1 de novembro de 2020

Dialética da Natureza de Engels no Antropoceno

John Bellamy Foster



Tradução / Como Paul Blackledge afirmou em um estudo recente sobre o pensamento de Engels, “a concepção de Engels de uma dialética da natureza abre um lugar através do qual as crises ecológicas” podem ser entendidas como enraizadas na “natureza alienada das relações sociais capitalistas”. É devido à própria abrangência de sua abordagem da dialética da natureza e da sociedade que o trabalho de Engels pode ajudar a esclarecer os grandes desafios que a humanidade enfrenta na época do Antropoceno e na atual era de crise ecológica planetária.

Em “O papel do trabalho na transição do primata para o homem” de sua obra Dialética da Natureza, Frederick Engels declarou: “Tudo afeta e é afetado por todas as outras coisas” (1). Hoje, duzentos anos após seu nascimento, Engels pode ser visto como um dos pensadores ecológicos fundacionais dos tempos modernos. Se a teoria da fratura metabólica de Karl Marx está no cerne da ecologia histórico-materialista hoje, não deixa de ser verdade que as contribuições de Engels para a nossa compreensão do problema ecológico geral permanecem indispensáveis, enraizadas em suas próprias investigações profundas sobre o metabolismo universal da natureza, que reforçaram e estenderam a análise de Marx. Como Paul Blackledge afirmou em um estudo recente sobre o pensamento de Engels, “a concepção de Engels de uma dialética da natureza abre um lugar através do qual as crises ecológicas” podem ser entendidas como enraizadas na “natureza alienada das relações sociais capitalistas” (2). É devido à própria abrangência de sua abordagem da dialética da natureza e da sociedade que o trabalho de Engels pode ajudar a esclarecer os grandes desafios que a humanidade enfrenta na época do Antropoceno e na atual era de crise ecológica planetária.

Corrida à ruína

Alguma sugestão do significado contemporâneo da crítica ecológica de Engels pode ser obtida começando com a célebre exposição de Walter Benjamin, de 1940, frequentemente citada por ecossocialistas, de “Paralipomena” (ou notas laterais) ao seu “Sobre o Conceito de História.” Nele, Benjamin afirmou: “Marx diz que as revoluções são a locomotiva da história mundial. Mas talvez seja bem diferente. Talvez as revoluções sejam uma tentativa por parte dos passageiros deste trem – ou seja, a raça humana – de ativar o freio de mão.” Na conhecida interpretação de Michael Löwy da declaração de Benjamin: “A imagem sugere implicitamente que se a humanidade permitisse que o trem seguisse o seu curso – já mapeado pela estrutura de aço dos trilhos – e se nada parasse sua corrida precipitada, nós iríamos direto para o desastre, para uma queda ou para um mergulho no abismo” (3).

A imagem dramática de Benjamin de uma locomotiva desgovernada e, portanto, a necessidade de conceber a revolução como um puxão do freio de emergência, lembra uma passagem semelhante no Anti-Dühring de Engels, escrito no final da década de 1870, uma obra com a qual Benjamin, como todos os socialistas da sua época, era familiar. Aqui, Engels indicou que a classe capitalista era “uma classe sob cuja liderança a sociedade está correndo para a ruína assim como uma locomotiva cuja válvula de segurança está emperrada e o motorista é muito fraco para abrir”. Foi precisamente a incapacidade do capital para controlar “as forças produtivas, que cresceram além do seu poder”, incluindo os efeitos destrutivos impostos em seus “arredores” naturais e sociais, que estava “levando toda a sociedade burguesa à ruína ou à revolução”. Portanto, “para que toda a sociedade moderna não pereça”, argumentou Engels, “uma revolução no modo de produção e distribuição deve ocorrer” (4).

A metáfora anterior de Engels diferia ligeiramente da posterior de Benjamin, no sentido de que o objetivo era abrir a válvula de segurança a fim de evitar uma explosão da caldeira e uma colisão – uma causa bastante comum de desastres de trens em meados do século XIX (5). Se o sistema pode ser visto como “correndo para a ruína”, a revolução aqui tem menos a ver com simplesmente parar o impulso para frente do que com exercer controle sobre as forças de produção fora de controle. Na verdade, o argumento ecológico e econômico de Engels não se baseava, como seria o caso hoje, na noção de que havia demasiada produção em relação à capacidade total de sustentação da Terra, perspectiva que mal estava presente na época em que ele estava escrevendo. Em vez disso, a sua principal preocupação ecológica tinha a ver com a destruição deliberada forjada pelo capitalismo em ambientes locais e regionais – mesmo que em uma base cada vez mais global. Os efeitos visíveis disso eram evidentes na poluição industrial, no desmatamento, na degradação do solo e na deterioração geral das condições ambientais (incluindo epidemias periódicas) da classe trabalhadora. Engels também apontou para a devastação de ambientes inteiros (e de seus climas), como na destruição ecológica que teve um papel tão importante na queda de civilizações antigas, devido principalmente à desertificação, e para os danos ambientais impostos pelo colonialismo às culturas e modos tradicionais de produção (6). Tal como Marx, Engels estava profundamente preocupado com o “Holocausto Vitoriano” do colonialismo britânico, incluindo a geração de surtos de fome na Índia por meio da destruição da sua ecologia e infraestrutura hidrológica e a ruinosa expropriação e extermínio infligidos à ecologia e ao povo da Irlanda (7).

É verdade que também podemos encontrar, nessas mesmas páginas, em que se levanta a questão “ruína ou revolução”, a passagem mais produtivista (e, nesse sentido, aparentemente prometeica) que se encontra em qualquer parte das obras de Marx e Engels. (8) Assim, Engels declarou em Anti-Dühring que o advento do socialismo tornaria possível o “desenvolvimento constantemente acelerado das forças produtivas, e… um aumento praticamente ilimitado da própria produção”. (9) No entanto, no contexto em que Engels estava escrevendo, isso não apresentava nenhuma contradição particular. A visão de que uma sociedade futura libertada da irracionalidade da produção capitalista permitiria aquilo que, pelos padrões do século XIX, teria parecido um desenvolvimento quase ilimitado da produção era praticamente universal entre os pensadores radicais da época. Isto era um reflexo natural do ainda baixo nível de desenvolvimento material na maior parte do mundo na época da Revolução Industrial, quando comparado com a escala ainda imensamente vasta da própria Terra. A produção industrial mundial aumentaria “cerca de 1.730 vezes” nos cento e cinquenta anos entre 1820, quando Engels nasceu, na época da Revolução Industrial do início do século XIX, e 1970, quando nasceu o movimento ecológico moderno, na época do primeiro Dia da Terra (10). Além disso, na análise de Engels (como na de Marx), a produção nunca foi vista como um fim em si mesma, mas sim como um mero meio para a criação de uma sociedade mais livre e igualitária, dedicada a um processo de desenvolvimento humano sustentável (11).

Dois séculos após seu nascimento, a profundidade da compreensão de Engels sobre a natureza sistemática da destruição do ambiente natural e social pelo capitalismo, juntamente com o seu desenvolvimento de uma perspectiva naturalista dialética, torna sua obra, juntamente com a de Marx, um ponto de partida para uma crítica ecossocialista revolucionária hoje. Como observou a antropóloga marxista Eleanor Leacock, Engels, em Dialética da Natureza, procurou desenvolver a base conceitual para compreender “a completa interdependência entre as relações sociais humanas e as relações humanas com a natureza” (12).

