo se afirma en Mariátegui su perspectiva marxista y revolucionaria, a la vez que su afán inextinguible por las vanguardias estéticas; es decir, no solamente es allí cuando comienza a darse ese maridaje tan excepcional que nutre su pensamiento entre vanguardismo político y vanguardismo estético.
Además de eso, a partir del viaje su praxis se desarrollará al interior de una situación irremisiblemente mundial, eso que llama «escena contemporánea». Es decir, Mariátegui es un intelectual situado, solo que situado en las líneas de tensión y las atmósferas que colorean al mundo como un todo. Y ese es otro rasgo del que Mariátegui se adueña en viaje, pero que lo acompaña en su regreso a Lima hasta el final de sus días. Porque incluso sus escritos sobre la realidad peruana surgen alimentados y estimulados por las dinámicas mundiales.
La segunda entrada tiene que ver con que el viaje para Mariátegui sirve para ilustrar su filosofía de la revolución. Su concepción radicalmente subjetivista tiene una fuente de inspiración en la figura del viajero, que es alguien que transforma y se deja transformar conforme avanza. De allí el profundo interés que tiene por el tema de la aventura, que recorre parte de su ensayística en sus últimos años. La aventura como posibilidad de experimentación de lo nuevo, lo que emerge y trastoca; y por eso mismo, la aventura como experiencia que activa sensibilidades antiburguesas.
En distintos diálogos con Alejandra Laera, esas dos entradas al tema del viaje nos condujeron al título del libro, Aventura y revolución mundial, que tiene también un lazo bastante claro con la cuestión del socialismo cosmopolita.
Leonardo Frieiro
Mencionaste el análisis que hace Mariátegui sobre las derechas de su tiempo. Inclusive me resultó algo llamativo que decidiste comenzar la Antología con una serie de textos dedicados directamente a la comprensión del fenómeno fascista. En un artículo que escribiste sobre este tema en específico, señalaste que Mariátegui ofrece una lectura desprejuiciada del fascismo, algo que resulta muy excepcional entre la intelectualidad de izquierda de ese momento; y creo que podríamos ponernos de acuerdo en que aún hoy la forma en la que Mariátegui se propuso entender a sus máximos «rivales» políticos sigue siendo la excepción y no la regla.
¿Podrías reponer brevemente esa interpretación? Y, por último, ¿Por qué crees que Mariátegui tuvo esa flexibilidad, digamos, «intelectual» para acercase sin prejuicios al fenómeno del fascismo? A sabiendas de que, global y regionalmente, la (re)emergencia de la ultraderecha vuelve a ser un tema obligado para las izquierdas.
Martín Bergel
En efecto, me parece que el modo en que Mariátegui se sitúa muy tempranamente ante el ascenso del fascismo (el fascismo italiano, pero también otros fenómenos de derecha radical del período de entreguerras) se destaca por su infrecuencia en la historia intelectual y política de las izquierdas. En general, y especialmente en las Américas (en Europa, gracias a las huellas que dejaron el fascismo y al nazismo, el panorama ha sido un poco distinto), los fenómenos de derecha recientes como el trumpismo o el bolsonarismo tendieron a ser subestimados en su ascenso al poder. Lo mismo ocurrió con el fenómeno macrista, que desde su emergencia luego de 2001 permaneció casi sin ser explorado, y solo comenzó a ser examinado en profundidad en vísperas de la llegada de Macri a la presidencia en 2015.
La ola de la nueva derecha global ha cambiado un poco las cosas, y ahora contamos con libros como el de Pablo Stefanoni o la traducción de Las nuevas caras de la derecha de Enzo Traverso, además de una saga reciente de ensayos sobre el bolsonarismo. Pero, en términos generales, me parece que una mirada retrospectiva a los juicios emitidos desde las izquierdas sobre las derechas muestra que en el pasado se tendió a repetir libretos y esquemas bastante guionados.
En Mariátegui encontramos en cambio una verdadera curiosidad por el fenómeno fascista, al punto que algunos de los ensayos que escribe desde Europa son una suerte de pequeñas etnografías del movimiento o de algunas de sus figuras. ¿Qué lo mueve a ello, me preguntás? Varias cuestiones. En primer término, Mariátegui se ha educado como periodista, y las llamadas «Cartas de Italia» que publica en el diario El Tiempo de Lima tienen como uno de sus fines informar e ilustrar a los lectores peruanos y latinoamericanos acerca de la fisonomía y los personajes que conforman los fenómenos italianos y europeos de actualidad. La avidez que muestra Mariátegui ante los asuntos emergentes tiene en parte origen en su entrenamiento intelectual en las redacciones de los periódicos.
Pero esa gimnasia periodística se conecta de un modo notable con la verdadera fascinación por lo nuevo que Mariátegui evidencia. Es una fascinación que no puede desligarse de sus lecturas de la crisis y del eclipse de la civilización decimonónica que sobreviene con la Guerra del 14, y de su embanderamiento detrás del acontecimiento de la Revolución Rusa y por esa vía del carácter «romántico» o revolucionario (usa ambos términos) que embarga a la época. Pero que tampoco puede desligarse de su fascinación por las vanguardias, máxima expresión de ese culto a lo nuevo en la situación de entreguerras: del aliento que trae el futurismo, en primer lugar, pero sobre todo del movimiento surrealista, cuyos avatares persigue afanosamente hasta el momento de su muerte en 1930.
