1 de abril de 2023

Sobre-exploração e o impulso imperialista do capitalismo: Como A Dialética da Dependência de Marini vai além de O Capital de Marx

Andy Higginbottom analisa a influência de Ruy Mauro Marini na teoria da dependência e no conceito de superexploração. Marini, ele explica, levou o legado de Marx adiante — mas ainda há trabalho a ser feito no século XXI.

Andy Higginbottom

Volume 74, Number 11 (April 2023)

A publicação em inglês de A Dialética da Dependência, de Ruy Mauro Marini, cinquenta anos após o seu lançamento original em espanhol, foi muito longamente aguardada (1). A obra, que foi agora lançada com uma extensa introdução de Amanda Latimer, está entre os contributos mais importantes para o marxismo na segunda metade do século XX e é, se alguma coisa, ainda mais relevante hoje. O pensamento de Marini estava direcionado para a luta pelo socialismo na América Latina (2). A sua análise pioneira defendia a necessidade de emancipar a classe trabalhadora através da revolução e de agir contra a burguesia, não em aliança com ela. Analisou o estado do capitalismo na América Latina, com as suas características distintas de subdesenvolvimento e uma relação diferente com o sistema mundial capitalista do que a que têm a Europa Ocidental e os Estados Unidos da América. Marini posicionou o seu argumento a favor do socialismo no paradigma da dependência, pelo qual entendia que o subdesenvolvimento capitalista da América Latina contribui para o desenvolvimento das economias imperialistas. A relação de dependência é expressa como a transferência de valor dos países pobres e subordinados para os países ricos e dominantes.

A contribuição original de Marini foi a de explicar as relações sociais de produção que estão na base da transferência internacional de valor, desenvolvendo assim uma distinta teoria laboral do imperialismo que é a base da teoria marxista da dependência. Marini identificou a "sobre-exploração" do trabalho como a relação social fundamental do subdesenvolvimento capitalista. Este não é o seu único conceito estratégico - a sua análise sistemática relaciona a sobre-exploração do trabalho com a troca internacional desigual, a ideia de um mercado interno fraturado e o conceito de subimperialismo (3); este artigo, porém, centra-se na sobre-exploração.

A sobre-exploração do trabalho capta concetualmente a condição real da classe trabalhadora na América Latina. Envolve três elementos: baixos salários, longas horas de trabalho e trabalho intenso até à exaustão. Caracteriza-se, sobretudo, pela "maior exploração da força física do trabalhador, por oposição à exploração resultante do aumento da sua produtividade, e tende normalmente a exprimir-se no facto de a força de trabalho ser remunerada abaixo do seu valor real" (4).

Marini conseguiu um enorme avanço teórico, não só como um fundamento para a teoria marxista da dependência latino-americana, mas também como uma regeneração da teoria marxista a nível mundial. Como está agora a começar a ser mais plenamente reconhecido, o trabalho de Marini fornece a chave para desbloquear a análise da última fase do imperialismo globalizado, neoliberal e ainda capitalista, no século XXI (5).

A receção hostil da teoria da dependência pelo marxismo eurocêntrico

Nas últimas décadas, as tendências dominantes do pensamento marxista no Reino Unido e noutras partes do Norte global tornaram-se cada vez mais eurocêntricas nos seus pressupostos. Estas tendências foram especialmente hostis à teoria da dependência quando alguns dos seus autores se tornaram conhecidos em inglês, na década de 1970. Por exemplo, a publicação das obras de Andre Gunder Frank atraiu um furor de oposição. Vou selecionar uma entrada de um catálogo de negadores da dependência: em World Accumulation, 1492-1789, Frank cruza a sobre-exploração com a análise da mais-valia de Karl Marx em O Capital, que foi desenvolvida em torno da mais-valia absoluta e da mais-valia relativa. Cita duas passagens-chave em que o próprio Marx introduz fenómenos que não se enquadram em nenhuma destas duas categorias: o capítulo 24 do volume I, sobre a conversão da mais-valia em capital; e o capítulo 14 do volume III, sobre os fatores que contrariam a tendência para a queda da taxa de lucro (6). Na primeira citação, Marx aponta para os casos de "redução forçada do salário do trabalho abaixo do seu valor"; e na segunda, para a "redução dos salários abaixo do seu valor" (7). Frank conclui que a sobre-exploração é idêntica à "redução forçada" ou "depressão dos salários abaixo do valor da força de trabalho" de Marx, frequentemente conceptualizada na análise de Marx, Friedrich Engels e de subsequentes pensadores marxistas como "lucros por dedução" (8). Como argumenta Frank:

A acumulação capitalista de capital também se baseia numa sobre-exploração da força de trabalho através da mais-valia em excesso [mais-valia extra], que muitas vezes - e não apenas na indústria doméstica britânica - nega ao trabalhador até o mínimo necessário para a subsistência, segundo qualquer definição, e que, nalguns momentos e locais, proíbe até a reprodução da força de trabalho. Além disso, esta sobre-exploração a um nível inferior à subsistência ocorre tanto através do trabalho assalariado como através de outras relações de produção, bem como através da ligação entre as duas.[9]

Frank não desenvolveu o conceito de sobre-exploração, nem explicou a sua não identificação com a mais-valia absoluta ou a mais-valia relativa. Coube a um dos críticos de Frank, Jairus Banaji, explicitar o ponto crucial: "Para ele [Frank], isto parece representar uma terceira forma de produção de mais-valia, que não é nem relativa nem absoluta, ao passo que para Marx é uma forma de produção de mais-valia absoluta" (10).

Banaji representa aqui a ortodoxia marxista em resposta ao desafio da teoria marxista da dependência, mas de uma forma invulgarmente perspicaz. A ideia de "uma terceira forma de mais-valia" é substancialmente correta e, como veremos, Marini já a tinha defendido em A Dialética da Dependência. O uso de forma neste contexto refere-se à configuração, ao tipo ou à dimensão, e não à forma exterior ou à aparência, como é frequentemente usado por Marx em contraste com a essência interior. Uma "terceira forma de mais-valia" é, portanto, uma outra configuração ou dimensão da mais-valia, a categoria essencial da exploração capitalista (11).

Confirmando Marini e Frank, sublinho que a sobre-exploração do trabalho revela outra forma de aumentar a mais-valia, reduzindo o custo da força de trabalho para o capital através de salários mais baixos e de um menor consumo de mercadorias pelos trabalhadores. Este método é também descrito por Marx pelo vernáculo inglês de “cheap labour” (12). Mais corretamente, trata-se de força de trabalho barata, que fornece trabalho vivo ao capital a um custo mais baixo e que, por isso, constitui a base para um grau mais elevado de exploração - uma maior taxa de mais-valia, devida a uma redução do tempo de trabalho necessário para produzir o valor equivalente ao da força de trabalho. O custo mais baixo deve-se a uma exploração mais dura e opressiva dos sectores relevantes da classe trabalhadora. Este aumento da taxa de mais-valia é distinto da mais-valia absoluta, que, segundo Marx, se deve ao aumento do tempo de trabalho. A diminuição do capital variável operada desta forma também não constitui mais-valia relativa, uma vez que esta, segundo Marx, depende apenas do aumento da produtividade nos sectores que produzem as mercadorias consumidas na reprodução da força de trabalho (13).

Uma vez que não é nem a mais-valia absoluta nem a mais-valia relativa, tal como definidas por Marx, o aumento da mais-valia através da redução da remuneração da força de trabalho é ainda uma outra categoria. Enquanto caraterística necessária e essencial do modo de produção capitalista, está no mesmo nível ontológico que a mais-valia absoluta e a mais-valia relativa, mas não pode ser reduzida a nenhuma destas duas categorias, uma vez que, por si só, envolve condições de exploração mais opressivas. Sugiro que este aspeto da sobre-exploração do trabalho dê origem à ideia de mais-valia relacional, que corresponde ao conceito de Marcel Van der Linden de uma "desigualdade relacional" no seio da classe trabalhadora mundial (14).

Algumas posições no debate atual na América Latina

A forma como a sobre-exploração do trabalho de Marini se relaciona com o capital está a ser debatida na América Latina. De um lado, Carlos Alves do Nascimento, Fernando Frota Dillenburg e Fábio Maia Sobral argumentam que a sobre-exploração já está presente como categoria teórica em O Capital. Afirmam que o capítulo 10, sobre a jornada de trabalho, é "onde Marx desenvolve lógica e historicamente, isto é, teoricamente, a sobre-exploração, a relação entre o valor da força de trabalho e seu desgaste acima do nível necessário para permitir o restabelecimento das condições normais" (15).

Argumentam que a sobre-exploração está presente nas vozes dos trabalhadores (com base no manifesto dos trabalhadores da construção civil em greve) quando estes levantam a questão das longas horas de trabalho excessivo como causa da sua exaustão e morte prematura. "Por meio de um prolongamento ilimitado do dia de trabalho, pode gastar-se num dia uma quantidade de força de trabalho superior à que eu posso repor em três" (16). A força de trabalho comprada "pelo seu valor" deve ser considerada ao longo de toda a vida ativa. Em vez de gastar a força de trabalho ao longo de trinta anos, queimá-la em apenas dez anos significa uma exploração maior. Segundo Marx, o trabalhador diz que "usar o meu trabalho e despojá-lo são coisas bem diferentes", o que significa uma forte rejeição da sobre-exploração exaustiva, se não da exploração enquanto tal (17).