A vingança da natureza

Os problemas ecológicos são o produto da inter-relação entre sistema e escala. Na análise de Engels, é o sistema que é enfatizado acima de tudo. Em sua grande obra, A Condição da Classe Trabalhadora na Inglaterra, escrita quando ainda tinha vinte e poucos anos, ele focou nas condições ambientais e epidemiológicas destrutivas da Revolução Industrial nas grandes cidades manufatureiras, particularmente em Manchester. Ele destacou as terríveis condições ecológicas impostas aos trabalhadores pelo novo sistema industrial de fábrica, evidentes na poluição, contaminação tóxica, deterioração física, epidemias periódicas, má nutrição e alta mortalidade da classe trabalhadora, tudo associado à extrema exploração econômica. A Condição da Classe Trabalhadora na Inglaterra permanece uma obra única em sua poderosa acusação do “assassinato social” infligido pelo capitalismo à grande massa populacional na época da Revolução Industrial (13). Marx, para quem o livro de Engels foi o ponto de partida para seus próprios estudos epidemiológicos em O Capital, seguiu com essa base para designar “epidemias periódicas”, juntamente com a destruição do solo, como evidência da fratura metabólica do capitalismo. Na Alemanha, o tratamento dado por Engels à etiologia da doença em A Condição da Classe Trabalhadora na Inglaterra exerceu uma influência que se estendeu muito além dos círculos socialistas. Rudolf Virchow, o médico e patologista alemão, famoso como o autor de Patologia Celular, referiu-se favoravelmente ao livro de Engels em seu próprio trabalho pioneiro em epidemiologia social (14).

Esta compreensão das condições materiais da sociedade de classes capitalista como ambientais, bem como econômicas, era evidente em todo o trabalho de Engels. Além disso, ao buscar constantemente fundir as perspectivas materialistas e dialéticas da natureza e da sociedade, Engels acabou por chegar à tese de que a “natureza”, da qual os seres humanos eram uma parte emergente, era a “prova da dialética” – uma afirmação que hoje é melhor entendida se dissermos que a ecologia é a prova da dialética (15).

Na perspectiva evolutiva-ecológica desenvolvida por Engels, evidente em seus trabalhos maduros como A Dialética da Natureza e Anti-Dühring, o que distinguia os seres humanos dos animais não humanos era o papel do trabalho na transformação e domínio do meio ambiente, tornando possível para o “homem” se tornar o “real, consciente, senhor da natureza, porque ele agora [em uma sociedade futura] se torna o senhor de sua própria organização social” (16). No entanto, juntamente com esta tendência a um maior domínio da natureza em alguns aspectos, já manifestada sob o capitalismo, ocultava-se uma tendência sistemática de expansão das crises ecológicas, uma vez que todas as tentativas de conquista da natureza em desafio às leis naturais dos limites, só poderiam levar, no final, a catástrofes ecológicas. Isso pôde ser constatado principalmente em meados do século XIX, na devastação ecológica desencadeada pelo colonialismo. Como ele exclamou:

“O que importava aos plantadores espanhóis em Cuba, que queimavam florestas nas encostas das montanhas e obtinham das cinzas fertilizante suficiente para uma geração de cafeeiros muito lucrativos – o que os importava que as fortes chuvas tropicais depois levassem embora o desprotegido estrato superior do solo, deixando para trás apenas rocha nua! Em relação à natureza, como à sociedade, o modo de produção atual preocupa-se predominantemente apenas com o resultado imediato, o mais tangível; e, em seguida, expressa-se a surpresa de que os efeitos muitas vezes remotos das ações para esse fim acabam sendo bastante diferentes, sendo, na maior parte, exatamente o oposto em caráter” (17).

Para Engels, o ponto de partida para uma abordagem racional do meio ambiente se encontrava na famosa máxima de Francis Bacon de que “a natureza só é superada obedecendo-a” – isto é, descobrindo e conformando-se às suas leis (18). Contudo, na visão de Marx e Engels, o princípio de Bacon, na medida em que foi aplicado na sociedade burguesa, foi tratado principalmente como um “estratagema” para conquistar a natureza de modo a submetê-la às leis de acumulação e competição do capital (19). A ciência foi transformada em um mero apêndice de lucro, vendo os limites da natureza como meras barreiras a serem ultrapassadas. Em vez disso, a aplicação racional da ciência na sociedade como um todo só será possível em um sistema em que os produtores associados regulassem a relação metabólica humana com a natureza de forma não alienada, de acordo com as necessidades e potenciais humanos genuínos e as exigências de reprodução a longo prazo. Isso apontou para a contradição entre, por um lado, a própria dialética da ciência, que cada vez mais reconhecia nossa “unidade com a natureza” e a necessidade associada de controle social, e, por outro lado, o impulso míope do capitalismo para a acumulação ad infinitum, com sua a incontrolabilidade inata e negligência das consequências ambientais (20).

Foi essa perspectiva crítico-materialista profunda que levou Engels a enfatizar a falta de sentido da noção predominante de conquista da natureza – como se a natureza fosse um território estrangeiro a ser submetido à vontade, e como se a humanidade não existisse no seio do metabolismo da Terra. Essa tentativa de conquistar a Terra só poderia levar ao que ele se referiu, metaforicamente, como sendo a “vingança” da natureza, uma vez que vários limiares críticos (ou pontos de inflexão) forem ultrapassados:

“Não vamos, entretanto, nos gabar demais por causa de nossas vitórias humanas sobre a natureza. Para cada uma dessas vitórias, a natureza se vinga de nós. Cada vitória, é verdade, em primeiro lugar traz os resultados que esperávamos, mas em segundo e terceiro lugares tem efeitos bem diferentes e imprevistos que muitas vezes anulam o primeiro. As pessoas que, na Mesopotâmia, Grécia, Ásia Menor e em outros lugares, destruíram as florestas para obter terras cultiváveis, nunca sonharam que, removendo juntamente com as florestas os centros de recolha e reservatórios de umidade, eles estavam lançando a base para o atual estado de abandono desses países. Quando os italianos dos Alpes esgotaram as florestas de pinheiros nas encostas do sul, tão cuidadosamente cultivadas nas encostas do norte, eles não imaginaram que, ao fazer isso, estavam cortando as raízes da indústria de laticínios em sua região; eles tinham ainda menos noção de que estavam privando assim suas fontes de água durante a maior parte do ano, e tornando possível para eles derramarem torrentes ainda mais furiosas nas planícies durante as estações chuvosas… Assim, a cada passo, somos lembrados de que não governamos de forma alguma a natureza como um conquistador sobre um povo estrangeiro, como alguém fora da natureza – mas que nós, com carne, sangue e cérebro, pertencemos à natureza e existimos em seu meio, e que todo o nosso domínio sobre consiste no fato de termos a vantagem sobre todas as outras criaturas de poder aprender suas leis e aplicá-las corretamente” (21).