Es ese interés por lo nuevo el que lo lleva a interesarse por el fascismo, a tratar de entenderlo, interpretarlo, radiografiarlo y, lo que es más notable aún, incluso a extraer de él elementos a ser readaptados en su proyecto de reelaboración del marxismo y el socialismo. Si Sorel es la vía intelectual de recepción del tema del mito, tan caro a su concepción de la política y de la revolución (y, más en general, a su visión de la sentimentalidad de la época), de ciertos estratos del fascismo o del protofascismo, como la aventura de D´Annunzio en el Fiume o el apotegma mussoliniano del «vivir peligrosamente», extrae también núcleos que en su perspectiva hacen a la trama profunda de su contemporaneidad y que por tanto conforman un «humus» del que el socialismo debe nutrirse.
Lo mismo se observa en relación al desprejuicio que muestra hacia el resonante libro del intelectual reaccionario francés Henri Massis Defensa de Occidente. Por supuesto, esa heterodoxia de la lectura se coloca al servicio de su proyecto socialista, pero un proyecto que tiene la virtud de ser a la vez muy firme y muy poroso. Creo que esa doble condición de Mariátegui —indoblegable y flexible, intransigente en su socialismo pero asombrosamente plástico y desprejuiciado en sus múltiples intereses— es uno de sus legados más valiosos.
Efectivamente, cuando Alejandra Laera me invitó a preparar un volumen para la colección «Viajeros/Viajeras» sobre Mariátegui y la temática del viaje, de inmediato pensé en esa respuesta poco conocida en la que señala que su mayor afición es viajar. Y no solo eso: como bien mencionás, se describe allí como «orgánicamente nómada», una imagen que está en las antípodas de una idea que circula de él y que lo ubica como alguien muy circunscripto a un espacio de fronteras muy nítidamente delimitadas, sea el de su país, el Perú, o el de América Latina.
La conexión con la cuestión del viaje en este libro de todos modos no es lineal. No se trata de un volumen que se limita a reunir los escritos de viaje de Mariátegui, los de sus años de su viaje a Europa entre 1919 y 1923. Los textos de ese periodo conforman solamente una de las cinco secciones del volumen. Luego, hay textos que provienen de momentos muy distintos de su itinerario intelectual, desde su temprana juventud a sus últimos años. Por eso se trata de escritos «alrededor del viaje», informados o afectados por la cuestión del viaje, ya sea como deseo o anhelo, como experiencia directa o como huella.
Hay entonces en el libro dos entradas principales al asunto del viaje. Por un lado, el viaje como una experiencia crucial para Mariátegui, una experiencia que le dejará marcas indelebles y que continuará alimentando su reflexión hasta el final de su vida. Allí hay un nexo con la perspectiva del socialismo cosmopolita que yo había desarrollado en la Antología de Siglo XXI publicada en 2020, porque es durante el viaje que no solo se afirma en Mariátegui su perspectiva marxista y revolucionaria, a la vez que su afán inextinguible por las vanguardias estéticas; es decir, no solamente es allí cuando comienza a darse ese maridaje tan excepcional que nutre su pensamiento entre vanguardismo político y vanguardismo estético.
Además de eso, a partir del viaje su praxis se desarrollará al interior de una situación irremisiblemente mundial, eso que llama «escena contemporánea». Es decir, Mariátegui es un intelectual situado, solo que situado en las líneas de tensión y las atmósferas que colorean al mundo como un todo. Y ese es otro rasgo del que Mariátegui se adueña en viaje, pero que lo acompaña en su regreso a Lima hasta el final de sus días. Porque incluso sus escritos sobre la realidad peruana surgen alimentados y estimulados por las dinámicas mundiales.
La segunda entrada tiene que ver con que el viaje para Mariátegui sirve para ilustrar su filosofía de la revolución. Su concepción radicalmente subjetivista tiene una fuente de inspiración en la figura del viajero, que es alguien que transforma y se deja transformar conforme avanza. De allí el profundo interés que tiene por el tema de la aventura, que recorre parte de su ensayística en sus últimos años. La aventura como posibilidad de experimentación de lo nuevo, lo que emerge y trastoca; y por eso mismo, la aventura como experiencia que activa sensibilidades antiburguesas.
En distintos diálogos con Alejandra Laera, esas dos entradas al tema del viaje nos condujeron al título del libro, Aventura y revolución mundial, que tiene también un lazo bastante claro con la cuestión del socialismo cosmopolita.