Hugo Figueira Corrêa e Marcelo Dias Carcanholo criticam Nascimento, Dillenburg e Sobral, argumentando que este comentário de Marx não é mais do que formativo, não é uma teoria conceitual, e que também não precisa de o ser. Argumentam que O Capital se dirige a um nível mais geral e abstrato de teoria pura e que, a este nível de definição conceitual, não há necessidade de dar conta da sobre-exploração do trabalho, que é uma caraterística das particularidades dos países latino-americanos e que, portanto, pertence a um nível mais concreto de análise (18).

Jaime Osorio adota uma outra posição, diferente destas. Ele examina os pontos de O Capital em que Marx relaxa sua suposição normal de que a força de trabalho é vendida pelo seu valor e cita passagens que trazem a voz dos trabalhadores, também citadas por Nascimento, Dillenburg e Sobral. A partir disso, Osorio argumenta que a sobre-exploração do trabalho pode ser vista como "a violação do valor da força de trabalho", apontando corretamente que a força de trabalho não é igual a outras mercadorias nesse sentido. À medida que formos avançando, veremos que convirjo com Osorio, embora com uma linha de argumentação diferente (19).

Na minha avaliação, Nascimento, Dillenburg e Sobral têm razão quando dizem que a exploração tende à sobre-exploração, ou seja, o capital procurará sempre aumentar a sua mais-valia e, portanto, o seu lucro. No entanto, como argumenta Osorio, a sobre-exploração deve ser considerada qualitativamente (20). A sobre-exploração do trabalho não pode ser reduzida simplesmente a mais exploração, devendo ser considerada como uma categoria em si mesma. Esta mudança da quantidade para a qualidade deve-se ao facto de toda a exploração capitalista do trabalho ter de ser examinada em termos sociais e económicos, de modo a considerar como a relação social se transforma na categoria económica.

Ao relegar o conceito de sobre-exploração do trabalho a uma periferia epistemológica, o argumento dos "níveis de abstração" de Corrêa e Carcanholo nega o ímpeto revolucionário da obra de Marini, que é o de que o caráter imperialista do capitalismo é inerente ao nível mais essencial de definição do modo de produção capitalista. É extremamente importante, do ponto de vista político, que a sobre-exploração do trabalho no Sul global e os correspondentes mecanismos de transferência de valor sejam reconhecidos pelos trabalhadores do Norte global como a condição geral do seu próprio privilégio relativo. O internacionalismo terá então uma base teórica num marxismo rejuvenescido, pelo qual vale a pena lutar.

Sobre O Capital e a determinação mais completa da mais-valia

Marini estudou O Capital de perto. Tanto a obra como a relação de Marini com ela precisam de ser aprofundadas. Em resumo, o meu argumento é que, embora a sobre-exploração do trabalho não seja articulada como categoria teórica em O Capital, o livro dá-nos muitas pistas sobre a forma como poderíamos construir uma tal teoria.

A categoria crítica, e o verdadeiro ponto de partida da nossa discussão, é o conceito de mais-valia. A secção intermédia do volume I, partes 3, 4 e 5, diz respeito à produção capitalista como produção de mais-valia. O texto alterna entre capítulos que desenvolvem conceitos teóricos e aqueles que dão maior ênfase à história do modo de produção capitalista a partir de várias perspetivas. O conceito de mais-valia é introduzido "enquanto tal", nas suas determinações teóricas, como a essência do modo de produção capitalista; é depois desenvolvido através dos métodos particulares do seu aumento como mais-valia absoluta e mais-valia relativa. Finalmente, a mais-valia convertida impulsiona a acumulação geral de capital como reprodutor do sistema de classes em geral (21).

Embora a face racializada e colonial da exploração do trabalho esteja incluída na descrição de Marx da "chamada acumulação primitiva" do capital, ela é marginal nesta secção intermédia do volume I. A redução do âmbito da exposição para se concentrar no centro da Revolução Industrial afeta o que está e o que não está incluído no conceito de mais-valia. Em geral, o fornecimento de matérias-primas é tratado como sendo um dado adquirido. A ortodoxia marxista segue à letra O Capital ao afirmar que o aumento da mais-valia depende da mais-valia absoluta, da mais-valia relativa e da intensidade do processo de trabalho. Marx examina variações destes elementos em combinação na parte 5 do volume I, onde volta a sublinhar que a mais-valia é a forma socialmente objetiva do trabalho excedente no modo de produção capitalista (22).

A mais-valia baseia-se no facto de o capital prolongar a jornada de trabalho para além do tempo de trabalho necessário para produzir um valor equivalente ao da força de trabalho dispendida. Mas esse trabalho excedente só é possível, por sua vez, se o trabalho for suficiente para produzir o valor equivalente à sua própria força de trabalho em menos tempo do que a jornada de trabalho completa. Marx também salienta que, embora a sua apresentação linear da acumulação de capital - liderada primeiro pela mais-valia absoluta e depois pela mais-valia relativa - corresponda a uma determinada sequência histórica no modo de produção capitalista à medida que este se vai instalando, as duas são completamente inseparáveis e são determinações dialeticamente relacionadas da mais-valia (23). A mais-valia absoluta, a mais-valia relativa e a intensidade não existem nem podem existir separadamente, mas são aspetos ou dimensões diferentes da mais-valia enquanto tal. Os métodos alternativos de aumentar a mais-valia aplicam alavancas numa ou mais destas dimensões. Seguindo Marini, o cerne do argumento é que a incorporação da sobre-exploração em O Capital exige a reformulação do conceito de mais-valia restrito às três dimensões do absoluto, do relativo e da intensidade, de modo a incluir o aumento da mais-valia conseguido através do pagamento de salários mais baixos (ou mesmo da ausência de salários). Para além disso, defendo que esta é uma das quatro modificações necessárias para determinar a mais-valia de forma mais completa.

As duas primeiras modificações adicionais são as alterações da mais-valia relacionadas com o nível de qualificação do trabalho e as alterações da mais-valia resultantes das condições de produção que regem a apropriação dos valores de uso da natureza em determinadas localidades particulares. Ambas estas modificações se referem à produtividade do trabalho e já eram reconhecidas por Marx, mas ele tratou-as de forma muito diferente na arquitetura de O Capital.

Logo no início do volume I, Marx põe de lado a questão do trabalho qualificado como algo que se resolve, na prática, reduzindo o trabalho complexo a trabalho simples. Marx faz uma suposição simplificadora sobre a formação da força de trabalho qualificada e o seu dispêndio como trabalho qualificado (24). De facto, mais tarde, Marx dá uma atenção considerável à forma como o capitalismo reestrutura a divisão do trabalho na manufatura e na indústria em grande escala. Regressa várias vezes ao assunto, com uma visão significativa, no capítulo 10, sobre o dia de trabalho; no capítulo 14, sobre a divisão do trabalho; e no capítulo 15, sobre a fábrica, embora sem resolver alguns problemas teóricos relativos à formação e dispêndio da força de trabalho (25).

O método de Marx era radicalmente diferente no que diz respeito à agricultura capitalista, uma segunda modificação da mais-valia com respeito à forma como o capitalismo tira partido das condições particularmente favoráveis encontradas na natureza, à qual dá um tratamento exaustivo em O Capital e, mais adiante, em Teorias da Mais-Valia. Persiste um erro comum – compreensível, dada a localização da análise principal de Marx na sequência dos volumes e da sua apresentação - de que a renda é apenas uma questão de distribuição da mais-valia realizada entre capitalistas e proprietários de terras (e indústrias extrativas, como a mineração no tempo de Marx e o petróleo desde o final do século XIX). O que passou largamente despercebido é que a exploração capitalista na agricultura também afeta os trabalhadores nela empregados, que produzem mais ou menos mais-valia, dependendo das suas condições particulares. Marx antecipa o seu tratamento exaustivo no volume III através de um resumo no volume I. Começa por referir o significado da natureza como fonte de riqueza para todas as sociedades e prossegue: "Se partirmos do princípio da produção capitalista, então... a quantidade de trabalho excedente variará de acordo com as condições naturais em que o trabalho é efetuado, em particular a fertilidade do solo" (26). Para explicar isto, as diferenciações encontradas na natureza dizem respeito à produção de mais-valia, bem como à sua distribuição (27).

Ou seja, o trabalho aplicado torna-se mais ou menos produtivo de mais-valia de acordo com as condições naturais, mais ou menos favoráveis, para a produção de mercadorias que o capital encontra e molda para os seus objetivos. Quanto mais favoráveis são as condições particulares, maior é a mais-valia produzida, que fica então disponível para ser capturada como renda diferencial. Existe, portanto, uma analogia forte, embora não completa, entre o trabalho tornado mais produtivo através da adoção precoce da tecnologia das máquinas e o trabalho tornado mais produtivo pela fertilidade da natureza, e a forma como funciona nas relações sociais capitalistas (28).

Alguns exemplos relevantes de exploração adicional introduzidos por Marx

Passemos à terceira modificação da teoria da mais-valia. Marx dá muitos exemplos de fenómenos que levantam a questão dos graus desiguais de exploração associados à diferenciação qualitativa dentro da classe trabalhadora. Vou analisar aqui a forma como ele os trata teoricamente, concentrando-me primeiro nos exemplos.

Exploração laboral sem limites

O título da parte 3, "A produção de mais-valia absoluta", que abrange os capítulos 7 a 11, é enganador no que respeita aos três primeiros capítulos. Os capítulos 7, 8 e 9 têm uma unidade interna que trata da necessária determinação da mais-valia enquanto tal, com base nas distinções entre força de trabalho e atividade laboral e nos diferentes papéis do capital constante e do capital variável. É apenas a partir do capítulo 10 que encontramos o método específico do capital para aumentar a mais-valia através do alargamento do horário de trabalho.