Por meio da ação consciente de acordo com a ciência racional, os seres humanos foram capazes de elevar-se consideravelmente acima “da influência de efeitos imprevistos e forças descontroladas”, percebendo “as consequências mais remotas da nossa interferência com o curso tradicional da natureza”. No entanto, mesmo no que diz respeito aos “povos mais desenvolvidos da atualidade”, podia-se constatar “uma desproporção colossal entre os objetivos propostos e os resultados alcançados”, tal “que os efeitos imprevistos predominam e... as forças descontroladas são mais poderosas do que aquelas desencadeadas de acordo com o plano.” As economias de commodities baseadas no domínio de classe alcançaram “o fim desejado apenas por meio de exceção”, mais frequentemente produzindo “exatamente o oposto”. Consequentemente, uma abordagem racional, científica e sustentável da relação humana com a natureza e a sociedade sob o capitalismo era impossível (22).

É significativo que esse mesmo ponto de vista geral sobre capitalismo e ecologia articulado por Engels fosse ecoado algumas décadas depois por Ray Lankester, que era um protegido de Charles Darwin e Thomas Huxley, amigo próximo de Marx (e conhecido de Engels) e o principal biólogo britânico na geração após Darwin. Lankester era um socialista ao estilo fabiano que leu e foi influenciado por O Capital de Marx. Em seu livro de 1911, The Kingdom of Man (O Reino do Homem) – que reuniu sua palestra Romanes de 1905 em Oxford, “Nature’s Insurgent Son” (O filho insurgente da natureza), o seu discurso presidencial de 1906 para a British Association for the Advancement of Science (Associação Britânica para o Avanço da Ciência) e seu artigo “Nature’s Revenges” (As vinganças da Natureza) com foco na doença do sono africana – Lankester insistia que o crescente domínio humano sobre a Terra estava dando origem, de forma contraditória, a um potencial maior para desastres ecológicos em escala planetária. Assim, em seu capítulo sobre “As vinganças da natureza”, ele se referiu à humanidade como o “perturbador da natureza” e, portanto, como o criador de doenças epidêmicas periódicas que ameaçam a humanidade juntamente com outras espécies. “Parece ser uma visão legítima”, escreveu Lankester, “que qualquer doença a qual os animais [incluindo o animal humano] (e provavelmente as plantas também), são passíveis, exceto como um acontecimento transitória e muito excepcional, é devido à interferência do homem” (23). Além disso, isso poderia ser atribuído a um sistema dominado por “mercados” e “negociadores financeiros cosmopolitas” que minaram qualquer abordagem racional e científica para reconciliar a natureza e a produção humana (24). Mais tarde, Lankester desenvolveria mais este argumento, escrevendo sistematicamente sobre “A Eliminação da Natureza pelo Homem” (25).

Assim como Marx e Engels posteriormente, Lankester viu o “Kingdom of Man”(Reino do Homem) como o início de um permanente estado ecológico periclitante para a humanidade, engendrado pelo capitalismo, que, se as condições naturais fossem continuamente espezinhadas pela acumulação voraz do capital, levaria a um catastrófico declínio ambiental humano. Se não quisesse destruir as próprias bases de sua existência, a humanidade não teria escolha a não ser controlar sua produção, superando os estreitos ditames da acumulação de capital e adotando os ditames de uma ciência racional em linha com o desenvolvimento coevolucionário.

A Dialética da Natureza e da História

As percepções ecológicas de Engels são inseparáveis de suas investigações sobre a dialética da natureza das quais surgiram. No entanto, o primeiro princípio do que veio a ser conhecido como a tradição filosófica do marxismo ocidental foi que não se poderia dizer que a dialética se aplicava à natureza externa, isto é, não existia o que Engels se referia por “a chamada dialética objetiva” para além do domínio ativo do sujeito humano (26). As relações dialéticas, e mesmo os objetos do raciocínio dialético, foram, portanto, confinados à esfera histórico-humana, onde a identidade sujeito-objeto poderia ser considerada aplicável, uma vez que toda a realidade não reflexiva (transfatual) fora da consciência humana e da ação humana foi excluída da análise (27). Mas com a completa rejeição da dialética da natureza dentro da tradição marxista ocidental, o extraordinário poder das explorações de Engels nesta área e a enorme influência que exerceram sobre o pensamento evolucionário e ecológico dentro das ciências naturais e no marxismo foram perdidos, exceto para um número relativamente pequeno de cientistas de esquerda e materialistas dialéticos. Incapaz de ver a dialética como relacionada à natureza material, a tradição filosófica marxista ocidental tendeu a relegar a ciência natural e a própria natureza externa ao domínio do mecanicismo e do positivismo. O resultado foi criar um abismo profundo entre a concepção dominante da filosofia marxiana no Ocidente após a Segunda Guerra Mundial e a ciência natural (e entre o marxismo ocidental e a concepção materialista da natureza) no exato momento, ironicamente, em que o movimento ecológico estava emergindo como uma grande força política (28).

Restaurar as percepções do materialismo histórico clássico nesta área requer, portanto, a recuperação, em algum nível, da concepção de Engels da dialética da natureza (29). Isso requer, por sua vez, não aceitar rejeições superficiais e muitas vezes mal concebidas da abordagem de Engels à dialética da natureza, geralmente polemizando contra suas três amplas “leis” dialéticas que ele derivou de G.W.F. Hegel e às quais deu um novo significado materialista: (1) a transformação da quantidade em qualidade e vice-versa, (2) a identidade ou unidade dos opostos, e (3) a negação da negação (30). Ao escrever sobre a “Filosofia da Ciência de Engels”, Peter T. Manicas, por exemplo, queixou-se da natureza “quase vazia” dessas leis (31). No entanto, na análise de Engels, essas não foram entendidas como leis estreitas e fixas no sentido positivista, mas sim, na terminologia de hoje, como “princípios ontológicos” amplos e dialeticamente concebidos, equivalentes a proposições básicas como o princípio da uniformidade da natureza, o princípio da perpetuidade da substância e o princípio da causalidade. Na verdade, a abordagem de Engels à dialética desafiou de várias maneiras a compreensão desses mesmos princípios à medida que eram avançados pela ciência de sua época (32).

Talvez a avaliação mais sucinta e penetrante das contribuições de Engels para a dialética da natureza fornecida por um cientista natural possa ser encontrada em um panfleto de 1936 intitulado Engels as a Scientist, do célebre cientista marxista J.D. Bernal, professor de física e cristalografia de raios-X na Birkbeck College, Universidade de Londres. Bernal descreveu Engels como um filósofo e historiador da ciência, alguém que não poderia “ser considerado um amador”, dada a gama de contatos científicos que ele havia desenvolvido em Manchester, e que havia alcançado um nível de análise que ultrapassava em muito o dos filósofos profissionais da ciência de sua época, como Herbert Spencer e William Whewell na Inglaterra e Friedrich Lange na Alemanha (33). Por trás da profunda compreensão de Engels do desenvolvimento histórico da ciência em seu tempo, de acordo com Bernal, estava uma percepção dialética em que o “conceito de natureza sempre foi como um todo e como um processo” (34). Nesse sentido, Engels tomou emprestado criticamente de Hegel, reconhecendo que por trás da apresentação idealista deste último da mudança dialética em sua Lógica estavam processos que poderiam ser considerados inerentes objetivamente à natureza, conforme capturado na cognição humana.

