Democracias ricas aceleram um esforço para gastar trilhões em uma nova economia de energia favorável ao clima, enquanto roubam parte do poder de fabricação da China.
Jim Tankersley e Ana Swanson
Jim Tankersley relatou de Hiroshima, Japão, e Ana Swanson de Washington.
Jim Tankersley relatou de Hiroshima, Japão, e Ana Swanson de Washington.
O presidente Biden com outros líderes do Grupo dos 7 em Hiroshima, Japão, na sexta-feira. Créditos: Kenny Holston/The New York Times |
Na metade de sua reunião cara a cara com o presidente Joe Biden na Indonésia, no fim do ano passado, o líder chinês, Xi Jinping, compartilhou um alerta espontâneo.
Nos meses anteriores, Biden assinou uma série de leis destinadas a aumentar a capacidade industrial dos Estados Unidos e impôs novos limites à exportação de tecnologia para a China, na esperança de dominar a corrida por tecnologias energéticas avançadas que poderiam ajudar a combater a mudança climática. Durante meses, ele e seus assessores trabalharam para recrutar países aliados para impor suas próprias restrições ao envio de tecnologia para a China.
O esforço ecoou o tipo de política industrial que a China empregou para se tornar a líder industrial mundial. Em Bali, Xi instou Biden a abandoná-la.
O presidente não foi persuadido. Os protestos de Xi apenas convenceram Biden ainda mais de que a nova abordagem industrial dos Estados Unidos era a certa, de acordo com uma pessoa familiarizada com a conversa.
Conforme Biden e os demais líderes do Grupo dos 7 se reúnem neste fim de semana na cidade japonesa de Hiroshima, um dos temas centrais de suas discussões será como acelerar rapidamente o que se tornou uma rodada coordenada internacionalmente de vastos investimentos públicos. Para essas democracias ricas, o objetivo é tanto reduzir sua dependência em relação à manufatura chinesa quanto ajudar suas próprias empresas a competir em uma economia de novas energias.
A agenda legislativa de Biden, incluindo leis com foco em semicondutores, infraestrutura e fontes de energia de baixa emissão de carbono, começou a impulsionar investimentos, do governo e privados, na capacidade industrial americana — que poderão chegar à casa dos trilhões de dólares. Isso inclui mais subsídios para veículos elétricos, baterias, fazendas eólicas, usinas solares e muito mais.
Esse gasto — a intervenção mais significativa dos EUA em política industrial em décadas — reanimou muitos dos principais aliados dos americanos na Europa e na Ásia, incluindo líderes importantes do G-7. Nações europeias, Coreia do Sul, Japão, Canadá e outros países estão pressionado por melhor acesso aos subsídios dos EUA para energia limpa ao mesmo tempo que lançam seus próprios esforços.
"Agora que o G-7 está junto na corrida, nossa competição deveria criar capacidade adicional de manufatura, não vir à custa um do outro", afirmou ela.
Biden visitando um fabricante de semicondutores em Durham, Carolina do Norte, em março. Créditos: Al Drago/The New York Times |
Biden e seus homólogos do G-7 empreendem um projeto com dois objetivos ambiciosos: acelerar a demanda, em décadas até, pelas tecnologias necessárias para reduzir emissões e combater as mudanças climáticas — e dar aos trabalhadores americanos e dos países aliados vantagem sobre os chineses ao atender essa demanda.
Grande parte desse projeto ganhou vida após o encontro dos líderes do G-7 no ano passado, nos Alpes Alemães. A onda recente de ações do G-7 sobre cadeias de fornecimento e semicondutores e outras medidas para afrontar a China têm base em "segurança econômica, segurança nacional e segurança energética", disse a repórteres, esta semana, em Tóquio, o embaixador americano no Japão, Rahm Emanuel.
"Trata-se de um ponto de inflexão para um G-7 novo e mais relevante", acrescentou ele.
Emanuel afirmou que o esforço refletiu uma crescente impaciência entre os líderes do G-7 com o que eles qualificam como o uso de Pequim de medidas econômicas para punir e dissuadir comportamentos de empresas e governos estrangeiros que não agradam às autoridades chinesas.
Acima de tudo, porém, a mudança tem sido alimentada pela urgência em relação à ação climática e por duas legislações que Biden sancionou no verão passado: uma lei bipartidária para despejar dezenas de bilhões de dólares em subsídios do governo sobre a indústria de semicondutores; e as provisões climáticas da chamada Lei de Redução da Inflação, que as empresas têm se apressado para colocar em suas contas correntes.
Essas leis ocasionaram uma onda de novas fábricas de baterias e painéis solares recém-anunciadas, além de outros projetos. E também inauguraram uma corrida internacional de subsídios, que evoluiu após rusgas profundas que emergiram na esteira da sanção da lei ambiental.
Os lucrativos apoios dos EUA para energia limpa e semicondutores — juntamente com regulações mais rigorosas para que empresas e agências do governo comprem aço, veículos e equipamentos fabricados nos EUA — colocou uma pressão indesejável sobre indústrias de países aliados.