O capítulo 10 relata a série de Leis Fabris (“Factory Acts”) em Inglaterra, de 1833 a 1847, que limitaram o dia de trabalho de doze para dez horas. Marx dá muitos exemplos de lutas para impedir o prolongamento da jornada de trabalho (e, portanto, do trabalho excedente), que mais tarde designa por mais-valia absoluta. Além disso, relata a exploração particularmente dura e opressiva que se verificava: a) antes do capitalismo, b) na produção de matérias-primas para as fábricas, c) no interior das próprias fábricas e d) em sectores industriais não abrangidos pelas leis fabris da época. Os dois últimos casos eram certamente exemplos de condições especialmente opressivas dentro do modo de produção capitalista, e há argumentos de que no fornecimento de algodão, a matéria-prima mais importante, a escravatura era também um sector capitalista com um modo de exploração particular.

As proteções limitadas dos Factory Acts começaram com a fiação e a tecelagem e generalizaram-se ao longo de trinta anos. Marx escreve sobre "certos ramos de produção em que a exploração do trabalho ou continua a ilimitada até hoje, ou era-o ainda ontem" (29). Esta exploração "sem limitações legais" incluía oleiros, trabalhadores ferroviários, moleiros, ferreiros, padeiros, costureiras, etc., segmentos cujos horários mais longos e condições terríveis estavam a destruir a vida dos trabalhadores. No volume III de O Capital, Marx explica a questão como a poupança de capital constante, ao não gastar em coisas como ventilação de salas e proteções de segurança para as máquinas (30).

O posicionamento da escravatura do algodão

Marx chama a atenção para a hipocrisia da classe manufatureira inglesa, que se manifestou contra as crueldades dos espanhóis e a escravatura nas Américas, ao mesmo tempo que era extremamente cruel para com os seus próprios trabalhadores, incluindo, por exemplo, arrastar crianças das suas camas a meio da noite e obrigá-las a trabalhar em condições perigosas durante dez horas seguidas (31). Para além de utilizar a escravatura como ponto de contraste com a escravatura assalariada, o capítulo 10 indica os diferentes mercados para a força de trabalho dos africanos escravizados (32). Há um contraste entre o tratamento dos "escravos" comercializados internamente e o "comércio internacional de escravos" (dois tipos dentro da categoria da escravatura). Em suma, embora Marx mostre aqui o germe de um reconhecimento, não desenvolveu a categoria de valor específica relativa à escravatura de apropriação (“chattel slavery”) (33).

Para ser verdadeiramente geral, a teoria da mais-valia tem de incluir o trabalho livre assalariado e o trabalho escravo, bem como outras formas de trabalho subjugado, como modos de exploração. De facto, Marx mostrou que o trabalho assalariado não era "trabalho livre" em muitas circunstâncias. A fábrica de fiação de algodão é o principal exemplo de Marx do processo de produção capitalista a partir do capítulo 7. Para além da fiação do algodão, é feita uma referência extensa às atividades conexas de tecelagem, tinturaria e confeção de vestuário. Marx considera as interações entre estes ramos, em especial os seus ciclos de "expansão e recessão", por exemplo, a atração maciça de trabalhadores para a tecelagem, para acompanhar a rápida expansão da produção de fio de algodão por máquinas, e depois a expulsão desses mesmos trabalhadores quando teares mecânicos mais produtivos substituíram os teares manuais, com consequências trágicas (34). Isto, na linguagem moderna, era uma cadeia de produto; uma cadeia que começava não com a fiação do algodão, mas com o crescimento e a colheita do algodão.

Marx reconhece que o algodão em rama não é verdadeiramente em rama; não caiu do céu, mas tem um valor baseado no tempo de trabalho socialmente necessário para a sua produção (35). Embora o seu texto esteja repleto de comentários precisos sobre a produção feita por escravos, Marx nunca os reúne numa análise focada, da mesma forma que o faz, com conhecimento especializado, para as fases posteriores desta cadeia de produto. Há aqui três vertentes. Uma delas é o facto de os comentários de Marx apresentarem frequentemente o trabalho escravo como um ponto de contraste em relação ao trabalho assalariado, como salienta Stephanie Smallwood (36). Outra vertente é o facto de o algodão, como mercadoria, ser tratado como um dado adquirido, como os fardos que chegam às docas de Liverpool em grandes quantidades para serem transportados para as fábricas de algodão de Manchester. Para este efeito, Marx tinha a vantagem de aceder aos relatos pormenorizados de Engels (37). Esta perspetiva de conhecimento crítico interno simplesmente não estava disponível para Marx no que diz respeito à produção de algodão. Para obter informações a este respeito, Marx baseou-se em fontes liberais, por vezes reproduzindo acriticamente os seus pontos de vista smithianos; por exemplo, a citação de John E. Cairnes e Frederick Olmsted que apresenta a "falta de jeito" dos trabalhadores escravizados no manuseamento dos instrumentos de produção como um sinal de ineficácia inerente, em vez de ser interpretada como uma forma de resistência (38). Quanto à terceira vertente, os comentários de Marx sobre a economia baseada no algodão do Sul dos Estados Unidos da América, citados por Marini, são muito mais incisivos: "O excesso de trabalho do negro, e por vezes o esgotamento da sua vida em sete anos de trabalho, tornou-se um fator de um sistema calculado e calculista. Já não se tratava de obter dele uma certa quantidade de produtos úteis, mas antes de produzir a própria mais-valia" (39).

A questão aqui é que a produção em grande escala pelo trabalho negro escravizado nas plantações do Sul dos Estados Unidos da América foi tão essencial para a Revolução Industrial como o trabalho assalariado nas fábricas e oficinas do Reino Unido. Frank salienta corretamente este ponto, tal como Marx o faz em certas ocasiões (40).

Resumindo esta secção: apesar de alguma falta de distanciamento crítico em relação às suas fontes questionáveis, O Capital de Marx oferece muitas perspetivas sobre a escravatura do algodão do seu tempo; no entanto, há também uma lacuna, ou ausência de uma análise completa da primeira fase da cadeia de produto.

Sectores oprimidos da classe trabalhadora como força de trabalho mais barata

Na fiação de algodão, o setor central da Revolução Industrial, os capitalistas tiraram o máximo partido da nova maquinaria "auto-atuante". Introduziram o sistema de turnos, com grupos alternados de trabalhadores, e alteraram o perfil da mão de obra, com a utilização extensiva de mulheres, jovens e crianças. Marx retirou dos relatórios dos inspetores das fábricas extensas narrativas sobre os abusos dos fabricantes e dos pais (por exemplo, a subcontratação dos filhos) (41). O capítulo 10 e, mais adiante, o capítulo 15 mostram como os capitalistas britânicos empregavam mulheres, jovens e crianças em condições ainda piores do que os trabalhadores adultos do sexo masculino (42). As ligações familiares imediatas no seio da classe operária foram levadas ao limite, não completamente cortadas, mas abusivamente reproduzidas. O resultado foi um mercado de trabalho nacional segmentado, em vez de mercados de trabalho separados, como era o caso do trabalho escravo. Havia uma relação bastante consistente entre as taxas salariais médias das diferentes secções, que se perde quando se faz uma média global.

No capítulo 11, Marx faz um resumo conceitual sobre taxa e massa de mais-valia. Começa com a seguinte afirmação: "assumimos que o valor da força de trabalho e, portanto, a parte do dia de trabalho necessária para a reprodução ou manutenção dessa força de trabalho, seja uma grandeza dada e constante" (43). No entanto, muitos exemplos já mostraram que, com pequenas variações, a força de trabalho das mulheres era geralmente vendida por pouco mais de metade do salário médio dos adultos, a dos jovens por um pouco menos do que isso e a das crianças por não mais de um quarto (44). Apesar desta realidade, a exploração diferenciada não se reflete na teorização do capítulo 11, baseada na normalização, numa taxa comum de mais-valia.

A introdução das mulheres e das crianças na produção capitalista, como setores oprimidos com salários significativamente mais baixos, permitiu à classe capitalista manter também reduzidos os salários dos trabalhadores adultos do sexo masculino. Marx dá conta dos mercados de trabalho, da força de trabalho das crianças vendida pelos pais, e começa a abordar estas questões muito perturbadoras na sua discussão do "salário familiar". Marx observa: "Não foi, porém, o mau uso do poder paternal que criou a exploração direta ou indireta da força de trabalho imatura pelo capital, mas sim o contrário, ou seja, o modo de exploração capitalista, ao varrer a base económica que correspondia ao poder paternal, transformou o uso do poder paternal no seu mau uso" (45).

Isto aplica-se especialmente à reprodução das relações de género e à opressão das mulheres sob o capitalismo. Como parte da classe trabalhadora, as mulheres estão geralmente sujeitas a graus mais elevados de exploração. Isto baseia-se estruturalmente num modo de exploração do trabalho qualitativamente distinto e específico, que gira em torno de uma combinação de trabalho feminizado doméstico não remunerado na família e de posições subordinadas na divisão do trabalho no local de trabalho. Embora Marx dê algumas indicações sobre isto nos capítulos 10 e 15, é indiscutível que não analisa esta dimensão de género - e, no entanto, a opressão das mulheres é fundamental para a definição do modo de produção capitalista. Não se perde nada em admitir a incompletude de O Capital neste ponto.

No início do capítulo 12, mais teórico, sobre o conceito de mais-valia relativa, Marx observa que um método disponível para reduzir o tempo necessário para produzir o equivalente ao salário seria, simplesmente, reduzir o próprio salário, em 10 por cento no seu exemplo. Mas, reflete ele, "este resultado, no entanto, só poderia ser alcançado empurrando o salário do trabalhador para baixo do valor da sua força de trabalho... Apesar do papel importante que este método desempenha na prática, estamos excluídos de o considerar aqui devido ao nosso pressuposto de que todas as mercadorias, incluindo a força de trabalho, são compradas e vendidas pelo seu valor integral" (46).