Ao abordar a primeira das três “leis” dialéticas ou princípios ontológicos que Engels extraiu de Hegel – como as mudanças na quantidade podem levar a transformações qualitativas e o seu oposto – Bernal enfatizou seu caráter essencial para o pensamento científico natural. “Com notável discernimento, Engels diz: – ‘As chamadas constantes da física nada mais são do que designações de pontos nodais onde a adição ou retirada quantitativa de movimento provoca uma mudança qualitativa no estado do organismo em questão’… Só agora estamos começando a apreciar a justiça essencial dessas observações e o significado de tais pontos nodais ”. A esse respeito, Bernal enfatizou a referência de Engels à tabela periódica de Dmitri Mendeleev como exemplar de transformações qualitativas decorrentes de mudanças quantitativas contínuas, bem como a relação das noções básicas de Engels com as descobertas associadas ao surgimento da teoria quântica (35). A abordagem de Engels, como o matemático marxista britânico Hyman Levy indicou, apontou para o conceito de “mudança de fase” conforme empregado na física moderna (36).

Hoje, sabemos que esse princípio dialético também se aplica à biologia. Por exemplo, o aumento da densidade populacional de microrganismos (um aumento quantitativo) pode causar uma mudança na expressão genética, levando à formação de algo novo (uma mudança qualitativa). À medida que as populações bacterianas aumentam, os sinais (químicos) emitidos por cada organismo se acumulam a um nível que ativa genes, levando à produção de uma fase de biofilme mucilaginoso na qual os organismos ficam embutidos. Os biofilmes podem ser compostos de uma série de organismos e anexar organismos a quase qualquer superfície, desde tubos de água a rochas em riachos até os dentes e raízes do solo (37).

A segunda lei de Engels, a interpenetração dos opostos, era mais difícil de definir em um sentido operacional, mas ainda de suprema importância para a investigação científica. Na explicação de Bernal, isso representava dois princípios relacionados: (1) “tudo implica seu oposto” e (2) não havia “linhas rígidas e rápidas na natureza”. Engels ilustrou o último ponto referindo-se à famosa descoberta de Lankester de que o caranguejo-ferradura (Limulus) era um aracnídeo, parte da família da aranha e do escorpião, uma revelação que surpreendeu o mundo científico e confundiu as classificações biológicas anteriores (38). Em sua aplicação deste princípio dialético para a física e para a questão da matéria e movimento (ou energia), Bernal afirmou, “Engels se aproximou muito das ideias modernas da relatividade” (39). A noção de Engels da unidade dos opostos é frequentemente vista, na dialética marxiana de hoje, em termos do papel das relações internas, nas quais pelo menos um dos relata é dependente do outro (40). Como o próprio Engels observou, o reconhecimento de que as relações mecânicas com “a sua imaginada rigidez e validade absoluta foram introduzidas na natureza apenas por nossas mentes reflexivas... é o cerne da concepção dialética da natureza” (41).

A negação da negação, a terceira lei dialética informal de Engels, que, como observou Bernal, parecia tão paradoxal em meras palavras, pretendia transmitir que, no curso de seu desenvolvimento histórico ou evolução ao longo do tempo, qualquer coisa dentro do mundo objetivo está fadada a gerar algo diferente, uma nova realidade emergente, representando novas relações materiais e níveis emergentes, muitas vezes através da ação de fatores recessivos ou elementos residuais, previamente superados, que ainda são inerentes ao presente. A existência material como um todo pode ser vista como condução a uma hierarquia de níveis organizacionais, enquanto que a mudança transformadora muitas vezes significa a mudança de um nível organizacional para outro, como da semente para a planta (42).
O desenvolvimento das chamadas “propriedades emergentes” é agora considerado um conceito biológico e ecológico básico. Em um contexto ecológico, ocorre quando comunidades de espécies interagem de forma a produzir novas características, em sua maioria imprevisíveis, decorrentes do comportamento das espécies individuais na comunidade (43). Um campo agrícola de quatro acres com uma mistura de quatro espécies diferentes (a policultura) pode levar a um rendimento total superior a de quatro acres dedicados apenas ao cultivo de cada uma das espécies individualmente. Isso pode ocorrer por vários motivos: por exemplo, melhor uso da luz solar e da água e diminuição dos danos por insetos no campo de policultura.

A coevolução de organismos também produz novas propriedades. Por exemplo, ao longo do período evolutivo, os insetos que se alimentam das folhas das plantas levam ao desenvolvimento de vários mecanismos de defesa nas plantas. Isso inclui a produção de químicos que inibem a alimentação do inseto e a emissão de químicos que recrutam organismos (frequentemente pequenas vespas) que colocam seus ovos no inseto, que é então morto conforme os ovos se desenvolvem. Mas o vaivém continua. Em pelo menos um caso, o da lagarta do tomate, a vespa também deve injetar um vírus que desativa o sistema imunológico da lagarta para permitir que os ovos da vespa se desenvolvam. A evolução está constantemente criando algo diferente, às vezes dramaticamente, conforme os organismos interagem. Em alguns casos, isso leva a mudanças fundamentais em ecossistemas inteiros e ao surgimento de novas espécies dominantes em ambientes específicos. Como escreveu Engels, a emergência, no sentido de “a negação da negação, realmente ocorre em ambos os reinos [vegetal e animal] do mundo natural” (44).

Como historiador da ciência, Engels, de acordo com Bernal, foi notável em suas percepções sobre as três grandes revoluções científicas do século XIX: (1) termodinâmica – as leis da conservação e intercambialidade das formas de energia e da entropia; (2) a análise da célula orgânica e o desenvolvimento da fisiologia; e (3) a teoria da evolução de Darwin com base na seleção natural por variação inata (45). Como Ilya Prigogine, vencedor do Prêmio Nobel de Química de 1977, mais tarde observou, a grande visão de Engels foi reconhecer que essas três revoluções na ciência física “rejeitaram a visão de mundo mecanicista” e aproximou-se “da ideia de um desenvolvimento histórico da natureza” (46).

No relato de Bernal, entre as preocupações de Engels estava a busca da “síntese de todos os processos que afetam a vida, a ecologia animal e a distribuição [biológica]” (47). O que tornou essa síntese possível foi sua concepção de movimento e mudança dialéticos, enfatizando a complexidade de interações materiais e a introdução de novos poderes emergentes, em um processo de origem, desenvolvimento e declínio. “A ideia central do Materialismo Dialético”, declarou Bernal, “é a da transformação... A tarefa essencial da dialética materialista é a explicação do qualitativamente novo”, revelando as condições que regem o surgimento de uma nova “hierarquia organizacional” (48).
A esse respeito, a conquista pioneira de Engels foi utilizar sua concepção dialética da natureza para lançar luz sobre todos os quatro problemas materialistas de “origem” que permaneceram após Darwin: (1) a origem do universo (que Engels insistia ser uma origem própria como previsto na hipótese nebular de Immanuel Kant e Pierre-Simon Laplace); (2) a origem da vida (em que Engels refutou a noção de Justus von Liebig e Hermann Helmholtz da eternidade da vida e apontou, em vez disso, para uma origem química com foco no complexo de substâncias químicas subjacentes ao protoplasma, particularmente proteínas); (3) a origem da sociedade humana (na qual Engels foi mais longe do que qualquer outro pensador de sua época ao explicar a evolução da mão e das ferramentas por meio do trabalho, e com elas o cérebro e a linguagem, antecipando descobertas posteriores na paleoantropologia); e (4) a origem da família (na qual ele explicou a base matrilinear original da família e a ascensão da família patriarcal com propriedade privada) (49).

