A esquerda e o povo vivem um período de refluxo no Equador. Mas se as organizações sociais conseguirem romper com a letargia e expurgar as linhas institucionalistas e de direita que alguns sindicatos e lideranças indígenas assumiram, a resistência pode se transformar em uma ofensiva.
Andrés Madrid e Sofía Lanchimba
O empresário bilionário Guillermo Lasso é o novo presidente do Equador. (Foto: AFP) |
Encerrando a contagem, o candidato da direita, Guillermo Lasso, venceu com cinco pontos de vantagem. Com isso, consolida-se a direita neoliberal no Equador, promovido pelo governo de Lenin Moreno. Sua aliança com o Partido Social Cristão – responsável pelos esquadrões da morte nos anos 80 -, seu apoio aos crimes contra a humanidade cometidos pelo governo Lenin Moreno durante as mobilizações de outubro de 2019 e seus laços pessoais com Álvaro Uribe marcam os traços fascistas de sua posse.
A chegada de Lasso também empurra a tendência conservadora pró-americana na região que fortaleceria a pressão sobre a Venezuela. Podemos argumentar que estamos em um período de contra-revolução preventiva.
O resultado eleitoral representa também um grande golpe para o correísmo e o reforço do senso comum direitista na população. A crise econômica e social em que se encontra o Equador, a desconfiança e o esgotamento diante das instituições estatais representadas na porcentagem de votos nulos e abstenção não serão superadas facilmente. Tensões sociais e contradições internas desgastarão o governo Lasso com o tempo.
A incapacidade do correísmo de se criticar – convenceu-se de que foi o melhor governo da era republicana -, dependência de dirigentes, atitude hostil com as organizações sociais – especialmente a CONAIE e a esquerda anticapitalista -, a ausência de diálogo com os diversos setores – enquanto foi governo e durante a campanha – acabou cobrando seu preço.
O correísmo chegou a afirmar que era preferível perder as eleições do que fazer aliança com o Movimento Indígena. Além disso, a Central Unitaria de Trabajadores (CUT), criada durante seu governo, posicionou-se com a candidatura de Lasso. Facções aparecem em suas fileiras e possivelmente rupturas.
Outro dado importante foi o resultado do voto nulo: representou 16,3%, dobrando a média histórica (8,7%). Seu maior impacto foi na Serra Centro e na Amazônia. Nas províncias de Bolívar, Chimborazo, Cotopaxi, Azuay e Tungurahua os nulos obtiveram mais de 30% do total.
Mas, sem dúvida, um dos aspectos mais sombrios deste período é a incorporação do consenso conservador na população. O discurso antigovernamental, impulsionado por setores da direita que não eram beneficiários do antigo governo, tornou-se hegemônico. A esquerda institucional e uma parte da população festejam cegamente a derrota do correísmo, esquecendo a chegada ao governo da direita do Partido Social Cristão.
A crise em curso e as manifestações irão ativar tensões nos setores dominantes. Por um lado, embora Lasso represente os interesses do capital financeiro, há conflitos com setores do capital produtivo como o de Isabel Noboa. Por outro lado, várias das promessas feitas às organizações e movimentos sociais – inclusão da agenda das mulheres, do movimento LGBTIQ, não extração mineira e aumento dos salários – estão em contradição direta com os setores da Opus Dei a que pertence Lasso.
Seu governo não conseguirá satisfazer a todos, pois, embora o preço do petróleo esteja se recuperando, a curva e a saúde do mercado de commodities são muito frágeis devido ao contexto global. Além disso, deve-se lembrar que existe uma forte pressão para o cumprimento dos empréstimos de Instituições Financeiras Internacionais. Os ajustes estruturais vão continuar: redução de salários, exploração mineira, demissão de funcionários públicos e afastamento de cargos da burocracia identificada como correista.
O ajuste estrutural aumentará a pobreza e as necessidades, o que aumentará o conflito social e uma oportunidade para a reconstituição do campo popular. Isso, na medida em que as organizações sociais podem se orientar para uma plataforma de luta que rompe com a opção institucionalista e mesmo de direita. Não se pode ocultar que existe uma tendência de direita e reacionária nas organizações, da qual o Movimento Indígena não é poupado, onde pululam algumas “alternativas” ambientalistas que expressam modelos de capitalismo verde e neoliberalismo ambiental combinado com posições anticomunistas.
O conflito social vai crescer durante o governo Lasso, mas também a repressão: o neoliberalismo sempre entra com botas e cassetetes nas batalhas. O fortalecimento do aparato repressivo nos últimos anos vai se aprofundar e, com ele, a perseguição à esquerda anticapitalista e ao campo popular.