Deste modo, Marx coloca as formas mais duras de exploração, em que o salário é inferior ao valor da força de trabalho do trabalhador, fora da determinação conceitual da mais-valia. Mas o rigor científico de Marx não lhe permitiu excluir estes fenómenos persistentes; mais do que isso, enfatizou-os. De facto, Marx continua a documentar, com a sua notável minúcia, estas realidades de salários mais baixos e piores condições impostas a certas camadas da população. Numa secção do capítulo 15, mostra que a introdução da produção mecânica na fiação e depois na tecelagem teve um efeito de arrastamento no comércio de vestuário, que se caracterizou pela proliferação de "departamentos exteriores": oficinas domésticas auxiliares, contratadas, que empregavam mulheres e raparigas em condições horríveis para a sua saúde e bem-estar, notavelmente semelhantes aos empregos informais de hoje. Marx escreve sobre a indústria doméstica moderna, em comparação com o período anterior da manufatura, comentando que "a divisão do trabalho baseia-se agora, sempre que possível, no emprego de mulheres, de crianças de todas as idades e de trabalhadores não qualificados, em suma, de 'mão de obra barata', como o inglês tipicamente a descreve" (47).

O barateamento da força de trabalho estava claramente relacionado: "pelo abuso puro e simples do trabalho de mulheres e crianças, pelo roubo puro e simples de todas as condições normais necessárias ao trabalho e à vida, e pela brutalidade pura e simples do trabalho excessivo e do trabalho noturno" (48). Mais uma vez, encontramos nestes "artesanatos dispersos e indústrias domésticas" condições semelhantes às caracterizadas por Marini como sobre-exploração: "A grande produção de mais-valia nesses ramos de trabalho e o progressivo barateamento dos seus artigos deveram-se e devem-se principalmente aos salários mínimos pagos, que bastavam apenas para uma existência miserável e vegetal, e ao prolongamento das horas de trabalho até ao máximo suportável pelo organismo humano" (49).

Nos setores de indústria caseira, predominava o salário por peça como forma de remuneração, com valores tão baixos que as mulheres e as raparigas trabalhavam "excessivamente ou de noite". Marx comenta que, para estes setores, "a exploração ilimitada da força de trabalho barata é o único fundamento da sua capacidade de competir" (50).

Contradições fundamentais

A história principal dos capítulos 13, 14 e 15 é a de como os métodos do modo de produção capitalista, tal como existia em Inglaterra nos séculos XVIII e XIX, conduziram ao aumento da mais-valia relativa. Marx trata esta questão dialeticamente, no sentido em que vê o desenvolvimento da produção mecanizada no capitalismo a atrair e a repelir simultaneamente os trabalhadores. Marx elabora e elabora sobre esta ideia de uma contradição central, sempre em expansão, fundamental, que não pode ser resolvida exceto através do derrube do modo de produção.

A contradição fundamental é ainda revelada na explicação de Marx sobre a adoção ou não de uma nova tecnologia pelos capitalistas. Ele explica que a adoção de novas forças de produção é uma alavanca para cada capital individual melhorar a sua posição competitiva, tornando as suas mercadorias mais baratas e aumentando o seu volume, e que este forte incentivo é um motor do modo de produção. No entanto, não é verdade que, em todas as circunstâncias, o capital esteja disposto a ganhar com a mecanização; no final, a decisão depende da remuneração do trabalho (força de trabalho). Em termos gerais, em qualquer modo de produção, "a utilização de maquinaria com o objetivo exclusivo de baratear o produto é limitada pelo requisito de que, na produção da maquinaria, seja gasto menos trabalho do que aquele que é deslocado por meio do emprego dessa maquinaria" (51).

Na lógica mais específica do capitalismo: a decisão de substituir o velho pelo novo não é avaliada em relação a todo o trabalho existente, mas apenas em relação ao trabalho remunerado existente. "Para o capitalista, porém... em vez de pagar pelo trabalho, paga apenas o valor da força de trabalho empregue; o limite à sua utilização de uma máquina é, portanto, fixado pela diferença entre o valor da máquina e o valor da força de trabalho por ela substituída" (52).

Marx explica então porque é que a divisão entre o tempo de trabalho necessário e o tempo de trabalho excedente, ou seja, a taxa de mais-valia, "difere nos diferentes países", afetando assim diretamente a decisão de investir ou não em maquinaria. Para enfatizar este ponto, de acordo com este argumento, o grau de mecanização depende do grau de exploração, sendo que uma maior exploração é consistente com uma menor mecanização. É claro que este é um dos muitos fatores do mundo concreto, mas é um fator real. Marx continua com o exemplo: "Os ianques inventaram uma máquina de partir pedra. Os ingleses não a utilizam porque o 'desgraçado' que faz este trabalho é pago por uma parte tão pequena do seu trabalho que a maquinaria aumentaria o custo de produção para o capitalista". Marx constata novamente a opressão ainda pior das mulheres trabalhadoras: "Em Inglaterra ainda se usam ocasionalmente mulheres em vez de cavalos para rebocar barcaças, porque o trabalho necessário para produzir cavalos e máquinas é uma quantidade conhecida com exatidão, enquanto o necessário para manter as mulheres da população excedentária está abaixo de qualquer cálculo. Por isso, em parte alguma encontramos um desperdício mais descarado da força de trabalho humana para fins desprezíveis do que em Inglaterra, a terra da maquinaria" (53).

Estes são pontos muito importantes de ligação entre O Capital e a teoria da sobre-exploração do trabalho de Marini, que, segundo ele, explica o suposto "atraso" do seu continente como uma dinâmica interna necessária do modo de produção capitalista, considerado internacionalmente. Marini desenvolve esta ideia, já fortemente presente em Marx.

Marx salienta que a mais-valia relativa depende do barateamento das mercadorias através da redução relativa do novo valor e, portanto, da mais-valia transportada por cada mercadoria. Considera, por isso, que "há uma contradição imanente na aplicação da maquinaria à produção de mais-valia, uma vez que, dos dois fatores da mais-valia criada por uma dada quantidade de capital, um, a taxa de mais-valia, não pode ser aumentado a não ser diminuindo o outro, o número de trabalhadores" (54).

Quando o novo método de produção se generaliza num setor e o valor da mercadoria desce devido à redução do tempo de trabalho socialmente necessário, esta contradição torna-se ainda mais aguda. A expansão da produção através da divisão capitalista do trabalho e da adoção de maquinaria aumenta o capital constante em relação ao capital variável, a relação entre a dimensão do capital e a mais-valia produzida é, além disso, uma relação entre trabalhadores empregados e trabalhadores expulsos lançados no mercado de trabalho. Estas contradições crescem e crescem até se reproduzirem a nível internacional e depois à escala mundial. Isto conduz inevitavelmente a uma polarização antagónica, a uma polarização através da criação de um exército industrial de reserva e a uma polarização porque o sistema está destinado a entrar em crise.

Marx escreve sobre a terrível crise de 1846-47, citando os relatórios oficiais dos inspetores das fábricas sobre o "grande sofrimento" dos trabalhadores, quando os fabricantes impuseram "uma redução geral de 10 por cento nos salários" até cortes salariais "de pelo menos 25 por cento" (55). Seguiram-se as expansões baseadas no algodão dos anos 1850 e 60, pontuadas pelas crises de 1857 e 1866-67. Os trabalhadores lutaram contra cortes salariais de 30 e 40 por cento: "Para além da rivalidade que esta luta suscita na utilização de maquinaria melhorada para substituir a força de trabalho e na introdução de novos métodos de produção, há também um momento em cada ciclo industrial em que se tenta reduzir à força os salários abaixo do valor da força de trabalho, de modo a baratear as mercadorias" (56). O comentário de Marx sobre estas crises está intimamente relacionado com o tratamento que faz da expansão internacional da indústria do algodão como duas faces da mesma moeda.

A divisão internacional do trabalho

Em coerência com a ideia de uma contradição sistémica fundamental que se sublima através dos níveis de abstração da análise, Marx começa a examinar mais concretamente a divisão internacional do trabalho. No período entre 1848 e 1860, assistiu-se a uma rápida expansão industrial em Inglaterra, com, por exemplo, a duplicação das exportações têxteis em algodão (57). O reverso da medalha foi o aumento maciço da procura de maquinaria como instrumento de produção e, claro, de matérias-primas. A este respeito, Marx cita números interessantes sobre o número relativo de trabalhadores afetos a estes diferentes departamentos. Em 1861, em Inglaterra e no País de Gales, 60.807 pessoas trabalhavam no fabrico de máquinas. No entanto, compara este número com a sua estimativa de que havia dez vezes mais trabalhadores assalariados empregados nas indústrias do algodão e cerca de quatro milhões de trabalhadores africanos escravizados nos Estados Unidos da América, dos quais estimamos, de forma conservadora, que quase um milhão estariam diretamente envolvidos na produção de algodão exportado para a Grã-Bretanha (provavelmente cerca de quinze vezes mais do que os trabalhadores que produziam as máquinas para a produção de têxteis algodoeiros). Este é um indicador da polarização incipiente que já mencionámos, entre o que agora se designa (incorretamente) por indústrias de capital intensivo e indústrias de mão de obra intensiva, e especialmente a sua localização sócio-geográfica (58).