Desse modo, Engels, insistia Bernal, havia antecipado ou prefigurado muitos dos desenvolvimentos da ciência materialista. “Engels, que acolheu o princípio da conversão de uma forma de energia em outra, teria igualmente saudado a transformação da matéria em energia. O movimento como modo de existência da matéria [o grande postulado de Engels] adquiriria aqui sua verdade final” (50). Como Bernal observou em outro lugar, Engels “viu mais claramente do que a maioria dos físicos distintos de seu tempo a importância da energia e sua inseparabilidade da matéria. Nenhuma mudança na matéria, declarou ele, poderia ocorrer sem uma mudança na energia, e vice-versa... [A] substituição do movimento pela força pela qual Engels lutou durante todo o tempo foi o ponto de partida da própria crítica de Einstein à mecânica” (51).

No entanto, foi a ampla perspectiva sobre a ecologia emanada da dialética de Engels que constituiu a visão mais crítica de A Dialética da Natureza e é a razão pela qual um retorno à forma de raciocínio de Engels permanece tão importante. Como Bernal argumentou, uma das contribuições cruciais de Engels foi sua crítica às noções da conquista humana absoluta da natureza. Engels havia diagnosticado fortemente o fracasso da sociedade humana, e particularmente do modo de produção capitalista, em prever as consequências ecológicas de suas ações, rastreando “os efeitos das consequências físicas indesejáveis da interferência humana na natureza, como o desflorestamento e a disseminação de desertos” (52).

Outros importantes cientistas socialistas britânicos das décadas de 1930 e 40 ficaram igualmente impressionados com os avisos ecológicos de Engels. Para o grande bioquímico e historiador da ciência Joseph Needham, Engels poderia ser descrito como alguém “de quem nada escapou”. Engels, portanto, apontou que, nas palavras de Needham, “pode chegar um dia em que a luta da humanidade contra as condições adversas de vida em nosso planeta terá se tornado tão severa que uma evolução social posterior se tornará impossível”, referindo-se à eventual extinção da espécie humana (53). Para Needham, esse ponto de vista crítico, que rejeitava a hipótese grosseira do progresso linear, também servia para iluminar o extraordinário desperdício e a destruição ecológica da sociedade capitalista – onde o café era cultivado para alimentar lareiras de locomotivas. Isso levantou a questão de uma “interpretação termodinâmica da justiça”, uma vez que a alienação da natureza (incluindo a alienação da energia), como Engels havia sugerido, estava “desperdiçando” possibilidades humanas reais no presente e no futuro (54).

O biólogo J. B. S. Haldane – uma das duas principais figuras britânicas (junto com R. A. Fisher) na síntese neodarwiniana, reconciliando a biologia darwiniana com a revolução na genética – viu Engels como “a principal fonte” da dialética materialista. Comparando Engels a Charles Dickens em relação à Revolução Industrial, Haldane enfatizou que Engels viu mais e mais longe. “Dickens tinha um conhecimento em primeira mão dessas condições [de pobreza e poluição]. Ele as descreveu com uma ardente indignação e em grande detalhe. Mas sua atitude era de piedade em vez de esperança. Engels viu a miséria e a degradação dos trabalhadores, mas viu além disso. Dickens nunca sugeriu que, se quisessem ser salvos, deviam salvar a si mesmos. Engels viu que isso não era apenas desejável, mas inevitável” (55).

O reconhecimento da importância da dialética da natureza de Engels se estendeu até nossos dias. Os biólogos de Harvard Richard Levins e Richard Lewontin dedicariam seu agora clássico trabalho The Dialectical Biologist a Engels, baseando-se fortemente, embora de forma crítica em alguns pontos, em sua análise (56). Levins e o colega de Harvard de Lewontin, paleontólogo e teórico da evolução Stephen Jay Gould, observaram que Engels forneceu o melhor caso do século XIX para a coevolução da cultura genética – isto é, a melhor explicação da evolução humana durante a própria vida de Darwin, dado que a coevolução da cultura genética é a forma que todas as teorias coerentes da evolução humana devem assumir (57).

Foi o desenvolvimento de uma dialética da emergência por Engels que se provou mais revolucionária. O significado dessa perspectiva – ontologicamente, epistemologicamente, metodologicamente – foi captado por Needham em sua própria análise inovadora de “níveis integrativos” (ou de emergência) em Time, the Refreshing River (Tempo, o Rio Refrescante – um título que remetia ao grande materialista antigo, Heráclito):

“Marx e Engels foram ousados o suficiente para afirmar que isso [o processo dialético] acontece realmente na própria natureza em evolução, e que o fato indubitável de que isso acontece em nosso pensamento sobre a natureza é porque nós e o nosso pensamento fazem parte da natureza. Não podemos considerar a natureza senão como uma série de níveis de organização, uma série de sínteses dialéticas. Da última partícula ao átomo, do átomo à molécula, da molécula ao agregado coloidal, do agregado à célula viva, da célula ao órgão, do órgão ao corpo, do corpo animal à associação social, a série de níveis organizacionais está completa. Nada além de energia (como agora chamamos de matéria e movimento) e os níveis de organização (ou as sínteses dialéticas estabilizadas) em diferentes níveis foram necessários para a construção de nosso mundo” (58)

Engels no Antropoceno

É amplamente reconhecido na ciência contemporânea (embora ainda não oficial) que a época do Holoceno no tempo geológico, que remonta a quase 12 mil anos, chegou ao fim, começando na década de 1950, deslocada pela atual época do Antropoceno. O início do Antropoceno foi ocasionado por uma Grande Aceleração dos impactos antropogênicos sobre o meio ambiente, de tal forma que a escala da economia humana passou a rivalizar com os principais ciclos biogeoquímicos do próprio planeta, resultando em rupturas nas fronteiras planetárias que definem o Sistema Terrestre como um lar seguro para a humanidade (59). O Antropoceno, portanto, representa o que Lankester havia chamado anteriormente de “Reino do Homem”, no sentido crítico em que isso se referia: isto é, a humanidade era cada vez mais o “perturbador” do ambiente natural em escala planetária. Consequentemente, a sociedade não teve escolha a não ser buscar a aplicação racional da ciência e, assim, a derrubada de uma ordem social na qual a ciência foi relegada a um mero meio pelo qual “tesouro e luxo são abertos aos capitalistas” (60). O que isso significava, nos termos mais contundentes de Engels (e de Marx), era que a condição para a regulação racional do metabolismo entre a humanidade e a natureza e, portanto, a aplicação racional da ciência, era a transformação do modo de produção e distribuição. Qualquer outro curso convidava ao acúmulo de catástrofes. (61)

É no Antropoceno que a dialética da ecologia de Engels pode ser vista como finalmente alcançando seu próprio valor. É aqui que sua ênfase na interdependência de tudo que existe, a unidade dos opostos, relações internas, mudança descontínua, evolução emergente, a realidade do ecossistema e da destruição do clima e a crítica das noções lineares de progresso podem ser vistos como essenciais para o futuro da humanidade e da Terra como a conhecemos. Engels estava perfeitamente ciente de que nas concepções científicas modernas “toda a natureza também está agora também fundida na história, e a história só se diferencia da história natural como o processo evolutivo de organismos autoconscientes” (62). Na medida em que a humanidade estava alienada de seu próprio trabalho e processo de produção e, portanto, de seu metabolismo com a natureza, isso só poderia significar a destruição da natureza e da sociedade. O crescimento quantitativo do capital levou a uma transformação qualitativa da relação humana com a própria Terra, que somente uma sociedade de produtores associados poderia tratar racionalmente. Isso estava relacionado ao fato de que um determinado modo de produção qualitativo (como o capitalismo) estar associado a uma matriz específica de demandas quantitativas, enquanto que um modo de produção qualitativamente transformado (como no socialismo) poderia levar a uma matriz quantitativa muito diferente.

