Fernando Canzian
Folha de S.Paulo
Após a bateria de críticas ao Banco Central, à meta de inflação e aos juros altos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrará em seu terceiro mês de governo, na semana que vem, com a deterioração na percepção de bem-estar entre seus principais apoiadores.
Lula venceu a eleição de 2022 sobretudo com os votos do mais pobres (61% dos eleitores em famílias com renda até dois salários mínimos declararam voto nele na véspera, segundo o Datafolha) e do Nordeste, onde concentra-se quase a metade dos pobres do país, de acordo com o IBGE. Na região, Lula bateu Jair Bolsonaro (PL) por 69,3% a 30,7%.
Dois indicadores divulgados nesta sexta (24) são má notícia para Lula: a prévia da inflação medida pelo IPCA-15 veio acima do esperado, em 0,76% (ante 0,55% em janeiro); e a FGV-Ibre constatou nova queda na confiança dos consumidores em fevereiro, sobretudo entre os mais pobres.
No geral, contando todas as faixas de renda, o indicador recuou 1,3 ponto em fevereiro, para 86,1 pontos. Mas entre as famílias de menor renda (até R$ 2.100/mês), a queda foi de 3,3 pontos, para 84,4 pontos. Não ajudará o fato de a economia estar desacelerando, com previsão de crescimento menor do que 1% neste ano, ante cerca de 3% em 2022.
No geral, contando todas as faixas de renda, o indicador recuou 1,3 ponto em fevereiro, para 86,1 pontos. Mas entre as famílias de menor renda (até R$ 2.100/mês), a queda foi de 3,3 pontos, para 84,4 pontos. Não ajudará o fato de a economia estar desacelerando, com previsão de crescimento menor do que 1% neste ano, ante cerca de 3% em 2022.
A maior parte do dinheiro das famílias pobres é consumida em alimentos, transporte e moradia. Os primeiros dois itens são fortemente influenciados por preços internacionais de commodities agrícolas e petróleo.
No triênio 2020-2022, a inflação de alimentos superou 45%, solapando o poder de compra dos mais pobres que não puderam ser atendidos pelo Auxílio Emergencial (agora Bolsa Família) de R$ 600. Para este ano, a projeção é de nova alta na comida, entre 8% e 9%.
Com forte influência internacional, há muito pouco o que o governo possa fazer para conter os preços dos alimentos e dos combustíveis –lembrando que impostos sobre a gasolina estão suspensos desde o ano passado.
A linha de ataque mais adequada seria criar um clima favorável para que a cotação do dólar caísse frente o real, barateando internamente commodities em geral. Mas, com o ruído gerado por Lula nas últimas semanas, o dólar vai na direção contrária. Depois ceder a R$ 5,00 após o segundo turno, agora ronda sistematicamente os R$ 5,20.
Nesse contexto, o governo promete apresentar em março um novo arcabouço fiscal para tentar controlar a dívida pública bruta, que deve superar o equivalente a 79% do PIB ao final deste ano.
Dependendo da credibilidade do novo instrumento, fundamental para que credores sintam-se confortáveis em continuar emprestando a um governo deficitário e mais endividado que seus pares emergentes, o dólar pode voltar a cair.
Ou não, convertendo-se em refúgio para investidores que não acreditarem nos planos do governo –e alimentando ainda mais a inflação da clientela lulista.
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