Com o impulso para a mais-valia nas suas várias configurações, Marx dá-nos a força motriz interna do que, de outra forma, seria visto como uma série de características não relacionadas. O autor descreve em pormenor o enorme aumento das importações para a Grã-Bretanha provenientes dos Estados Unidos da América, da Índia, da Irlanda e da Austrália. Refere que os trabalhadores supranumerários dos sectores industriais deram um novo impulso ao colonialismo de povoamento. Ao mesmo tempo, a produção interna na Índia e na Irlanda foi perturbada e destruída, primeiro pelas medidas fiscais repressivas do Estado colonial britânico e, depois, pelos preços mais baratos dos produtos ingleses, produzidos por máquinas. O autor reúne estes pontos numa síntese global: "Surge uma nova divisão internacional do trabalho, adaptada às necessidades dos principais países industriais, que converte uma parte do globo num campo de produção essencialmente agrícola para abastecer a outra parte [industrial]" (59). Isto é, pelo menos, o germe de uma teoria do imperialismo e da troca desigual.

Expropriação de terras, trabalhadores migrantes e leiras de subsistência para baratear os produtos do trabalho

Se e como os trabalhadores mantêm a ligação à terra é uma questão crucial na incipiente divergência entre o desenvolvimento capitalista e o subdesenvolvimento. A ilustração principal da "Lei Geral da Acumulação Capitalista", no capítulo 25, é fornecida pela Irlanda, descrevendo-se como o colonialismo senhorial inglês aí se apoderou da terra, provocou a fome e mergulhou milhões de camponeses na pobreza, levando-os à morte ou à emigração. Para Marx, esta situação é um exemplo claro de como funciona este modo de produção. Trata-se do modo de produção capitalista, que gera uma suposta "população excedentária", que é excedentária apenas em relação aos seus próprios mecanismos rapaces (60).

A concentração da propriedade fundiária nas mãos dos senhores ingleses colonos e a introdução da agricultura capitalista implicaram uma contínua expulsão de agricultores irlandeses empobrecidos das suas terras ancestrais. Para além da agricultura, a principal ocupação da Irlanda era a produção de camisas a partir do linho. O processo de trabalho foi mais uma vez organizado através do "sistema da indústria doméstica", o qual, como já tinha sido descrito por Marx, "possui os seus próprios meios sistemáticos de tornar os trabalhadores 'redundantes', sob a forma de subpagamento e excesso de trabalho" (61).

Os industriais ingleses forjaram uma aliança com os proprietários de terras ingleses na Irlanda, à medida que colhiam os benefícios das mercadorias baratas e da mão de obra imigrante barata. Infelizmente, as mesmas condições que uniam as duas principais alas da classe dominante estavam também a provocar a divisão da classe operária. O jovem Engels era sensível às terríveis condições impostas aos trabalhadores imigrantes irlandeses, ainda piores do que as dos trabalhadores ingleses (62).

Num artigo posterior, Engels chama a atenção para a situação dos trabalhadores rurais das indústrias artesanais irlandesas e alemãs, cujos salários eram tão baixos que deprimiam "o nível geral dos salários". Isto era possível na Alemanha porque os trabalhadores semiproletários ainda tinham uma "pequena horta ou campo" para a sua própria subsistência e algum rendimento, o que significava que os capitalistas podiam pagar salários por peça muito baixos, que eram de facto deduções "do preço da força de trabalho". Engels conclui: "Esta é a razão que mantém a capacidade da Alemanha de competir no mercado mundial num grande número de pequenos artigos. Todo o lucro deriva de uma dedução do salário normal e toda a mais-valia pode assim ser presenteada ao comprador. Este é o segredo da extraordinária barateza da maioria dos artigos de exportação alemães" (63).

Juntando todos estes fios

Temos aqui um contraste. Por um lado, Marx e Engels relatam o aumento da exploração de certos setores de trabalhadores, sujeitos a opressões particularmente duras, que vêm assim remunerada a sua força de trabalho abaixo do seu valor real. Esta situação foi utilizada pelo capital para extrair (aquilo a que provisoriamente chamo de) mais-valia relacional, necessariamente em combinação concreta com outros métodos de aumento da mais-valia. Os exemplos incluem a introdução de mulheres, jovens e crianças nas fábricas e nas indústrias domésticas; o modo de exploração racializado da mão de obra negra escravizada na produção de algodão; a exploração colonial de camponeses irlandeses pobres forçados a abandonar a terra para entrarem no mercado de trabalho em Inglaterra como mão de obra imigrante barata e desfavorecida; e os trabalhadores com acesso a pequenas parcelas de terra forçados a complementar os seus magros salários com a produção de alimentos de subsistência. Todas estas opressões são reproduzidas como relações sociais capitalistas que estruturam a competição divisiva no seio da classe trabalhadora. Além disso, existem pontos de crise, quer sectoriais quer generalizados para o sistema como um todo, em que a classe capitalista ataca a classe trabalhadora para provocar reduções salariais acentuadas, para fazer descer o preço da força de trabalho abaixo do seu valor e, assim, criar as condições para um novo ciclo de acumulação. É uma forma de reajustar o que é considerado o valor da força de trabalho.

Por outro lado, Marx disciplina-se repetidamente nos capítulos curtos e abertamente conceituais que pontuam o volume 1 como pontos de entrada (capítulos 4 a 9, 12, 13 e 24) e de consolidação (capítulos 11, 16 a 18) para os capítulos mais longos e empiricamente mais ricos (capítulos 10, 14, 15 e 25). Apesar das desigualdades registadas na classe trabalhadora, nas suas sínteses teóricas das leis da mais-valia, Marx põe de lado essas mesmas desigualdades, para efeitos de análise, baseando-se no pressuposto de que a força de trabalho é paga pelo seu valor e no corolário de uma taxa média padronizada de mais-valia aplicável à classe trabalhadora no seu conjunto. Mesmo na "Lei Geral da Acumulação Capitalista", capítulo 25, onde Marx é explícito sobre a forma como a acumulação de capital provoca a reprodução de diferentes camadas da classe trabalhadora, este importante reconhecimento não é retomado para novos desenvolvimentos no conceito de mais-valia.

A Dialética da Dependência como um avanço relativamente a O Capital

A perspetiva comum a todo o pensamento da dependência é o reconhecimento da exploração colonial capitalista e dos seus legados neocoloniais. Eduardo Galeano resume bem este aspeto na distinção entre trabalho livre e trabalho subjugado, que envolve graus mais avançados de subordinação e opressão (64). Ora, segundo Marini, o trabalho subjugado não é pré-capitalista; é antes um ponto de entrada distinto na relação entre trabalho e capital, em plena maturidade deste, caraterizado pelo despojamento até da pretensão liberal de igualdade formal que estava no cerne da crítica teórica de Marx à Economia Política.

Marini seguiu o método de Marx, orientando a explicação teórica como um movimento dialético: da circulação para a produção, ou seja, do aparecimento inicial das mercadorias de exportação nas economias dependentes para a sua essência; e depois, com base na análise das relações sociais de produção essenciais aí encontradas, de volta à sua forma necessária de aparecimento como mercadorias no comércio internacional (65). Nesta abordagem combinada, Marini analisa a realidade das relações sociais numa região subordinada em conjunto com os seus eixos de produção orientados para a exportação. Ele mostra que, tal como surgiu na América Latina, o capitalismo era simultaneamente diferente e dependente do capitalismo na Europa. Especificamente, a mudança para a indústria moderna na Grã-Bretanha baseou-se não só no aumento da produtividade dos trabalhadores fabris na metrópole, mas também no fornecimento de importações baratas de alimentos e matérias-primas. Tal como Marx, Marini examina o capitalismo a vários níveis de abstração. O nível de abstração não é o que diferencia o relato de Marini do de Marx, mas sim a sua visão a partir de um continente subordinado, que lhe permite uma perspetiva diferente em todos os níveis de abstração do modo de produção capitalista.

A Dialética da Dependência é certamente uma obra concisa; Marini destila frequentemente argumentos enormes em algumas poucas frases elegantes. Isto é, por si só, um desafio à compreensão. Por vezes, a importância pode perder-se, simplesmente, pela brevidade da sua expressão. Descompactar Marini é compreendê-lo, é apreciar a sua contribuição paradigmática. Duas passagens-chave, que foram destacadas na apresentação de Latimer, merecem uma atenção mais aturada. São elas: a) o posicionamento de Marini sobre a sobre-exploração do trabalho em relação à teoria da mais-valia de Marx; e b) a sua resposta à crítica inicial de Fernando Henrique Cardoso sobre a troca desigual (66). Além disso, gostaria de referir c) os comentários de Marini sobre a sobre-exploração do trabalho e a escravatura, que posicionam os seus argumentos, em relação tanto a Marx como a Cardoso, de uma forma que se baseia na sua interpretação da realidade histórica brasileira, em contraste com a escravatura noutras partes das Américas, incluindo nos seus Estados (des)Unidos a norte (67). Por uma questão de brevidade, examinamos aqui apenas a relação da sobre-exploração com a teoria de Marx.

A sobre-exploração do trabalho em relação à teoria da mais-valia

Partindo do problema de como explicar a troca desigual, Marini apresenta a sobre-exploração como a combinação de três métodos para aumentar a mais-valia: "A intensificação do trabalho, a extensão da jornada de trabalho e a expropriação de parte do trabalho necessário para que o trabalhador reponha sua força de trabalho dão origem a um modo de produção baseado exclusivamente na maior exploração do trabalhador, e não no desenvolvimento de sua capacidade produtiva. Isto é coerente com o baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas na economia latino-americana, mas também com o tipo de atividades que aí se realizam" (68).

Para Marini, em combinação com um trabalho mais longo e mais intenso, a sobre-exploração implica "um terceiro procedimento, que consiste numa redução do consumo do trabalhador para além do seu limite normal, de modo a 'transformar o fundo necessário de consumo do trabalhador, dentro de certos limites, num fundo para a acumulação de capital, o que implica um modo específico de aumentar o tempo de trabalho excedente'" (69).