Engels argumentou que o capitalismo estava “esbanjando” os recursos naturais do mundo, incluindo combustíveis fósseis (63). Ele indicou que a poluição urbana, a desertificação, o desmatamento, a exaustão do solo e as mudanças climáticas (regionais) eram todos resultados de formas destrutivas não planejadas, não controladas da produção, mais evidentes na economia mercantil capitalista. Em consonância com Marx e Liebig, ele apontou para o enorme problema dos esgotos de Londres como uma manifestação da fratura metabólica, que removia os nutrientes do solo e os enviava para as cidades superlotadas, onde se tornavam uma fonte de poluição (64). Ele destacou a base de classe da propagação das epidemias periódicas de varíola, cólera, tifo, febre tifóide, tuberculose, escarlatina, coqueluche e outras doenças contagiosas que afetavam as condições ambientais da classe trabalhadora, juntamente com má nutrição, excesso de trabalho, exposição a produtos tóxicos no trabalho e acidentes de todos os tipos no local de trabalho. Ele destacou, com base na nova ciência da termodinâmica, que a mudança ecológica histórica era irreversível e que a própria sobrevivência da humanidade estava em questão (65). Em termos das relações atuais de produção e meio ambiente, ele escreveu sobre uma sociedade que enfrenta a ruína ou a revolução. O assassinato social de trabalhadores em ambientes urbanos e a fome na Irlanda e na Índia coloniais foram vistos como indícios de extrema exploração, degradação ecológica e até mesmo extermínio indiscriminado de populações logo abaixo da superfície da sociedade capitalista (66).

Em todas essas bases, Engels, como Marx, argumentou que o metabolismo humano com a natureza deve ser regulado por produtores associados em conformidade (ou em coevolução com) as leis da natureza tal como entendidas pela ciência, enquanto satisfaz as necessidades individuais e coletivas. Essa aplicação racional da ciência, no entanto, era impossível no capitalismo. Nem o desenvolvimento em si era controlável no capitalismo, uma vez que se baseava no ganho individual imediato. Para implementar uma abordagem científica abrangente e racional, alinhada com as necessidades humanas e as condições ambientais sustentáveis, era necessária uma sociedade na qual um sistema de planejamento de longo prazo no interesse de toda a cadeia de gerações humanas pudesse ser colocado em operação (67).

Implícito na análise de Engels desde o início estava uma noção do que podemos chamar de proletariado ambiental. Assim, enquanto o capitalismo se preocupava com a “economia política do capital”, a classe trabalhadora em suas fases mais oprimidas e também em suas fases mais radicais preocupava-se com a totalidade da existência, sempre partindo das necessidades elementares. Chamar os objetivos dos trabalhadores de “economia política da classe trabalhadora”, como Marx fez uma vez, pode não estar errado, mas seria mais correto, na terminologia de hoje, dizer que os trabalhadores, em suas lutas mais revolucionárias, estão primariamente se esforçando para criar uma nova ecologia política da classe trabalhadora, preocupada com todo o seu meio ambiente e condições básicas de vida, que só pode ser alcançada em uma base comunal (68). Foi isso que foi tão bem capturado em A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra de Engels, onde ele sistematicamente expôs a poluição do ar e da água, os esgotos contaminados, a comida adulterada, a falta de nutrição, os tóxicos no trabalho, os danos frequentes e a alta morbidade e mortalidade da classe trabalhadora – e viu a luta pelo socialismo como o único caminho genuíno a seguir.

De fato, A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra levantou questões que agora estão voltando ao primeiro plano no Antropoceno. Para Marx, o trabalho juvenil de Engels foi exercer uma influência duradoura, levando-o a designar “epidemias periódicas” como uma manifestação da fratura metabólica, ao lado da destruição do solo. Muitas páginas de O Capital foram dedicadas simplesmente à tentativa de atualizar a análise epidemiológica de Engels décadas depois (69). Hoje, no contexto da pandemia representada pelo COVID-19, esses conhecimentos assumem uma importância renovada como um ponto de partida para a longa revolução para um mundo ecossocialista (70). No entanto, para levar adiante tais análises, é necessário explorar uma ciência (e arte) dialética enraizada em uma concepção da complexa “unidade” da humanidade e da natureza.

Todas as coisas são vendidas

Engels admirava a poesia de Percy Bysshe Shelley, a quem considerava um “gênio”. Ele escreveu em sua juventude sobre “uma ternura e originalidade na representação da natureza que apenas Shelley pode alcançar” (71). Nas estrofes de abertura do Mont Blanc de Shelley, encontramos uma dialética materialista da natureza e da mente não muito diferente da de Engels:

“O universo eterno das coisas
Flui pela minha mente e rola suas ondas rápidas
Ora escuras – ora reluzentes – ora refletindo treva
Ora emprestando esplendor, onde, de suas nascentes secretas
A fonte do pensamento humano seu tributo traz
Das águas, – com um som só meio seu”

Como Shelley, que em Queen Mab escreveu sobre a alienação da natureza pela sociedade burguesa juntamente com o amor – “Todas as coisas são vendidas: a própria luz do Céu / É venal; as dádivas implacáveis de amor da Terra ” – Engels viu a profunda necessidade de reconciliação da humanidade com a natureza, que somente uma revolução poderia trazer (73).

Notas

(1) Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works, vol. 25 (New York: International Publishers, 1975), p. 459.

(2) Paul Blackledge, Friedrich Engels and Modern Social and Political Theory (Albany: State University of New York Press, 2019), p. 16.

(3) Walter Benjamin, Selected Writings, vol. 4, 1938-1940 (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2003), p. 402; Michael Löwy, Fire Alarm: Reading Walter Benjamin’s “On the Concept of History” (London: Verso, 2001), pp. 66-67.

(4) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 145-46, 153, 270; Karl Marx e Frederick Engels, Ireland and the Irish Question (Moscow: Progress Publishers, 1971), p. 142.

(5) Explosões de caldeiras de locomotivas devido a válvulas de segurança defeituosas e desajustadas eram comuns em meados do século XIX. Os engenheiros de locomotivas, sob pressão de tempo, muitas vezes travavam ou prendiam as válvulas de segurança, bloqueando assim as válvulas de segurança do trem, que não abriam ou que não eram fisicamente capazes de abrir a tempo. Ler Christian H. Hewison, Locomotive Boiler Explosions (Newton Abbot: David & Charles, 1983), pp. 11, 18-19, 36, 49, 54-56, 82, 85, 110.

(6) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 459; John Bellamy Foster, “Capitalism and the Accumulation of Catastrophe”, Monthly Review 63, n.º 7 (December 2011): pp. 5-7; Karl Marx e Friedrich Engels, Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA) IV/31 (Amsterdam: Akadamie Verlag, 1999), pp. 512-15.