Trabalhadores de uma fábrica de peças e baterias para energia solar em Suqian, China, em fevereiro. Créditos: Alex Plavevski/EPA, via Shutterstock |
Algumas dessas preocupações foram sufocadas nos meses recentes. Os EUA assinaram um pacto com o Japão, em março, que permitirá a materiais usados em baterias feitas no Japão se qualificarem para os benefícios da Lei de Redução da Inflação. A União Europeia está perseguindo um acordo similar e propôs seu próprio programa de investimento, prevendo US$ 270 bilhões em subsídios para indústrias verdes. O Canadá aprovou sua própria versão da lei ambiental de Biden, e Reino Unido, Indonésia e outros países estão à busca de contratos sobre minerais necessários ao setor.
Autoridades do governo americano afirmam que aliados anteriormente amargados se renderam aos potenciais benefícios de uma estratégia industrial concertada das democracias ricas.
Na cúpula do G-7, "nós veremos um grau de convergência sobre isso que, da nossa perspectiva, pode dar seguimento à transformação da Lei de Redução da Inflação de uma fonte de fricção em uma fonte de cooperação e força entre os EUA e os nossos parceiros do G-7", disse a repórteres o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, no avião presidencial, enquanto Biden viajava para o Japão.
Algumas autoridades do G-7 afirmam que a aliança tem muito mais o que fazer para garantir que economias em rápido crescimento, como a Índia, se beneficiem dos investimentos nas novas energias. “É importante que a aceleração a ser criada com isso não desincentive o investimento no restante do mundo”, afirmou em entrevista a embaixadora canadense nos EUA, Kirsten Hillman.
Um país que eles não querem que se beneficie é a China. Os EUA impuseram restrições amplas sobre a capacidade da China de acessar tecnologias americanas, mais especificamente chips e as máquinas usadas para fabricá-los. E os americanos têm apelado para seus aliados enquanto tentam fazer valer restrições globais sobre compartilhamento de tecnologia com a Rússia e também com a China. Todos esses esforços são destinados a impedir a continuidade do desenvolvimento da China em manufaturas avançadas.
As autoridades de Biden pediram aos países aliados não suprirem o fornecimento de chips e outros produtos para a China. Os EUA também estão avaliando mais restrições sobre alguns tipos de tecnologias chinesas de chips, incluindo um provável banimento em investimentos de risco que as autoridades americanas deverão discutir com homólogos em Hiroshima.
Apesar de muitos governos do G-7 concordarem que a China representa uma ameaça econômica e de segurança cada vez maior, há pouco consenso a respeito do que fazer.
Biden com Xi Jinping, líder da China, em Bali, Indonésia, em novembro. Créditos: Doug Mills/The New York Times |
Autoridades japonesas têm se mostrado relativamente dispostas a discutir respostas coordenadas à coerção econômica da China, posteriormente ao movimento de Pequim de extirpar o Japão do fornecimento de minerais raros durante uma contenda, mais de uma década atrás.
Autoridades europeias, em contraste, têm se mostrado mais divididas sobre arriscar os não manter relações comerciais lucrativas com a China. Alguns, como o presidente francês, Emmanuel Macron, rejeitam os planos dos EUA de desvincular cadeias de fornecimento da China.
Von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, tem pressionado por “desarriscar” as relações com Pequim, o que envolve reconhecer as crescentes ambições econômicas e de segurança da China ao mesmo tempo reduzindo, de maneiras direcionadas, a dependência europeia da China para sua base industrial e de defesa. Autoridades europeias disseram em Hiroshima ter ficado felizes por ver os líderes americanos se inclinando mais na direção se sua abordagem, pelo menos retoricamente.
Ainda assim, o impulso à política industrial dos aliados ameaça complicar relações já difíceis com a China. Firmas de consultoria e assessoramento com laços no exterior têm sido sujeitas a batidas policiais com detenções e prisões na China nos meses recentes. As autoridades chinesas deixaram claro que consideram os controles sobre exportações uma ameaça. Adotando a expressão que as autoridades americanas usam para criticar Pequim, a Embaixada Chinesa em Washington alertou o G-7 esta semana contra o que qualificou como “coerção econômica”.
Xi transmitiu uma reprimenda similar a Biden em Bali no outono passado. Ele apontou para o fim dos anos 50, quando a União Soviética retirou seu apoio do programa nuclear chinês.
A pesquisa nuclear da China continuou, afirmou Xi, e quatro anos depois Pequim detonou sua primeira bomba atômica.
Jim Tankersley é correspondente da Casa Branca com foco em política econômica. Ele escreveu por mais de uma década em Washington sobre o declínio das oportunidades para os trabalhadores americanos e é o autor de "The Riches of This Land: The Untold, True Story of America's Middle Class". @jimtankersley
Ana Swanson trabalha no escritório de Washington e cobre comércio e economia internacional para o The Times. Ela trabalhou anteriormente no The Washington Post, onde escreveu sobre comércio, Federal Reserve e economia. @AnaSwanson
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