A citação que identifica esse "modo específico de aumento do tempo de trabalho excedente" é de O Capital, capítulo 24, sobre a conversão da mais-valia em capital. Parece que Marini concorda com Marx neste ponto. No entanto, há uma diferença entre eles, que não está no conteúdo, mas sim no estatuto teórico atribuído a este método de aumento da mais-valia. A categoria identificada por Marini como o núcleo da sobre-exploração coincide exatamente com a categoria brevemente analisada por Marx no início do capítulo 12 e depois posta de lado até outra breve discussão no capítulo 24. Em termos do seu avanço em relação a Marx, o "terceiro procedimento" de Marini é crucial, e está em conformidade com a "terceira forma de mais-valia" negada por Banaji.

Em contraste com as confusões da Economia Política burguesa, que ele critica, Marx deixa claro que não incluiu este método de "reduzir o consumo do trabalhador", ou seja, reduzir os salários, na sua conceitualização geral da mais-valia. Reconhece que "nos capítulos sobre a produção de mais-valia assumimos constantemente que os salários eram pelo menos iguais ao valor da força de trabalho. Mas a redução forçada do salário do trabalho abaixo do seu valor desempenha um papel demasiado importante no movimento prático das coisas para que não nos detenhamos por um momento neste fenómeno. De facto, transforma o fundo necessário do trabalhador para o consumo, dentro de certos limites, num fundo para a acumulação de capital" (70).

Este "mas" aqui, é na verdade enorme. Em teoria, como na realidade, as reduções dos salários abaixo do valor da força de trabalho são essenciais ao modo de produção em geral. O que importa é o seguinte: A remuneração de alguns trabalhadores abaixo do valor real da sua força de trabalho faz ou não parte da essência do modo de produção capitalista? Este é o fio condutor a seguir.

Os três métodos de aumento da mais-valia que Marx considera com algum pormenor, separadamente e em combinação, como sejam, o aumento da duração do trabalho, da produtividade do trabalho e da intensidade do trabalho, tornam-se, na teorização de Marini, quatro métodos de aumento da mais-valia, com a inclusão da remuneração abaixo do valor da força de trabalho. Marx mostra repetidamente que o impulso do capital para aumentar a mais-valia, para ir além de um determinado grau de exploração, inclui a redução dos salários. Mas ele não dá a essa expressão teórica a forma de um conceito determinado. É isto que o legado da descoberta de Marini volta a colocar firmemente em cima da mesa.

Superando o pressuposto limitador, a nova perspetiva em análise geral

Vimos que Marx dá muitos exemplos de salários abaixo do valor da força de trabalho devido a condições mais opressivas e que, em vários casos, reconheceu isso como um aumento da exploração (71). Ora, Marx explica que, no modo de produção capitalista, a taxa de mais-valia é "uma expressão exata" do grau de exploração do trabalho, pelo que estes casos corresponderiam, portanto, a aumentos da taxa de mais-valia. Então porque é que Marx não considerou os salários inferiores ao valor da força de trabalho como um aspeto ou dimensão diferente na determinação da mais-valia? (72)



Não tenho a pretensão de ter a resposta definitiva, que, de qualquer modo, é atualmente impossível de obter. No entanto, esta questão é importante em termos da forma como pode moldar atualmente as nossas tarefas. Como diz o subtítulo da obra, O Capital é simultaneamente uma análise do modo de produção capitalista e uma crítica da Economia Política clássica. Marx ultrapassa os limites do horizonte burguês. O Capital é uma crítica imanente a David Ricardo e Adam Smith, que apresentaram ambos versões da teoria laboral do valor, mas não explicaram a mais-valia. Marx explica a mais-valia com base na troca de equivalentes, e consegue-o porque se apercebeu de que entre o capital e o trabalho não há apenas uma troca, mas sim duas trocas, distintas mas relacionadas, uma na circulação e outra na produção. O que aparece na forma salário como uma troca por trabalho é na verdade por força de trabalho, o potencial para criar novo valor. Há depois uma segunda "troca" no processo de trabalho, em que o trabalho produz efetivamente novo valor, incluindo a mais-valia que é o motivo que move o capital. Assim, mesmo em condições de um contrato de valores equivalentes, continua a haver exploração. A chave é a distinção entre o valor da força de trabalho e o novo valor que ela produz, ou seja, a mais-valia. O pressuposto da equivalência é então o de duas equivalências distintas na dupla relação entre a classe capitalista e a classe trabalhadora, que serviu para chegar ao conceito de mais-valia - uma enorme conquista.



A equivalência não deve ser confundida com a igualdade. Por exemplo, no texto preparado para o volume III de O Capital, parte 3, sobre a queda da taxa de lucro, Marx começa a desenvolver adicionalmente a "Lei Geral da Acumulação Capitalista", com um sentido mais forte do imperativo da contradição interna que conduz necessariamente à crise sistémica. As suas notas identificam contratendências importantes, que são sobretudo formas de aumentar a exploração do trabalho. No entanto, Marx adia mais uma vez a análise teórica da redução dos salários abaixo do valor da força de trabalho, com o argumento de que "não tem nada a ver com a análise geral do capital, mas terá o seu lugar num estudo da concorrência, que não é tratada neste trabalho" (73).



No entanto, Marx debruça-se de facto sobre a concorrência entre trabalhadores. No volume I, capítulo 25, sobre a "Lei Geral da Acumulação Capitalista", examina a forma como a reprodução capitalista das relações sociais gera diferentes camadas da classe trabalhadora. Poderíamos considerar a exclusão operada por Marx como um esforço pragmático para limitar o seu âmbito de análise, na medida em que se esforçava por concluir O Capital como um projeto. Embora a organização do volume III seja bastante clara, algumas das notas de Marx não o eram, e o volume exigiu uma década de trabalho de Engels para ser publicado. Estamos a entrar no campo das conjeturas, mas, na minha opinião, se tivesse sobrevivido, é bem possível que Marx tivesse completado as contratendências de forma semelhante à sua extensa descrição da "Lei Geral da Acumulação Capitalista", ou seja, teria tido de lidar com a concorrência entre trabalhadores no contexto de uma crise de lucratividade. Mas também é verdade que Marx tinha a intenção de escrever seis volumes, o que lhe teria permitido retomar o assunto em termos mais concretos. Estas observações seriam completamente hipotéticas, não fosse o facto de nos remeterem para a questão dos níveis de abstração.



Marx representou as condições excessivas e opressivas da exploração como sem restrições, ou com limites muito fracos e nominais. E como é que isto deve ser entendido em relação com o seu conceito fundamental de mais-valia? É verdade que a burguesia liberal não vê a exploração quando há um "salário justo para um dia de trabalho justo"; que só vê a exploração quando ela é particularmente excessiva e opressiva, o que acredita poder ser resolvido por arranjos políticos dentro do sistema. Mas esta não é uma razão suficiente para que o marxismo não explique estas práticas a partir da teoria da mais-valia, uma vez que elas são as formas (configurações) que o capital procura para aumentar a exploração que não podem ser resolvidas sem derrubar todo o sistema. A teoria marxista não pode assumir a igualdade quando à nossa volta vemos desigualdades estruturadas. O modo de produção capitalista produz sistematicamente desigualdades na classe trabalhadora. A vida dos trabalhadores é objetivamente diferenciada como tendo mais ou menos valor no capitalismo. Estas relações sociais diferenciadas de exploração e sobre-exploração são essenciais ao modo de produção, e não um qualquer epifenómeno de menor importância geral.



A luta contra os efeitos da concorrência entre os diferentes setores da classe operária ocupa um lugar de destaque nas conferências populares de Marx sobre Salário, Preço e Lucro, para a Associação Internacional dos Trabalhadores (74). Embora os esforços da associação tenham unido os trabalhadores franceses e ingleses, não foram suficientes para ultrapassar os preconceitos dos líderes sindicais ingleses, que eram contra os imigrantes irlandeses mais militantes, especialmente os que participavam no movimento feniano pela independência. A desunião entre os sindicatos liderados por ingleses e os trabalhadores irlandeses foi uma das razões para a dissolução da organização. Nesta conjuntura, a prática de Marx estava a informar a sua teoria. O seu capítulo sobre a "Lei Geral da Acumulação Capitalista" termina com um apelo ao apoio aos Fenianos, o movimento de libertação nacional irlandês do seu tempo (75).



Enquanto, no primeiro volume de O Capital, Marx sublinha que a viragem para a indústria moderna após 1848 levou o capitalismo na Grã-Bretanha a uma rápida expansão económica, também se deparou com as consequências políticas dessa viragem. Os novos contornos da divisão do trabalho estavam apenas a começar a remodelar a formação da classe trabalhadora doméstica, tanto em termos materiais como em termos de consciência. Como sublinhou V. I. Lenine, a partir desta altura começou a consolidar-se uma aristocracia operária, primeiro em Inglaterra e depois, de um modo mais geral, na Europa Ocidental (76). Em A Dialética da Dependência, Marini centra-se precisamente neste mesmo período de rápida expansão industrial. A passagem para os métodos da mais-valia relativa em Inglaterra foi possível graças à sobre-exploração do trabalho em grande escala na América Latina (e na Índia, em África, etc.).