(7) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 167; Karl Marx e Friedrich Engels, Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA) IV/18 (Berlin: Walter de Gruyter, 2019), pp. 670-74, 731 (excertos por Marx); Mike Davis, Late Victorian Holocausts: El Niño Famines and the Making of the Third World (London: Verso, 2001); Marx e Engels, Ireland and the Irish Question.

(8) Sobre a noção de extremo produtivismo e, nesse sentido, de prometeísmo, bem como a sua quase total ausência no pensamento de Marx e Engels, ler John Bellamy Foster, The Ecological Revolution (New York: Monthly Review Press, 2009), pp. 226-29.

(9) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 269. Para Marx e Engels, deve-se notar, as forças produtivas referem-se a mais do que simplesmente tecnologia. Assim, Marx insistia que o instrumento ou força de produção mais importante eram os próprios seres humanos. Consequentemente, a expansão das forças de produção significou a expansão das habilidades e poderes produtivos humanos. Ler Marx e Engels, Collected Works, vol. 6, p. 211; Paul A. Baran, The Longer View (New York: Monthly Review Press, 1969), p. 59.

(10) Walt Rostow, The World Economy (Austin: University of Texas Press, 1978), pp. 47-48, 659-62.

(11) Sobre o desenvolvimento humano sustentável como uma estrutura que rege o pensamento de Marx e Engels, ver Paul Burkett, “Marx’s Vision of Sustainable Human Development”, Monthly Review 57, n.º 5 (October 2005): pp. 34-62.

(12) Eleanor Leacock, introdução a The Origin of the Family, Private Property and the State, de Frederick Engels (New York: International Publishers, 1972), pp. 245.

(13) Marx e Engels, Collected Works, vol. 4, pp. 394, 407; Ian Angus, “Cesspools, Sewage, and Social Murder”, Monthly Review 70, n.º 3 (July–August 2018): p. 38; John Bellamy Foster, The Return of Nature (New York: Monthly Review Press, 2020), pp. 182-95.

(14) Howard Waitzkin, The Second Sickness (New York: Free Press, 1983), pp. 71-72.

(15) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 23; Foster, The Return of Nature, p. 254.

(16) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 270.

(17) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 463-64.

(18) Francis Bacon, Novum Organum (Chicago: Open Court, 1994), pp. 29, 43.

(19) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 461; Karl Marx, Grundrisse (London: Penguin, 1973), pp. 409-10.

(20) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 461.

(21) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 460-61.

(22) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 330-31, 461.

(23) Ray Lankester, The Kingdom of Man (New York: Henry Holt and Co., 1911), pp. 1-4, 26, 31-33; Foster, The Return of Nature, pp. 61-64.

(24) Lankester, The Kingdom of Man, p. 31; Joseph Lester, Ray Lankester and the Making of Modern British Biology (Oxford: British Society for the History of Science, 1995), pp. 163-64.

(25) Ray Lankester, Science from an Easy Chair (New York: Henry Holt and Co., 1913), pp. 365-69.

(26) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 492. A crítica a Engels à dialética da natureza teve suas origens na nota de rodapé 6 de História e consciência de classe de Georg Lukács, embora Lukács, como ele explicou posteriormente, nunca tenha abandonado totalmente a noção de uma “dialética meramente objetiva” e promovesse mesmo uma tal dialética naturalística, baseado mais em Marx do que em Engels, em seu pensamento posterior. No entanto, a rejeição da dialética da natureza tornou-se axiomática para o marxismo ocidental a partir da década de 1920, ganhando força no período pós-Segunda Guerra Mundial. Georg Lukács, History and Class Consciousness (Cambridge, MA: MIT Press, 1971), pp. 24, 207. Ver também Russell Jacoby, “Western Marxism,” em A Dictionary of Marxist Thought, ed. Tom Bottomore (Oxford: Blackwell, 1983), pp. 523-26; Foster, The Return of Nature, pp. 11-22. Sobre o conflito geral a respeito de Engels dentro do marxismo contemporâneo, ver Blackledge, Frederick Engels and Modern Social and Political Theory, pp. 1-20.

(27) Como argumentou Roy Bhaskar, a necessidade de considerar o intransitivo ou o reino da transfatualidade estabelece a distinção entre o epistemológico e o ontológico, contra a tendência de grande parte da filosofia contemporânea, incluindo a tradição filosófica marxista ocidental, de promover a falácia epistemológica, característica do idealismo, na qual a ontologia é subsumida na epistemologia. A adesão à falácia epistemológica tornaria qualquer materialismo consistente ou ciência natural impossível. Roy Bhaskar, Dialectic: The Pulse of Freedom (London: Verso, 1993), pp. 397, 399-400, 405.

(28) Isso pode ser visto em The Concept of Nature in Marx de Alfred Schmidt, publicado em 1962, o mesmo ano de Silent Spring de Rachel Carson. O trabalho de Schmidt, um produto da Escola de Frankfurt (influenciado particularmente por seus mentores Max Horkheimer e Theodor Adorno), em sua maior parte, negou a dialética da natureza e qualquer reconciliação da humanidade com a natureza no auge do surgimento do movimento ambientalista moderno. Alfred Schmidt, The Concept of Nature in Marx (London: Verso, 1970).

(29) Este e os seis parágrafos seguintes foram adaptados de Foster, The Return of Nature, pp. 379-81.

(30) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 356.

(31) Peter T. Manicas, “Engels’s Philosophy of Science”, in Engels After Marx, ed. Manfred B. Steger e Terrell Carver (University Park: Pennsylvania University Press, 1999), p. 77.

(32) Craig Dilworth, “Principles, Laws, Theories, and the Metaphysics of Science”, Synthese 101, n.º 2 (1994): pp. 223-47. O princípio da uniformidade (ou uniformitarismo), mais intimamente associado a Charles Lyell, foi desafiado pelo conceito de evolução de Darwin, embora o gradualismo de Darwin minimizou o conflito. Stephen Jay Gould e o paleontólogo Niles Eldredge desafiaram o uniformitarismo muito mais radicalmente em sua teoria do equilíbrio pontuado na década de 1980. Ver Richard York e Brett Clark, The Science and Humanism of Stephen Jay Gould (New York: Monthly Review Press, 2011), pp. 28, 40-42. A noção tradicional da perpetuação da substância foi desafiada na época de Engels pelo desenvolvimento do conceito de energia na física. Em relação a ambos os princípios ontológicos e ao princípio da causalidade, onde ele abordou o complexo intercâmbio de causa e efeito, as “leis” dialéticas ou princípios ontológicos de Engels não só capturaram as mudanças revolucionárias que ocorriam na ciência da sua época, mas de várias maneiras prefiguraram descobertas posteriores. Sobre as visões de causalidade de Engels, ver Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 510.

(33) D. Bernal, Engels and Science (London: Labour Monthly Pamphlets, 1936), pp. 1-2.

(34) Bernal, Engels and Science, p. 5.

(35) Bernal, Engels and Science, pp. 5-7; Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 359 (a tradução segue Bernal).

(36) Hyman Levy, A Philosophy for a Modern Man (New York: Alfred A. Knopf, 1938), pp. 30-32, 117, 227-28.