Leonardo Frieiro
Mencionaste el análisis que hace Mariátegui sobre las derechas de su tiempo. Inclusive me resultó algo llamativo que decidiste comenzar la Antología con una serie de textos dedicados directamente a la comprensión del fenómeno fascista. En un artículo que escribiste sobre este tema en específico, señalaste que Mariátegui ofrece una lectura desprejuiciada del fascismo, algo que resulta muy excepcional entre la intelectualidad de izquierda de ese momento; y creo que podríamos ponernos de acuerdo en que aún hoy la forma en la que Mariátegui se propuso entender a sus máximos «rivales» políticos sigue siendo la excepción y no la regla.
¿Podrías reponer brevemente esa interpretación? Y, por último, ¿Por qué crees que Mariátegui tuvo esa flexibilidad, digamos, «intelectual» para acercase sin prejuicios al fenómeno del fascismo? A sabiendas de que, global y regionalmente, la (re)emergencia de la ultraderecha vuelve a ser un tema obligado para las izquierdas.
Martín Bergel
En efecto, me parece que el modo en que Mariátegui se sitúa muy tempranamente ante el ascenso del fascismo (el fascismo italiano, pero también otros fenómenos de derecha radical del período de entreguerras) se destaca por su infrecuencia en la historia intelectual y política de las izquierdas. En general, y especialmente en las Américas (en Europa, gracias a las huellas que dejaron el fascismo y al nazismo, el panorama ha sido un poco distinto), los fenómenos de derecha recientes como el trumpismo o el bolsonarismo tendieron a ser subestimados en su ascenso al poder. Lo mismo ocurrió con el fenómeno macrista, que desde su emergencia luego de 2001 permaneció casi sin ser explorado, y solo comenzó a ser examinado en profundidad en vísperas de la llegada de Macri a la presidencia en 2015.
La ola de la nueva derecha global ha cambiado un poco las cosas, y ahora contamos con libros como el de Pablo Stefanoni o la traducción de Las nuevas caras de la derecha de Enzo Traverso, además de una saga reciente de ensayos sobre el bolsonarismo. Pero, en términos generales, me parece que una mirada retrospectiva a los juicios emitidos desde las izquierdas sobre las derechas muestra que en el pasado se tendió a repetir libretos y esquemas bastante guionados.
En Mariátegui encontramos en cambio una verdadera curiosidad por el fenómeno fascista, al punto que algunos de los ensayos que escribe desde Europa son una suerte de pequeñas etnografías del movimiento o de algunas de sus figuras. ¿Qué lo mueve a ello, me preguntás? Varias cuestiones. En primer término, Mariátegui se ha educado como periodista, y las llamadas «Cartas de Italia» que publica en el diario El Tiempo de Lima tienen como uno de sus fines informar e ilustrar a los lectores peruanos y latinoamericanos acerca de la fisonomía y los personajes que conforman los fenómenos italianos y europeos de actualidad. La avidez que muestra Mariátegui ante los asuntos emergentes tiene en parte origen en su entrenamiento intelectual en las redacciones de los periódicos.
Pero esa gimnasia periodística se conecta de un modo notable con la verdadera fascinación por lo nuevo que Mariátegui evidencia. Es una fascinación que no puede desligarse de sus lecturas de la crisis y del eclipse de la civilización decimonónica que sobreviene con la Guerra del 14, y de su embanderamiento detrás del acontecimiento de la Revolución Rusa y por esa vía del carácter «romántico» o revolucionario (usa ambos términos) que embarga a la época. Pero que tampoco puede desligarse de su fascinación por las vanguardias, máxima expresión de ese culto a lo nuevo en la situación de entreguerras: del aliento que trae el futurismo, en primer lugar, pero sobre todo del movimiento surrealista, cuyos avatares persigue afanosamente hasta el momento de su muerte en 1930.
Es ese interés por lo nuevo el que lo lleva a interesarse por el fascismo, a tratar de entenderlo, interpretarlo, radiografiarlo y, lo que es más notable aún, incluso a extraer de él elementos a ser readaptados en su proyecto de reelaboración del marxismo y el socialismo. Si Sorel es la vía intelectual de recepción del tema del mito, tan caro a su concepción de la política y de la revolución (y, más en general, a su visión de la sentimentalidad de la época), de ciertos estratos del fascismo o del protofascismo, como la aventura de D´Annunzio en el Fiume o el apotegma mussoliniano del «vivir peligrosamente», extrae también núcleos que en su perspectiva hacen a la trama profunda de su contemporaneidad y que por tanto conforman un «humus» del que el socialismo debe nutrirse.
Lo mismo se observa en relación al desprejuicio que muestra hacia el resonante libro del intelectual reaccionario francés Henri Massis Defensa de Occidente. Por supuesto, esa heterodoxia de la lectura se coloca al servicio de su proyecto socialista, pero un proyecto que tiene la virtud de ser a la vez muy firme y muy poroso. Creo que esa doble condición de Mariátegui —indoblegable y flexible, intransigente en su socialismo pero asombrosamente plástico y desprejuiciado en sus múltiples intereses— es uno de sus legados más valiosos.
Martín Bergel
Historiador e professor da Universidade de Buenos Aires.
Historiador e professor da Universidade de Buenos Aires.
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