Outro olhar sobre O Capital com dimensões alargadas da mais-valia



Com a sobre-exploração do trabalho, vemos mais uma vez que o impulso para aumentar a mais-valia, a fim de obter mais lucros, é o motor central do modo de produção capitalista. Este impulso sobredetermina a lei do valor na sua forma simples de mercadoria. A mais-valia não é uma essência fixa, mas a dinâmica interna da exploração de classe. Para completar a conceção inicial da mais-valia, temos de considerar os métodos do seu aumento. A exposição de Marx em O Capital inicia este caminho no volume I, a partir do capítulo 7, mas a necessária linearidade do texto, a estrutura complexa da obra e a sua incompletude também devem ser tidas em conta. No capítulo 7, Marx considera em que consiste o processo de trabalho em qualquer modo de produção e, em seguida, qual é a marca especificamente capitalista no processo de trabalho. Com esta distinção em mente, podemos ver os seguintes fatores determinantes necessários para aumentar o produto de uma dada força de trabalho, que se aplicam a qualquer modo de produção, mas que recebem um cunho especial no modo de produção capitalista:



- Prolongamento da jornada de trabalho;

- Intensificação da atividade laboral;

- Aumento da produtividade do trabalho através da cooperação, da divisão do trabalho e da maquinaria (tecnologia);

- Aumento da produtividade através da habilidade, capacidade e educação do trabalhador;

- Aumentar a produtividade do trabalho através de condições naturais específicas favoráveis;

- Reduzir o tempo de trabalho necessário através da redução do preço da força de trabalho (redução do capital variável).



Todos estes são métodos de aumento da mais-valia que são, portanto, as suas determinações essenciais e, no entanto, contraditórias. Todos eles são sublimados como contradições do sistema como um todo.



A questão não é tanto a dos diferentes níveis de abstração entre O Capital e A Dialética da Dependência, mas a das diferentes perspetivas do capitalismo como sistema mundial a partir das quais estas obras são escritas. O impacto do pensamento de Marini, enquanto representação teórica das diferentes experiências da classe trabalhadora na América Latina, é que traz uma perspetiva diferente da de Marx sobre os múltiplos níveis de abstração dos três volumes de O Capital. O pensamento de Marini é um trampolim para uma reformulação compreensiva de O Capital. Defendo que Marini o conseguiu efetivamente para as principais conclusões do volume II, e que é possível uma redeterminação semelhante para os volumes I e III.



No que respeita ao volume I, a sobre-exploração do trabalho aponta para outra dimensão da mais-valia que é uma caraterística geral e essencial do modo de produção capitalista. No que respeita ao volume II, os trabalhos posteriores de Marini e, independentemente dele, de Hosea Jaffe, reposicionaram corretamente os departamentos de produção de mercadorias como diferenciados entre economias centrais (desenvolvidas) e periféricas (subdesenvolvidas) (77).



Quanto ao volume III, há dois desafios teóricos substanciais que decorrem da teoria marxista da dependência. Em primeiro lugar, a reformulação do problema da transformação com diferentes taxas de mais-valia explicará a troca desigual como uma forma de transferência de valor. Assim, a modificação dos preços de produção tem uma implicação importante na análise da cadeia de mercadorias (78).



O segundo desafio substancial do volume III é, como já foi referido, a teoria da renda fundiária como exemplo de "lucro excedente", segundo Marx. Este tema é fundamental para analisar o extrativismo da mineração em grande escala, da agricultura em grande escala, da energia hidroelétrica e dos campos de hidrocarbonetos, tão voraz até aos dias de hoje. A renda imperialista é uma extensão da sobre-exploração, uma vez que se refere aos lucros excedentes e ao esgotamento da sua fonte através de recursos favoráveis extraídos da natureza. A produção de um "falso valor social" leva à análise da cadeia de lucros e de lucros excedentes, em grande parte capturados pelos Estados em consórcio com empresas nacionais e multinacionais (79).



Conclusões e tarefas



Examinámos o marxismo da teoria marxista da dependência, centrando-nos na relação conceitual entre A Dialética da Dependência e O Capital. Na nossa avaliação, Marini leva o marxismo para além de Marx de uma forma muito positiva, aproximando-o das realidades da maioria da classe trabalhadora mundial. Marini leva o marxismo mais longe do que a geração de Lenine e as teorias clássicas do imperialismo moderno, porque aborda diretamente a realidade de um sistema mundial dividido e a divisão internacional do trabalho a partir da perspetiva da classe trabalhadora subjugada - na verdade, a maioria da classe trabalhadora.



O trabalho de Marini leva-nos a reexaminar um dos principais pressupostos metodológicos de Marx, o da troca de força de trabalho pelo seu valor total, que pressupõe um grau comum de exploração em todos os setores da classe trabalhadora, independentemente do seu tratamento social desigual na prática. Marx reconheceu que se tratava de um pressuposto limitativo, que exprimiu sob a forma de uma taxa normalizada de mais-valia. Mesmo assim, ele dá muitos exemplos da dinâmica centrífuga que empurra para condições mais duras e salários mais baixos. O pressuposto da uniformidade não corresponde a um mundo em que o modo de produção capitalista gera sistematicamente desigualdades internacionais e regenera opressões específicas na classe trabalhadora, como se vê na atual "corrida para o fundo do poço" global. Marini e outros camaradas da tendência de pensamento que ele fundou mostraram que a sobre-exploração do trabalho é fundamental para a dinâmica contraditória do capitalismo nas regiões dependentes e subordinadas do mundo. A unidade da classe trabalhadora só pode ser alcançada se a base das suas divisões pelo capitalismo for compreendida tanto na teoria como na prática. Por isso, defendemos um projeto abrangente que se baseie em O Capital, mas que vá para além dele, de modo a ter plenamente em conta a sobre-exploração do trabalho. Concluímos que a desigualdade relacional gera e é reproduzida pela sobre-exploração do trabalho e pela mais-valia relacional.



Marini forneceu uma síntese teórica original sobre o papel fundamental da sobre-exploração que deve estar no centro de futuros trabalhos sobre o imperialismo capitalista. Marini altera a nossa conceção da própria essência do modo de produção capitalista para incluir o seu empenhamento na exploração de mão de obra barata. Este passo aparentemente pequeno de Marini é um salto conceitual gigantesco para a classe trabalhadora internacional, na medida em que muda o paradigma do que é a essência do modo de produção capitalista. É uma viagem da periferia epistemológica para o centro do nosso conhecimento do capitalismo que melhor corresponde à realidade, que a sobre-exploração do trabalho é a essência do capitalismo como imperialismo.



Defendemos que a redução dos salários abaixo do valor da força de trabalho faz parte da análise geral do capital e deve, portanto, ser incluída em todos os níveis relevantes de abstração, a começar pela elaboração da mais-valia. Relegar a experiência das secções mais oprimidas da classe trabalhadora para um nível inferior ao que é reivindicado para a classe trabalhadora como um todo é um erro político e teórico, que no final pode ser usado como uma defesa das suas camadas mais privilegiadas. É uma forma de embotar o gume analítico de Marini, uma ponte para a assimilação pelo marxismo eurocêntrico, precisamente no momento em que precisamos de construir a ponte em termos diferentes, começando efetivamente na direção oposta e construindo sobre as novas fundações lançadas por Marini. A teoria laboral do valor marxista tem de se adaptar à realidade das divisões estruturais da classe operária mundial, sob pena de definhar e morrer.

Por fim, qual é a outra modificação necessária e indispensável da teoria da mais-valia de Marx que mencionámos, mas que também não desenvolvemos? Subjacente a todas as formas de mais-valia está o trabalho doméstico e de cuidados não remunerado, maioritariamente realizado pelas mulheres. Esta condição prévia essencial da mais-valia tem de ser integrada na discussão (80). Com esta qualificação, os legados revolucionários tanto de Marx como de Marini são necessários para as lutas vindouras pelo socialismo no século XXI. A contribuição de Marini foi um grande avanço que ainda deixa muito por fazer. Celebramos O Capital e A Dialética da Dependência levando-os por diante.

Notas:

[1] Ruy Mauro Marini, The Dialectics of Dependency (New York: Monthly Review Press, 2022).

[2] As obras de Marini e materiais relacionados, em língua espanhola e portuguesa, estão disponíveis em https://marini-escritos.unam.mx/ .

[3] Sobre este, ler Ruy Mauro Marini, “Brazilian Subimperialism”, Monthly Review 23, n.º 9 (February 1972): pp. 14–24.

[4] Marini, The Dialectics of Dependency, p. 161.

[5] Ver, em especial, John Smith, Imperialism in the Twenty-First Century (New York: Monthly Review Press, 2016). Outros contributos relevantes incluem Andy Higginbottom, “Structure and Essence in Capital and the Stages of Capitalism”, Journal of Australian Political Economy 70 (2012): pp. 251–70; Jaime Osorio, “The Latin American Debate: Dependent Capitalism, Superexploitation, and Revolution”, Social Justice 40, n.º 4 (2014): pp. 5–24; Adrian Sotelo Valencia, The Future of Work (Leiden: Brill, 2015); Benjamin Selwyn, “Poverty Chains and Global Capitalism”, Competition & Change 23, n.º 1 (2019): pp. 71–97; Intan Suwandi, Value Chains (New York: Monthly Review Press, 2019); Zak Cope, The Wealth of (Some) Nations: Imperialism and the Mechanics of Value Transfer, (London: Pluto, 2019); Mariano Féliz, “Notes For a Discussion on Unequal Exchange and the Marxist Theory of Dependency”, Historical Materialism 29, n.º 4 (2021): pp. 114–52.

(6) Andre Gunder Frank, World Accumulation 1492–1789 (London: MacMillan, 1978), pp. 239–40.

(7) Karl Marx, Capital, vol. 3 (London: Penguin, 1981), p. 342.

(8) Ver John Bellamy Foster, “A Missing Chapter of Monopoly Capital”, Monthly Review 64, n.º 3 (July–August 2012): pp. 13–14.