(37) Este parágrafo foi escrito por Fred Magdoff. Ver também Fred Magdoff e Chris Williams, Creating an Ecological Society (New York: Monthly Review Press, 2017), p. 215.

(38) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 326, 507; E. Ray Lankester, “Limulus an Arachnid”, Quarterly Journal of Microscopical Science 2 (1881): pp. 504-48, 609-49; Foster, The Return of Nature, pp. 56, 249.

(39) Bernal, Engels and Science, pp. 7-8, J. D. Bernal, “Dialectical Materialism”, in Aspects of Dialectical Materialism, por Hyman Levy et al. (London: Watts and Co., 1934), pp. 107-8.

(40) Bernal, Engels and Science, p. 7; Foster, The Return of Nature, p. 242.

(41) Bernal, Engels and Science, p. 7; Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 14.

(42) Todas as três leis informais da dialética de Engels podem ser vistas como relacionadas à emergência, particularmente a primeira e a terceira. A terceira lei informal de Engels, a negação da negação, como Roy Bhaskar argumentou em Dialectics: The Pulse of Freedom, “levanta a questão das ausências ausentes e a reafirmação de elementos perdidos ou negados da realidade. Bernal desenvolveu uma análise da negação da negação em termos do papel dos resíduos que ressurgem e transformam as relações por meio de processos evolutivos complexos”. Roy Bhaskar, Dialectic: The Pulse of Freedom (London: Verso, 1993), pp. 150-52, 377-78; Bernal, “Dialectical Materialism”, pp. 103-4.

(43) Este e o parágrafo seguinte foram redigidos quase na íntegra por Fred Magdoff.

(44). Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 126.

(45) Bernal, Engels and Science, pp. 8-10; Friedrich Engels, Ludwig Feuerbach and the Outcome of Classical German Philosophy (New York: International Publishers, 1941), pp. 65-69.
(46) Ilya Prigogine e Isabelle Stengers, Order Out of Chaos (New York: Bantam, 1984), pp. 252-53.

(47) Bernal, Engels and Science, p. 4.

(48) Bernal, “Dialectical Materialism”, pp. 90, 102, 107, 112-17.

(49) Bernal, Engels and Science, pp. 10-12. Com respeito a Engels sobre as origens da vida, Richard Levins e Richard Lewontin escreveram que “o materialismo dialético se concentrou [necessariamente] principalmente em alguns aspectos selecionados da realidade. Às vezes, enfatizamos a materialidade da vida contra o vitalismo, como quando Engels disse que a vida era o movimento de “corpos albuminosos” (ou seja, proteínas; agora podemos dizer macromoléculas). Isso parece estar em contradição com a nossa rejeição do reducionismo molecular, mas simplesmente reflete diferentes momentos em um debate em curso onde os principais adversários foram primeiro a ênfase vitalista na descontinuidade entre os reinos inorgânico e vivo, e então o apagamento reducionista dos saltos reais de níveis”. Richard Lewontin e Richard Levins, Biology Under the Influence (New York: Monthly Review Press, 2007), p. 103.
(50) Bernal, Engels and Science, pp. 13-14.

(51) D. Bernal, The Freedom of Necessity (London: Routledge and Kegan Paul, 1949), p. 362.

(52) Bernal, The Freedom of Necessity, pp. 364-65.

(53) Joseph Needham, Time, the Refreshing River (London: George Allen, and Unwin, 1943), pp. 214-15; Engels, Ludwig Feuerbach, p. 12.

(54) Needham, Time, the Refreshing River, pp. 214-15; Marx e Engels, Collected Works, vol. 46, p. 411.

(55) B. S. Haldane, The Marxist Philosophy and the Sciences (New York: Random House, 1939), pp. 199-200; Foster, The Return of Nature, p. 391.

(56) Richard Levins e Richard Lewontin, The Dialectical Biologist (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1985).

(57) Stephen Jay Gould, An Urchin in the Storm (New York: W. W. Norton, 1987), pp. 111-12.

(58) Needham, Time, the Refreshing River, pp. 14-15. Engels escreveu: “É precisamente a alteração da natureza pelo homem, não apenas a natureza como tal, que é a base mais essencial e imediata do pensamento humano”. Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 511.
(59) Ver John Bellamy Foster, Brett Clark e Richard York, The Ecological Rift (New York: Monthly Review Press, 2010), pp. 13-18; Ian Angus, Facing the Anthropocene (New York: Monthly Review Press, 2016); Clive Hamilton, Defiant Earth (Cambridge: Polity, 2017).

(60) Lester, Ray Lankester, p. 164.

(61) John Bellamy Foster, “Capitalism and the Accumulation of Catastrophe”, pp. 1-2, 15-16. Foster, The Return of Nature, pp. 64, 286-87.

(62) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 516.

(63) Marx e Engels, Collected Works, vol. 46, p. 411.

(64) Frederick Engels, The Housing Question (Moscow: Progress Publishers. 1975), p. 92.

(65) Sobre a abordagem de Engels à termodinâmica, ver John Bellamy Foster e Paul Burkett, Marx and the Earth (Chicago: Haymarket, 2016), pp. 137-203.

(66) Sobre Marx e Engels sobre degradação ecológica e o extermínio na Irlanda colonial, ver John Bellamy Foster e Brett Clark, The Robbery of Nature (New York: Monthly Review Press, 2020), pp. 64-77.

(67) Engels deixou claro que a regulação racional da relação humana com a natureza e, portanto, uma aplicação racional da ciência, só foi possível com “uma revolução completa no nosso modo de produção até então existente”. Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 462. Sobre a alienação da ciência sob o capitalismo, ver István Mészáros, Marx’s Theory of Alienation (London: Merlin, 1975), pp. 101-2. O papel da ciência sob o capitalismo é ainda mais esclarecido na noção de Richard Levins da “natureza dual da ciência”. Richard Levins, “Ten Propositions on Science and Antiscience”, Social Text 46-47 (1996): pp. 103-4. A incontrolabilidade do capital é teorizada em István Mészáros, Beyond Capital (New York: Monthly Review Press, 1995), p. 713.

(68) Karl Marx, On the First International, ed. Saul Padover (New York: McGraw-Hill, 1973), p. 10.

(69) Ver Foster, The Return of Nature, pp. 197-204.

(70) John Bellamy Foster e Intan Suwandi, “COVID-19 and Catastrophe Capitalism”, Monthly Review 72, n.º 2 (June 2020): pp. 3-4.

(71) Marx e Engels, Collected Works, vol. 2, pp. 95-101, 497; vol. 4, p. 528. A admiração de Engels por Shelley o levou a tentar traduzir “Queen Mab”, juntamente com “The Sensitive Plant”, para o alemão. Ver John Green, Engels: A Revolutionary Life (London: Artery, 2008) pp. 28-29, 59. Para um tratamento fascinante da poesia e política revolucionárias de Shelley, ver Annette Rubinstein, The Great Tradition in English Literature (New York: Monthly Review Press, 1953), pp. 516-64.

(72) Percy Bysshe Shelley, The Complete Poetical Works (Oxford: Oxford University Press, 1914), p. 528.

(73) Shelley, Complete Poetical Works, p. 773. Marx descreveu Shelley como “essencialmente um revolucionário”, uma visão que Engels compartilhava. Edward Aveling e Eleanor Marx Aveling, Shelley’s Socialism (London: The Journeyman, 1975), p. 4.

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