Nelson Barbosa
A posse de Joe Biden |
O governo Biden começou com promessas de união política e estímulo econômico nos EUA. Sou cético quanto à união política. Ficarei na economia.
Biden viu de perto o erro de Obama em tentar apaziguar a oposição republicana, via redução prematura de estímulos fiscais adotados após a crise financeira de 2008.
Especificamente, em resposta à crise de 2008, as principais economias do mundo adotaram grandes estímulos fiscais e monetários para amortecer a recessão.
As ações deram certo, mas também elevaram bastante a dívida pública, e isso gerou demandas por consolidação fiscal, geralmente por parte do mercado financeiro, já a partir de 2010.
Com a vitória dos republicanos nas eleições parlamentares de 2010, Obama se viu diante de uma oposição feroz. Houve tentativas de paralisação (shutdown) do governo até que um novo acordo fiscal fosse estabelecido.
As ações deram certo, mas também elevaram bastante a dívida pública, e isso gerou demandas por consolidação fiscal, geralmente por parte do mercado financeiro, já a partir de 2010.
Com a vitória dos republicanos nas eleições parlamentares de 2010, Obama se viu diante de uma oposição feroz. Houve tentativas de paralisação (shutdown) do governo até que um novo acordo fiscal fosse estabelecido.
O acordo veio em 2011, com cortes de gastos e aumento de impostos, encerrando prematuramente a recuperação da economia americana.
Obama ainda conseguiu se reeleger em 2012, mas nunca mais teve base política suficiente para promover políticas inclusivas nos EUA.
O novo pacote de estímulo fiscal só veio sob Trump, a partir de 2017, quando os republicanos mandaram suas preocupações fiscais às favas (eles fazem isso após ganharem eleições) e apoiaram um corte significativo de impostos para os mais ricos.
Apesar de regressivas, as desonerações do “andar de cima” feitas por Trump tiveram efeito temporário positivo sobre a renda e o emprego dos EUA, em 2017 e 2018. Porém, a partir de 2019, antes da pandemia, os EUA voltaram a desacelerar, indicando que crescimento com exclusão social não dura muito tempo.
Antes que o fracasso do “crescimento para poucos” ficasse mais claro, a Covid-19 abalou os EUA e o mundo todo, forçando até governos de extrema direita, como Trump e Bolsonaro, a fortes estímulos monetários e fiscais, muito mais altos do que os adotados em 2009-10.
Neste início de 2021, os EUA estão novamente diante de uma recuperação incompleta de sua economia, com dívida pública mais alta e os republicanos (agora fora do governo e sem controle do Congresso) dizendo que é preciso se preocupar com a situação fiscal.
Como é difícil defender ajuste fiscal depois do que Trump fez pelos mais ricos nos EUA, a retórica da direita começou a mudar.
Em artigo desta semana no Financial Times, um economista do Morgan Stanley disse que mais estímulo fiscal seria ruim porque, preparem-se: os estímulos recentes aumentaram a desigualdade!
O porta-voz de Wall Street (a Faria Lima deles) se esqueceu de dizer que houve aumento de desigualdade justamente por que, desde 2011, medidas fiscais que beneficiariam os mais pobres foram bloqueadas pelo Partido Republicano.
Traduzindo do economês, houve aumento excessivo de dívida pública porque houve recuperação insuficiente da renda nos EUA. Houve recuperação insuficiente de renda porque, de 2011 a 2019, a política fiscal dos EUA não se concentrou no aumento do emprego e na redução de desigualdades.
O desafio político de Biden é, portanto, convencer o Congresso de lá a mudar de lógica, com medidas fiscais e regulatórias que gerem renda e emprego para maioria dos norte-americanos.
Biden começou bem, com propostas de aumento do salário mínimo, transferência de renda para pessoas em dificuldade devido à pandemia e investimentos que geram emprego, sobretudo em inovação e construção civil, na transição para uma economia mais “verde”.
Para o bem dos EUA e de todo o mundo, desejo grande sucesso a Biden.
Apesar de regressivas, as desonerações do “andar de cima” feitas por Trump tiveram efeito temporário positivo sobre a renda e o emprego dos EUA, em 2017 e 2018. Porém, a partir de 2019, antes da pandemia, os EUA voltaram a desacelerar, indicando que crescimento com exclusão social não dura muito tempo.
Antes que o fracasso do “crescimento para poucos” ficasse mais claro, a Covid-19 abalou os EUA e o mundo todo, forçando até governos de extrema direita, como Trump e Bolsonaro, a fortes estímulos monetários e fiscais, muito mais altos do que os adotados em 2009-10.
Neste início de 2021, os EUA estão novamente diante de uma recuperação incompleta de sua economia, com dívida pública mais alta e os republicanos (agora fora do governo e sem controle do Congresso) dizendo que é preciso se preocupar com a situação fiscal.
Como é difícil defender ajuste fiscal depois do que Trump fez pelos mais ricos nos EUA, a retórica da direita começou a mudar.
Em artigo desta semana no Financial Times, um economista do Morgan Stanley disse que mais estímulo fiscal seria ruim porque, preparem-se: os estímulos recentes aumentaram a desigualdade!
O porta-voz de Wall Street (a Faria Lima deles) se esqueceu de dizer que houve aumento de desigualdade justamente por que, desde 2011, medidas fiscais que beneficiariam os mais pobres foram bloqueadas pelo Partido Republicano.
Traduzindo do economês, houve aumento excessivo de dívida pública porque houve recuperação insuficiente da renda nos EUA. Houve recuperação insuficiente de renda porque, de 2011 a 2019, a política fiscal dos EUA não se concentrou no aumento do emprego e na redução de desigualdades.
O desafio político de Biden é, portanto, convencer o Congresso de lá a mudar de lógica, com medidas fiscais e regulatórias que gerem renda e emprego para maioria dos norte-americanos.
Biden começou bem, com propostas de aumento do salário mínimo, transferência de renda para pessoas em dificuldade devido à pandemia e investimentos que geram emprego, sobretudo em inovação e construção civil, na transição para uma economia mais “verde”.
Para o bem dos EUA e de todo o mundo, desejo grande sucesso a Biden.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
Nenhum comentário:
Postar um comentário