(9) Frank, World Accumulation 1492–1789, p. 240.

(10) Jairus Banaji “Gunder Frank in Retreat?”, in Neo-Marxist Theories of Development, ed. Bruce McFarlane e Peter Limqueco (New York: St. Martin’s Press, 1983), pp. 97–113. O sublinhado é nosso.

(11) Para uma explicação da distinção baseada em traduções do original alemão de Marx, ver Gérard Duménil, Le Concept de Loi Économique dans Le Capital (Paris: Maspero, 1978), pp. 274–78.

(12) Marx, Capital, vol. 1 (London: Penguin, 1976), p. 590.

(13) Marx, Capital, vol. 1, pp. 432–37.

(14) Marcel Van der Linden, “The Imperial Mode of Living in the Context of Crisis”, Conference on International Solidarity and Relational Inequality (Amsterdam: SOC21, 2020).

(15) Carlos Alves do Nascimento, Fernando Frota Dillenburg e Fábio Maia Sobral, “Teoria da exploração e da sobre-exploração da força de trabalho em O Capital (Livro I) de Marx”, Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política 40 (2015): pp. 107–31.

(16) Marx, Capital, vol. 1, p. 343.

(17) Nascimento, Dillenburg e Sobral, “Teoria da exploração e da sobre-exploração da força de trabalho em O Capital (Livro I) de Marx”, p. 114.

(18) Hugo Figueira Corrêa e Marcelo Dias Carcanholo “Uma teoria da superexploração da força de trabalho em Marx? Um Marx que nem mesmo ele tinha percebido”, Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política 44 (2016): pp. 10–30. O argumento dos autores está resumido em inglês em Marcelo Dias Carcanholo e Hugo F. Corrêa, “Ruy Mauro Marini (1932–97)” in The Routledge Handbook of Marxism and Post-Marxism, ed. Alex Callinicos, Stathis Kouvelakis e Lucia Pradella (London: Routledge, 2021), pp. 526–33.

(19) Jaime Osorio, “Fundamentos de la superexplotación”, Razón y Revolución 25 (2013): pp. 9–34.

(20) Jaime Osorio, ““Fundamentos de la superexplotación", p. 10.

(21) Para uma explicação mais completa, consultar Andy Higginbottom, “Reading Marx’s Capital for the 21st Century(série de conferências no Centre for the Study of Social and Global Justice, 2022).

(22) Marx, Capital, vol. 1, pp. 643–72.

(23) Marx, Capital, vol. 1, p. 646.

(24) Marx, Capital, vol. 1, p. 135.

(25) Marx, Capital, vol. 1, pp. 61–71, 303, 305, 470, 503, 545, 558–60, 590–91.

(26) Marx, Capital, vol. 1, p. 648.

(27) Marx, Capital, vol. 1, p. 650.

(28) Marx, Capital, vol. 1, p. 510.

(29) Marx, Capital, vol. 1, p. 353.

(30) Marx, Capital, vol. 3, capítulo 5.

(31) Marx, Capital, vol. 1, pp. 337, 353–56.

(32) Marx, Capital, vol. 1, p. 377.

(33) Para outras opiniões sobre este assunto, ver W. E. B. Du Bois, Black Reconstruction in America, 1860–1880 (New York: The Free Press, 1998); Cedric J. Robinson, Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2000), pp. 235–36; Charles Post, The American Road to Capitalism (Boston: Brill, 2011); Eugene Baptist, The Half Has Never Been Told: Slavery and the Making of American Capitalism (New York: Basic Books, 2014); Andy Higginbottom, “Enslaved African Labour: Violent Racial Capitalism”, in The Palgrave Encyclopaedia of Imperialism and Anti-Imperialism, ed. Immanuel Ness e Zak Cope (London: Palgrave Macmillan, 2019); John Clegg, “A Theory of Capitalist Slavery”, Journal of Historical Sociology 33 (2020): pp. 74–98; John Bellamy Foster, Hannah Holleman e Brett Clark, “Marx and Slavery”, Monthly Review 72, n.º 3 (July–August 2020): pp. 96–114.

(34) Marx, Capital, vol. 1, pp. 557–58.

(35) Marx, Capital, vol. 1, p. 318.

(36) Stephanie Smallwood, “What Slavery Tells Us about Marx”, in Race Capitalism Justice, ed. Walter Johnson com Robin D. G. Kelley (Cambridge, MA: Boston Review, 2017): pp. 78–82.

(37) Ver, por exemplo, Friedrich Engels, “The Condition of the Working Class in England”, in Marx e Engels Collected Works, vol. 4 (London: Lawrence & Wishart, 2010), pp. 295–596.

(38) Marx, Capital, vol. 1, 303–4.

(39) Marx, Capital, vol. 1, p. 345, citado em Marini, The Dialectics of Dependency, p. 131.

(40) Frank, World Accumulation 1492–1789, p. 257; Marx, Capital, vol. 1, p. 925.

(41) Marx, Capital, vol. 1, pp. 355, 369, 516–20.

(42) Marx, Capital, vol. 1, pp. 368–74, 517–26.

(43) Marx, Capital, vol. 1, p. 417.

(44) Ver, por exemplo, Marx, Capital, vol. 1, pp. 518–19, 627.

(45) Marx, Capital, vol. 1, p. 620.

(46) Marx, Capital, vol. 1, p. 431. Sublinhado nosso.

(47) Marx, Capital, vol. 1, p. 590.

(48) Marx, Capital, vol. 1, p. 599.

(49) Marx, Capital, vol. 1, p. 601.

(50) Marx, Capital, vol. 1, p. 605.

(51) Marx, Capital, vol. 1, p. 515.

(52) Marx, Capital, vol. 1, p. 515.

(53) Marx, Capital, vol. 1, pp. 516–17.

(54) Marx, Capital, vol. 1, p. 531.

(55) Marx, Capital, vol. 1, p. 396.

(56) Marx, Capital, vol. 1, p. 582. Sublinhado nosso.

(57) Marx, Capital, vol. 1, p. 543.

(58) Marx, Capital, vol. 1, pp. 571, 574.

(59) Marx, Capital, vol. 1, pp. 579–80.

(60) Marx, Capital, vol. 1, p. 862.

(61) Marx, Capital, vol. 1, p. 863.

(62) Engels, “The Condition of the Working Class in England”.

(63) Engels, “Preface to the Second Edition of The Housing Question,” MECW, vol. 16 (London: Lawrence & Wishart, 2010): 424–33. Sublinhado no original. Agradecemos a Marcel van der Linden por nos ter chamado a atenção para esta fonte.

(64) Eduardo Galeano, Open Veins of Latin America (New York: Monthly Review Press, 1973), p. 147.

(65) Marini, The Dialectics of Dependency, p. 136.

(66) Amanda Latimer, “Situating Ruy Mauro Marini (1932–1997)” in Marini, The Dialectics of Dependency, pp. 21–101.

(67) Marini, The Dialectics of Dependency, pp. 131–35.

(68) Marini, The Dialectics of Dependency, p. 131; ver também p. 132.

(69) Marini, The Dialectics of Dependency, p. 130.

(70) Marx, Capital, vol. 1, 747–48. Emphasis added.

(71) Por exemplo, Marx, Capital, vol. 1, pp. 518, 564, 747.

(72) Marx, Capital, vol. 1, p. 326.

(73) Marx, Capital, vol. 3, 342.

(74) Karl Marx, “Value, Price and Profit” MECW, vol. 20 (London: Lawrence & Wishart, 2010), pp. 101–49.

(75) Marx, Capital, vol. 1, p. 870.

(76) I. Lenin, “The Right of Nations to Self-Determination”, Lenin’s Collected Works, vol. 20, capítulo. 8 (Moscow: Progress Publishers, 1972), pp. 393–454.

(77) Ruy Mauro Marini, “Plusvalía extraordinaria y acumulación de capital”, Cuadernos Políticos 20 (1979): pp. 19–39; Hosea Jaffe, La plusvalía oculta: ¿Cómo funciona el imperialismo? (Bilbao: Zero, 1978).

(78) Ver Andy Higginbottom, “Marx’s Capital, Labour, Super-Exploitation and a Fresh Take on the ‘Transformation Problem’” (série de conferências em linha).

(79) Ver Andy Higginbottom, “‘Imperialist rent’ in Practice and Theory”, Globalizations 11, n.º 1 (2014): pp. 23–33; Jaime Osorio, “Ley del valor, intercambio desigual, renta de la tierra y dependencia”, Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política 46 (2017): pp. 78–102; Andy Higginbottom, “The Imperialist Multinational: Concentration, Fiction or Rent?” in Imperialism and Transitions to Socialism, ed. Rémy Herrera (Bingley, UK: Emerald, 2021), pp. 39–57.

(80) Ver Olivia Adamson, Carol Brown, Judith Harrison e Judy Price, “Women’s Oppression Under Capitalism”, Revolutionary Communist 5 (1976): pp. 1–48; e espacialmente Claudia Jones, An End to the Neglect of the Problems of Negro Women (New York: New Century, 1949); Carole Boyce Davies, Left of Karl Marx: The Political Life of Black Communist Claudia Jones (Durham: Duke University Press, 2008); Charisse Burden-Stelly, “Modern U.S. Racial Capitalism”, Monthly Review 72, n.º 3 (July–August 2020): pp. 8–20.

Andy Higginbottom é um ex-professor associado na Kingston University, Londres. Ele continua como um acadêmico independente e ativista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Guia essencial para a Jacobin

A Jacobin tem divulgado conteúdo socialista em ritmo acelerado desde 2010. Eis aqui um guia prático para algumas das obras mais importantes ...