A chegada de Lasso também empurra a tendência conservadora pró-americana na região que fortaleceria a pressão sobre a Venezuela. Podemos argumentar que estamos em um período de contra-revolução preventiva.
O resultado eleitoral representa também um grande golpe para o correísmo e o reforço do senso comum direitista na população. A crise econômica e social em que se encontra o Equador, a desconfiança e o esgotamento diante das instituições estatais representadas na porcentagem de votos nulos e abstenção não serão superadas facilmente. Tensões sociais e contradições internas desgastarão o governo Lasso com o tempo.
A incapacidade do correísmo de se criticar – convenceu-se de que foi o melhor governo da era republicana -, dependência de dirigentes, atitude hostil com as organizações sociais – especialmente a CONAIE e a esquerda anticapitalista -, a ausência de diálogo com os diversos setores – enquanto foi governo e durante a campanha – acabou cobrando seu preço.
O correísmo chegou a afirmar que era preferível perder as eleições do que fazer aliança com o Movimento Indígena. Além disso, a Central Unitaria de Trabajadores (CUT), criada durante seu governo, posicionou-se com a candidatura de Lasso. Facções aparecem em suas fileiras e possivelmente rupturas.
Outro dado importante foi o resultado do voto nulo: representou 16,3%, dobrando a média histórica (8,7%). Seu maior impacto foi na Serra Centro e na Amazônia. Nas províncias de Bolívar, Chimborazo, Cotopaxi, Azuay e Tungurahua os nulos obtiveram mais de 30% do total.
Mas, sem dúvida, um dos aspectos mais sombrios deste período é a incorporação do consenso conservador na população. O discurso antigovernamental, impulsionado por setores da direita que não eram beneficiários do antigo governo, tornou-se hegemônico. A esquerda institucional e uma parte da população festejam cegamente a derrota do correísmo, esquecendo a chegada ao governo da direita do Partido Social Cristão.
A crise em curso e as manifestações irão ativar tensões nos setores dominantes. Por um lado, embora Lasso represente os interesses do capital financeiro, há conflitos com setores do capital produtivo como o de Isabel Noboa. Por outro lado, várias das promessas feitas às organizações e movimentos sociais – inclusão da agenda das mulheres, do movimento LGBTIQ, não extração mineira e aumento dos salários – estão em contradição direta com os setores da Opus Dei a que pertence Lasso.
Seu governo não conseguirá satisfazer a todos, pois, embora o preço do petróleo esteja se recuperando, a curva e a saúde do mercado de commodities são muito frágeis devido ao contexto global. Além disso, deve-se lembrar que existe uma forte pressão para o cumprimento dos empréstimos de Instituições Financeiras Internacionais. Os ajustes estruturais vão continuar: redução de salários, exploração mineira, demissão de funcionários públicos e afastamento de cargos da burocracia identificada como correista.
O ajuste estrutural aumentará a pobreza e as necessidades, o que aumentará o conflito social e uma oportunidade para a reconstituição do campo popular. Isso, na medida em que as organizações sociais podem se orientar para uma plataforma de luta que rompe com a opção institucionalista e mesmo de direita. Não se pode ocultar que existe uma tendência de direita e reacionária nas organizações, da qual o Movimento Indígena não é poupado, onde pululam algumas “alternativas” ambientalistas que expressam modelos de capitalismo verde e neoliberalismo ambiental combinado com posições anticomunistas.
O conflito social vai crescer durante o governo Lasso, mas também a repressão: o neoliberalismo sempre entra com botas e cassetetes nas batalhas. O fortalecimento do aparato repressivo nos últimos anos vai se aprofundar e, com ele, a perseguição à esquerda anticapitalista e ao campo popular.
Obviamente, este é um período de refluxo para setores de esquerda e para o povo. No entanto, as organizações sociais podem aproveitar este cenário para impulsionar uma plataforma de luta que rompe a letargia e expurgue as linhas institucionalistas e de direita que alguns sindicatos e lideranças indígenas assumiram. Construir uma válvula de escape para o benefício da maioria depende muito da tenacidade, coragem e sabedoria. Uma alternativa que passa, necessariamente, por enfrentar as elites modernas, agora no governo.
Sobre os autores
Andrés Madrid é professor universitário. Ele é o autor do livro "En busca de la chispa en la pradera: el sujeto revolucionario en la intelectualidad orgánica de izquierda en Ecuador" e coautor de "Estallido: La Rebelión de Octubre en Ecuador".
Sofía Lanchimba é professora de Pensamento Político Latino-Americano (FCPYS-UNAM). É membro do Grupo de Trabalho CLACSO “Heranças e Perspectivas do Marxismo”.
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